quarta-feira, 30 de março de 2011

ASPECTOS HISTÓRICOS E JURÍDICOS DO ABORTO


Com a permissão do amigo Felipe

O aborto é tão antigo como a própria humanidade. O Código de Hamurábi (cerca de 1700 a.C.) já o proibia, dispondo sobre indenizações. No Êxodo, no segundo livro do Pentateuco, lê-se no cap. 21, vs. 22 a 25: “Se homens brigarem e ferirem mulher grávida, e forem causa de que aborte, porém, sem maior dano, aquele que feriu será obrigado a indenizar segundo o que lhe exigir o marido da mulher; e pagará como os juízes lhe determinarem. Mas, se houver dano grave, então, darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferimento por ferimento, golpe por golpe”.
A Lei de Manu, na Índia, considerava o aborto uma prática criminosa. E se dele resultasse a morte de mulher de casta superior, o responsável poderia ser castigado até com a morte. Entre os assírios, as punições eram severíssimas. A quem fizesse abortar mulher que não tivesse filhos, aplicava-se a pena de morte. E a mulher que abortasse sem o consentimento do marido, estava sujeita à pena de morte por empalação.
Na Pérsia, o Zend Avesta previa a punição à mãe e ao pai da jovem que, por “vergonha do mundo”, destruísse a vida que trazia em seu ventre. Pai e mãe eram levados a morte infamante.
Na Grécia, era corrente a provocação do aborto. Licurgo e Sólon a proibiram e Hipócrates, no seu famoso juramento, declarava: “a nenhuma mulher darei substância abortiva”. Mas, surpreendentemente, Aristóteles admitia o aborto, antes da “animação”, ou seja, desde que o feto ainda não tivesse adquirido alma (considerava o feto “animado” quarenta dias após sua concepção, se do sexo masculino e oitenta dias, se do sexo feminino).O aborto, assim, tornou-se muito comum, com profusas listas de substâncias abortivas cada vez mais consultadas.
Em Roma, a Lei das XII Tábuas e as leis da República não cuidavam do abortamento. O produto da concepção era considerado parte do corpo da mãe, e não um ser autônomo. Ensinavam os estóicos que a mulher podia abortar, porque dispunha de seu próprio corpo. Como na Grécia, a sociedade romana exercia livremente tal prática. (Ovídio, no século I da era cristã, chegou a registrar tal fato. “Atualmente” – falava o poeta – “esvazia o útero a mulher que quer parecer bela, e rara, em nossa época, é aquela que deseja ser mãe.”).
Mais tarde, o aborto foi considerado uma agressão ao direito do marido e à prole, e ao tempo de Séptimo Severo e de seu filho Caracala (por volta de 200 d.C.), o aborto passou a ser castigado. Em reação à corrupção dos costumes, à licença do passado, eram aplicadas penas gravíssimas, inclusive, o exílio temporário. Mas se fosse constatado o intuito de lucro, aplicava-se a pena capital.
Com o advento do Cristianismo, com a revelação da imortalidade da alma – que de Deus provinha e a Ele retornaria após a morte –, consolidou-se a reprovação social com relação à prática abortiva. Adriano, Constantino e Teodósio, reformando o antigo Direito Romano, assimilaram o aborto criminoso ao homicídio, com a cominação da pena de morte.
Na Idade Média, todavia, teólogos discutiam em torno da incriminação do aborto. Agostinho, por exemplo, baseado na doutrina de Aristóteles, dizia que o aborto só era crime quando o feto já tivesse recebido alma, o que ocorreria 40 ou 80 dias após a concepção, conforme se tratasse de homem ou mulher.
Basílio, entretanto, firmando-se na versão da Vulgata, não admitia qualquer distinção, sustentando que o aborto provocado era sempre criminoso.
O Direito Canônico consolidou-se nessa direção. O que importava era a alma do nascituro que morria sem batismo. E as penas, observe-se, eram severíssimas: a Constitutio Criminalis Carolina, de 1532, cominava pena de morte pela espada a quem provocasse o abortamento em alguma mulher, e a morte por afogamento da mulher que, em si mesma, o fizesse.
Nesse tempo, o Direito Alemão considerava o aborto uma espécie de feitiçaria ou crime especial de homicídio. No século XVIII, os filósofos passaram a denunciar o excessivo rigor da punição e, com o tempo, a pena de morte foi abolida em toda parte, estabelecendo-se, apenas, a pena de prisão.
Modernamente, com o crescimento, inclusive, do feminismo exagerado, detectam-se duas tendências entre as nações: uma, dirigida ao abrandamento da pena para facilitar as condenações; outra, no sentido da descriminalização total ou parcial da prática abortiva. No Brasil, o Código Criminal do Império, de 1830, consignou o aborto como crime contra “a segurança das pessoas e das vidas”. Não era punido quando realizado pela própria gestante.
O Código da República, de 1890, dispunha sobre o aborto criminoso, mas previa a redução da pena para aquelas mulheres que praticassem o auto-aborto para “ocultar a desonra própria”.
Em 1940, foi editado o Código Penal brasileiro, ainda hoje em vigor, considerando ilícita a prática abortiva, ou seja, a interrupção da gravidez com a conseqüente morte do feto, seguida ou não da sua expulsão. O crime de abortamento, pela nossa Lei Penal, encontra tipificação no mesmo capítulo (Cap. I, Parte Especial) que versa sobre os crimes contra a vida. Os artigos 124 a 127 tratam do crime de aborto, dispondo sobre três situações: I – aborto praticado pela gestante ou com o seu consentimento; II – aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante; III – aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante.
Vê-se, assim, que o Código Penal admite a antijuridicidade, ou seja, a ilicitude do aborto, crime contra a vida que, como o homicídio e o infanticídio, são julgados pelo Tribunal do Júri. Todavia, no art. 128, o nosso Código estabelece duas exceções que são os casos de aborto necessário ou terapêutico e no caso de gravidez resultante de estupro, o chamado aborto sentimental.
Trata-se do discutido aborto legal. O aborto terapêutico é legalmente consentido quando não há outro meio de salvar a vida da gestante. (Observe-se, a propósito, que esse é o único tipo de aborto admitido pelos Espíritos, como se constata no item 359, de O Livro dos Espíritos). O aborto sentimental – estranhamente também denominado ético ou humanitário – não prescinde do prévio consentimento da gestante ou de seu representante legal e só pode ser praticado por médico.
Ocorre aqui fato singular: a lei não exige autorização judicial para a prática do aborto sentimental, ficando a intervenção ao inteiro arbítrio do médico.
Anote-se, aqui, que embora doutrinadores respeitáveis venham entendendo que o art. 128 e seus incisos representem excludente de ilicitude, há quem sustente, à luz da teoria normativa pura, que mais orienta o nosso Código, que se trata de excludente de culpabilidade (inexigibilidade de outra conduta).
Assim, como bem sublinhou o colega Marco Antônio da Silva Lemos, em recente trabalho, as condutas descritas no art. 128, por típicas e antijurídicas, seriam formalmente criminosas, de modo que o aborto legal, na verdade, não existe, a não ser em sentido figurado.


Extraído do site da Associação Brasileira dos Magistrados Espiritas


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domingo, 27 de março de 2011

PENA DE TALIÃO


Um correspondente da Sociedade nos envia a nota seguinte:

"O Sr. Antônio B..., um de meus parentes, escritor de mérito, estimado por seus concidadãos, tendo desempenhado com distinção e integridade funções públicas na Lombardia, há cerca de seis anos e em conseqüência de uma apoplexia, caiu num estado de morte aparente que, infelizmente e como por vezes acontece, foi tomado como de morte real. O erro era tanto mais fácil quanto julgaram perceber no corpo sinais de decomposição. Quinze dias após o enterro, uma circunstância fortuita levou a família a pedir a exumação: tratava-se de um medalhão, esquecido no caixão por descuido. Grande, porém, foi o estupor dos assistentes quando, ao abri-lo, reconheceu-se que o corpo tinha mudado de posição, tinha-se virado e, coisa horrível! uma das mãos, em parte, fora comida pelo defunto. Ficou, então, manifesto que o infeliz Antônio B... tinha sido enterrado vivo; devia ter sucumbido nas garras do desespero e da fome. Seja como for, este triste acontecimento e suas conseqüências morais não deixam de ter importância, do ponto de vista espírita e psicológico, para um inquérito no mundo dos Espíritos?"

1 - (Evocação de Antônio B...).

- Que quereis de mim?

2 - Um de vossos parentes pediu-nos que vos evocássemos. Fazemo-lo com prazer e sentir-nos-emos felizes se tiverdes a bondade de responder.

- Sim, quero mesmo responder.

3 - Lembrai-vos das circunstâncias de vossa morte?

- Ah! certo que sim. Lembro-me. Porque despertai essa lembrança de castigo?

4 - É certo que fostes por descuido enterrado vivo?

- Assim deveria ser, porque a morte aparente teve todas as características de morte real. Eu estava quase exangue. Não se deve atribuir a ninguém um fato previsto desde antes de meu nascimento.

5 - Se estas perguntas são de molde a vos causar sofrimento, devemos parar?

- Não, continuai.

6 - Queríamos saber-vos feliz, pois deixastes a reputação de um homem decente.

- Muito agradecido. Sei que orareis por mim. Tratarei de responder; mas se fracassar, um de vossos guias habituais as suprirá.

7 - Poderíeis descrever as sensações que experimentastes naquele terrível momento?

- Oh! que prova dolorosa! Sentir-se fechado entre quatro tábuas, de modo a não poder mover-me, sem mudar!Não poder chamar; a voz não ressoando num meio privado de ar. Oh! que tortura a de um infeliz que em vão se esforça para respirar numa atmosfera insuficiente e desprovida de elemento respirável! Ah! eu era como um condenado à garganta de um forno, exceto ao calor. Oh! a ninguém desejo semelhantes torturas! Não, a ninguém desejo um fim como o meu. Cruel punição de uma existência cruel e feroz! Não me pergunteis em que eu pensava; mas eu mergulhava no passado e vagamente entrevia o futuro.

8 - Dizeis: cruel punição de uma existência feroz. Mas vossa reputação, até então intacta, nada deixa supor de semelhante. Podeis explicar isto?

- Que é a duração de uma existência na eternidade? Certo, tratei de agir bem na última encarnação; mas este fim tinha sido aceito por mim antes de voltar à humanidade. Ah! porque me interrogar sobre esse passado doloroso, que só eu conhecia, como os Espíritos, ministros do Onipotente? Sabei, pois, já que é necessário dizer, que numa existência anterior eu havia emparedado uma mulher, a minha, viva num carneiro! Foi a pena de Talião que tive de aplicar a mim! olho por olho, dente por dente.

9 - Agradecemos a bondade de haver respondido às nossas perguntas e rogamos a Deus vos perdoe o passado em favor do mérito de vossa última existência.

- Voltarei mais tarde. Aliás, o Espírito Erasto terá a bondade de completar.

REFLEXÕES DE LAMENNAIS (Espírito) SOBRE ESTA EVOCAÇÃO

Deus é bom! mas, para chegar ao aperfeiçoamento, deve o homem sofrer as provas mais cruéis. Este infeliz viveu vários séculos durante sua desesperada agonia e, embora sua vida tenha sido honrada, esta prova deveria cumprir-se, pois a tinha escolhido.

REFLEXÕES DE ERASTO (Espírito)

O que deveis extrair deste ensino é que todas as vossas existências se ligam, e que nenhuma é independente das outras. As preocupações, os aborrecimentos, como as grandes dores que ferem os homens, são sempre as conseqüências de uma vida anterior, criminosa ou mal empregada. Contudo, devo dizer-vos que fins semelhantes ao de Antônio B... são raros; e se este homem, cuja última existência foi isenta de censura, terminou desta maneira, é que ele próprio havia solicitado morte semelhante, a fim de abreviar o tempo de sua erraticidade e mais rapidamente atingir as esferas elevadas. Com efeito, após um período de perturbação e sofrimento moral, para expiar ainda o seu crime espantoso, será perdoado e elevar-se-á a um mundo melhor, onde encontrará sua vítima, que o espera e que de há muito o perdoou. Sabei, pois, tirar vosso proveito deste exemplo cruel, para suportar com paciência, ó meus caros Espíritas, os sofrimentos corporais, os sofrimentos morais, e todas as pequenas misérias da vida.

Pergunta: Que proveito pode tirar a humanidade de semelhantes punições?

Resposta: Os castigos não são feitos para desenvolver a humanidade, mas para castigar o indivíduo culpado. Com efeito, a humanidade não tem nenhum interesse em ver sofrer um dos seus. Aqui a punição foi apropriada à falta. Por que os loucos? por que os cretinos? por que os paralíticos? por que os que morrem no foto? por que os que vivem anos nas torturas de uma longa agonia, sem poder viver nem morrer? Ah! crede-me! Respeitai a vontade soberana e não busqueis sondar a razão dos desígnios providenciais. Sabei: Deus é justo e faz bem o que faz. (Espírito Erasto).

OBSERVAÇÃO: Não há neste fato um grande, terrível ensinamento? Assim a justiça de Deus atinge sempre o culpado e, por ser, às vezes, tardia, nem por isso segue menos o seu curso. Não é eminentemente moral saber que se grandes culpados terminam a existência pacificamente e, muitas vezes, na abundância dos bens terrenos, mais cedo ou mais tarde soará a hora da expiação? Penas de tal natureza se compreendem, não só porque, de certo modo estão sob os nossos olhos, mas porque são lógicas. A gente crê nisto porque a razão o admite. Ora, perguntamos se esse quadro que o Espiritismo desenrola a cada instante aos nossos olhos, não é mais próprio para impressionar, para reter à beira do abismo, do que o medo das chamas eternas em que não acreditamos. Releiamos apenas as evocações publicadas nesta Revista e veremos que não há um vício que não tenha o seu castigo e uma virtude que não tenha sua recompensa, proporcionados ao mérito ou ao grau de culpabilidade, porque Deus leva em conta todas as circunstâncias que possam atenuar o mal ou aumentar o prêmio do bem. (Allan Kardec)


http://www.paginaespirita.com.br/taliao.htm

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quinta-feira, 24 de março de 2011

E ACONTECEU NO SINAI


Na própria essência de nosso esforço de compreensão está o fato, de, por um lado, tentar englobar a grande e complexa variedade das experiências humanas, e de, por outro lado, procurar a simplicidade e a economia nas hipóteses básicas. (ALBERT EINSTEIN)

Há tempos que estamos pensando em fazer um estudo específico sobre os acontecimentos no Monte Sinai, mas acabávamos sendo envolvidos por outros assuntos, por isso, esse foi sendo postergado. Entretanto, essa idéia ainda nos persegue. Vejamos, então, o que poderemos fazer.

Primeiramente, devemos dizer porque tal idéia surgiu. Como sempre estamos lendo textos da Bíblia, em certa oportunidade deparamos com um que afirmava que as “Leis do Sinai” haviam sido promulgadas pelos anjos. Isso nos despertou a curiosidade, pois, até então, sabíamos que Deus pessoalmente teria passado essas leis a Moisés.

Mas, antes de entrar no assunto, vejamos o seguinte relato a respeito dos fenômenos ocorridos naquela ocasião:

“Três dias depois, pela manhã, houve trovões e relâmpagos e uma nuvem espessa desceu sobre a montanha, enquanto o toque da trombeta soava fortemente. O povo que estava no acampamento começou a tremer. Então Moisés tirou o povo do acampamento para receber Deus. E eles se colocaram ao pé da montanha. Toda a montanha do Sinai fumegava, porque Javé tinha descido sobre ela no fogo; a fumaça subia, como fumaça de fornalha. E a montanha toda estremecia. O som da trombeta aumentava cada vez mais, enquanto Moisés falava e Deus lhe respondia com o trovão. Javé desceu no topo da montanha do Sinai e chamou Moisés lá para o alto”. (Ex 19,16-20).

Chamamos sua atenção, caro leitor, para “trovões, relâmpagos, nuvem espessa, o Sinai fumegava, o fogo, a montanha toda estremecia” coisas que, presumimos, estariam bem próximas de uma ocorrência natural, tipo vulcânica. Essa região, que faz parte da placa tectônica Africana, fica bem próxima dos limites das placas da Grécia e da Arábica, e, como sabemos, é no encontro dessas placas que ocorrem as manifestações vulcânicas. Se nessa região esses fenômenos não acontecem nos dias de hoje, poderia muito bem ter acontecido naquela ocasião uma vez que a mesma possui as condições geológicas para tal e, por outro lado, a própria narrativa nos leva a acreditar nisso.

E, como naquela época o nível de conhecimentos desses fenômenos da natureza eram completamente nulos, deviam ficar mesmo apavorados com essas ocorrências. Algumas delas julgavam ser a manifestação da ira de Deus, uma vez que tais coisas aconteciam no céu, local onde pressupunham ser a morada de Deus. “... enquanto Moisés falava e Deus lhe respondia com o trovão”, fica aí a comprovação da ignorância dos fenômenos, que são de ordem natural, mas naquele tempo eram considerados como sobrenaturais.

Na seqüência da narrativa, é que Moisés recebe os Dez Mandamentos: “Quando Javé terminou de falar com Moisés no monte Sinai, entregou-lhe as duas tábuas da aliança; eram tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus”. (Ex 31, 18), tábuas onde estavam escritos.

Até aqui as coisas não estavam tão complicadas, a não ser pelos fenômenos ocorridos no monte Sinai, em tudo acreditávamos sem qualquer conflito. Entretanto, inesperadamente, as coisas “estremeceram”, depois de lermos no livro Atos dos Apóstolos: “Foi ele [Moisés], na assembléia do deserto, quem serviu de intermediário entre o anjo que lhe falava no monte Sinai e os nossos pais. Ele recebeu as palavras de vida, para transmiti-las a nós”. (At 7,38).

A narrativa diz “o anjo” e, pela concepção da época, isso significava que o próprio Deus teria se manifestado, entretanto, nessa passagem, segundo o que pensamos, não seria essa a idéia a prevalecer. Um pouco antes, está narrado: “Quarenta anos depois, apareceu-lhe no deserto do monte Sinai um anjo na chama de uma sarça que ardia” (At 7,30) e, posteriormente, no versículo 53 se dirá anjos, fugindo, portanto, do conceito tradicional. E, se não estivermos enganados, em At 7,38 deveria estar “um anjo”, ao invés de “o anjo”, já que, no primeiro caso, seria o artigo indefinido ficando, portanto, condizente com At 7,30.

Em outras oportunidades encontramos a confirmação de que as leis foram passadas pelos anjos, no plural mesmo, indicando terem sido mais de um. Concluímos que, é bem provável, seja essa a realidade, pois não concebemos o próprio Deus, criador do Universo infinito, vir pessoalmente entrar em contato com os seres humanos, uma vez que usaria para isso os seus mensageiros ou anjos, pois “não são todos eles espíritos encarregados para um serviço, enviados para servir àqueles que deverão herdar a salvação?” (Hb 1,14). Vejamos, então, as seguintes passagens:

Vocês receberam a Lei, promulgada através dos anjos, e não a observaram!” (At 7,53).

“Então, por que é que foi dada a Lei? Ela foi acrescentada para mostrar as transgressões, até a chegada do descendente, em vista do qual foi feita a promessa. A Lei foi promulgada pelos anjos e um homem serviu de intermediário”. (Gl 3,19).

“De fato, se a palavra transmitida por meio dos anjos se mostrou válida, e toda transgressão e desobediência recebeu um justo castigo,...”. (Hb 2,2).

Assim, na própria Bíblia, encontramos elementos que nos levam à conclusão de que não foi realmente Deus que esteve no monte Sinai. Pelo próprio conteúdo dessas leis já questionávamos sobre isso. Nos é passado o nono mandamento como “não cobiçar a mulher do próximo”, mas duas coisas nós podemos colocar sobre ele. Primeiro, Deus jamais diria um absurdo desse, pois se trata, com certeza, de produto de uma sociedade altamente machista, e, partindo do pressuposto de que o que não é proibido é permitido, diríamos que a mulher poderá cobiçar o marido da outra sem nenhum problema. O segundo, é que apesar de sempre o colocarem dessa forma, na verdade, esse mandamento é mais abrangente: “Não cobice a casa do seu próximo, nem a mulher do próximo, nem o escravo, nem a escrava, nem o boi, nem o jumento, nem coisa alguma que pertença ao seu próximo”. (Ex 20,17). Isto posto, iremos concordar com o pensamento do escritor Hélio Pinto que diz que os Dez Mandamentos na realidade são nove. No texto bíblico a mulher é colocada como propriedade do homem, coisa que naquela época era normal, não nos dias de hoje. E, além desse novo absurdo, podemos ainda dizer que uma Lei, para ser de origem divina, deve ser, acima de tudo “atemporal”, ou seja, serve para todos os tempos, também deve servir para todos os povos, o que não ocorre como se encontra escrita na passagem em relação a escravo, boi ou jumento, pois eram coisas de muito valor na época, já que, por exemplo, o jumento era instrumento de transporte, hoje temos os automóveis, ter bois significava ser alguém de posses, e quanto aos escravos, nos tempos atuais, dá até cadeia para quem escravizar alguém.

Nossa surpresa maior foi quando nos deparamos com a seguinte afirmativa: “Os babilônios desenvolveram as leis morais mais tarde incorporadas por Moisés nos Dez Mandamentos e que ainda hoje constituem os alicerces do cristianismo”. (LOON, 1981). Mas será que é isso mesmo? Entretanto, pesquisas posteriores acabaram por nos revelar a verdade.

Kersten, nos passa a seguinte informação: “Moisés continua a ser considerado um grande legislador, porém, é fato sabido que os Dez Mandamentos nada mais eram que o resumo de leis que vigoraram entre povos do Oriente Próximo e da Índia, muito antes do nascimento de Moisés e que eram comuns também na Babilônia, já há 700 anos. A famosa lei do rei babilônico de Hamurabi (728-1686 a.C.), inspirada no Rig-Veda dos hindus, já continha todos os dez mandamentos”. (Jesus viveu na Índia, pág. 56).

Vejamos a correlação de algumas leis:

Leis Mosaicas

Código de Hamurabi

Não tenha relações sexuais com sua mãe. Ela é de seu pai, e é sua mãe; não tenha relações sexuais com ela. (Lv 18, 7).

Se alguém for culpado de incesto com sua mãe depois de seu pai, ambos deverão ser queimados.

Se alguém ferir o seu próximo, deverá ser feito para ele aquilo que ele fez para o outro:

fratura por fratura,

olho por olho,

dente por dente.

A pessoa sofrerá o mesmo dano que tiver causado a outro: (Lv 24, 29-20).

Se um homem quebrar o osso de outro homem, o primeiro terá também o seu osso quebrado.

Se homem arrancar o olho de outro homem, o olho do primeiro deverá ser arrancado (olho por olho).

Se um homem quebrar o dente de um seu igual, o dente deste homem também deverá ser quebrado (dente por dente).

Os juízes deverão fazer cuidadosa investigação. Se a testemunha for falsa e tiver caluniado o seu irmão, então vocês a tratarão do mesmo modo como ela própria maquinava tratar o seu próximo. Desse modo, você eliminará o mal do seu meio. (Dt 19, 18).

Se alguém “apontar o dedo” (enganar) a irmã de um deus ou a esposa de outro alguém e não puder provar o que disse, esta pessoa deve ser levada frente aos juízes e sua sobrancelha deverá ser marcada.

Se um homem for pego em flagrante tendo relações sexuais com uma mulher casada, ambos serão mortos, tanto o homem como a mulher. Desse modo, você eliminará o mal de Israel. (Dt 22, 22).

Se a esposa de alguém for surpreendida em flagrante com outro homem, ambos devem ser amarrados e jogados dentro d’água, mas o marido pode perdoar a sua esposa, assim como o rei perdoa a seus escravos.

Isso já tinha desestruturado todas as nossas convicções a respeito do assunto, não precisava de mais nada, entretanto mais um livro chegou às nossas mãos. Foi a gota d’água que veio, por definitivo, mudar conceitos antigos. que aprendemos como se fossem verdades absolutas.

Desta vez o autor foi Werner Keller, que, no seu livro “e a Bíblia tinha razão...” demonstrou, de forma categórica, tudo quanto já tínhamos visto anteriormente. Vejamos suas colocações (págs. 157-160):

“Era perfeitamente possível concluir pela singularidade das leis morais, dadas por Deus ao povo de Israel, sem modelo nem paralelo no antigo Oriente, antes da descoberta dos elementos, indicando clara e inequivocamente que, precisamente em um dos seus trechos de maior relevo, ou seja, os Dez Mandamentos e demais leis promulgadas para Israel, a Bíblia não está sozinha, pois sobretudo ali ela se revela como imbuída do espírito do antigo Oriente. Assim, os Dez Mandamentos representam uma espécie de ‘documento de aliança’, ou a ‘lei básica’ da aliança entre Israel e seu Deus. Em absoluto, não surpreende o fato de corresponder, perfeitamente, aos acordos de vassalagem, celebrados no antigo Oriente, para regulamentar os vínculos entre um soberano e os reis vassalos, por ele instituídos para governar os povos subjugados. Os textos desses contratos de vassalagem sempre começavam citando o nome, título e os méritos do respectivo ‘grão-rei’. Correspondentemente, a Bíblia reza: ‘Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei do Egito, da casa da servidão’ (Êxodo 20.2). Logo, também, ali cita-se primeiro o nome (a palavra ‘Senhor”, segundo a praxe bíblica, substituindo o nome verdadeiro de Jeová, cujo pronunciar era proibido), o título (‘Deus”) e o mérito decisivo (‘que te tirei da terra do Egito’) do grão-rei; só que, neste caso específico, tratava-se do divino ‘grão-rei’ de Israel, do Deus da aliança. Ademais, os vassalos eram proibidos de estabelecer relações com soberanos estrangeiros. A isso corresponde o mandamento ‘Não terás outros deuses diante de Mim’ (êxodo 20.3). A forma imperativa de ‘tu deves’, ‘tu não deves’ está sempre presente nos acordos entre um grão-rei e seus vassalos; portanto, ao contrário do que supõem alguns cientistas, ela absolutamente não se restringe aos Dez Mandamentos bíblicos. Por exemplo, um daqueles tratados de vassalagem reza: ‘Não cobiçarás nenhuma região do país de Hatti’, conquanto a Bíblia diga: ‘Não cobiçarás a casa do teu próximo...’ (Êxodo 20.17). Foram apuradas ainda outras concordâncias, como as referentes à guarda das tábuas como os mandamentos na arca da aliança (as cópias dos contratos de vassalagem também eram guardadas no interior do santuário), bem como à selagem dos contratos, respectivamente, dos mandamentos, com bênção e maldições, pois também Moisés falou (Deuteronômio 11.26 a 28): ‘Eis que eu ponho hoje diante dos vossos olhos a benção e a maldição; a benção, se observardes aos mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu hoje vos prescrevo; a maldição, se não obedecerdes aos mandamentos do Senhor vosso Deus, mas vos apartardes do caminho que eu hoje vos mostro...’ Aliás, o renomado cientista católico, pesquisador de Bíblia, Roland de Vaux, já mencionado por várias vezes, encontrou em diversos acordos de vassalagem hititas a disposição de ler, em intervalos regulares, o texto do acordo, as leis bíblicas deveriam ser lidas em público, pois ‘todos os sete anos, no ano da remissão, na solenidade dos tabernáculos, quando todos os filhos de Israel se juntarem para aparecer diante do Senhor teu Deus... lerás as palavras desta lei diante de todo o Israel, o qual ouvirá... para que, ouvindo, aprendam e temam o Senhor vosso Deus, e guardem e cumpram todas as palavras desta lei’ (Deuteronômio 31.1, 10 a 12)”.

“Tudo isso refere-se somente à forma externa dos Dez Mandamentos. No entanto, o que há em relação ao seu conteúdo espiritual? Tampouco, quanto a isso, faltam paralelos. Assim, na Assíria, um sacerdote, ao exorcizar os ‘demônios’ de um doente, teve de perguntar: ‘Será que ele (o doente) ofendeu um deus? Menosprezou uma deusa?... Menosprezou seu pai e sua mãe? Menosprezou a irmã mais velha?... Teria ele falado ‘não é assim, ao invés de ‘é assim” (ou vice-versa)? ... Teria ele feito pesagem falsa? Invadido a casa do seu próximo? Ter-se-ia aproximado demasiadamente da mulher do seu próximo? Teria vertido o sangue do seu próximo?...”.

“Por fim, seguem-se ainda alguns exemplos, tirados do chamado ‘ensinamento de Amenemope’, em uso no antigo Egito”:

‘Não retirarás a pedra demarcando os limites do campo e não alterarás a linha, seguida pela fita do metro; não cobiçarás nem um côvado de terra e não derrubarás a demarcação das terras de uma viúva’.

‘Não cobiçarás a propriedade de um homem de posses modestas e não terás fome do seu pão’.

‘Não regularás a balança de maneira errada, não adulterarás os pesos e não diminuirás as peças da medida dos cereais’.

‘Não farás a desgraça de ninguém perante o tribunal e não corromperás a justiça’.

‘Não darás risada de um cego, não farás troça de um anão e não desfarás os planos de um paralítico’.

“Da mesma forma, o ‘exemplo clássico’ que hoje em dia costuma ser citado pelos pesquisadores da Bíblia é a chamada ‘confissão negativa’, mencionada na introdução ao centésimo vigésimo quinto capítulo do Livro dos Mortos. No antigo Egito era crença que o defunto ingressaria em uma ‘sala de justiça’, onde, perante quarenta e dois juízes dos mortos, deveria fazer as seguintes declarações”:

‘Não fiz adoecer ninguém.

Não fiz chorar ninguém.

Não matei ninguém.

Não fiz mal a ninguém.

Não diminuí os alimentos nos templos.

Não maculei os pães oferecidos aos deuses.

Não roubei os pães destinados aos mortos, como oferendas fúnebres.

Não tive relações sexuais (proibidas).

Não tive relações sexuais contrárias à natureza’.

“E assim por diante”.

“Em outra parte veremos ainda que, graças às pesquisas mais recentes, hoje em dia já se tornou bem menos acentuada a diferença, outrora gritante, entre conceitos: ‘Aqui, a sublime fé monoteísta – ali, a multidade bizarra de deidades’. Em certa época, pelos menos nos tempos primitivos, aquela multidade de deidades existiu, inclusive em Israel, conquanto a idéia da grandiosidade de figuras divinas, reais, fosse divulgada igualmente nas crenças religiosas de outros povos, habitando as imediações da Terra Santa. Da mesma forma, cumpre fazer constar que também alhures houve moralidade; além das fronteiras de Israel, o povo era igualmente responsável, tinha modos, observava os preceitos da lei, ordem, ética e moral, e também ali as normas regendo o comportamento humano encontravam uma expressão que, tanto no espírito quanto na letra, correspondia perfeitamente aos regulamentos sagrados vigentes em Israel. E, mais uma vez, a Bíblia tem razão, no sentido de que, nos seus textos jurídicos, cuja peça principal são os Dez Mandamentos, ela nos transmite um trecho pertinente, comprovado por respectivos paralelos na história cultural e moral do antigo Oriente. O quadro assim constituído, e de modo a dificultar que fosse mantida a outrora levantada pretensão da singularidade das leis bíblicas, talvez confunda e intrigue a mente de algumas pessoas. Lamentavelmente, não há condições de eliminar tal confusão e insegurança. No entanto, hoje em dia, a confirmação extrabíblica dos respectivos textos bíblicos revela o relacionamento de Israel com seu ambiente cultural e histórico, bem como suas máximas, de uma maneira bastante mais clara e precisa do que antes...”.

Foi aqui, finalmente, que jogamos, de vez, “a tolha no chão”, vamos assim dizer, não resistindo aos inapeláveis argumentos históricos desenvolvidos por Keller.

Pode ser que eventualmente isso venha a chocar a muitos, entretanto, muitas vezes acontece isso mesmo, quando ficamos sabendo da verdade. Alguns, com certeza nos chamarão de heréticos, como se isso fosse mudar os fatos. Além de que, se o somos, estaríamos muito bem acompanhados, pois Jesus foi também herético no seu tempo. Outros, talvez, dirão que estamos possuídos por satanás, a estes pedimos estudar mais a história, pois irão ver que esse ser foi incorporado, na Bíblia, por influência da cultura persa, pela doutrina de Zoroastro.

Deveríamos fazer um estudo mais aprofundado desses assuntos bíblicos, demonstrando, por separação, a realidade da fantasia, sob pena de, no futuro, ninguém mais vai dar valor algum a ela. Pelos estudos que temos feito da Bíblia a conclusão que inevitavelmente estamos chegando é que apesar dela ter sido imposta como sendo “a palavra de Deus” ela é sim um livro histórico, em que também se encontra registrados os conceitos religiosos do povo hebreu, muitas vezes, cheios de superstições, misturadas com mitologia, lendas e conceitos pagãos, daí a necessidade de seu estudo sem preconceitos. Ressalva faremos apenas ao Evangelho de Jesus.

Mas, apesar disso tudo, ainda poderemos aceitar que os Dez Mandamentos são realmente de inspiração divina. Entretanto, teremos que identificar quem foi o “Moisés” que antes os recebeu.

Paulo Neto

Jan/2004 (revisado)

Referência bibliográfica:

KELLER, Werner, e a Bíblia tinha razão..., 22ª ed., Melhoramentos, São Paulo, 2000.

KERSTEN, Holger, Jesus Viveu na Índia, 15ª ed., Best Seller, São Paulo, 1988.

LOON, Hendrik W.V., A História da Bíblia, s.ed., Cultriz, São Paulo, 1981.

STOMIOLO, Ivo e BALANCIN, Euclides. M., Bíblia Sagrada -Edição Pastoral, Paulus, São Paulo, 1991.

VESENTINI, J. W, e VLACH, V, Geografia Crítica, vol. 1, Ática, São Paulo, 13ª edição.



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segunda-feira, 21 de março de 2011

A FAMÍLIA COMO INSTRUMENTO DE REDENÇÃO ESPIRITUAL


Autor: Deolindo Amorim e Hermínio C. Miranda.


... Reconcilia-te com o teu adversário – advertiu Cristo – enquanto estás a caminho com ele.

E não é precisamente no círculo aconchegante da família que estamos a caminho com aquele que a nossa insensatez converteu em adversário?

O espiritismo coloca, pois, sob perspectiva inteiramente renovada e até inesperada, além de criativa e realista, a difícil e até agora inexplicável problemática do inter-relacionamento familial. Se um membro de nossa família tem dificuldades em nos aceitar, em nos entender, em nos amar, podemos estar certos de que tais dificuldades foram criadas por nós mesmos num relacionamento anterior em que as nossas paixões ignoraram o bom senso.

- E a repulsão instintiva que se experimenta por algumas pessoas, donde se origina? Perguntou Kardec aos seus instrutores (LIVRO DOS ESPÍRITOS, Pergunta 389).

- São espíritos antipáticos que se adivinham e reconhecem, sem se falarem.

O ponto de encontro de muitas dessas antipatias, que necessitam do toque mágico do amor e do entendimento, é a família consangüínea, célula de um organismo mais amplo que é a família espiritual, que por sua vez, é a célula da instituição infinitamente mais vastas que são a família mundial e, finalmente, a universal.

A Doutrina considera a instituição do casamento como instrumento do “progresso na marcha da humanidade” e, reversamente, a abolição do casamento como “uma regressão à vida dos animais”. (Questões 695 e 696, de O LIVRO DOS ESPÍRITOS). Como vimos há pouco, é também essa a opinião dos cientistas especializados responsáveis.

Ao comentar as questões indicadas, Kardec acrescentou que – “O estado de natureza é o da união livre e fortuita dos sexos. O casamento constitui um dos primeiros atos de progresso nas sociedades humanas, porque estabelece a solidariedade fraterna e se observa entre todos os povos, se bem que em condições diversas”.

No que, mais uma vez, estão de acordo estudiosos do problema do ponto de vista científico e formuladores e divulgadores da Doutrina Espírita.

Isto nos leva à delicada questão do divórcio, reconhecido como uma das principais causas desagregadoras do casamento e, por extensão, da família.

O problema da indissolubilidade do casamento foi abordado pelos Espíritos, de maneira bastante sumária, na Questão nº. 697. Perguntados sobre se “Está na lei da Natureza, ou somente na lei humana a indissolubilidade absoluta do casamento”, responderam na seguinte forma:

- É uma lei muito contrária à da Natureza. Mas os homens podem modificar suas leis; só as da Natureza são imutáveis.

O que, exatamente, quer dizer isso?

Em primeiro lugar, convém chamar a atenção para o fato de que a resposta foi dada no contexto de uma pergunta específica sobre a indissolubilidade absoluta. Realmente, a lei natural ou divina não impõe inapelavelmente um tipo rígido de união, mesmo porque o livre arbítrio é princípio fundamental, direito inalienável do ser humano. “Sem o livre arbítrio – consta enfaticamente da Questão nº. 843 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS – o homem seria máquina”.

A lei natural, por conseguinte, não iria traçar limites arbitrários às opções humanas, encadeando homens e mulheres a um severo regime de escravidão, que poderá conduzir a situações calamitosas em termos evolutivos, resultando em agravamento dos conflitos, em lugar de os resolver, ou pelo menos atenuá-los.

Ademais, como vimos lembrando repetidamente, o Espiritismo não se propõe a ditar regras de procedimento específico para cada situação da vida. O que oferece são princípios gerais, é uma estrutura básica, montada sobre a permanência e estabilidade de verdades testadas e aprovadas pela experiência de muitos milênios. Que dentro desse espaço se movimente a criatura humana no exercício pleno de seu livre arbítrio e decida o que melhor lhe convém, ante o conjunto de circunstâncias em que se encontra.

O casamento é compromisso espiritual previamente negociado e acertado, ainda que nem sempre aceito de bom grado pelas partes envolvidas. São muitos, senão maioria, os que se unem na expectativa de muitos anos de turbulência e mal-entendidos porque estão em débito com o parceiro que acolhem, precisamente para que se conciliem se ajustem, se pacifiquem e se amem ou, pelo menos, se respeitem e estimem.

Mergulhados, porém, na carne, os bons propósitos do devedor, que programou para si mesmo um regime de tolerância e autocontrole, podem falhar. Como também pode exorbitar da sua desejável moderação o parceiro que vem para receber a reparação, e em lugar de recolher com serenidade o que lhe é devido (e outrora lhe foi negado) em atenção, apoio, segurança e afeto, assume a atitude do tirano arbitrário que, além de exigir com intransigência o devido, humilha, oprime e odeia o parceiro que, afinal de contas, está fazendo o possível, dentro das suas limitações, para cumprir seu compromisso. Nesses casos, o processo de ajuste – que será sempre algo difícil mas poderá desenrolar-se em clima de mútua compreensão – converte-se em vingança irracional.

Numa situação dessas, mais freqüentes do que poderíamos supor, a indissolubilidade absoluta a que se refere a Codificação seria, de fato, uma lei antinatural. Se um dos parceiros da união, programada com o objetivo de promover uma retificação de comportamento, utilizou-se insensatamente da sua faculdade de livre escolha, optando pelo ódio e a vingança, quando poderia simplesmente recolher o que lhe é devido por um devedor disposto a pagar, seria injusto que a lei recusasse a este o direito de recuar do compromisso assumido, modificar seus termos, ou adiar a execução, assumindo, é claro, toda as responsabilidades decorrentes de seus atos, como sempre, aliás.

A lei divina não coonesta a violência que um parceiro se disponha a praticar sobre o outro. Além do mais, a dívida não é tanto com o indivíduo prejudicado quanto com a própria lei divina desrespeitada. No momento em que arruinamos ou assassinamos alguém, cometemos, claro, um delito pessoal de maior gravidade. É preciso lembrar, contudo, que a vítima também se encontra envolvida com a lei, que, paradoxalmente, irá exibir a reparação da falta cometida, não para vingá-la, mas para desestimular o faltoso, mostrando-lhe que cada gesto negativo cria a sua matriz de reparação. O Cristo foi enfático e preciso ao ligar sempre o erro à dor do resgate. “Vai e não peques mais, para que não te aconteça coisa pior”, disse ele.

Não há sofrimento inocente, nem cobrança injusta ou indevida. O que deve paga e o que está sendo cobrado é porque deve. Assim a própria vítima de um gesto criminoso é também um ser endividado perante a lei, por alguma razão concreta anterior, ainda que ignorada. Se, em lugar de reconciliar-se, ela se vingar, estará reabrindo sua conta como novo débito em vez de saldá-la.

A lei natural, portanto, não prescreve a indissolubilidade mandatária e absoluta do casamento, como a caracterizou Kardec na sua pergunta. Conseqüentemente, a lei humana não deve ser mais realista do que a outra que lhe é superior; deve ser flexível, abrindo espaço para as opções individuais do livre arbítrio.

Isso, contudo, está longe de significar uma atitude de complacência ou de estímulo à separação dos casais em dificuldades. O divórcio é admissível, em situações de grave conflito, nas quais a separação legal assume a condição de mal menor, em confronto com opções potencialmente mais graves que projetam ameaçadoras tragédias e aflições imprevisíveis: suicídios, assassinatos, e conflitos outros que destroem famílias e acarretam novos e pesados compromissos, em vez de resolver os que já vieram do passado por auto-herança.

Convém, portanto, atentar para todos os aspectos da questão e não ceder precipitadamente ao primeiro impulso passional ou solicitação do comodismo ou do egoísmo. Dificuldades de relacionamento são mesmo de esperar-se na grande maioria das uniões que se processam em nosso mundo ainda imperfeito. Não deve ser desprezado o importante aspecto de que o casamento foi combinado e aceito com a necessária antecipação, precisamente para neutralizar diferenças e dificuldades que persistem entre dois ou mais Espíritos.

O que a lei divina prescreve para o casamento é o amor, na sua mais ampla e abrangente conotação, no qual o sexo é apenas a expressão física de uma profunda e serena sintonia espiritual. Estas uniões, contudo, são ainda a exceção e não a norma. Ocorre entre aqueles que, na expressão de Jesus, Deus juntou, na imutável perfeição de suas leis. Que ninguém os separe, mesmo porque, atingida essa fase de sabedoria, entendimento e serenidade, os Espíritos pouco se importam de que os vínculos matrimoniais sejam indissolúveis ou não em termos humanos, dado que, para eles vige a lei divina que já os uniu pelo vínculo supremo do amor.

Em suma, recuar ante uma situação de desarmonia no casamento, de um cônjuge difícil ou de problemas aparentemente insolúveis é gesto e fraqueza e covardia de graves implicações. Somos colocados em situações dessas precisamente para resolver conflitos emocionais que nos barram os passos no caminho evolutivo. Estaremos recusando exatamente o remédio prescrito para curar mazelas persistente que se arrastam, às vezes, por séculos ou milênios aderidas à nossa estrutura espiritual.

A separação e o divórcio constituem, assim, atitudes que não devem ser assumidas antes de profunda análise e demorada meditação que nos levem à plena consciência das responsabilidades envolvidas.

Como escreveu Paulo com admirável lucidez e poder de síntese.

_ “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”.

O Espiritismo não é doutrina do não e sim da responsabilidade, Viver é escolher, é optar, é decidir. E a escolha é sempre livre dentro de um leque relativamente amplo de alternativas. A semeadura, costumamos dizer, é voluntária; a colheita é que é sempre obrigatória.

É no contexto da família que vem desaguar um volume incalculável de conseqüências mais ou menos penosas resultantes de desacertos anteriores, de decisões tomadas ao arrepio das leis flexíveis e, ao mesmo tempo, severas, que regulam o universo ético em que nos movimentamos.

Para que um dia possamos desfrutar o privilégio de viver em comunidades felizes e harmoniosas, aqui ou no mundo póstumo, temos de aceitar, ainda que relutantemente, as regras do jogo da vida. O trabalho da reconciliação com espíritos que prejudicamos com o descontrole de nossas paixões, nunca é fácil e, por isso, o comodismo nos empurra para o adiantamento das lutas e renúncias por onde passa o caminho da vitória.

Como foro natural de complexos problemas humanos e núcleo inevitável das experiências retificadoras que nos incumbe levar a bom termo, a família é instrumento da redenção individual e, por extensão, do equilíbrio social.

Não precisaria de nenhuma outra razão para ser estudada com seriedade e preservada com firmeza nas suas estruturas e nos seus propósitos educativos.



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sábado, 19 de março de 2011

A ECOLOGIA À LUZ DO ESPIRITISMO


Izabel Gurgel

I - INTRODUÇÃO

A partir do momento da criação do mundo passaram-se muitos milhões de anos até que a configuração do planeta Terra assumisse a forma que nós conhecemos hoje.

Isso já deixa antever que a Criação não permite que a Natureza dê saltos , o que dificultaria, desta maneira, a evolução lenta e progressiva pela qual passaram os diferentes seres dos diferentes reinos que estão neste planeta, não só no que diz respeito à crosta terrestre propriamente dita, bem como tudo aquilo que compõe o quadro natural , além das interelações intrínsecas, entre a camada gasosa que envolve a terra , conhecida como atmosfera e, este mesmo planeta.

Em nossos dias, o desenvolvimento científico e tecnológico, nos permite saber que esta configuração não foi e nem é definitiva e mais, que ela está em constante modificação, ao longo do tempo e do espaço, segundo uma dinâmica própria em consonância com o planejamento dos Arquitetos Siderais, em função do equilíbrio cósmico.

A Natureza como um todo, e todo o Cosmos, segue o seu curso evolutivo e, esse ambiente do planeta Terra que foi destinado ao Homem para que nele desenvolvesse também o seu caminho lento e progressivo de evolução, em equilíbrio com tudo aquilo que está à sua volta, e sobretudo , com a grave responsabilidade de conviver pacífica e harmoniosamente com seus semelhantes e com este ambiente que o cerca.

Hoje em dia , neste final de século, em que o clamor de boa parte da humanidade ainda se volta para a saúde e o pulsar do planeta, verificamos que a espécie Homo sapiens , da qual o homem é o seu representante de topo, esta longe o bastante para que se possa dizer que este mesmo homem procurou conservar o seu patrimônio natural que lhe foi posto à disposição para os anos a seguir.

Por outro lado, pelo menos desde que os profetas, avatares e principalmente Jesus, vieram trazer os ensinamentos necessários para conduzir a mente do homem também para as coisas do Pai , desde Moisés que ,muito tempo antes da vinda de Jesus , mesmo que ainda predominasse a Lei de talião, do “Olho por Olho e Dente por Dente”, que vem a Humanidade sendo preparada para se colocar numa posição hominal, não só em relação à sua estatura bípede (a qual já a possuía há muitos tempo), mas sobretudo em relação à elevação de seus pensamentos para Deus e para as coisas do Espírito, através do Amor Crístico Universal.

Jesus, quando de sua descida à Terra, estabeleceu a Escola Iniciática na Doutrina do Amor , tendo dito que trazia um único Mandamento : “ Amem a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmos”, pela caridade, pela fraternidade , pelo amor ilimitado e que só assim o Reino de Deus estaria com suas portas abertas para todos aqueles que, desta forma, passassem a conduzir suas vidas, sendo esta a grande orientação deixada por Ele para toda a humanidade.

Ao findar o Segundo Milênio, vê-se que o homem pouco apreendeu, ou sequer colocou em prática tais ensinamentos representados por essa grande síntese proposta por Jesus. E se não foi capaz de amar a seu Deus, como teria sido capaz de amar a si próprio e ao próximo como a si mesmo?

Considerando que ele próprio vem permitindo degradar sua matéria pelo uso abusivo dos prazeres da matéria e as ilusões que só as artificialidades da personalidade, de seu Ego super dimensionado trazem para si, pode-se imaginar os danos que este mesmo Ser humano vem causando ao ambiente natural que o cerca.

II- O QUE É ECOLOGIA?

Antes de continuarmos, devemos saber qual o significado do termo Ecologia:

oikos , em grego, quer dizer “casa”, “lugar onde se vive” e logos, também do grego, significa, “estudo de”.

Ecologia, de forma literal, pode ser entendida como “o estudo dos organismos em sua casa”.

Mas, como definição, podemos ter como sendo o estudo dos organismos ou de grupos de organismos em relação ao seu ambiente. Ou ainda, a ciência das interelações entre os organismos vivos e seu ambiente.

Considerando-se que a ecologia esta relacionada com a biologia de grupos de organismos e com processos funcionais nas terras, oceanos e águas doces é mais acurado dizer-se que ecologia é o estudo da estrutura e funções da natureza (admitindo-se que a humanidade é parte integrante dela), ou ainda: é a ciência do “ambiente vivo” ou simplesmente “da biologia ambiental”.

Pelo que pode-se ver do que foi dito acima em termos de conceituações, o Homem tem-se interessado pela Ecologia de uma forma prática, nada pragmática, desde muito cedo em sua História. Nas sociedades primitivas, cada indivíduo, para sobreviver, precisou ter um conhecimento definido do seu ambiente, isto é, para saber valer-se dele, precisou compreender as forças da Natureza , dos seus diferentes reinos, quer dizer: dos minerais, vegetais e demais animais.

O fruto de suas próprias observações levou esse homem primitivo a observar os astros em seu deslocamento pelo céu, os ventos, a chuva, as variações de temperatura, as correntes marinhas, as marés, as estações do ano, as plantas a serem cultivadas, por exemplo, e assim, empiricamente, mas perfeitamente integrado com tudo o que a natureza se lhe apresentava permitiu que sua trajetória evolutiva se processasse e chegasse onde estamos hoje, quando a Ciência e a Tecnologia contemporânea, já permitiram levar o Homem a explorar espaços e planetas outros que a Terra, tendo há trinta anos atrás, sido-lhe permitido pisar o solo lunar e retornado à Terra, são e salvo.

Só que o descompasso havido ao longo do tempo, levou o nosso planeta à situação em que se encontra em nossos dias, não precisando acrescentar as crises e os problemas que o próprio homem criou, mas que não se preocupou muito em resolvê-los, pelo menos, de forma objetiva e concreta.

Se considerarmos que as crises morais, sociais e filosóficas engendradas pelo Homem vieram refletir-se , de forma inexorável, sobre o meio que o cerca, como podemos esperar, por mais auto-regenerador que seja o Sistema de Gaia, que o Homem encontre um caminho pacífico e obedecendo os princípios básicos da Natureza para resolver tais conflitos?

“A pressão sobre o meio ambiente é, ao mesmo tempo, causa e efeito de tensões políticas e conflitos militares. As nações freqüentemente lutaram para ter ou manter o controle de matérias primas , suprimento de energia, terras, bacias fluviais , passagens marítimas e outros recursos ambientais básicos. Esses conflitos tendem a aumentar à medida que os recursos escasseiam e aumenta a competição por eles”, este trecho é encontrado na página 325 do relatório BRUNDTLAND, de 1988, da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no livro “Nosso Futuro Comum”, vindo corroborar o que foi dito acima.

Se hoje podemos compreender que a religião é a re-ligação do Homem com Deus Criador, reconectar-se com a Teia da Vida significa, dentro da observância da Lei de Evolução, construir e alimentar comunidades sustentáveis nas quais podemos satisfazer nossas necessidades a aspirações, sem diminuirmos as chances das gerações futuras, tentando o homem de todas as formas possíveis minimizar os efeitos, por mais nefastos que sejam, das disputas políticas entre as nações, sobre o meio ambiente .

Por causa disso, precisamos reaprender alguns princípios básicos de Ecologia.

Considerando-se que, basicamente todos os sistemas vivos exibem os mesmos princípios de organização, todas as comunidades são redes organizacionalmente fechadas, mas abertas a fluxos de energia e de recursos.

Por causa disso, o Homem precisa entender que apenas compreender os ciclos da natureza não lhe basta mais; faz-se necessário que ele traga isso para todas as experiências por que passa ao longo de sua vida. Além do princípio da interdependência, isto é, a dependência mútua de todos os processos vivos uns aos outros, que é a natureza de todo relacionamento ecológico que precisa ser igualmente incorporada, há a necessidade de o homem compreender porque determinadas crises ocorrem em certas regiões da Terra, como conseqüência de sua inadequada prática do uso da terra, por exemplo.

Compreender a interdependência ecológica significa compreender o relacionamento das partes com o todo, dos objetos com os relacionamentos, do conteúdo aos padrões.

III- A ECOLOGIA À LUZ DO ESPIRITISMO

Encontramos no livro “O Consolador”, pelo Espírito Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier, as questões de número 27, 28 e 121, em que se lê:

“Como devemos compreender a Natureza?” e a resposta de Emmanuel foi a seguinte: “A Natureza é sempre o livro divino, onde a mão de Deus escreveu a história de sua sabedoria, livro da vida que constitui a escola de progresso espiritual do homem evoluindo constantemente com o esforço e a dedicação de seus discípulos”.

Em seguida, foi perguntado a Emmanuel:As manifestações de vida dos vários reinos da Natureza, abrangendo o Homem, significam a expressão do Verbo Divino, em escala gradativa nos processos de aperfeiçoamento da Terra? Ao que foi por ele respondido: “Sim em todos os reinos da Natureza palpita a vibração de Deus, como o Verbo Divino da Criação Infinita; e, no quadro sem-fim do trabalho de experiência, todos os princípios, como todos os indivíduos, catalogam os seus valores e aquisições sagradas para a vida imortal.

A pergunta 121 é a seguinte: “O meio Ambiente influi no Espírito?” e Emmanuel responde: “O meio ambiente em que a alma renasceu, muitas vezes constitui a prova expiatória; com poderosas influências sobre a personalidade, faz-se indispensável que o coração esclarecido coopere na sua transformação para o bem, melhorando e elevando as condições materiais e morais de todos os que vivem na sua zona de influência”.

Pelo exposto, podemos ver que a Ecologia à luz do Espiritismo , certamente diz respeito à uma ecologia mais profunda, da consciência ecológica que deve vir do respeito à qualquer forma de preservação da vida, do respeito pela vida, que vem do religare espiritual.

É intenção de Deus de que todos os Seus filhos sejam felizes e, mesmo que nossa Humanidade atual, esteja neste planeta em fase de provas e expiações, com tudo isso nosso Deus, nos deu, por empréstimo um mundo muito belo, como um verdadeiro caleidoscópio de ambientes, com relevo, rios, montanhas, grutas, vales, florestas, cachoeiras, desertos, regiões cobertas de gelo, sendo as temperaturas muito baixas, fatores limitantes para qualquer forma de vida, onde apenas aquelas que possuam as precondicionantes e que foram sofrendo adaptações lentas e progressivas ao longo do tempo geológico, aperfeiçoaram-se de forma a viver em locais muito inóspitos e assim, para todas as demais formas de vida distribuídas pelas diferentes regiões biogeográficas de nosso planeta.

Se a intenção de Deus tivesse sido apreendida ao longo do tempo, sobretudo, no último século, pelos habitantes da Terra, não estaríamos diante dos descalabros que constatamos hoje em dia.

Naturalmente a Terra foi passando por transformações ( algumas quase imperceptíveis, enquanto outras, com características catastróficas) e os agentes naturais da Natureza, foram fazendo o seu trabalho, todos eles regidos pela batuta invisível dos Engenheiros Siderais.

As paisagens foram se sucedendo e com isso, muitas delas foram desaparecendo num lugar e aparecendo outras, em outros locais, e com elas todo o conjunto de formas vivas igualmente passaram pelo mesmo processo, que é sempre de cunho evolutivo, provendo assim, um saneamento de algumas regiões .

Entretanto, o que se apresenta no mundo atual, resguardadas algumas paisagens naturais que o Homem ainda não conseguiu modificar de forma muito indecorosa, o Continente Antártico sendo um desses exemplos, denota a total incúria e desrespeito, sobretudo do Homem contemporâneo, à Natureza que o cerca , sobretudo vindo a desestabilizar os ciclos biogeoquímicos do planeta, destruindo a camada de Ozônio que a protege da incidência muito acentuada dos raios ultra violeta, o efeito estufa, acrescido do lançamento cada vez maior de CO2 e outros gases que aceleram o efeito estufa, da utilização de defensivos agrícolas que, em nome de um melhor rendimento de safras e com conseqüências danosas para todos os sêres vivos, estão poluindo as terras e os rios , e que, por sua vez irão poluir os mares; e o efeito do “El Ninõ e La Niña”,aí também estão como exemplos muito nefastos.

Hoje , sabemos que estamos na iminência de catástrofes ecológicas de conseqüências imprevisíveis, caso o Homem não desperte rápido do seu sonho destrutivo, em nome do progresso e do desenvolvimento, de um condomínio que esta sob nossa responsabilidade e guarda ,mas que pertence a nosso Deus Criador apenas para quadro de nossa evolução e para ver se despertamos e nos religamos às realidades da Criação.

IV- PERSPECTIVAS

Mahatma Gandhi disse certa vez: “Nós precisamos ser a mudança que nós queremos ver no mundo”.

De certa forma é a constatação do que foi dito acima com relação à pergunta de número 29 feita ao Espírito Emmanuel, mas sobretudo em sua resposta, no que tange a própria transformação do Homem para o bem , melhorando e elevando as condições materiais e morais de todos aqueles que vivem em sua esfera de interferência.

E essência do que Gandhi quis dizer foi que, antes que o homem deseje modificar o mundo , ele deve, antes de mais nada, começar por modificar-se a si próprio.

Essa modificação se realiza em dois sentidos: de dentro para fora, isto é, em seus próprios pensamentos, em suas palavras e em suas ações, em relação a ele mesmo e projetando isso para o seu mundo exterior, e, por sua vez, recebendo dele todas as informações necessárias para se engrandecer em conhecimentos, em experiências , sobretudo se modificar para melhor e, por conseguinte, SER aquilo que queremos para o nosso mundo, para o meio, com todo o seu conjunto de funções e de estruturas, mas admitindo que não é a sua vontade pessoal que deve imperar , mas sim o bem estar da humanidade, dotada da mesma paz, equilíbrio e auto-conhecimento que ele próprio.

Através da Educação , que é uma espécie de jornada para dentro do próprio “eu”, certamente o desejado equilíbrio, necessário para que haja uma ação mais efetiva do homem em busca da sua própria evolução, se dará através da busca do equilíbrio saudável dos elementos no ambiente global e que também se aplicam ao equilíbrio saudável das forças que constituem os sistemas políticos. Em outras palavras, é através do auto-conhecimento consciente e disciplinado que poderá o homem chegar ao cerne deste processo, que é eminentemente educativo.

Al Gore disse em seu livro “O Equilíbrio da Terra”, de 1992, “que não surpreende que tenhamos nos tornado tão desconcertados com o mundo natural - e é incrível que ainda sintamos alguma conexão com nós mesmos. Acostumamo-nos com a idéia de um mundo sem futuro. As engenhocas de distração estão gradualmente destruindo a ecologia interior da experiência humana. O essencial para esta ecologia é o equilíbrio entre o respeito pelo passado e a fé no futuro, entre a crença no indivíduo e um compromisso com a comunidade, entre o nosso amor pelo mundo e o nosso medo de perdê-lo. Um equilíbrio, em outras palavras, do qual o ambientalismo espiritual depende”.

V - BIBLIOGRAFIA

  • ARAÚJO, H.L. - “ALGUÉM VELA POR VOCE”, ALIANÇA DA FRATERNIDADE. 1995.
  • XAVIER,F.C. ( EMMANUEL).- “O CONSOLADOR”, FEB, 1940.
  • NOSSO FUTURO COMUM. RELATÓRIO DA COMISSÃO MUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. ED. DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. 1988
  • ODUM,E.P.- FUNDAMENTALS OF ECOLOGY. 2nd. EDITION. 1959
  • PLANETA -” MEDITAÇÃO. - VAMOS SALVAR A TERRA?” . número 13. 1999.

texto - http://www.espirito.org.br/portal/artigos/neurj
imagem - espiritasdesantos.blogspot.com

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