quinta-feira, 28 de abril de 2011

RELIGIÃO E INTOLERÂNCIA


Dalmo Duque dos Santos*


“Por definição, toda religião – toda fé – é intolerante, pois proclama uma verdade que não pode conviver pacificamente com outras que a negam.” – Mario Vargas Llosa

Por definição, está coberto de razão o grande escritor peruano, quando coloca o problema da intolerância religiosa como reflexo da enorme diversidade cultural que caracterizam os povos e espelho das mentalidades que também se diferenciam dentro dos próprios grupos sociais. Em artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo (11/07/2004), sobre o caráter laico do Estado e da União Européia, ele fala com conhecimento de causa e faz a afirmação acima citada baseando-se na experiência histórica de religiões e filosofias e que foram desviadas de suas bases originais para satisfazer interesses bem distanciados daqueles delineados por seus criadores.

Não importa a relatividade desses conceitos – se religião ou religiosidade, fé ou crença devoção ou adoração – a repercussão desse elemento cultural na mente humana dificilmente poderá ser dissociado do fanatismo, dos impulsos passionais e do radicalismo emocional. Não é à toa que a sabedoria popular ensina que não se deve discutir religião e futebol, se quisermos preservar relações amistosas. Durante séculos fomos educados para a intolerância e para o radicalismo. Preconceitos religiosos foram pacientemente enraizados em nosso psiquismo e no comportamento, como peças estratégicas para preservação de grupos e sistemas ideológicos. Mesmo as grandes lições de fraternidade e tolerância caíram no esquecimento e no universo lendário. O próprio Mahatma Gandhi, figura contemporânea da Era Atômica, parecia em sua época e ainda hoje ser algo inacreditável, saído das páginas de algum livro de mitologia.

Mas somos, como categoria social humana, um complexo multicolorido de ideologias e crenças, seja em forma de partidos políticos, de cultos religiosos, agremiações filosóficas ou estilos de vida que consideramos atraentes e afins com a nossa maneira de ver o mundo, de agir, de pensar e de sentir as coisas. Nesses agrupamentos procuramos respostas, conforto espiritual, aceitação, respeito, reconhecimento, todas as soluções possíveis para resolver os nossos conflitos interiores, nossas carências internas e externas, reparos de danos e traumas, enfim, a busca da felicidade, de um Norte, de uma plenitude, da auto-realização. É por esse motivo, inclusive, que constituímos famílias - não importando qual o modelo - e mantemos viva a imagem do “ninho” ou da “tribo” como símbolos da nossa identidade pessoal e social. Nossos ninhos e tribos continuam sendo o nosso principal endereço existencial, a referência na qual mantemos o pé de apoio para dar todos os passos importantes e decisivos nas experiências vivenciais. Até mesmo as organizações criminosas ou os agrupamentos de hábitos considerados fúteis, quando ameaçados em seus interesses, reagem com suas ideologias, doutrinas, dogmas, tradições, raízes, ídolos, eventos históricos, como armas para justificar e legitimar suas necessidades e suas próprias existências. Vejamos, por exemplo, os recentes acontecimentos de 11 de setembro , onde o terror teve a religião como principal fonte de motivação ideológica. “Mas é uma religião primitiva e atrasada!”, diriam os ateus ou então aqueles outros que julgam que sua religião é superior às demais. Como se o problema fosse a religião em si, quando na verdade é o comportamento sectário embutido historicamente nas religiões e confrarias que alimentam esses flagelos de mentalidade. A intenção dos atentados terrorista foi de ordem política, mas os agentes executores o fizeram por uma causa religiosa, ou seja , a crença de que seriam recompensados num outro mundo por terem agido com renúncia e coragem. Isso é histórico: é só lembrar as monarquias teocráticas de todos os tempos, os tribunais da Inquisição, as cruzadas, o calvinismo europeu, os regimes totalitários nos anos 30 e durante a Guerra Fria.

O grau de intolerância demonstrado por aqueles que hoje se suicidam pela sua crença certamente não é o mesmo daqueles que discriminam, perseguem e expulsam seus companheiros de ideologia, quando estes começam a destoar dos seus pontos de vista, mas as causas são idênticas: a incapacidade de compreender e conviver com a diversidade e de aceitar o princípio igualdade humana como lei universal. Nas situações de conflito, quando o egoísmo e o orgulho predominam como fonte de poder, a igualdade e a humildade passam a ser vistos como valores banais, de pessoas fracas e poucos inteligentes. Quando se trata de conflitos de crença e ideologia, esse fator humano de arrogância e prepotência assume proporções mais violentas, mesmo quando disfarçadas pela polidez institucional, pelas aparências jurídicas, pela hipocrisia das relações artificiais. Temos visto isso acontecer em todas o setores sociais, mas nas agremiações religiosas elas acontecem com mais freqüência e são mais camufladas com um forte teor de hipocrisia. Nesses ambientes de orações, meditações, vibrações, peregrinações, curas, oferendas, cantorias e celebrações, a camuflagem torna-se mais sutil e mais eficiente no jogo de aparências. Aí a mente é capaz de realizar verdadeiros prodígios de dissimulação: sorrir e odiar; orar com a voz mansa e emotiva e, ao mesmo tempo, conspirar criminosamente para eliminar o adversário. Pode parecer chocante, mas é a mesma ginástica ideológica que faz o matador de aluguel rezar de joelhos para pedir perdão antes de cometer o ato insano.

Essa perversão da fé e da religiosidade só tem uma explicação: orgulho e egoísmo. Ninguém consegue abrir mão de posições e posturas, de pontos de vista ou de opiniões quando estão sob o efeito das aparências, da imagem artificial que possuem das coisas e de si mesmos. É uma doença existencial com fortes elementos de ordem emocional, como uma ferida infectada, cuja característica marcante é o hábito sistemático de fugir da realidade e de mentir para si próprio. Quando fingimos ou dissimulamos idéias e sentimentos, com a intenção de ocupar espaço ideológico ingressamos imediatamente num jogo perigoso, de difícil sustentação. Daí ser muito comum e constante o uso de expedientes ardilosos, geralmente incompatíveis com a ética religiosa ou filosófica dos grupos que freqüentamos.

Não é coincidência também que a desilusão pessoal e a decepção com as contradições humanas são a maior causa da deserção dos adeptos desses grupos. Desertamos na medida que caem os mitos, as aparências, as imagens distorcidas: mitos que nós mesmos criamos, aparências que deixamos nos iludir, imagens que construímos com distorções, segundo os nossos próprios interesses inconscientes e limites psicológicos. Quando isso acontece, quase sempre colocamos a culpa nos outros, nos líderes, nas doutrinas, nos acontecimentos, sem jamais avaliar que o nosso ponto de vista é que sempre foi o verdadeiro responsável pela condução dos nossos sentimentos e atitudes. Recentemente tivemos a oportunidade de ouvir as queixas de um militante bem desiludido com os espíritas, com os centros espíritas e com o Espiritismo. Bastante abatido com a derrota em uma disputa na qual, segundo ele, entrou de corpo e alma, em nenhum momento reconheceu o fato de ter se deixado iludir, mas atacou com muita propriedade todas as imperfeições das pessoas e das instituições envolvidas na sua triste história. Nos lembramos dos textos de “Obras Póstumas” e da “Revista Espírita”, mas não tivemos coragem de recomendá-los naquele momento de mágoas e decepções. Um pouco desolados com essa história de poder e glória em uma instituição espírita, fomos nós mesmos nos consolar nas memórias de Kardec, repletas de experiências sobre os problemas da convivência humana. Ali podemos observar como é possível empreender esforços para superar tendências históricas, hábitos culturais e inclinações pessoais que perpetuam o fanatismo e a intolerância. A experiência de Kardec prova que é possível ir além das definições, romper preconceitos seculares e avançar cada vez mais no terreno da liberdade de consciência. Definições não são apenas artifícios de linguagem, mas ferramentas precisas para identificar coisas, circunstâncias e paradigmas predominantes.

Mas é preciso ir além, quebrar paradigmas, ousar, como fizeram os demolidores de preconceitos em todas as épocas. Eram, é claro, pessoas de moral acima do normal e de comportamento diferenciado da média, mas todos tinham algo em comum: eram seres humanos e jamais se deixaram escravizar por idéias e crenças. Muito pelo contrário, atacaram suas próprias culturas nos pontos que consideravam frágeis e ilusórios. Budha atacou o desejo e a sensualidade que contaminava a espiritualidade em seu tempo; Jesus posicionou-se estratégica e heroicamente contra a intolerância, o fanatismo e o comércio das coisas sagradas; Lao-tsé e Confúcio empreenderam suas inteligências contra a corrupção e o comodismo; Comênius e Pestalozzi viram na infância um terreno fértil para plantar as sementes da transformação do tempo futuro e não somente no cultivo das tradições do passado. Allan Kardec demoliu o materialismo e o sobrenatural, reconstruiu a fé e resgatou a religiosidade sem se deixar contaminar pela ingenuidade mística ou se impressionar com os “mistérios” ditos “ocultos”. Martim Luther King, seguindo os passos de Gandhi, desmontou a farsa que encobria em seu país o mito da liberdade e os direitos civis.

Seria de uma grande utilidade se nós, os espíritas, pudéssemos refletir sobre esse assunto e transpormos suas conclusões para os ambientes que freqüentamos e a ideologia que cultivamos como fonte de realização. Podemos avançar as definições e romper paradigmas. Como o Espiritismo não é religião - nesse sentido histórico sectário –, muito menos futebol, podemos discutir tranqüilamente essas delicadas questões ideológicas:

Como temos cultivado o conceito de verdade no Espiritismo?

Como temos lidado com o pensamento divergente?

Temos agido dentro da ética espírita quando atuamos politicamente em suas instituições?

Afinal, nossa fé tem conseguido encarar a razão face a face?


*Dalmo Duque dos Santos é mestre em Comunicação, bacharel em História e Pedagogia.


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domingo, 24 de abril de 2011

PENSAMENTOS E FLUIDOS


Autor: Allan Kardec

“Os maus pensamentos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas deletérios corrompem o ar respirável” - (Allan Kardec - A Gênese, cap. XIV, item 16).

Vimos que o pensamento exerce uma poderosa influência nos fluidos espirituais, modificando suas características básicas. Os pensamentos bons impõem-lhes luminosidade e vibrações elevadas que causam conforto e sensação de bem estar às pessoas sob sua influência. Os pensamentos maus provocam alterações vibratórias contrárias às citadas acima. Os fluidos ficam escuros e sua ação provoca mal estar físico e psíquico.

Pode-se concluir assim, que em torno de uma pessoa, de uma família, de uma cidade, de uma nação ou planeta, existe uma atmosfera espiritual fluídica, que varia vibratoriamente, segundo a natureza moral dos Espíritos envolvidos.

À atmosfera fluídica associam-se seres desencarnados com tendências morais e vibratórias semelhantes. Por esta razão, os Espíritos superiores recomendam que nossa conduta, nas relações com a vida, seja a mais elevada possível. Uma criatura que vive entregue ao pessimismo e aos maus pensamentos, tem em volta de si uma atmosfera espiritual escura, da qual aproximam-se Espíritos doentios. A angústia, a tristeza e a desesperança aparecem, formando um quadro físico-psíquico deprimente, que pode ser modificado sob a orientação dos ensinos morais de Jesus.

“A ação dos Espíritos sobre os fluidos espirituais tem conseqüências de importância direta e capital para os encarnados. Desde o instante em que tais fluidos são o veículo do pensamento; que o pensamento lhes pode modificar as propriedades, é evidente que eles devem estar impregnados das qualidades boas ou más, dos pensamentos que os colocam em vibração, modificados pela pureza ou impureza dos sentimentos” - (Allan Kardec - A Gênese, cap. XIV, item 16).

À medida que cresce através do conhecimento, o homem percebe que suas mazelas, tanto físicas quanto espirituais, é diretamente proporcional ao seu grau evolutivo e que ele pode mudar esse estado de coisas, modificando-se moralmente. Aliando-se a boas companhias espirituais através de seus bons pensamentos, poderá estabelecer uma melhor atmosfera fluídica em torno de si e, consequentemente, do ambiente em que vive. Resumindo, todos somos responsáveis pelo estado de dificuldades morais que vive o planeta atualmente.

“Melhorando-se, a humanidade verá depurar-se a atmosfera fluídica em cujo meio vive, porque não lhe enviará senão bons fluidos, e estes oporão uma barreira à invasão dos maus. Se um dia a Terra chegar a não ser povoada senão por homens que, entre si, praticam as leis divinas do amor e da caridade, ninguém duvida que não se encontrem em condições de higiene física e moral completamente outras que as hoje existentes” - (Allan Kardec - Revista Espírita, Maio, 1867).



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sexta-feira, 22 de abril de 2011

EUTANÁISA


Leda Marques Bighetti

O estudo tem como objetivo reafirmar a existência, a encarnação como oportunidade imposta pela lei divina, meio para o Espírito progredir.

Viver pois, constitui-se como o primeiro de todos os direitos naturais do homem e é por isso que ninguém tem o direito de atentar ou praticar qualquer ato que possa comprometer o ritmo normal da vida. ¹

Esclarece a Doutrina Espírita que o Espírito encarnado é um ser trinário composto de: 1.º) um corpo material, semelhante ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital do qual o Espírito se reveste temporariamente. 2.º) a alma, ser imaterial encarnado no corpo; é o Princípio Inteligente em que reside o pensamento, a vontade, o senso moral. É o ser principal, sobrevivente a matéria. 3.º) O perispírito, laço intermediário que prende um ao outro, isto é, o Espírito à matéria. E semimaterial, espécie de invólucro, que faz do Espírito um ser real, definido. ²

Como o perispírito se une a matéria?

"(…) Quando o Espírito tem de encarnar num corpo humano em vias de formação, um laço fluídico, que mais não é do que uma expansão do seu perispírito o liga ao gérmen que o atrai por uma força irresistível, desde o momento da concepção. À medida que o gérmen se desenvolve, o laço se encurta. Sob a influência do princípio vito-material do gérmen, o perispírito, que possui certas propriedades da matéria, se une, molécula a molécula ao corpo em formação, donde o poder dizer-se que o Espírito, por intermédio do seu perispírito se enraíza, de certa maneira, nesse gérmen, como uma planta na terra. Quando o gérmen chega ao seu pleno desenvolvimento, completa é a união; nasce então o ser para a vida exterior".

E a morte, como se dá?

Por um efeito contrário. A união do perispírito efetuada sob a influência do princípio vital do gérmen cessa, se extingue. Deixando de haver essa energia atuante, há a desorganização da matéria, desfaz-se a união da mesma forma como se uniu: molécula á molécula, de dentro para fora, lenta, gradativa, harmônica e o Espírito envolto pelo perispírito, recebia a liberdade. Assim, "(…) não é a partida do Espírito que causa a morte do corpo; esta que determina a partida do Espírito." ³

Como se dá essa soltura perispiritual?

Lentamente, tanto nos processos das enfermidades como pelo desgaste natural da matéria no decorrer do avançar dos anos. Embora esse desprender seja lento, iniciando-se algum tempo antes do desencarne em si, há três regiões orgânicas fundamentais na ligação perispírito-matéria: 1.º) centro vegetativo mais ou menos na altura do umbigo, sede das manifestações fisiológicas do ventre. 2.º) centro emocional, radicado no tórax, zona dos sentimentos, desejos. 3.º) centro mental, constituindo-se como o mais importante sediado no cérebro.

Atingido o ponto indicado na extinção do fluído vital, Espíritos responsáveis por esse trabalho de desligamento, operam, através de energias no centro vegetativo, ocorrendo o esticamento e esfriamento dos membros inferiores. Do umbigo extravasa substância leitosa.

Repetindo as mesmas operações ocorrem irregularidades no batimento cardíaco, queda de pressão arterial. O desencarnante apresenta angústia, aflição. Nova cota de substância se desprende do epigastro a garganta.

Finalmente, atuando no cérebro, desliga-se da região craniana, brilhante chama violeta-dourada que absorve como um aspirador as porções leitosas exteriorizadas dos centros vegetativo e emocional.

Essas substâncias são altamente plasticizantes e formam acima do corpo físico, o corpo perispiritual, a começar pela cabeça, membro a membro, traço a traço. A medida que esse novo organismo se forma, a luz violeta-dourada fulgurante do cérebro empalidece gradualmente até desaparecer de todo. Assegurou-se, nesses detalhes e cuidados, a coesão dos diferentes átomos nas novas dimensões vibratórias.

O Espirito desencarnado eleva-se alguns palmos acima do corpo cadáver apenas ligado a este, através de leve cordão prateado, semelhante a sutil elástico entre o cérebro do corpo físico abandonado e o cérebro perispiritual.

Para os encarnados a morte aconteceu inteiramente. Para o Espírito a operação está incompleta, uma vez que agora repousa contemplando o passado que se lhe descortina em visão panorâmica no campo interior. Há debilidade extrema, sonolência maior ou menor tendo em vista todos os passos anteriores.

Esse intervalo de tempo é importantíssimo, necessário e variável para cada um. Representa período de adaptação, estágio transitório como se fosse prolongamento das vida física e prelúdio, adaptação aos fluidos do campo perispiritual. Só quando for desatado o fio prateado estará o Espírito completamente desligado do corpo físico.

Depois desses raciocínios, um doente, um amigo, um parente, alguém em sofrimentos na enfermidade prolongada ou não, será lícito abreviar-lhes a vida, interrompendo uma situação energética que não foi devidamente extinta no seu desgaste natural?

Esse fluxo de vida não esgotado, procura o corpo físico, mas este já está em processo de absorver as energias no momento oportuno. Fica preso ao lado do corpo que está se desfazendo, absorve os produtos degenerativos desencadeados nos quais substâncias alucinógenas são captadas pelo perispírito, podendo causar segundo as condições de cada um, período variável de loucura, que só o decorrer do tempo a se escoar oferecerá oportunidade para futuro reequilibro desse Espírito.

Cada um tem que vivenciar o processo da vida no corpo físico até o último momento. Dificuldades, problemas, dores, aborrecimentos, doenças, anos avançados em limitações naturais, significam para o Espírito, alvorecer e luz.

Sob quaisquer condições, respeitar o dia da desencarnação, lutando dentro de toda técnica e meios até o último instante.

O falho arbítrio do homem não sabe avaliar o que está acontecendo na intimidade dos instantes. A morte conduzida pela eutanásia, jamais será tranqüila e sem sofrimento e sim desarmônica e desequilibrante para o Espírito que é arrancado dos laços antes da época, o que cria tumulto para organização espiritual, mudando o curso do processo.

As reações serão variáveis diretamente proporcionais ao grau de evolução, compreensão, ou revolta de cada Espírito.

Sob qualquer alegação, a decisão pela aplicação da eutanásia, significará a predominância do conceito materialista da vida, que apenas vê o físico, o material e suas aplicações imediatas em detrimento da realidade espiritual, reflete o primitivismo animal na constituição emocional do homem.

"(…) Felizes da terra! Quando passardes ao pé dos leitos de quantos atravessam prolongada agonia, afastai do pensamento a idéia de lhes acelerardes a morte!"

"(…) Ignorais, por agora, o valor de alguns minutos de reconsideração para o viajor que aspira a examinar os caminhos percorridos, antes do regresso ao aconchego do lar.

Se não vos sentis capacitados ao oferecer-lhes uma frase de consolação ou o socorro de uma prece, afastai-vos e deixai-os em paz!"

Matar nunca!

Bibliografia:
1. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 63. ed., São Paulo-SP, LAKE. Cap. XI, q. 880, p. 291
2. KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 63. ed., São Paulo-SP, LAKE. Introdução VI, § 11
3. KARDEC, Allan. A Gênese. 18. ed., Rio de Janeiro-RJ, FEB. Cap.
XI, it. 18 p. 214
4.
XAVIER, F. C; VIEIRA, Waldo, pelo Espírito André Luiz. Sexo e Destino. 19. ed., Rio de Janeiro-RJ. FEB. Cap. VIII, p. 248

Subsídios
XAVIER, F. C., pelo Espírito André Luiz. Obreiros da Vida Eterna. 9. ed., Rio de Janeiro-RJ, FEB. Cap. XIII, p. 199

Fonte: Jornal verdade e Luz – junho/2005



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quarta-feira, 20 de abril de 2011

O ESPÍRITA E A PÁSCOA


Páscoa é uma palavra hebraica que significa "libertação". Com o êxodo, a Páscoa hebraica será a lembrança perpétua da libertação do povo hebreu da escravidão do Egito, através de Moisés.Assumida pelos cristãos, a Páscoa Cristã será a lembrança permanente de que Deus libera seu povo de seus "pecados" (erros), através de Jesus Cristo, novo cordeiro pascal.

O ritual da Páscoa mantém viva a memória da libertação, ao longo de todas as gerações. "Cristo é a nossa Páscoa (libertação), pois Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" - (João, 1:29).

João usou o termo Cordeiro, porque usava-se na época de Moisés, sacrificar um cordeiro para agradar á Deus. Portanto, dá-se a idéia de que, Deus sacrificou Jesus para nos libertar dos pecados. Mas para nos libertarmos dos "pecados", ou seja, dos erros, devemos estar dispostos a contribuir, utilizando os ensinamentos do Cristo como nosso guia. Porque Jesus não morreu para nos salvar; Jesus viveu para nos mostrar o caminho da salvação.

Esta palavra "salvação", segundo Emmanuel, vale por "reparação", "restauração", "refazimento".

Portanto, "salvação" não é ganhar o reino dos céus; não é o encontro com o paraíso após a morte; salvação é "libertação" de compromisso; é regularização de débitos. E, fora da prática do amor (caridade) de uns pelos outros, não seremos salvos das complicações criados por nós mesmos, através de brigas, violência, exploração, desequilíbrios, frustrações e muitos outros problemas que fazem a nossa infelicidade.

Portanto, aproveitemos mais esta data, para revermos os pedidos do Cristo, para "renovarmos" nossas atitudes. Como disse Celso Martins, no livro "Em busca do homem novo" : "Que surja o homem NOVO a partir do homem VELHO. Que do homem velho, coberto de egoísmo, de orgulho, de vaidade, de preconceito, ou seja, coberto de ignorância e inobservância com relação às leis Morais, possa surgir, para ventura de todos nós, o homem novo, gerado sob o influxo revitalizante das palavras e dos exemplos de Jesus Cristo, o grande esquecido por muitos de nós, que se agitam na presente sociedade tecnológica, na atual civilização dita e havida como cristã.

Que este homem novo seja um soldado da Paz neste mundo em guerras. Um lavrador do Bem neste planeta de indiferença e insensibilidade. Um paladino da Justiça neste orbe de injustiças sociais e de tiranias econômicas, políticas e/ou militares. Um defensor da Verdade num plano onde imperam a mentira e o preconceito tantas e tantas vezes em conluios sinistros com as superstições, as crendices e o fanatismo irracional.

Que este homem novo, anseio de todos nós, seja um operário da Caridade, como entendia Jesus: Benevolência para com todos, perdão das ofensas, indulgência para com as imperfeições alheias."

Por isso, nós Espíritas, podemos dizer que, comemoramos a páscoa todos os dias. A busca desta "libertação" e/ou "renovação" é diário, e não somente no dia e mês pré determinado. Queremos nos livrar deste homem velho. Que ainda dá maior importância para o coelhinho, o chocolate, o bacalhau, etc., do que renovar-se. Que acha desrespeito comer carne vermelha no dia em que o Cristo é lembrado na cruz. Sem se dar conta que o desrespeito está em esquecer-se Dele, nos outros 364 dias do ano, quando odiamos, não perdoamos, lesamos o corpo físico com bebidas alcoólicas, cigarro, comidas em excesso, drogas, sexo desregrado, enganamos o próximo, maltratamos o animal, a natureza, quando abortamos, etc. Aliás, fazemos na páscoa o que fazemos no Natal. Duas datas para reflexão. Mas que confundimos, infelizmente, com presentes, festas, comidas, etc.

Portanto, quando uma instituição espírita se propõe a distribuir ovos de páscoa aos carentes não significa que esteja comemorando esse dia, apenas está cumprindo o preceito de caridade, distribuindo um pouco de alegria aos necessitados.

Aspectos históricos dos ovos de páscoa


Na antigüidade os egípcios e persas costumavam tingir ovos com cores da primavera e presentear os amigos. Para os povos antigos o ovo simbolizava o nascimento. Por isso, os persas acreditavam que a Terra nascera de um ovo gigante.

Os cristãos primitivos do oriente foram os primeiros a dar ovos coloridos na Páscoa simbolizando a ressurreição, o nascimento para uma nova vida. Nos países da Europa costumava-se escrever mensagens e datas nos ovos e doá-los aos amigos. Em outros, como na Alemanha, o costume era presentear as crianças. Na Armênia decoravam ovos ocos com figuras de Jesus, Nossa Senhora e outras figuras religiosas.

Os ovos não eram comestíveis, como se conhece hoje. Era mais um presente original simbolizando a ressurreição como início de uma vida nova. A própria natureza, nestes países, renascia florida e verdejante após um rigoroso inverno.

Em alguns lugares as crianças montam seus próprios ninhos e acreditam que o coelhinho da Páscoa coloca seus ovinhos. Em outros, as crianças procuram os ovinhos escondidos pela casa, como acontece nos Estados Unidos.

Antigamente, me lembro, há mais de 20 anos, o costume era enfeitar e pintar ovos de galinha, sem gema e clara, e recheá-los com amendoim revestido com açúcar e chocolate. Os ovos de Páscoa, como conhecemos hoje (de chocolate), era produto caro e pouco abundante.

De qualquer forma o ovo em si simboliza a vida imanente, oculta, misteriosa que está por desabrochar.

A Páscoa é a festa magna da cristandade e por ela celebramos a ressurreição de Jesus, sua vitória, sua morte e a desesperança (Rm 6.9). É a festa da nova vida, a vida em Cristo ressuscitado. Por Cristo somos participantes dessa nova vida (Rm 6.5).


O chocolate


Essa história tem seu início com as civilizações dos Maias e Astecas, que consideravam o chocolate como algo sagrado, tal qual o ouro. Os astecas usavam-no como moeda.

Na Europa aparece a partir do século XVI, tornando-se popular rapidamente. Era uma mistura de sementes de cacau torradas e trituradas, depois juntada com água, mel e farinha. O chocolate, na história, foi consumido como bebida. Era considerado como alimento afrodisíaco e dava vigor. Por isso, era reservado, em muitos lugares, aos governantes e soldados. Os bombons e ovos, como conhecemos, surgem no século XX.



Rudymara




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sábado, 16 de abril de 2011

VISÃO E OBJETIVO DA POLÍTICA


José Maria da Silva Paranhos Júnior (espírito)

Cada vez mais destaca-se, no contubérnio das relações humanas, uma palavra – Política!

A política internacional, a política nacional de cada povo, a política das religiões, a política social, a política partidária, a política econômica, a política do Cristianismo, a política de preços...

E a política, estudada empiricamente por Aristóteles, passou a ter um caráter realístico para definir uma ordem de valores sociais e administrativos sobre o Estado tornando-se, com a sucessão dos tempos, um instrumento de constante variação conforme as épocas: Idade Média, Renascença, Revolução francesa, alterando os seus métodos filosóficos de conceituação.

A busca do poder pelo homem, faz que se utilize de mecanismos políticos, quase sempre arbitrários, para atingir as metas que persegue.

Raramente são movimentados os recursos saudáveis e nobres para levá-lo à ascensão, a serviço do Estado.

Como conseqüência, a política para a conquista de valores não éticos, tornou-se repelente, passando a representar objetivos degradantes, esconsos, subalternos.

O homem está fadado à conquista de si mesmo, através da qual e exclusivamente o poder perseguido avidamente em todos os estágios do comportamento social perde o seu significado de dominação de qualquer forma.

O logro do poder temporal é precedido de aflições inomináveis e transcorre entre inquietações difíceis de catalogação. Para transferi-lo de mãos, torna-se fator dissolvente da paz íntima, ao tempo em que seqüelas corrosivas permanecem no âmago de quem o utilizava.

Na luta pelo poder todos os meios são lícitos, mas apenas para quem da política somente conhece os meandros escuros da politicagem.

A política representa em cada lugar a alma do povo que a acolhe.

A vida social, os relacionamentos dos grupos, as movimentações de valores aquisitivos não podem prescindir de uma política bem elaborada para o intercâmbio entre as Nações. O êxito porém, de tal empreendimento, funda-se no valor ético de cada indivíduo.

Aí está o fulcro da questão essencial: o homem na ação política e não a atividade política no homem.

A política do poder é inevitável, estrutura maquinismos de preservação e engendra fórmulas de sustentação dos seus interesses.

O político é um homem que aprende a movimentar-se conforme o seu e o interesse do grupo ou do partido, não podendo olvidar-se da massa e do Estado que lhe confiam o dever de salvaguardar-lhes os interesses, de preservar-lhes os ideais e de melhorar-lhes as condições de vida.

Somente quando o político esteja consciente da sua qualidade humana, iluminado por objetivos essenciais que o levem à renúncia, à superação dos interesses pessoais apaixonados, é que se desincumbirá dos vícios partidários em favor dos objetivos a que se entrega.

Falta claridade no discernimento da consciência política, que caracteriza a condição de inferioridade da Terra e o primarismo daqueles que a habitam. O progresso porém é inestancável. Geometricamente ele produz resultados crescentes e trabalhado nas conquistas dos valores que se multiplicam por si mesmos, fomenta a superação do pequeno cosmo dos interesses pessoais no afã enobrecido de construir a felicidade para todos.

Esse desafio se inicia na construção moral do homem saudável.

O homem ideal, não é o de Hegel, nem o de Marx, mas o de Cristo, portador do amor afável, ressuscitado no de Allan Kardec, conhecedor da sua imortalidade, das finalidades existenciais.

Este, ao invés de falar sobre o Evangelho da política, trabalhará pela política do Evangelho, dando-lhe estrutura nobre e consolidando os magnos ideais da Humanidade, que podem ser sintetizados na consciência do dever, na responsabilidade do ser e na produção do amar, como elementos essenciais para um mundo melhor.

Não está longe esse dia, que surgirá da grande noite, como a planta esquecida na semente arrebenta o solo e agiganta-se, assim também a política do pensamento do Cristo pairará soberana sobre as Nações, ensinando o respeito, a fraternidade, a liberdade, a justiça equânime e a igualdade de todos os homens perante a Lei, na desincumbência dos seus deveres, fruindo os direitos de ser feliz, que a todos será concedido.

José Maria da Silva
Paranhos Júnior
(Barão do Rio Branco)


(Página psicofônica recebida pelo médium Divaldo P. Franco, em 17/11/1999, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador-BA.)

(Jornal Mundo Espírita de Maio de 2000)


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quarta-feira, 13 de abril de 2011

ESTRESSE E DEPRESSÃO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SEGUNDO A PSICOLOGIA ESPÍRITA


Adalberto Ricardo Pessoa*

A Psicologia Espírita compreende a saúde mental a partir de um paradigma Holístico (ou seja, globalizante, amplo e sintetizador) bio-psico-sócio-espiritual (ou seja, que engloba as variáveis biológicas, psíquicas, sociais e espirituais, em seu conceito de ser humano integral). Sua intervenção se dá tanto em nível “curativo” (não no sentido médico ou psiquátrico ortodoxo de “curar doenças mentais”, mas sim de melhorar a qualidade de vida psicossocial e ético-espiritual) quanto preventivo, e engloba também a atenção na relação ecológica entre o homem, a natureza e o ambiente. Essa resenha objetiva mostrar como esse modelo pode ser útil para nos ajudar a lidar melhor com dois grandes males modernos: o estresse e a depressão.

Inúmeras pesquisas sugerem existir relação entre Estresse e Depressão, e embora historicamente ambos acompanhem o homem desde o seu surgimento no mundo, é nos últimos tempos que a civilização mais tem se submetido a situações estressoras, criando uma sociedade altamente depressiva. Corroborando essa hipótese, observamos que os Estados Unidos perdem cento e cinqüenta bilhões de dólares anualmente, com problemas acarretados pelo estresse, refletindo diminuição da produtividade, incidência maior de doenças, perdas por morte, incapacidade, e acidentes de trabalho. Nos países em desenvolvimento como o Brasil, a Argentina, e no continente africano a situação é ainda pior, devido a diversos estressores sociais como a instabilidade sócio-econômica, insegurança empregatícia e pública, corrupção, inflação, crises de abastecimento, etc. Nas grandes metrópoles, milhões de pessoas vivem juntas, submetidas aos atritos de todas as disparidades anti-sociais, sob exigências do tempo, transporte, meio ambiente, e pressões de toda espécie (Fajardo, 1997).

O estresse, em si, não é “bom” nem “mau”. Um certo nível de estresse é normal, e ajuda o indivíduo a enfrentar os desafios da vida. Porém, muito estresse faz com que o corpo e a mente reajam de forma desagradável, perturbando a homeostase (ou seja, perturbando o equilíbrio de funcionamento psicossomático, e portanto, do próprio perispírito).

Sabemos que existe uma dialética entre o individual e o coletivo, que caminham lado a lado na história da humanidade. Assim, se por um lado, como vimos, existe uma série de fatores coletivos e sociais que determinam situações de estresse, por outro lado, é a atitude individual de cada um, constituindo a coletividade, que incrementa os estressores sociais.

Pesquisas mostram que a personalidade predisposta ao estresse caracteriza-se especialmente pela (1) destacada ambição social e financeira, (2) exibicionismo, (3) liderança, (4) auto-exigência e perfeccionismo, (5) competitividade, (6) dificuldade em relaxar, (7) responsabilidade e pontualidade extremadas, (8) gosto por desafios e situações novas, etc (Fajardo, 1997).

Esse perfil geral de personalidade é típico do materialista cético apegado a valores externos, mas não só dele. Na verdade, algumas dessas qualidades (não todas), quando presentes em moderação, e alicerçadas em consistentes parâmetros pessoais de ética e moral construtiva, resultam em pessoas produtivas, otimistas e eficazes.

O que ocorre, porém, na maioria dos casos, é o contrário. O ser humano ainda se deixa corromper pelos exageros do egoísmo, fonte maior de inúmeras misérias, segundo Allan Kardec. Como disse Kardec, em suas Obras Póstumas, como “cada um pensa em si, antes de pensar nos outros, e quer a sua própria satisfação antes de tudo, cada um procura, naturalmente, se proporcionar essa satisfação, a qualquer preço, e sacrifica, sem escrúpulos, os interesses de outrem, desde as menores coisas até as maiores, na ordem moral como na ordem material; daí todos os antagonismos sociais, todas as lutas, todos os conflitos e todas as misérias, porque cada um quer despojar o seu vizinho”. Levando-se, em conta, que em maior ou menor grau, todos expressamos tal conduta, daí resulta, pela atitude conjunta de todos, a configuração de nossa cultura depressiva, estressada e ansiosa, expressa nos moldes da sociedade capitalista de consumo predominante.

A depressão, por sua vez, é um efeito definido pela sensação de tristeza, perda da esperança e desânimo, estando freqüentemente associada a sintomas autônomos, como distúrbios que afetam o sono, perda do interesse nos prazeres usuais, distúrbios do apetite e dificuldade de concentração. Apenas um especialista (médico, psiquiatra, psicólogo clínico, etc) pode realizar um diagnóstico preciso de depressão.

Quando o organismo é continuamente sobrecarregado por tensões, a reação de estresse será seguida por depressão na esfera psíquica e na física por queda da resistência imunológica, dando origem à invasão microbiana, virótica, ou mesmo, ao acometimento de doenças auto-imunes, onde o organismo passa a atacar a si próprio.

Isso nos torna diretamente responsáveis pelo nosso próprio bem-estar. Alimentação inadequada (provocando azia, gastrite, diarréia, prisão de ventre, etc), atividades físicas desequilibradas, repouso insuficiente, cigarro e bebida, são todos estressores potenciais, segundo dados de pesquisas recentes, que também relacionam o binômio estresse-obesidade. O estudo do perispírito colabora para explicar como a inadequada atuação sobre a matéria biológica afeta a saúde da mente e do espírito e vice-versa.

A Psicologia, o Espiritismo e a ciência, como um todo, mostram que a solução se encontra na transformação de nós mesmos, em todos os níveis, inclusive no ético-moral. Há a necessidade de determinação vital para a modificação de hábitos, acrescentando vida aos nossos dias. A chamada Reforma Íntima deve se fazer acompanhar por um processo contínuo de Autoconhecimento (ver questão 919, em O Livro dos Espíritos). Quando uma pessoa não conseguir isso sozinha, ela não deve deixar de procurar a ajuda de amigos e parentes, de um terapeuta especialista, e de Deus.

Em relação ao estresse e a depressão, pesquisas mostram que as técnicas de psicoterapia em grupo e programas educacionais conseguem as maiores taxas de sucesso, seguidas pela Acupuntura e as técnicas variadas de relaxamento (massagem bioenergética, Yoga, etc), e depois pela medicação alopática. As técnicas de auto-ajuda com áudio e vídeo alcançam menos resultados, mas combinações das várias técnicas citadas conseguem resultados ainda melhores, pois uma técnica potencializa a outra. Psicoterapia Individual também tem alta taxa percentual de sucesso. Exercícios físicos, cultivo do bom-humor e reeducação alimentar possuem comprovadamente, efeitos terapêuticos contra o estresse e a depressão, especialmente quando presentes em contexto interdisciplinar com as terapias psicológicas citadas. Nesse caso, abre-se espaço de atuação para outros profissionais como fisioterapeutas, professores de educação física, nutricionistas e médicos naturalistas trabalharem em conjunto.

Quanto à dimensão espiritual, estudos embasados em pesquisas experimentais mostram que ao se buscar a verticalidade do relacionamento com a Providência (Deus), o estresse é modificado e administrado dentro dos parâmetros de máxima saúde e capacidade reprodutiva (Fajardo, 1997). O interessante é que esse fato é observado tanto por pesquisadores de orientação espírita, quando por pesquisadores não-espíritas. A pesquisa em ciência espírita conclui, portanto, que um serviço de orientação espiritual - coligado aos trabalhos terapêuticos citados nas pesquisas realizadas - é um procedimento complementar útil à manutenção da saúde integral do corpo, da mente e do espírito.

Referência Bibliográfica Complementar

Fajardo, Augusto e cols. Qualidade de vida com saúde total. Vila Prudente: Editora Health Ltda, 1997. (Pág. 403: artigo “Como enfrentar o estresse” do Dr. Irineu César Silveira dos Reis).

*Psicólogo Clínico e Analista Junguiano e Transpessoal formado pela USP, Membro da Associação Brasileira de Psicólogos Espíritas (ABRAPE)

Fonte: Jornal O Semeador – maio/2002


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segunda-feira, 11 de abril de 2011

JESUS E A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL


Afirma Daniel Goleman em seu livro “Inteligência Emocional” que os grandes mestres espirituais como Jesus e Buda “tocaram o coração dos seus discípulos falando na linguagem da emoção, ensinando por parábolas, fábulas e contos”. Segundo o escritor estes mestres espirituais falam no “vernáculo do coração”, o que do ponto de vista racional tem pouco sentido.

Goleman explica ainda que segundo Freud, em seu “conceito primário” de pensamento, essa lógica da mente emocional é a “lógica da religião e da poesia, da psicose e das crianças, do sonho e do mito”. Isto engloba também as metáforas e imagens como as artes, romances, filmes, novelas, música, teatro, ópera, etc., pois tocam de forma direta a mente emocional.

Isto nos leva a entender por que as expressões religiosas e artísticas agradam tanto: é que a imensa maioria das pessoas é dominada pela emoção. Também explica o motivo dessa preferência das multidões a essas crenças novas, rotuladas de evangélicas, que manipulam as emoções como fator de atração e direcionamento de seus adeptos.

Mas, o que é a EMOÇÃO? O dicionário registra: qualquer agitação ou perturbação da mente; sentimento; paixão; qualquer sentimento veemente ou excitado.

Segundo Goleman: “EMOÇÃO se refere a um sentimento e seus pensamentos distintos, estados psicológicos e biológicos, e a uma gama de tendências para agir.”

Não podemos perder de vista as sutilezas em que as emoções se manifestam, para melhor entendimento do assunto e encaminhamento do nosso raciocínio.

Os estudiosos do tema propõem famílias básicas (assim co­mo as cores básicas); mencionaremos algumas:

IRA: fúria, revolta, ressentimento, raiva, exasperação, indignação vexame, animosidade, aborrecimento, irritabilidade, hostilidade e, no extremo, ódio e violência patológicos.

TRISTEZA: sofrimento, mágoa, desânimo, desalento, melancolia, autopiedade, solidão, desamparo, desespero e, quando patológica, severa depressão.

MEDO: ansiedade, apreensão, nervosismo, preocupação, consternação, cautela, escrúpulo, inquietação, pavor, susto, terror e, como psicopatologia, fobia e pânico.

PRAZER: felicidade, alegria, alívio, contentamento, deleite, diversão, orgulho, prazer sensual, emoção, arrebatamento, gratificação, satisfação, bom humor, euforia, êxtase e, no extremo, mania.

AMOR: aceitação, amizade, confiança, afinidade, dedicação, adoração, paixão, ágape (caridade).

E as virtudes e vícios que vão desde a fé, compaixão, esperança, coragem, altruísmo, perdão, equanimidade até dúvida, preguiça, tédio, etc. Há um debate científico sobre como classificar as emoções, já que podem ser igualmente um estado de espírito, temperamento ou se transformarem em distúrbios emocionais como depressão, angústia, ansiedade, fobias, etc.

Depreende-se, portanto, que em várias circunstâncias de nossa vida as emoções prevalecem e nos dominam. Quantas vezes nos surpreendemos diante de nossas alternâncias de estado de espírito, pois podemos ser muito racionais num momento e irracionais no seguinte quando o calor da emoção passa a comandar nossas atitudes.

É exatamente nos estados extremos das emoções que as pessoas cometem ações das quais se arrependem amargamente no minuto seguinte, quando a mente racional começa a reagir. É este o caminho dos crimes passionais, quando se diz que houve “privação dos sentidos”.

Portanto, emoções são sentimentos a se expressarem em impulsos e numa vasta gama de intensidade, gerando idéias, condutas, ações e reações. Quando burilados, equilibrados e bem conduzidos transformam-se em sentimentos elevados, sublimados, tomando-se, aí sim — virtudes.

O livro de Daniel Goleman traz-nos preciosas contribuições que devem ser analisadas à luz da Doutrina Espirita. Observemos, em princípio, o que consideramos a contribuição fundamental de sua obra: a distinção entre inteligência emocional e racional, em que “linguagem” a primeira se manifesta e todas as conseqüências que daí advêm. Mas, iremos analisar, especificamente, o discurso de Jesus, sob esta ótica.

Segundo o autor e conforme mencionamos linhas atrás, Jesus utilizou-se do “vernáculo do coração”, falava, portanto, a linguagem da emoção, e acrescentamos: do sentimento sublimado — por isto se diz que Ele trouxe a Lei de Amor.

Todavia, para a mentalidade racional que impera no Ocidente, nas elites intelectuais, sobretudo, essa mensagem passou a ser vista como sinônimo de psicose, infantilidade, poesia e utopia. Por outro lado, os principais fatores que geraram esse tipo de leitura foram as distorções, as interpolações e mutilações que o Evangelho sofreu e que o transformaram nesse cristianismo dos tempos atuais, muito distante da verdadeira Boa-Nova.

É exatamente no momento crucial em que a Europa, liderada pela França, entroniza a “deusa Razão”, zombando dos valores espirituais cultivados pela religião dominante, que a Terceira Revelação chega à Terra. O Espiritismo veio fazer uma leitura do Evangelho através da razão. Tendo em suas bases a moral cristã em sua pureza primitiva, interpretada, todavia, na linha do raciocínio a fim de que o seu aspecto emocional passe agora pela mente racional e possa ser aceita, assimilada pela mentalidade que prevalece em nossa época.

Cremos que a resistência na aceitação da Doutrina Espírita por parte dos países europeus (e mesmo norte-americanos), deve-se ao fato de não terem conseguido ainda assimilar essa nova mentalidade, pois destacam, de forma predominante, os valores intelectuais, a linha racional, não admitindo a prevalência da emoção ou a sua equiparação com a razão.

A Doutrina Espírita vem colocar o Evangelho do Cristo na linguagem da razão, com explicações racionais, filosóficas e científicas, mas, vejamos bem, sem abandonar, sem deixar de lado o aspecto emocional que é colocado na sua expressão mais alta, tal como o pretendeu Jesus, ou seja o sentimento sublimado, demonstrando assim que o SENTIMENTO E A RAZÃO podem e devem caminhar pela mesma via, pois constituem as duas asas de libertação definitiva do ser humano: O AMOR E A SABEDORIA.

A questão 627 de “O Livro dos Espíritos” traz-nos primorosa síntese das finalidades do Espiritismo e, a certa altura da resposta transmitida pelos Espíritos Superiores afirma: “O ensino dos Espíritos tem que ser claro e sem equívocos, para que ninguém possa pretextar ignorância e para que todos o possam julgar e apreciar com a razão. Estamos incumbidos de preparar o reino do bem que Jesus anunciou. Daí a necessidade de que a ninguém seja possível interpretar a lei de Deus ao sabor de suas paixões, nem falsear o sentido de uma lei toda de amor e de caridade.”

Suely Caldas Schubert


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quinta-feira, 7 de abril de 2011

LIVRE-ARBÍTRIO


Com a permissão do meu amigo Felipe do blog http://cartasdepaulotarso.blogspot.com

O ensino dos Espíritos, consubstanciado na Doutrina codificada na segunda metade do século passado sob a denominação de Espiritismo, além de nos dar a conceituação precisa do nosso livre-arbítrio, amplia o entendimento a respeito desse atributo da alma humana.

Nenhum dos aspectos que fazem da Doutrina Espírita a bênção consoladora para a Humanidade deve ser considerado isoladamente e, como tal, apreciado pelos seus adeptos sinceros e conscientes. Do mesmo modo devem ser a avaliação e o trato das questões, mesmo que não nos pareçam transcendentes. Todos os aspectos e temas doutrinários devem ser tratados de idêntica maneira, o que não importa dizer que cada seguidor não sinta uma inclinação mais acentuada para esse ou aquele aspecto da Doutrina. O que não é admissível é a descaracterização do todo pela prevalência parcial de uma de suas feições.

Os hermeneutas das ordenações elaboradas pelos homens aconselham, com prudência, que a interpretação de um dispositivo legal não deve ser procedida isoladamente, mas em função do conjunto de normas e em harmonia com as mesmas. De igual modo, a Doutrina trazida pelos Espíritos e sabiamente codificada não pode nem deve ser entendida e apreciada parcialmente e muito menos que se pretenda que um dos caracteres científico, filosófico ou religioso se sobreponha aos outros ou, ainda muito mais grave, que até exclua os demais, como, às vezes, em mentes desavisadas encontra guarida e costuma ocorrer.

O Espiritismo, como sobejamente se sabe e se repete, é uma Doutrina de natureza filosófica, científica e religiosa. Sua filosofia é própria, peculiar e inconfundível e, como tal, não pode ser mutilada.

Por sua vez, o caráter científico dessa Doutrina, além de não se distanciar dos conhecimentos tradicionais decorrentes do progresso humano, estende esses conhecimentos além da matéria densa, para lá do túmulo, para a vida que se desdobra após a morte do corpo.

Desvenda a Ciência Espírita um Mundo ainda mais real porque nos mostra que a vida não cessa e que a alma é imortal. Mas, a feição religiosa dessa majestosa Doutrina, nos atuais estágios evolutivos do Planeta, configura-se de inefável valor, dada a grande necessidade do nosso progresso moral. Daí decorre a integral adoção da Doutrina de JESUS, assimilando-a inteiramente e tornando o Espiritismo, desse modo, a sublime Religião CRISTÃ-ESPÍRITA, para a redenção humana.

Por outro lado, com referência aos temas ordenados na Codificação Espírita, por falta de sensatez e fartura de incontida e indisfarçada vaidade, deparamos, muitas vezes, com atitudes e pronunciamentos discordantes dos princípios espíritas, em militantes do próprio Movimento. É o que acontece, por exemplo, com referência ao livre-arbítrio e à liberdade de expressão do pensamento. Embora constituam franquias inerentes ao ser humano, esses atributos, contudo, não são absolutos e ilimitados. Aos que entendem que o são, falta-lhes bom senso e sobejam-lhes orgulho e vaidade, mesmo quando não são carentes de preparo e de inteligência.

A Doutrina Espírita não impõe sua sabedoria e beleza aos seus seguidores: ela expõe com base em sua magnitude e sua origem.

Portanto, pretender desvirtuar e traçar rumos novos são tentativas vãs que esbarram logo na incompetência de seus autores e na improcedência de suas pretensões. Valem-se, justamente, da liberdade que a Doutrina faculta, de exame de seus postulados, com o uso da razão. Ela não necessita de novos rumos nem insta ninguém a ingressar em suas fileiras. Simplesmente, convida as pessoas que têm a ventura de aproximar-se dela para conhecerem a verdade que as liberta.

Entendem alguns que o livre-arbítrio e a liberdade não podem sofrer restrições e limitações.

A nossa inteligência ainda não está habilitada para absorver a inteira sabedoria das leis divinas.

Mas, a simples observação dos princípios naturais nos dá alguma idéia das limitações do ser humano em face das leis e da grandeza do Universo. Um pássaro dispõe de asas e de liberdade para vôos aparentemente ilimitados. Mas sabemos que não pode ir além de determinada altitude.

Também o homem, no uso de seu livre-arbítrio, não pode praticar determinados atos. É contido quando tenta. Do mesmo modo o Espírito, liberto do corpo físico, não dispõe livremente de sua vontade. As leis e as organizações humanas não permitem que as pessoas usem da liberdade e da via pública para cometerem tropelias de toda ordem. Assim, também, os Espíritos muito endividados e cujos atos os aproximam da natureza primitiva dos animais são contidos, no espaço, e impedidos de praticar certas ações, tolhidos, temporariamente, do pleno exercício do livre-arbítrio, em estrita conformidade com as leis divinas e em perfeita consonância, pois, com a razão. O comportamento não pode ultrapassar determinados limites, embora seja ilimitada a liberdade de pensar.

A liberdade de que se utilizam certas pessoas para distorcer os ensinamentos dos Espíritos, prática que, não raras vezes, constatamos, não as isenta de implicação em falta grave. Em nome do princípio de liberdade da prática religiosa ou da expressão de pensamento, não podem induzir os outros a erro, mormente quando dispõem de tribunas, meios de comunicação e instrução com que não podem contar seus semelhantes.

Os espíritas sinceros, mesmo aqueles que não tiveram acesso à instrução, devem estar atentos a todas aquelas pregações feitas em nome do Espiritismo, mas que não estejam de acordo e em consonância com o ensino dos Espíritos. Não podemos dar guarida a tais distorções, preservando, pois, a simplicidade e a pureza da Doutrina e evitando o que ocorreu com a Revelação Cristã, tantas vezes desvirtuada e ultrajada no curso do tempo.

Conforme nos ensina "O Livro dos Espíritos", na resposta dada à questão 133, o Espírito é criado "simples e ignorante" e, ainda de conformidade com a resposta à questão nº 843 do aludido livro, "lhe é outorgado o livre-arbítrio" donde se conclui que o bom ou mau uso que dessa outorga se faz decorre da maior ou menor evolução do Espírito. Ora, todos aqueles que pretendem modificar o ensinamento dos Espíritos ou estão imbuídos de má-fé ou se julgam superiores aos Espíritos que nos trouxeram a Nova Revelação. E, se se julgam superiores, antes têm que comprová-lo com suas obras, na construção do bem.

Há, pois, pessoas que, movidas por excessivo orgulho e desmedida vaidade, fomentam discórdias, dissonâncias e dissensões nas Instituições, nos Centros e Grupos Espíritas e podem dificultar e retardar o progresso do seu semelhante. Mas, nesta ou noutra vida, vão responder pelos danos e prejuízos causados aos outros.

Assim, tal qual se verifica com a fisionomia humana, a atitude religiosa da criatura é de variada espécie. Há aquela que se opõe à nossa crença com intolerância maior ou menor, a intransigente, a indiferente, a concordante, a discordante, etc. Na abrangência especificamente espírita a atitude também varia. Há os que somente aceitam e julgam bela a filosofia espírita, os que imaginam que a Doutrina é eminentemente científica, há os místicos, os que se limitam à forma, os que se restringem a conhecer sem praticar, os que praticam de um lado e desmentem de outro, mas, felizmente, há considerável número de criaturas que não alardeiam conhecimentos, silenciam, trabalham, doam amor e fraternidade, sempre prontas a ouvir e ajudar, com humildade e dedicação, fiéis à Doutrina porque a absorvem e são bem assistidas pelos Espíritos. Por isso mesmo o Espiritismo está integrado em suas vidas. Afastam-se de discussões estéreis e ficam atentas a qualquer oportunidade de aprender. Amar e aprender é o lema dessas criaturas, que estão sempre nos ensinando a amar com seus comportamentos, obras e exemplos.

Tem, pois, a criatura ampla liberdade de agir e de pensar, mas a sua evolução, as conquistas, as alegrias e felicidade futuras ficam condicionadas ao seu aprendizado, ao bem que proporciona e ao amor dedicado ao seu semelhante, também caminhante da longa estrada humana.


Washington Borges De Souza


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segunda-feira, 4 de abril de 2011

A CARTA COMPROMETEDORA DE ELIAS


Se não se convencem pelos fatos, menos o fariam pelo raciocínio. (Allan Kardec).

O escritor José Reis Chaves, autor do livro A Face Oculta das Religiões, em um artigo publicado, em sua Coluna, de 26.04.04, no jornal "O Tempo", de Belo Horizonte, "Ressurreição de Todos", dá-nos uma informação interessantíssima. Diz ele:

"E o desaparecimento de Elias vivo confundiu muito os teólogos sobre a ressurreição. Mas ele ficou na Terra, 
pois Jorão, depois, recebeu dele uma carta. 2 Crônicas 21,12)".

Engraçado como muitas vezes não enxergamos o óbvio, pois realmente, segundo a narrativa bíblica citada, Elias, depois de ter sido supostamente arrebatado, enviou mesmo uma carta a Jorão, filho e sucessor de Josafá, de Judá. Confirmam isso os tradutores da Bíblia de Jerusalém, quando nos oferecem a seguinte explicação para essa passagem:

"De acordo com a cronologia de 2Rs, Elias tinha desaparecido antes do reinado de Jorão de Israel (2Rs 2; 3,1) e, portanto, antes de Jorão de Judá (2Rs 8,16; cf. no entanto 2Rs 1,17). O cronista deve utilizar uma tradição apócrifa".

Mas o que há de extraordinário nisso? Bom, se a passagem mencionada for verdadeira, e aqui os defensores da inerrância bíblica, por coerência, não podem aceitar de outro modo, estaremos diante de duas alternativas. A primeira: que Elias não foi arrebatado, já que envia uma carta. Isso para nós foi o que de fato ocorreu, uma vez que é difícil sustentar que alguém tenha sido arrebatado de corpo e alma levando-se em conta que se "Deus é espírito" (Jo 4,24), nós também somos seres espirituais, já que fomos criados à Sua imagem e semelhança. Por outro lado, se "o espírito é que dá vida, a carne não serve para nada" (Jo 6,63) e que "a carne e o sangue não podem herdar o reino dos céus" (1Cor 15,50) não há como compatibilizar corpo físico na dimensão espiritual. A segunda alternativa, que, por certo, poderá deixar alguns fanáticos perplexos, é que, se aceitarmos que não há exceção nas Leis Divinas, Elias morreu, como irá acontecer com todo ser humano; daí, por força das circunstâncias, teremos que admitir que, do plano espiritual, ele envia uma carta ao rei. Portanto, uma ocorrência mediúnica, com alguém servindo de médium para receber essa carta e enviá-la ao destinatário, traduzindo-se isso em uma autêntica psicografia.

A título de curiosidade, observamos que os termos usados nessa narrativa aparecem, nas diversas traduções bíblicas, ora como "uma carta", ora como "uma mensagem" e ora como "um escrito", mas, no fundo, tudo é a mesma coisa. Lembramo-nos aqui do saudoso Chico Xavier que recebia, com facilidade uma imensidão de cartas dos "mortos".

Na primeira hipótese acima citada, não há nenhum fato bíblico entre "os arrebatados" que venha a sustentar a possibilidade de que, em algum momento, um deles tenha se comunicado, por qualquer meio, com os encarnados. Entretanto, quanto à segunda hipótese, ou seja, a que Elias tenha morrido, podemos comprovar biblicamente, por dois acontecimentos, os quais vêm apoiar a uma ocorrência dessa ordem.

O primeiro, narrado em 1Sm 28, 1-25, é um fenômeno mediúnico de psicofonia, que registra a ocasião em que o rei Saul vai a Endor, para que, através da pitonisa (médium) que residia nessa localidade, pudesse aconselhar-se com o profeta Samuel, já desencarnado. Como estava numa situação angustiante, pois se encontrava cercado pelo exército dos filisteus, queria saber do espírito do velho profeta sobre o que o futuro lhe aguardava em relação a essa iminente guerra.

O segundo, sempre "esquecido" dos contraditores da comunicação com os "mortos", é quando os espíritos de Moisés e Elias apareceram a Jesus, Pedro, Tiago e João, e conversaram com o Mestre. Classificamos esse fenômeno mediúnico como de "materialização", pois esses dois espíritos também foram vistos pelos três discípulos que testemunharam o fato, que, ao que tudo indica, eram os médiuns doadores da energia necessária para a produção do fenômeno, a qual chamamos de ectoplasma. Inclusive, podemos observar que, nos principais fenômenos mediúnicos produzidos por Jesus, vistos por alguns como milagres, os três apóstolos citados eram convidados por Ele, para deles participarem, pois só eles, entre os que o seguiam, possuíam essa energia de forma mais acentuada.

Há ainda um outro evento, que nunca é falado, pois não teria como ser negado: trata-se do acontecido com o próprio Jesus, que depois de morto comunicou-se com inúmeras pessoas. E, plagiando o que o apóstolo dos gentios disse aos coríntios, diríamos: "Pois se os mortos não se comunicam, também Cristo não se comunicou. Se Cristo não se comunicou ilusória a nossa fé".

Assim, com essa carta de Elias, acreditamos estar diante de mais uma ocorrência bíblica, que vem provar a comunicação entre os dois planos da vida, embora negada sistematicamente por alguns, mas que pode ser corroborada pela própria proibição bíblica de Moisés de se comunicar com os mortos (Dt 18,9-14), já que Moisés não era tão louco assim para proibir algo que não existe. Está, portanto, comprovada pela própria Bíblia, a realidade da comunicação entre os habitantes do mundo físico com os do mundo espiritual. E como diria Jesus: "Quem tem ouvidos, ouça".


Paulo da Silva Neto Sobrinho

Maio/2004.



Referência Bibliográfica:

Bíblia de Jerusalém, São Paulo: Paulus, 2002.

Jornal O Tempo, de 26.04.2004, Coluna de José Reis Chaves, pág. A8.

(Publicado no Jornal Espírita, julho de 2004, nº 347, FEESP, pág. 11).


endereço: http://www.apologiaespirita.org/

imagem: genesiscontradarwin.blogspot.com

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