domingo, 26 de julho de 2009

DEZ PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE A ORIGEM DA VIDA E A NATUREZA DO EMBRIÃO - Parte final


Continuação...

8. Quantas enzimas o acaso colocaria dentro de uma célula?


A vida é um fenômeno tão complexo que os especialistas ainda não conseguiram chegar a um consenso para defini-la. E é exatamente esta complexidade que nos permite rejeitar a tentativa de explicá-la mediante o acaso. E a esta tarefa se tem dedicado grupos de pesquisadores a partir dos extraordinários avanços da biologia molecular que lhes tem permitido devassar a intimidade da célula, demonstrando a incapacidade das teorias do acaso explicarem o fenômeno vida.

Nesse sentido, encontramos o livro Deus e a Ciência, escrito pelo filósofo Jean Guitton e dois doutores em Física teórica, Igor e Grichka Bogdonov.

Tomemos um caso concreto relatado por Grichka Bogdonov.24

Uma célula viva é composta de uns vinte aminoácidos que formam uma cadeia compacta.; esses aminoácidos, para funcionarem, dependem de cerca de duas mil enzimas específicas. Biólogos e matemáticos calcularam a probabilidade de que mil enzimas diferentes, portanto a metade do necessário, pudessem juntar-se ao acaso, de modo ordenado, para formar uma célula viva ao longo de uma evolução de bilhões de anos: a probabilidade de que isto viesse a acontecer é da ordem de 10 elevado a 1.000 contra um. Uma impossibilidade estatística: a vida, portanto, não pode ter surgido por acaso.

Daí concluir Igor Bogdanov25 que a aventura da vida desde as formas primárias até as mais elevadas conduzem à admissão de um princípio organizador que as conduzisse através de uma escada ascendente. Há, portanto, "um fenômeno de ordem subjacente" que conduz inelutavelmente ao surgimento da vida. O Grande Planejador de Behe é a Sublime Consciência do Universo ¬ Deus ¬, que estaria por trás dessa ordem subjacente. Ele seria o Supremo despenseiro da Vida.

Isso nos leva a concluir que a vida é, sim, um bem outorgado, indisponível, inalienável, que transcende os limites estreitos da matéria.

9. Por que ordem a partir da desordem?

Desde os filósofos gregos, tomamos conhecimento do movimento perpétuo dos átomos, mas só no século dezenove ele foi confirmado, sendo também chamado de agitação térmica, apresentando-se, de modo geral, completamente desordenado. Eles movem-se, vibram, rodopiam, colidem, naturalmente, sem que necessitem de nenhuma força motriz para isso. Nos organismos vivos, porém, os átomos abandonam esse movimento caótico natural, e passam a ter um comportamento ordenado. Não deixa de ser impressionante, como observou E. Schrödinger26, a capacidade do organismo vivo de concentrar um "fluxo de ordem" para si mesmo e escapar, dessa forma, de decaimento no caos atômico ¬ de "absorver ordem" de um ambiente conveniente.

Ao contrário, portanto, do que ocorre com a matéria inanimada, o Universo do vivente é caracterizado por um grau de ordem crescente: enquanto o Universo físico caminha em direção a uma entropia cada vez mais elevada, o vivente percorre, de certo modo, a corrente contrária, para criar cada vez mais ordem.

Por que razão o ser vivo surge, assim, como uma estrutura ordenada no seio do caos?

Segundo a visão reducionista, a explicação estaria na constituição da molécula orgânica que possui um número muito grande de átomos; com a cooperação entre eles, as leis estatísticas começam a operar e a manter um controle sobre o comportamento desses conjuntos, passando o movimento a ser ordenado. É o que acontece com toda a expressão de vida até hoje conhecida na Terra, que se baseia em uma ou duas centenas de unidades ¬ as chamadas "moléculas da vida" ¬ os aminoácidos e os nucleotídeos ¬ , que contêm entre 10 e 100 átomos. Sem dúvida, a constituição da molécula orgânica é importante, mas, por si só, não explica a complexidade da vida, razão pela qual a célula é "lixiviada". E mais ainda, o organismo vivo tem um modo específico de organização, nele, o ser e o fazer são inseparáveis.

Com a impossibilidade de se explicar a vida através do paradigma cartesiano ¬ que reduz o funcionamento de um sistema complexo como o do ser vivo às propriedades de suas partes ¬ especialistas introduziram na biologia, nas primeiras décadas do século XX, o pensamento sistêmico. Para estes, os organismos seriam descritos por seus elementos químicos, mais relações organizadoras. Desse modo, os seus componentes estariam relacionados à maneira de rede; tudo o que acontece num ponto dela influenciaria o conjunto. Surgiu assim, em contraposição ao reducionismo, a teoria da auto-organização, fundamentada, principalmente, nas idéias de Maturana e Varela, Gregory Bateson e Prigogine, associadas às da matemática da complexidade, de Kaufmann.27

Embora tenha trazido esclarecimentos importantes, esta teoria não oferece, todavia, nenhuma pista aceitável quanto à transição do inanimado para o animado.

Uma outra teoria bem antiga é a do vitalismo, que preconiza a presença de uma estrutura imaterial no ser vivo, responsável por sua estrutura ordenada no seio do caos e pelo armazenamento de todas as suas experiências. Embora a maioria dos pesquisadores a rejeite, para os que a aceitam, chamados atualmente de neovitalistas, ela permanece como única explicação plausível.

10. Por que a vida obedece a convenções?

Além de gerar ordem, o ser vivo obedece a convenções inexplicáveis que denunciam um princípio diretor que não o acaso. Na intimidade dos átomos, os elétrons promovem ligações entre eles ¬ ligações covalentes ¬, possibilitando, assim, a construção de moléculas mais duráveis. Além desta convenção, há uma considerada universal: a dos aminoácidos "esquerdos", isto é, que possuem quiralidade esquerda, e a dos açúcares "direitos" , de quiralidade direita.

Entende-se por quiralidade a propriedade geométrica que caracteriza a não identidade de um objeto em relação à sua imagem no espelho. A mão direita e a esquerda são exemplos de objetos quirais, antípodas um do outro (imagens um do outro no espelho). A respeito desse arranjo, Cairns-Smith indaga: "O fato de esta simples convenção ser universal constitui uma das características mais singulares da unidade da bioquímica. Qual terá sido a origem deste acordo?"28

Abdus Salam, notável físico que, juntamente com Steven Weinberg e Sheldon Glashow, obteve o Prêmio Nobel de Física em 1979, pelo trabalho sobre a unificação da força eletromagnética com a nuclear fraca (força eletrofraca) acredita que a resposta esteja na Sabedoria de Deus, que criou a força organizativa da vida. Suas pesquisas demonstraram "que os aminoácidos de quiralidade esquerda e os açúcares de quiralidade direita são muito mais estáveis que as moléculas de quiralidades opostas", sendo essa a razão pela qual a natureza escolheu unicamente esse tipo de arranjo vital.29 Salam acredita que a força eletrofraca é de origem divina, e que Deus criou a partícula Zo para fornecer quiralidade às "moléculas da vida".

O físico Grichka Bogdonov comenta a respeito dessas forças e afirma que o acaso não pode explicá-las. "Por exemplo, existe na química um princípio hoje conhecido pelo nome de "estabilização topológica de cargas". Essa "lei" implica que as moléculas que comportam, em sua estrutura, cadeias de átomos em alternância (especialmente o carbono, o nitrogênio e o oxigênio) formam, ao se reunir, sistemas estáveis. De que sistemas se trata? Estes elementos nada mais são do que as peças fundamentais que compõem a mecânica do vivente: os aminoácidos. Sempre segundo a mesma lei de afinidade atômica, eles vão reunir-se, por sua vez, para formar as primeiras cadeias desses preciosos materiais de vida que são os peptídeos".30

E há ainda mais convenções e mais incógnitas: como os genes aprenderam a se recopiar? Como se dá a ligação gene-proteína? Enfim, é preciso que se explique como se dá o perfeito entrosamento entre o hardware e software, a razão da escolha exata do alfabeto de aminoácidos e do conjunto de correspondências entre as letras de aminoácidos e as palavras de ácido nucleico ¬ o código genético.

Para isso, é preciso relembrar uma outra "lei" inscrita na matéria que permitiu o prodígio da reprodução. Vejamos como a explica o físico Igor Bogdanov: "os aminoácidos mais polares (isto é, os que comportam uma carga eletrostática elevada) são espontaneamente atraídos por moléculas nitrogenadas, enquanto os menos polares agregam-se antes a outras famílias, como a da citosina. Assim nasceu o primeiro esboço do código genético: ao se aproximar de certos nucleotídeos (e não de alguns outros), nossos famosos aminoácidos elaboraram lentamente os planos de sua própria construção, depois os instrumentos e materiais destinados a fabricá-los".31

Estas operações poderiam ser produzidas pelo acaso? Um acaso mais inteligente do que a inteligência humana? Como um jogo de loteria poderia explicar a vida e a própria inteligência do homem? A palavra mistério com que muitos investigadores procuram esconder a própria ignorância sobre a origem da vida não resolve o problema. É um modo apenas de escamotear a verdade: o acaso não pode explicá-la.

Nos elementos infinitesimais que compõem a célula, nas chamadas nanoferramentas, há ordem a partir da desordem, entrosamento perfeito de informações incrivelmente complexas e produtividade total, incomparavelmente superior à mais organizada das fábricas terrenas. Esta constatação levou Paul Davies a escrever: "O milagre da vida não é que ela seja feita de nanoferramentas, mas que essas diversas partes minúsculas estejam integradas de um modo altamente organizado".32

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O inventário minucioso do fenômeno vida levou-nos invariavelmente à mesma conclusão: A vida é uma concessão, um bem outorgado, do qual não se pode dispor.

O fato é que o ser humano nem de longe, nem de perto, "fabricou" moléculas da vida. Nunca conseguiu, nos tubos de ensaio, utilizando as condições prebióticas, a síntese de ribossomos, proteínas, nucleotídeos, enfim, de substâncias químicas básicas que entram na fórmula do ser vivo. Isto só vem reforçar a certeza da existência de uma Inteligência Superior na base do planejamento da vida, que não consegue ser entendida ainda dados os parcos recursos da inteligência humana.

Diante de um organismo vivo, a questão básica é esta: Quem tem o direito de eliminá-lo? O médico? A mãe? O pai? O Estado? Do ponto de vista ético, quem deve decidir se um ser vive ou morre?

Fernando de Magalhães, ilustre jurista de nosso país, responde, com convicção, "o embrião é um sujeito de Direito e pelo Código Civil todo sujeito de Direito é uma pessoa, é um indivíduo, é alguém. E pelo Código Penal, matar alguém é crime".33

Este é o ponto de vista da Ciência também.

O embrião, portanto, não pertence à mãe, ao pai, ao juiz, à equipe médica, ao Estado. Pertence, exclusivamente, a ele mesmo, porque a vida lhe foi outorgada, é um patrimônio intrínseco, inerente à sua condição de organismo humano vivo. Mesmo no caso do feto anencéfalo, é crime, porque o fenômeno vida não é da alçada humana, a não ser para salvá-la ; para eliminá-la, jamais.

Aprendemos, com a genética, que a diversidade é a nossa maior riqueza coletiva. E o feto anômalo, mesmo o portador de grave deficiência, como é o caso do anencéfalo, faz parte dessa diversidade. Deve ser, portanto, respeitado. Reconhecemos que a mulher, ao gerar um feto deficiente, pode precisar de ajuda psicológica. Mas uma mulher que abortar intencionalmente encontrar-se-á em situação muito pior, carregando o complexo de culpa a carecer ainda mais de ajuda psicológica. Isto é algo que os defensores do aborto nunca comentam, mas é comum e traz muito sofrimento. Trata-se da depressão que surge, geralmente, à época da menopausa, tendo como causa o complexo de culpa por aborto praticado. Hanna Wolff, analista junguiana, entre outros psicoterapeutas, constatou, ao longo de sua experiência como terapeuta, essa ligação muito próxima entre aborto e depressão: "É precisamente a facilidade com que, hoje, é possível abortar, a causa das depressões de tantas mulheres na idade da menopausa. Aquelas que antes eram as primeiras a defender o direito de 'gerir o próprio corpo', vemo-las, depois, prostradas em sua própria infelicidade. A psique não conseguiu superar a barbárie do aborto. É que, sobre isso, os nossos legisladores nada entendem, e muito menos os tais 'especializados' a que estes mesmos legisladores recorrem para resolver o assunto".34

Não se pode deixar de aplaudir o extraordinário esforço desenvolvido pelas clínicas de Medicina Fetal que realizam, rotineiramente, graças aos avanços da tecnologia, intervenções cirúrgicas intra-uterinas, com vistas à cura de doenças que poderiam se agravar ou tornarem-se irreversíveis, após o parto. Já não podemos concordar quando elas aconselham às mães o abortamento no caso de anomalias fetais.

Constatamos, com pesar, que setores do Governo, do Judiciário, e da sociedade têm incentivado, de forma contundente, a legalização do aborto em nosso país. Esperamos que esta triste hipótese não venha a se concretizar, contudo, é impossível deixar de imaginar como seria a aplicação da prática abortiva às camadas mais pobres de nossa população, tendo em vista a insuficiência de leitos até mesmo para as nossas gestantes. Diante dessa situação, não seriam as clínicas particulares as mais interessadas na legalização? E seria razoável em-pregar o dinheiro arrecadado com os impostos para sustentar clínicas comprometidas com a morte e não com a vida, em evidente distorção da verdadeira missão da Medicina? Não seria muito mais lógico empregá-lo em campanhas educativas maciças sobre maternidade e paternidade responsáveis, com a implantação efetiva e permanente de um programa de planejamento familiar?

Esperamos, com toda sinceridade, que o bom-senso e o verdadeiro espírito de fraternidade prevaleçam nas decisões dos legisladores de nosso país, porque é certo que tudo aquilo que um povo coloca na Constituição, como lei máxima a reger-lhe os destinos, isto mesmo recolherá da Justiça Divina ¬ Instância Superior à qual todos nós estamos subordinados.


Por tudo quanto vimos, fica evidente, para nós, que aqueles que se envolvem, qualquer que seja sua profissão, na causa pró-aborto, estão contribuindo, de forma efetiva, para o crescimento da violência no mundo.

- FIM -


Marlene Rossi Severino Nobre, Presidente da Associação Médico-Espírita do Brasil e da Associação Médico-Espírita Internacional.


BIBLIOGRAFIA


24. Deus e a Ciência, O Mistério do Vivente, p. 49.
25. Deus e a Ciência, cap. O Mistério do Vivente, p. 4.
26. Ver comentário de E. Schrödinger em O Que é Vida, cap. 7, p. 88.
27. Ver F. Capra em A Teia da Vida, cap. 7, p. 136.
28. As Sete Pistas da Origem da Vida, cap. 6.
29. Em Busca da Unificação, p. 54.
30. Deus e a Ciência, O Mistério do Vivente, pp. 50 e 51.
31. Deus e a Ciência, O Mistério do Vivente, p. 52.
32. O Quinto Milagre, Prefácio, p. 19; cap. 4, p. 115 e cap. 1, p. 32.
33. Aborto e Contracepção, Celso Cezar Papaleo.
34. Jesus Psicoterapeuta, p. 111.


imagem: www.cynara.com.br

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