domingo, 31 de julho de 2011

O AMOR A SI MESMO


o esforço como fator responsável

pela elevação espiritual do homem

(Ensaio)

Tema: O Amor a Si Mesmo

Delimitação: O Esforço

Abordagem: O esforço como fator responsável pela elevação espiritual do homem.

(Planejamento deste tema: Eliza Corte)

por Elio Mollo


Deus necessita transmitir a Sua força para continuar criando, mostrar o Seu Amor através de cada um de nós, mas não poderá fazê-lo se estivermos desanimados. A alegria, o amor próprio é indispensável.



Emmanuel no livro “O Consolador”, questão 119, respondendo a esta pergunta: Como devemos proceder para dilatar nossa capacidade espiritual? disse: Ainda não encontramos uma fórmula mais elevada e mais bela que a do esforço próprio, dentro da humildade e do amor, no ambiente de trabalho e de lições da Terra, onde Jesus houve por bem instalar a nossa oficina de perfectibilidade para a futura elevação dos nossos destinos de espíritos imortais. (Ver também in O PAI NOSSO, Meimei, psfia. F. C. Xavier)

Na questão 781 de “O Livro dos Espíritos” Allan Kardec pergunta aos Espíritos superiores se é permitido ao homem deter a marcha do progresso, e os Espíritos respondem que não, mas que podem entravá-la algumas vezes. Em LE na questão 888.a encontramos estas palavras ditadas por São Vicente de Paulo à Allan Kardec: “— Amai-vos uns aos outros, eis toda a lei, divina lei pela qual Deus governa os mundos”. Em outro trecho desta mesma resposta: “...o Espírito qualquer que seja o seu grau de adiantamento, sua situação de reencarnado ou na espiritualidade, esta sempre colocado entre um superior que o guia e aperfeiçoa e um inferior perante o qual tem deveres iguais a cumprir”.

No dicionário encontramos que o Amor é o sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa, ou que o Amor é o sentimento de dedicação absoluta de um ser ao outro. (Sobre este assunto ver DICIONÁRIO DE FILOSOFIA ESPÍRITA de L. Palhano Jr. e artigo de minha autoria AMOR E CARIDADE! É BOM SABER QUEM É QUEM.

A lei de Deus é sempre o amor. O amor é a luz e a força que envolve todo o Universo. O amor é o fluido que dá movimento a tudo, que dá animo, que dá vontade de viver, que dá ação a tudo o que existe, que dá alegria. E é esse o Amor de Deus, que caminha através dos Espíritos mais evoluídos até o ser mais rudimentar. (ver resposta a questão 540 de LE) Para que esse amor floresça em cada um de nós em sua essência plena, a que se trabalhar persistentemente, sem esmorecer.

André Luiz diz, ou melhor, o instrutor Alexandre é que diz no livro “Missionários da Luz”, cap. 8 pág. 82, diz que: Toda elevação representa uma subida e toda subida pede esforço de ascensão. Neste mesmo livro na página 156 cap. 12, vamos encontrar este outro dizer de Alexandre, ...um dos mais importantes problemas da felicidade humana é o da aproximação fraternal, do perdão recíproco, da semeadura do amor, através da lei reencarcionista.

Os Espíritos através de “O Livro dos Espíritos”, obra codificada por Allan Kardec, na questão 913 nos dizem que dentre os vícios, aquele que podemos considerar como sendo o mais radical, é o egoísmo. Dizem eles que, do egoísmo deriva todo o mal. E afirmam de forma categórica que se nos estudarmos, e verificarmos em todos os vícios que porventura possuirmos, no fundo de todos existe o egoísmo. (Ver também ESE-CAP XI-11 e no OP-1ª P-EGOÍSMO E ORGULHO.)

Jesus nos disse: “Sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste.” (Mateus 5:48). Vamos encontrar algo semelhante no Antigo Testamento, em Deuteronômio 18:13: “Perfeito serás para com o Senhor teu Deus.” Difícil para nós, seres humanos, é atingir a perfeição absoluta, alias, seria até muita pretensão, só que todos nós somos seres em evolução, ou seja, todos devemos caminhar na direção da perfeição, esse é o significado das palavras do Cristo, assim sendo, todo o esforço deve ser feito nesse sentido. (Ver a este esforço a que Jesus se referiu no ESE-CAP XVII-2-1º§.)

Como dissemos acima, que o egoísmo é o vício mais radical, então, o esforço está em transformar este defeito em qualidade, ou seja, trabalhar para que ele se transforme em amor, pois todas as substâncias se transformam na evolução para mais alto.

Quando falamos em transformação, falamos em transformação moral, e quando falamos em transformação moral dizemos que se reconhece o homem de valor pela sua contínua renovação moral e pelos esforços que faz no sentido de anular suas inclinações negativas. Semelhante em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, cap. XVII, item 4 obra codificada por Allan Kardec — Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral. E pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações. — Não se trata de esforço físico, mas de firme contenção de espírito, de um empenho que não sofra excessiva solução de continuidade. "Excessiva", porque, na verdade, também não podemos estar "continuamente" empenhados na transformação de nós mesmos. Deve haver, isto sim, uma persistência de propósito, e a esta persistência chamamos esforço. Em outras palavras, não é bom sintoma abandonar uma atividade ou desviar a energia para um curso mais fácil de ação, ao primeiro sinal de dificuldade. A referência do esforço é nesse sentido: continuidade, persistência em face das dificuldades.

Em tudo há que se ter vontade, persistência, paciência e discernimento, pois a evolução requer estes requisitos. A sensatez é capaz de nos fazer reconhecer as próprias fraquezas e limitações, podendo assim nos auto-melhorarmos.

Na questão 919 de “O Livro dos Espíritos” vamos encontrar esta pergunta que fez o Espírito de Sto. Agostinho, respondida por ele mesmo: “Se aprouvesse a Deus chamar-me neste momento, ao entrar no mundo dos Espíritos, onde nada é oculto, teria eu a temer o olhar de alguém?” Ao que nós vamos mostrar apenas um trecho da resposta de Sto. Agostinho: “Devemos examinar o que temos feito contra Deus, depois contra o próximo e por fim o que fizemos a nós mesmos. As respostas poderão ser tranquilizadoras para a nossa consciência se estivermos agindo sensatamente, porém, poderão indicar um mal que deve ser reparado, deve ser transformado para melhor.” Diz ele ainda que: “o conhecimento de si mesmo e a chave do progresso individual”.

Imaginemos um indivíduo tentando atravessar o Canal da Mancha a nado sem considerar sua capacidade física. Para cobrir uma distância tão extensa para um nadador profissional é algo quase normal. Entretanto um indivíduo de bom senso vai analisar as condições da correnteza, antes de pular na água. Depois de avaliar bem, e perceber que não se trata de um simples rio, tentará verificar se suas forças serão suficientes para vencer a força das águas que por ali passam, para chegar à outra margem. Se não tiver conhecimento da própria força, avaliar mal e tentar a travessia, poderá fracassar ou até mesmo morrer, como já aconteceu com muitos. Um homem poderá realizar tarefas inimagináveis se tiver vontade e determinação. Mas antes de empreender uma tarefa qualquer, deverá preparar-se adequadamente, como alguém, que conhece as próprias limitações e tenta superá-las. O preparo físico, moral ou espiritual, para fazer frente aos obstáculos e desafios, resulta de um profundo conhecimento de si mesmo. Assim, todos os dias ao deitar — conselho de Sto. Agostinho na questão 919 de “O Livro dos Espíritos”“passe em revista todos os acontecimentos do dia, se descobrir falhas nesse inventário, ore a Deus para que lhe dê forças à conseguir a reparação e, no dia seguinte faça de tudo para corrigir as falhas”.

Reconhecer as próprias fraquezas é portanto uma qualidade fundamental para o homem sensato. É necessário conhecer os pontos fracos para fortalecê-los. Perceber onde deve-se melhorar, avaliar os desafios concretamente e lutar para enfrentá-los adequadamente preparado. Por que muitos alunos fracassaram durante a vida escolar? Provavelmente estes alunos não se conheciam bem. Não tinham uma visão autêntica das próprias capacidades ou avaliaram-se erroneamente. Superestimar os próprios conhecimentos ou subestimar as dificuldades são erros que levam infalivelmente ao fracasso. O homem sensato não comete tal erro, pois conhecendo a si mesmo, procura automelhorar-se, a tal ponto, que os desafios e obstáculos são minimizados. Um halterofilista que deseje superar a marca dos 600 quilos acima dos ombros, deverá ser capaz de levantar 610 quilos. O russo Vasili Alexeiev, em 1972, bateu o recorde erguendo halteres com 640 quilos. Ë assim que o homem sensato, no esporte, na política, nos negócios ou seja aonde for que se situe, faz. Prepara-se para os desafios da vida.

Qualquer teoria, se confirmada através de estudos teológicos, provará que Cristo se preparou para a missão. Ele buscou o auto-aperfeiçoamento para ter o que dizer, mostrar e ensinar. Seus exemplos não deixavam dúvidas sobre seu poder. Sua missão provou o quanto o Mestre conhecia bem a si mesmo e do que era capaz.

Ao decidir melhorar-se o homem sensato, busca o auto-aperfeiçoamento constante, visando superar-se nos pontos fracos, nas prováveis deficiências.

Diz Emmanuel no livro “JUSTIÇA DIVINA”, pág. 49, na mensagem intitulada “Exames”: “Cada provação pode ser comparada a um banho de substâncias químicas, testando-te idéias e sentimentos, para definir-lhes a sanidade. A vida, expressando a Sabedoria Divina, observa cada um de nós, diariamente, examinando-nos o possível valor, a fim de valorizar-nos. Cultura nobre granjeia tarefas enobrecidas. Virtude alcança merecimento. Quem aprende pode ensinar. Quem semeia o melhor adquire o melhor. Quem ajuda sem recompensa colhe apoio espontâneo. Em todas as tempestades e provações, adversidades e sombras da vida, permanece fiel ao bem, no serviço incansável, para que o bem te revele através dos outros.

Não consultes a palavra “impossível”, no dicionário da experiência. Todos temos a vontade por alavanca de luz e toda criatura, sem exceção, demonstrará a quantidade e o teor da luz que entesoura em si própria, toda vez que chamada a exame, na hora da crise.”

Esse ajuste é indispensável em todas as realizações de profundidade, sobretudo naquelas que visam a imortalidade, depende sempre de decisão que se origina de uma só consciência para depois contagiar outros destinos. Favoreça encontros dessa natureza em seu mundo interior.

Animo e trabalho, harmonize corpo e alma. Predisponha-se à construtividade do melhor. (Ver BOLSO E VONTADE in Técnica de Viver, FONTE VIVA, BOM ÂNIMO, CAP 61, PALAVRAS DE VIDA ETERNA, CAP 136 de EMMANUEL)

É necessário buscar conhecimentos profundos acerca das atividades escolhidas. Os homens sensatos são experts naquilo que fazem. Foi indiscutível as habilidades de Ayrton Senna, Nelson Piquet, Alain Prost como pilotos de Fórmula Um, pelo conhecimento profundo que adquiriram sobre as pistas, carros, manobras e tudo o que se relaciona com corridas automobilísticas. Dedicaram suas vidas no aperfeiçoamento dos pontos fracos, assim possuiram um real conhecimento de si mesmos, uma qualidade essencial dos homens sensatos.

O Espírito Neio Lúcio no livro “Jesus no Lar” nos narra está história: “Relacionava Tiago, filho de Alfeu, as dificuldades naturais na preparação do discípulo, quando várias opiniões se fizeram ouvir quanto aos percalços do aprimoramento.

É quase impossível praticar as lições da Boa Nova, no mundo avesso à bondade, à renuncia e ao perdão — concluíam os aprendizes de maneira geral. A maioria das criaturas comprazem-se na avareza ou no endurecimento.

Registrava o Mestre a conceituação expendida pelos companheiros, em significativa quietude, quando Pedro O convocou diretamente ao assunto.

Jesus refletiu alguns instantes e ponderou:

— Existiu no tempo de Davi um grande artista que se especializara na harpa com tamanha perfeição que várias pessoas importantes vinham de muito longe, a fim de ouvi-lo. Grandes senhores com as suas comitivas descansavam, de quando em quando, junto à moradia dele, cercada de arvoredo, para escutar-lhe as sublimes improvisações. O admirável mestre fez renome e fortuna, parecendo a todos que ninguém o igualaria na Terra na expressão musical a que se consagrara.

Em seus saraus e exibições, possuía em seu serviço pessoal um escravo aparentemente inábil e atoleimado, que servia água, doce e frutas aos convivas e que jamais conversava, fixando toda a atenção no instrumento divino, como se vivesse fascinado pelas mãos que o tangiam.

Muitos anos correram quando, certa noite, o artista volta, de inesperado, ao domicílio, findo o banquete de um amigo nas vizinhanças e, com indizível espanto, assinala celeste melodia no ar.

Alguém tocava magistralmente em sua casa solitária, qual se fora um anjo exilado no mundo.

Quem seria o estrangeiro que lhe tomara o lugar?

Em lágrimas de emoção por pressentir a existência de alguém com ideal artístico muito superior ao dele, avança devagar para não ser percebido e, sob intraduzível assombro, verificou que o harpista maravilhoso era o seu velho escravo tolo que, usando os minutos que lhe pertenciam por direito e sem incomodar a ninguém, exercitava as lições do senhor, às quais emprestava, desde muito tempo, todo o seu vigilante amor em comovido silêncio.

Foi então que o artista magnânimo e famoso libertou-o e conferiu-lhe a posição que por justiça merecia.

Diante da estranheza dos discípulos que se calavam, confundidos, o Mestre rematou:

— A aquisição de qualidades nobres é a glória infalível dos esforço. Todo homem e toda mulher que usarem as horas de que dispõem na harpa da vida, correspondendo à sabedoria e à beleza com que Nosso Pai se manifesta, em todos os quadros do mundo, depressa lhe absorverão a grandeza e as sublimidades, convertendo-se em representantes do Céu para seus irmãos em humanidade. Quando a criatura, porém, somente trabalha na cota de tempo que lhe é paga pelas mordomias da Terra, sem qualquer aproveitamento das largas concessões de horas que a Divina Bondade lhe concede no corpo, nada mais receberá, além da remuneração transitória do mundo.

Todos os homens e mulheres que venceram na vida acreditavam em si mesmos e no próprio potencial, ou melhor acreditaram em si mesmos, tiveram fé. Os homens sensatos são autoconfiantes, amam a si mesmos. Enfrentam o que precisa ser enfrentado, recuando apenas para ganhar forças, preparando novas estratégias para retomar o combate com determinação e coragem.

Todas as lições encontradas no cotidiano servem apenas para reforçar a teoria de que os homens sensatos são todos parecidos, possuem qualidades similares, e neste caso a autoconfiança é uma delas.

No mundo, aqueles que não temem os desafios, e os enfrentam destemidamente, acabam por vencer.

Ninguém deverá querer apenas vencer, deverá antes de mais nada, querer vencer a si mesmo, transformar as qualidades ruins em boas, e se tornar uma criatura sensata. Isso requererá muito do seu potencial. O fato de ainda não possuir a sensatez, entre outras coisas, é que a autoconfiança não foi totalmente desafiada. Provavelmente ainda existem dúvidas sobre as reais capacidades de realização. Falta determinação, acreditar ser capaz de se tornar um humano sensato. É necessário saber, porém, que todos os homens vencedores, mais do que qualquer outra pessoa, acreditavam em si mesmos. É necessita sentir isso também. É fundamental começar imediatamente essa tarefa.

Passe a acreditar em você, suas potencialidades, sua energia para realizar o melhor, porém, sempre respeitando aos seus semelhantes e a si próprio.

O homem sensato é o homem que ama a si próprio, é alegre, de bem com a vida, é autoconfiante, transmite segurança e não é covarde. O homem sensato é a sombra na qual se abrigam os medrosos, os tímidos e aqueles que não possuem confiança em si mesmo.

O homem que não ama a si mesmo, não consegue amar outra pessoa, pois não é seguro de si.


No caminho da vida, o esforço próprio é indispensável. (Neio Lúcio)



BIBLIOGRAFIA:

O Livro dos Espíritos - obra codificada por Allan Kardec

O Evangelho Segundo o Espiritismo - obra codificada por Allan Kardec

Alerta - Estímulos Indiretos - Joanna de Angelis - 107/109

Justiça Divina - Exames - Emmanuel - 49/50

Bolso e Vontade - Técnica de Viver - 53/55

Jesus no Lar - A Glória do Esforço - Neio Lúcio - 183/185FEB14a1986

O Consolador - Personalidade - Emmanuel - 130FEB9a1982

Como se tornar um líder - Conhecimento de si mesmo e Autoconfiança - Mathias Gonzalez - 39 à 42 - Ediouro S/A 1991



endereço: http://www.apologiaespirita.org/

imagem: www.frases-amor.net/

quinta-feira, 28 de julho de 2011

ESCLARECIMENTOS DE ALLAN KARDEC


Autor: Allan Kardec

Carta à Sua Alteza o Príncipe G.
Revista Espírita, janeiro de 1859


PRÍNCIPE,

Vossa Alteza honrou-me dirigindo-me várias perguntas referentes ao Espiritismo; vou tentar respondê-las, tanto quanto o permita o estado dos conhecimentos atuais sobre a matéria, resumindo em poucas palavras o que o estudo e a observação nos ensinaram a esse respeito. Essas questões repousam sobre os princípios da própria ciência: para dar maior clareza à solução, é necessário ter esses princípios presentes no pensamento; permita-me, pois, tomar a coisa de um ponto mais alto, colocando como preliminares certas proposições fundamentais que, de resto, elas mesmas servirão de resposta a algumas de vossas perguntas.
Há, fora do mundo corporal visível, seres invisíveis que constituem o mundo dos Espíritos. Os Espíritos não são seres à parte, mas as próprias almas daqueles que viveram na Terra ou em outras esferas, e que deixaram seus envoltórios materiais. Os Espíritos apresentam todos os graus de desenvolvimento intelectual e moral. Há, por conseqüência, bons e maus, esclarecidos e ignorantes, levianos, mentirosos, velhacos, hipócritas, que procuram enganar e induzir ao mal, como os há muitos superiores em tudo, e que não procuram senão fazer o bem. Essa distinção é um ponto capital. Os Espíritos nos cercam sem cessar, com o nosso desconhecimento, dirigem os nossos pensamentos e as nossas ações, e por aí influem sobre os acontecimentos e os destinos da Humanidade. Os Espíritos, freqüentemente, atestam sua presença por efeitos materiais. Esses efeitos nada têm de sobrenatural; não nos parecem tal senão porque repousam sobre bases fora das leis conhecidas da matéria. Uma vez conhecidas essas bases, o efeito entra na categoria dos fenômenos naturais; é assim que os Espíritos podem agir sobre os corpos inertes e fazê-los mover sem o concurso de nossos agentes exteriores. Negar a existência de agentes desconhecidos, unicamente porque não são compreendidos, seria colocar limites ao poder de Deus, e crer que a Natureza nos disse sua última palavra. Todo efeito tem uma causa; ninguém o contesta. É, pois, ilógico negar a causa unicamente porque seja desconhecida. Se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente. Quando se vê o braço do telégrafo fazer sinais que respondem a um pensamento, disso se conclui, não que esses braços sejam inteligentes, mas que uma inteligência fá-los moverem-se. Ocorre o mesmo com os fenômenos espíritas. Se a inteligência que os produz não é a nossa, é evidente que ela está fora de nós. Nos fenômenos das ciências naturais, atua-se sobre a matéria inerte, que se manipula à vontade; nos fenômenos espíritas age-se sobre inteligências que têm seu livre arbítrio, e não estão submetidas à nossa vontade. Há, pois, entre os fenômenos usuais e os fenômenos espíritas uma diferença radical quanto ao princípio: por isso, a ciência vulgar é incompetente para julgá-los. O Espírito encarnado tem dois envoltórios, um material que é o corpo, o outro semi-material e indestrutível que é o perispírito. Deixando o primeiro, conserva o segundo que constitui para ele uma espécie de corpo, mas cujas propriedades são essencialmente diferentes. Em seu estado normal, é invisível para nós, mas pode tornar-se momentaneamente visível e mesmo tangível: tal é a causa do fenômeno das aparições. Os Espíritos não são, pois, seres abstratos, indefinidos, mas seres reais e limitados, tendo sua própria existência, que pensam e agem em virtude de seu livre arbítrio. Estão por toda parte, ao redor de nós; povoam os espaços e se transportam com a rapidez do pensamento. Os homens podem entrar em relação com os Espíritos e deles receberem comunicações diretas pela escrita, pela palavra e por outros meios. Os Espíritos, estando ao nosso lado e podendo virem ao nosso chamado, pode-se, por certos intermediários, estabelecer com eles comunicações seguidas, como um cego pode fazê-lo com as pessoas que ele não vê. Certas pessoas são dotadas, mais do que outras, de uma aptidão especial para transmitirem as comunicações dos Espíritos: são os médiuns. O papel do médium é o de um intérprete; é um instrumento do qual se servem os Espíritos: esse instrumento pode ser mais ou menos perfeito, e daí as comunicações mais ou menos fáceis. Os fenômenos espíritas são de duas ordens: as manifestações físicas e materiais, e as comunicações inteligentes. Os efeitos físicos são produzidos por Espíritos inferiores; os Espíritos elevados não se ocupam mais dessas coisas quanto nossos sábios não se ocupam em fazerem grandes esforços: seu papel é de instruir pelo raciocínio.As comunicações podem emanar de Espíritos inferiores, como de Espíritos superiores. Reconhecem-se os Espíritos, como os homens, pela sua linguagem: a dos Espíritos superiores é sempre séria, digna, nobre e marcada de benevolência; toda expressão trivial ou inconveniente, todo pensamento que choque a razão ou o bom senso, que denote orgulho, acrimônia ou malevolência, necessariamente, emana de um Espírito inferior. Os Espíritos elevados não ensinam senão coisas boas; sua moral é a do Evangelho, não pregam senão a união e a caridade, e jamais enganam. Os Espíritos inferiores dizem absurdos, mentiras, e, freqüentemente, grosserias mesmo. A bondade de um médium não consiste somente na facilidade das comunicações, mas, sobretudo, na natureza das comunicações que recebe. Um bom médium é aquele que simpatiza com os bons Espíritos e não recebe senão boas comunicações.Todos temos um Espírito familiar que se liga a nós desde o nosso nascimento, nos guia, nos aconselha e nos protege; esse Espírito é sempre bom. Além do Espírito familiar, há Espíritos que são atraídos para nós por sua simpatia por nossas qualidades e nossos defeitos, ou por antigas afeições terrestres. Donde se segue que, em toda reunião, há uma multidão de Espíritos mais ou menos bons, segundo a natureza do meio.
Podem os Espíritos revelar o futuro? Os Espíritos não conhecem o futuro senão em razão de sua elevação. Os que são inferiores não conhecem mesmo o seu, por mais forte razão o dos outros. Os Espíritos superiores o conhecem, mas não lhes é sempre permitido revelá-lo. Em princípio, e por um desígnio muito sábio da Providência, o futuro deve nos ser ocultado; se o conhecêssemos, nosso livre arbítrio seria por isso entravado. A certeza do sucesso nos tiraria o desejo de nada fazer, porque não veríamos a necessidade de nos dar ao trabalho; a certeza de uma infelicidade nos desencorajaria. Todavia, há casos em que o conhecimento do futuro pode ser útil, mas deles jamais podemos ser juizes: os Espíritos no-los revelam quando crêem útil e têm a permissão de Deus; fazem-no espontaneamente e não ao nosso pedido. E preciso esperar, com confiança a oportunidade, e sobretudo não insistir em caso de recusa, de outro modo se arrisca a relacionar-se com Espíritos levianos que se divertem às nossas custas.

Podem os Espíritos nos guiar, por conselhos diretos, nas coisas da vida? Sim, eles o podem e o fazem voluntariamente. Esses conselhos nos chegam diariamente pelos pensamentos que nos sugerem. Freqüentemente, fazemos coisas das quais nos atribuímos o mérito, e que não são, na realidade, senão o resultado de uma inspiração que nos foi transmitida. Ora, como estamos cercados de Espíritos que nos solicitam, uns num sentido, os outros no outro, temos sempre o nosso livre arbítrio para nos guiar na escolha, feliz para nós quando damos a preferência ao nosso bom gênio. Além desses conselhos ocultos, pode-se tê-los diretos por um médium; mas é aqui o caso de se lembrar dos princípios fundamentais que emitimos a toda hora. A primeira coisa a considerar é a qualidade do médium, senão o for por si mesmo. Médium que não tem senão boas comunicações, que, pelas suas qualidades pessoais não simpatiza senão com os bons Espíritos, é um ser precioso do qual podem-se esperar grandes coisas, se todavia for secundado pela pureza de suas próprias instruções e se tomadas convenientemente: digo mais, é um instrumento providencial. O segundo ponto, que não é menos importante, consiste na natureza dos Espíritos aos quais se dirigem, e não é preciso crer que o primeiro que chegue possa nos guiar utilmente. Quem não visse nas comunicações espíritas senão um meio de adivinhação, e em um médium uma espécie de ledor de sorte, se enganaria estranhamente. É preciso considerar que temos, no mundo dos Espíritos, amigos que se interessam por nós, mais sinceros e mais devotados do que aqueles que tomam esse título na Terra, e que não têm nenhum interesse em nos bajular e em nos enganar. Além do nosso Espírito protetor, são parentes ou pessoas que se nos afeiçoaram em sua vida, ou Espíritos que nos querem o bem por simpatia. Aqueles vêm voluntariamente quando são chamados, e vêm mesmo sem que sejam chamados; temo-los, freqüentemente, ao nosso lado sem disso desconfiar. São aqueles aos quais pode-se pedir conselhos pela via direta dos médiuns, e que os dão mesmo espontaneamente sem que lhes peça. Fazem-no sobretudo n a intimidade, no silêncio, e então quando nenhuma influência venha perturbá-los: aliás, são muito prudentes, e não se tem a temer da sua parte uma indiscrição imprópria: eles se calam quando há ouvidos demais. Fazem-no, ainda com mais bom grado, quando estão em comunicação freqüente conosco; como eles não dizem as coisas senão com o propósito e segundo a oportunidade, é preciso esperar a sua boa vontade e não crer que, à primeira vista, vão satisfazer a todos os nossos pedidos; querem nos provar com isso que não estão às nossas ordens. A natureza das respostas depende muito do modo como se colocam as perguntas; é preciso aprender a conversar com os Espíritos como se aprende a conversar com os homens: em todas as coisas é preciso a experiência. Por outro lado, o hábito faz com que os Espíritos se identifiquem conosco e com o médium, os fluidos se combinam e as comunicações são mais fáceis; então se estabelece, entre eles e nós, verdadeiras conversações familiares; o que não dizem num dia, dizem-no em outro; eles se habituam à nossa maneira de ser, como nós à sua: fica-se, reciprocamente, mais cômodo. Quanto à ingerência de maus Espíritos e de Espíritos enganadores, o que é o grande escolho, a experiência ensina a combatê-los, e pode-se sempre evitá-los. Se não se lhes expuser, não vêm mais onde sabem perder seu tempo.
Qual pode ser a utilidade da propagação das idéias espíritas? O Espiritismo, sendo a prova palpável, evidente da existência, da individualidade e da imortalidade da alma, é a destruição do Materialismo. Essa negação de toda religião, essa praga de toda sociedade. O número dos materialistas que foram conduzidos a idéias mais sadias é considerável e aumenta todos os dias: só isso seria um benefício social. Ele não prova somente a existência da alma e sua imortalidade; mostra o estado feliz ou infeliz delas segundo os méritos desta vida. As penas e as recompensas futuras não são mais uma teoria, são um fato patente que se tem sob os olhos. Ora, como não há religião possível sem a crença em Deus, na imortalidade da alma, nas penas e nas recompensas futuras, se o Espiritismo conduz a essas crenças aqueles em que estavam apagadas, disso resulta que é o mais poderoso auxiliar das idéias religiosas: dá a religião àqueles que não a têm; fortifica-a naqueles em que ela é vacilante; consola pela certeza do futuro, faz aceitar com paciência e resignação as tribulações desta vida, e afasta do pensamento do suicídio, pensamento que se repele naturalmente quando se lhe vê as conseqüências: eis porque aqueles que penetraram esses mistérios estão felizes com isso; é para eles uma luz que dissipa as trevas e as angústias da dúvida.Se considerarmos agora a moral ensinada pelos Espíritos superiores, ela é toda evangélica, é dizer tudo: prega a caridade cristã em toda a sua sublimidade; faz mais, mostra a necessidade para a felicidade presente e futura, porque as conseqüências do bem e do mal que fizermos estão ali diante dos nossos olhos. Conduzindo os homens aos sentimentos de seus deveres recíprocos, o Espiritismo neutraliza o efeito das doutrinas subversivas da ordem social.
Essas crenças não podem ser um perigo para a razão? Todas as ciências não forneceram seu contingente às casas de alienados? É preciso condená-las por isso? As crenças religiosas não estão ali largamente representadas? Seria justo, por isso, proscrever a religião? Conhecem-se todos os loucos que o medo do diabo produziu? Todas as grandes preocupações intelectuais levam à exaltação, e podem reagir lastimavelmente sobre um cérebro fraco; teria fundamento ver-se no Espiritismo um perigo especial a esse respeito, se ele fosse a causa única, ou mesmo preponderante, dos casos de loucura. Faz-se grande barulho de dois ou três casos aos quais não se daria nenhuma atenção em outra circunstância; não se levam em conta, ainda, as causas predisponentes anteriores. Eu poderia citar outras nas quais as idéias espíritas, bem compreendidas, detiveram o desenvolvimento da loucura. Em resumo, o Espiritismo não oferece, sob esse aspecto, mais perigo que as mil e uma causas que a produzem diariamente; digo mais, que ele as oferece muito menos, naquilo que ele carrega em si mesmo seu corretivo, e que pode, pela direção que dá às idéias, pela calma que proporciona ao espírito daqueles que o compreende, neutralizar o efeito de causas estranhas. O desespero é uma dessas causas; ora, o Espiritismo, fazendo-nos encarar as coisas mais lamentáveis com sangue frio e resignação, nos dá a força de suportá-las com coragem e resignação, e atenua os funestos efeitos do desespero.
As crenças espíritas não são a consagração das idéias supersticiosas da Antigüidade e da Idade Média, e não podem recomendá-las? As pessoas sem religião não taxam de superstição a maioria das crenças religiosas? Uma idéia não é supersticiosa senão porque ela é falsa; cessa de sê-lo se se torna uma verdade. Está provado que, no fundo da maioria das superstições, há uma verdade ampliada e desnaturada pela imaginação. Ora, tirar a essas idéias todo seu aparelho fantástico, e não deixar senão a realidade, é destruir a superstição: tal é o efeito da ciência espírita, que coloca a nu o que há de verdade ou de falso nas crenças populares. Por muito tempo, as aparições foram vistas como uma crença supersticiosa; hoje, que são um fato provado, e, mais que isso, perfeitamente explicado, elas entram no domínio dos fenômenos naturais. Seria inútil condená-las, não as impediria de se produzirem; mas aqueles que delas tomam conhecimento e as compreendem, não somente não se amedrontam, mas com elas ficam satisfeitos, e é a tal ponto que aqueles que não as têm desejam tê-las. Os fenômenos incompreendidos deixam o campo livre à imaginação, são a fonte de uma multidão de idéias acessórias, absurdas, que degeneram em superstição. Mostrai a realidade, explicai a causa, e a imaginação se detém no limite do possível; o maravilhoso, o absurdo e o impossível desaparecem, e com eles a superstição; tais são, entre outras, as práticas cabalísticas, a virtude dos sinais e das palavras mágicas, as fórmulas sacramentais, os amuletos, os dias nefastos, as horas diabólicas, e tantas outras coisas das quais o Espiritismo, bem compreendido, demonstra o ridículo.
Tais são, Príncipe, as respostas que acreditei dever fazer às perguntas que me haveis dado a honra em me endereçar, feliz se elas podem corroborar as idéias que Vossa Alteza já possui sobre essas matérias, e vos levar a aprofundar uma questão de tão alto interesse; mais feliz ainda se meu concurso ulterior puder ser para vós de alguma utilidade.

Com o mais profundo respeito, sou, de Vossa Alteza, o muito humilde e muito obediente servidor,

Allan Kardec


texto - http://oespiritismo.com.br
imagem - hamiltonbenetti.blogspot.com

domingo, 24 de julho de 2011

GERAÇÃO ESPONTÂNEA


Uma das maiores preocupações dos pesquisadores preocupados com a formação do nosso mundo, o planeta Terra, sem dúvida, tem sido a de saber como pôde aparecer vida nele, após seu provável resfriamento, segundo os conceitos primitivos correlatos com esta formação.

A primeira suposição sugerida foi admitir que a vida tenha aparecido, inicialmente, por geração espontânea, ou seja, surgido do nada ou das próprias cinzas remanescentes da massa incandescente que, segundo os arqueólogos, formaria o planeta.

Tudo baseado nos conhecimentos do passado, calcados nas parcas observações de nossos cientistas, sem grandes amparos nos mesmos, por falta de condições para obter dados precisos ou, quando muito, satisfatórios. E que girava em torno de possíveis fatos conhecidos.

Para provar a geração espontânea, os biólogos colocavam um pedaço de carne ao ar livre e, em pouco tempo, nele apareciam larvas dando a idéia de que haviam brotado da própria carne. Ali, tudo indicava que esta forma de vida teria vindo do nada, mas, Louis Pasteur, para provar que a vida não aparecia do dito nada, simplesmente, cobriu a fatia de carne com uma tela metálica que não permitisse que a mosca varejeira depositasse seus ovos na mesma, destruindo a hipotética afirmativa de que aquelas larvas teriam surgido sem causa senão a transformação a partir da própria carne. Ou seja, que haviam sido espontaneamente geradas.

Mas, evidentemente, naquela época, a ciência era muito mais empírica do que experimental e calcada nos sulcos religiosos – como comenta A. Kardec em A Gênese – que não lhe permitia maiores rasgos em seus estudos. E, de sobejo, estava o conceito religioso da “Vontade de Deus”, causa de tudo, que não podia ser discutido, sob pena de inflamar-se a Sua ira.

Apesar disso, foram engendradas as mais curiosas e estapafúrdias sugestões, a partir da idéia de que a vida primitiva se resumia em formas invisíveis, rudimentares que teriam resistido às altas temperaturas da possível lava que se resfriara para formar nosso planeta até a possibilidade de seres oriundos do espaço que teriam penetrado em nossa atmosfera nos primórdios da existência planetária. Eram os cientistas procurando algo plausível como justificativa para suas teses.

De qualquer maneira, as pesquisas confirmam que a mais primitiva forma de vida biológica é a dos plânctons, que teria se formado da reunião de substâncias orgânicas elementares encontradas na água e quiçá do próprio dióxido de carbono provavelmente existente em nossa atmosfera. Neste segundo caso restaria saber como o gás poderia ter permitido que as formas orgânicas primitivas tivessem capacidade de se estruturar a partir do ambiente atmosférico; na primeira e mais simples, admite-se a existência de alguma cadeia carbônica que poderia ter sido o metano.

Por ser justamente a mais simples forma orgânica –composta por quatro átomos de hidrogênio e um de carbono –, o metano, inicialmente, adviria de rochas carbônicas submersas nas águas; mas, esta conclusão, leva os químicos a admitirem que outras substâncias mais complexas poderiam ter surgido a partir das mesmas lavas incandescentes como as que até hoje os vulcões expelem, vindo cair em mananciais ou depósitos hídricos da superfície terrestre retidos pela crosta já esfriada.

Contudo, paira a dúvida da forma pela qual a substância mineral carbônica teria se transformado num ser biológico orgânico e, então, voltaria a se admitir que esta transformação nada mais seria do que uma forma de geração biológica espontânea peculiar.

E retornava-se à estaca inicial.

Restava a hipótese da semente espacial.

Os seres vivos mais elementares existentes no espaço sideral encontrariam a atmosfera do nosso planeta, introduzindo-se nela a partir do que, sua gravidade faria o resto da caminhada até a superfície terrena. As sementes caídas na água gerariam os plânctons primitivos.

O único embargo a esta hipótese é imaginar-se de onde teriam vindo estas sementes. Provavelmente de planetas distantes já que os mais próximos de nós não sugerem nenhuma forma de vida capaz de nos semear com tal elemento. Mas como estas vidas caminhariam errantes pelo espaço sideral? E como se proveriam do sustento enquanto errantes?

A coisa se agrava quando se verifica que não se penetra tão facilmente em nossa atmosfera sem passar por grande risco. Isto faria com que, provavelmente, tais sementes não resistissem às intempéries das quais fossem vítimas.

Um novo alento para hipóteses mais atualizadas surgiu quando os astrônomos verificaram que a formação de um sistema planetário não está ligada ao esfacelamento de nenhum astro luminoso capaz de se fragmentar em peças resfriáveis e de se tornarem planetas. Pelo contrário, tudo indica que uma ação de forças estranhas ao Universo atue sobre a poeira cósmica agregando-a sob forma de astro e, justamente, no efeito da compressão é que geraria as camadas internas incandescentes.

Os observatórios do Haway, mais especificamente o Keck II descobriram este fato estudando tais reações em torno da estrela Alfa Centaurus.

A vida biológica, pois, não poderia ter surgido junto com a criação do planeta, em que pesem informação em contrário, baseadas nas velhas tradições a respeito da formação da Terra. No caso, sem dúvida, Kardec, na Gênese, apresenta hipóteses bem mais condizentes com a realidade atual.

E volta-se à indagação inicial: então, como poderia ter surgido a vida na Terra, sem que fosse pela geração espontânea?

A migração pelo espaço cósmico completamente improvável levaria à conclusão de que a vida seria anterior à Terra e muito próxima dela, contudo, até hoje, apesar das novas técnicas, não se pôde constatar tal fato. E tudo indica que esta forma de vida que se apresenta entre nós seja exclusividade do nosso planeta. O que não elimina a possibilidade de existir algum ser em outro astro com formação diversa. Mas esta não seria a fonte migratória da que existe em nosso orbe.

Por outro lado, admitir que o material primitivo que veio a se constituir na formação terráquea já traria a vida latente também nos leva a indagação: de onde teria vindo tal matéria contendo, mesmo que seja, a semente inicial dos aludidos plânctons?

Recaímos no caso anterior: a vida já existiria bem próxima de nós. Mas, onde?

Tem-se que ressaltar que todas essas explicações materialistas só admitem uma única forma de vida: biologicamente oriunda de algum outro sistema que a contivesse e de onde houvesse migrado para a Terra. Talvez aí esteja a grande dificuldade de se encontrar algo satisfatório e justificável.

Todavia, infelizmente, na área biológica, os conceitos continuam arraigadamente materialistas, como se a energia em si pudesse gerar tudo, inclusive o princípio vital dos seres vivos, contrariando, evidentemente o que já se sabe a seu respeito, ou seja, que a energia universal é amorfa e se encontra em expansão. Como tal, incapaz de se alterar por si mesma.

Os novos rumos da Ciência

Se, por um lado, os cientistas não conseguem encontrar uma justificativa para a existência da vida biológica em nosso planeta, já não se pode dizer o mesmo dos físicos, embora estes jamais tenham se excursionado no campo dos organismos conhecidos como seres vivos.

Foi em 1975 que Murray Gell Mann deu início às suas descobertas pesquisando, no acelerador de partículas da Stanford University o que ocorreria com a colisão de elétrons e seu correspondente antimaterial, o pósitron.

Evidentemente, nestes últimos vinte e nove anos, a evolução dos seus estudos foi enorme e hoje, tem-se como mais provável a tese de que, como a energia universal, por si só, seria incapaz de se alterar, e mais, como – já dizia Werner Heisenberg que certas partículas tinham vontade própria – os elementos atômicos se portam de maneira que permitiram a Gell Mann equacionar a possível existência de um agente externo ao Universo com capacidade para estruturá-los e comandá-los (a provável vontade própria), a conclusão óbvia é a de que, até mesmo as sub-partículas só se formariam se tais agentes estruturadores – atualmente conhecidos como frameworkers – de fato, fossem capazes de atuar sobre a dita energia, modulando-a e dando-lhe as formas que seriam as mais elementares partículas atômicas.

Ainda, dentro da mesma hipótese de estudo, agentes estruturadores mais elevados reuniriam estas partículas para formarem o átomo e, assim, sucessivamente, na constituição da molécula e dos corpos, agentes esses elementares e incapazes de dotarem tais corpos de estrutura biológica.

Em que estas pesquisas e descobertas poderiam contribuir para se imaginar a maneira pela qual teria nascido a vida primitiva em nosso planeta?

O princípio da formação universal é único, logo, o que vale para n =1 também vale para n+1 em linguagem matemática, ou seja, o que acontece no micro se repete no macro e assim por diante, portanto, se é válido para a formação da partícula em si também o será para a concepção da forma biológica primitiva.

E, então, Allan Kardec estava certo quando supunha que a geração espontânea biológica como é por ele exposta seria a causa da existência do princípio vital em nosso planeta, independente de qualquer migração biológica de algures que jamais foi detectada.

Por analogia aos estudos da partícula, imaginemos que, de fato, nas águas do planeta fossem encontradas cadeias carbônicas as mais diversas, provocadas pela queima mineral a altas temperaturas em que esteve sujeito nosso planeta durante sua formação.

E que, sobre estas cadeias, agentes biológicos primitivos, externos ao Universo, pudessem atuar para dar-lhes estrutura, não mais mineral, porém, com vida vegetativa. Evidentemente, em vez de estruturarem uma partícula atômica, gerariam uma célula orgânica. O princípio é o mesmo. A origem destes agentes também procede do mesmo domínio ao qual pertencem os frameworkers, e que, como tal, externo ao Universo, para que possa atuar em nosso sistema.

Claro e evidente que os estruturadores teriam que ser compatíveis com as formas estruturadas, daí imaginar-se que o domínio de sua existência possa ser o mesmo. E que nele existam todas as formas capazes de se materializarem no Universo, o que explicaria, até, o fenômeno observado em torno da Alfa Centauro, em outras proporções.

Não seria uma geração espontânea do nada, embora os cientistas já tenham conseguido detectar a existência desse nada (peso sem massa), mas a partir de um estruturador que, por pertencer a outro domínio interligado com o Universo e do qual possam agir sobre este, porém, espontânea no sentido de não ter tido anteriormente nenhuma outra causa biológica plausível para sua formação ligada ao sistema puramente material.

E Kardec estaria absolutamente certo.

Todavia, o grande problema é que os biólogos insistem em querer encontrar na matéria pura a causa de tudo, mesmo depois que ficou provado que, sendo efeito da condensação de energia, esta matéria jamais poderá ser causa de nada.

Resta, agora, provar que o domínio de existência dos agentes estruturadores é a própria espiritualidade e teremos chegado à conclusão final de que sua existência explicaria até a própria Gênese universal.


Carlos de Brito Imbassahy e Carmem Imbassahy



Este artigo pode ser encontrado também no site TERRA ESPIRITUAL

http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo274.html


Publicado neste Portal A ERA DO ESPÍRITO com a autorização do autor.





texto - http://aeradoespirito.sites.uol.com.br/a era do espirito/portal/artigos

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quinta-feira, 21 de julho de 2011

KARDEC E A QUESTÃO DO CORPO FÍSICO DE JESUS


Grupo de Estudos Avançados Espíritas

(Trechos do Capítulo XV - Os Milagres do Evangelho, A Gênese - FEB, tradução de Guillon Ribeiro, extraídos da versão eletrônica publicada em CD-ROM pela editora "A Palavra Digital", http://www.apalavradigital.com.br)

Superioridade da Natureza do Cristo

1. - Os fatos que o Evangelho relata e que foram até hoje considerados milagrosos pertencem, na sua maioria, à ordem dos fenômenos psíquicos, isto é, dos que têm como causa primária as faculdades e os atributos da alma.

Confrontando-os com os que ficaram descritos e explicados no capítulo precedente, reconhecer-se-á sem dificuldade que há entre eles identidade de causa e de efeito. A História registra outros análogos, em todos os tempos e no seio de todos os povos, pela razão de que, desde que há almas encarnadas e desencarnadas, os mesmos efeitos forçosamente se produziram. Pode-se, é certo, contestar, no que concerne a este ponto, a veracidade da História; mas, hoje, eles se produzem às nossas vistas e, por assim dizer, à vontade e por indivíduos que nada têm de excepcionais. O só fato da reprodução de um fenômeno, em condições idênticas, basta para provar que ele é possível e se acha submetido a uma lei, não sendo, portanto, miraculoso.

O princípio dos fenômenos psíquicos repousa, como já vimos, nas propriedades do fluido perispiritual, que constituí o agente magnético; nas manifestações da vida espiritual durante a vida corpórea e depois da morte; e, finalmente, no estado constitutivo dos Espíritos e no papel que eles desempenham como força ativa da Natureza. Conhecidos estes elementos e comprovados os seus efeitos, tem-se, como conseqüência, de admitir a possibilidade de certos fatos que eram rejeitados enquanto se lhes atribuía uma origem sobrenatural.

2. - Sem nada prejulgar quanto à natureza do Cristo, natureza cujo exame não entra no quadro desta obra, considerando-o apenas um Espírito superior, não podemos deixar de reconhecê-lo um dos de ordem mais elevada e colocado, por suas virtudes, muitíssimo acima da humanidade terrestre. Pelos imensos resultados que produziu, a sua encarnação neste mundo forçosamente há de ter sido uma dessas missões que a Divindade somente a seus mensageiros diretos confia, para cumprimento de seus desígnios. Mesmo sem supor que ele fosse o próprio Deus, mas unicamente um enviado de Deus para transmitir sua palavra aos homens, seria mais do que um profeta, porquanto seria um Messias divino.

Como homem, tinha a organização dos seres carnais; porém, como Espírito puro, desprendido da matéria, havia de viver mais da vida espiritual, do que da vida corporal, de cujas fraquezas não era passível. A sua superioridade com relação aos homens não derivava das qualidades particulares do seu corpo, mas das do seu Espírito, que dominava de modo absoluto a matéria e da do seu perispírito, tirado da parte mais quintessenciada dos fluidos terrestres (cap. XIV, nº 9). Sua alma, provavelmente, não se achava presa ao corpo, senão pelos laços estritamente indispensáveis. Constantemente desprendida, ela decerto lhe dava dupla vista, não só permanente, como de excepcional penetração e superior de muito à que de ordinário possuem os homens comuns. O mesmo havia de dar-se, nele, com relação a todos os fenômenos que dependem dos fluidos perispirituais ou psíquicos. A qualidade desses fluidos lhe conferia imensa forca magnética, secundada pelo incessante desejo de fazer o bem.

Agiria como médium nas curas que operava? Poder-se-á considerá-lo poderoso médium curador? Não, porquanto o médium é um intermediário, um instrumento de que se servem os Espíritos desencarnados e o Cristo não precisava de assistência, pois que era ele quem assistia os outros. Agia por si mesmo, em virtude do seu poder pessoal, como o podem fazer, em certos casos, os encarnados, na medida de suas forças. Que Espírito, ao demais, ousaria insuflar-lhe seus próprios pensamentos e encarregá-lo de os transmitir? Se algum influxo estranho recebia, esse só de Deus lhe poderia vir. Segundo definição dada por um Espírito, ele era médium de Deus.

(...)

Desaparecimento do Corpo de Jesus

64. - O desaparecimento do corpo de Jesus após sua morte há sido objeto de inúmeros comentários. Atestam-no os quatro evangelistas, baseados nas narrativas das mulheres que foram ao sepulcro no terceiro dia depois da crucificação e lá não o encontraram. Viram alguns, nesse desaparecimento, um fato milagroso, atribuindo-o outros a uma subtração clandestina.

Segundo outra opinião, Jesus não teria tido um corpo carnal, mas apenas um corpo fluídico; não teria sido, em toda a sua vida, mais do que uma aparição tangível; numa palavra: uma espécie de agênere. Seu nascimento, sua morte e todos os atos materiais de sua vida teriam sido apenas aparentes. Assim foi que, dizem, seu corpo, voltado ao estado fluídico, pode desaparecer do sepulcro e com esse mesmo corpo é que ele se teria mostrado depois de sua morte.

É fora de dúvida que semelhante fato não se pode considerar radicalmente impossível, dentro do que hoje se sabe acerca das propriedades dos fluidos; mas, seria, pelo menos, inteiramente excepcional e em formal oposição ao caráter dos agêneres. (Cap. XIV, nº 36.) Trata-se, pois, de saber se tal hipótese é admissível, se os fatos a confirmam ou contradizem.

65. - A estada de Jesus na Terra apresenta dois períodos: o que precedeu e o que se seguiu à sua morte. No primeiro, desde o momento da concepção até o nascimento, tudo se passa, pelo que respeita à sua mãe, como nas condições ordinárias da vida (*) . Desde o seu nascimento até a sua morte, tudo, em seus atos, na sua linguagem e nas diversas circunstâncias da sua vida, revela os caracteres inequívocos da corporeidade. São acidentais os fenômenos de ordem psíquica que nele se produzem e nada têm de anômalos, pois que se explicam pelas propriedades do perispírito e se dão, em graus diferentes, noutros indivíduos. Depois de sua morte, ao contrário, tudo nele revela o ser fluídico. É tão marcada a diferença entre os dois estados, que não podem ser assimilados.

O corpo carnal tem as propriedades inerentes à matéria propriamente dita, propriedades que diferem essencialmente das dos fluidos etéreos; naquela, a desorganização se opera pela ruptura da coesão molecular. Ao penetrar no corpo material, um instrumento cortante lhe divide os tecidos; se os órgãos essenciais à vida são atacados, cessa-lhes o funcionamento e sobrevém a morte, isto é, a do corpo. Não existindo nos corpos fluídicos essa coesão, a vida aí já não repousa no jogo de órgãos especiais e não se podem produzir desordens análogas àquelas. Um instrumento cortante ou outro qualquer penetra num corpo fluídico como se penetrasse numa massa de vapor, sem lhe ocasionar qualquer lesão. Tal a razão por que não podem morrer os corpos dessa espécie e por que os seres fluídicos, designados pelo nome de agêneres, não podem ser mortos.

Após o suplício de Jesus, seu corpo se conservou inerte e sem vida; foi sepultado como o são de ordinário os corpos e todos o puderam ver e tocar. Após a sua ressurreição, quando quis deixar a Terra, não morreu de novo; seu corpo se elevou, desvaneceu e desapareceu, sem deixar qualquer vestígio, prova evidente de que aquele corpo era de natureza diversa da do que pereceu na cruz; donde forçoso é concluir que, se foi possível que Jesus morresse, é que carnal era o seu corpo.

Por virtude das suas propriedades materiais, o corpo carnal é a sede das sensações e das dores físicas, que repercutem no centro sensitivo ou Espírito. Quem sofre não é o corpo, é o Espírito recebendo o contragolpe das lesões ou alterações dos tecidos orgânicos. Num corpo sem Espírito, absolutamente nula é a sensação. Pela mesma razão, o Espírito, sem corpo material, não pode experimentar os sofrimentos, visto que estes resultam da alteração da matéria, donde também forçoso é se conclua que, se Jesus sofreu materialmente, do que não se pode duvidar, é que ele tinha um corpo material de natureza semelhante ao de toda gente.

66. - Aos fatos materiais juntam-se fortíssimas considerações morais.

Se as condições de Jesus, durante a sua vida, fossem as dos seres fluídicos, ele não teria experimentado nem a dor, nem as necessidades do corpo. Supor que assim haja sido é tirar-lhe o mérito da vida de privações e de sofrimentos que escolhera, como exemplo de resignação. Se tudo nele fosse aparente, todos os atos de sua vida, a reiterada predição de sua morte, a cena dolorosa do Jardim das Oliveiras, sua prece a Deus para que lhe afastasse dos lábios o cálice de amarguras, sua paixão, sua agonia, tudo, até ao último brado, no momento de entregar o Espírito, não teria passado de vão simulacro, para enganar com relação à sua natureza e fazer crer num sacrifício ilusório de sua vida, numa comédia indigna de um homem simplesmente honesto, indigna, portanto, e com mais forte razão de um ser tão superior. Numa palavra: ele teria abusado da boa-fé dos seus contemporâneos e da posteridade.

Tais as conseqüências lógicas desse sistema, conseqüências inadmissíveis, porque o rebaixariam moralmente, em vez de o elevarem. (2)

Jesus, pois, teve, como todo homem, um corpo carnal e um corpo fluídico, o que é atestado pelos fenômenos materiais e pelos fenômenos psíquicos que lhe assinalaram a existência.

67. - Não é nova essa idéia sobre a natureza do corpo de Jesus. No quarto século, Apolinário, de Laodicéia, chefe da seita dos apolinaristas, pretendia que Jesus não tomara um corpo como o nosso, mas um corpo impassível, que descera do céu ao seio da santa Virgem e que não nascera dela; que, assim, Jesus não nascera, não sofrera e não morrera, senão em aparência. Os apolinaristas foram anatematizados no concílio de Alexandria, em 360; no de Roma, em 374; e no de Constantinopla, em 381.

Tinham a mesma crença os Docetas (do grego dokein, aparecer), seita numerosa dos Gnósticos, que subsistiu durante os três primeiros séculos.

(*) Kardec acrescenta ao texto o comentário: "Não falamos do mistério da encarnação, com o qual não temos que nos ocupar aqui e que será examinado ulteriormente". Esse tema não chegou a ser tratado por Kardec, que desencarnou no ano seguinte ao da publicação da Gênese.


(Publicado no Boletim GEAE Número 321 de 1 de dezembro de 1998)



texto - http://espirito.org.br/portal/artigos/geae

imagem - paradigmaespirita.blogspot.com

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