terça-feira, 30 de março de 2010

HEREDITARIEDADE E ESPIRITISMO


Iaponan Albuquerque da Silva

Na intimidade do átomo, molécula ou célula, dos reinos mineral, vegetal ou animal, vige a grandiosidade da Inteligência Divina, plasmando a organização do Micro ao Macrocosmo, pacientemente provando a presença de DEUS em toda a Criação.

I - INTRÓITO

É fato comum a todos nós o sabermos da existência de pequenas vilas, de cidades agitadas pelo labor de seus habitantes e de verdadeiras megalópolis, estas últimas frutos diretos das multifárias atividades humanas, com as quais buscam freneticamente a satisfação dos seus mais variados intentos.

De modo geral, atores e participantes desses redemoinhos humanos dificilmente se apercebem da necessidade absoluta de se ligarem ao Pai Criador, nele buscando paz íntima, reconforto espiritual ou orientação para seus destinos.

A dinâmica da vida, a busca pela supremacia, o desejo de ganho muitas vezes transfundindo-se em ambição desmedida, a preocupação de parecer e aparecer ao invés de simplesmente ser, levaram o homem da craveira comum a investir em si mesmo, e a desprezar o contato com DEUS.

Triste miopia espiritual que vem afetando grande parte da Humanidade.

Não há tempo para que seja divisada, em tudo e em todos, a augusta presença de DEUS - poderosa e imanente - conclamando-nos à compreensão de suas Leis.

A geração de hoje é resultado de inúmeras outras de antanho, que se perdem na diáfana noite dos milênios sem fim, sempre constantes em sua morfologia somática, formando uma cadeia inumerável de populações, que a despeito de suas mais desencontradas metas e modus vivendi, guardam sempre a condição primordial de serem catalogadas como seres homo sapiens.

A partir dessa classificação antropológica, que caracteriza e entroniza cada um de nós como detentor da Razão, conseqüentemente rei no Plano Criado, não seria absurdo, posto que necessário, o dever de nos reportarmos aos chamados “mistérios da Criação”, especialmente à Genética, a fim de que nos compenetremos de que o ser vivente de hoje é o somatório de vários fenômenos proporcionados pela Natureza, para sua existência, permanência, mutação e evolução, através dos milênios.

II - A FILOSOFIA DA CRIAÇÃO

É clássico e notório o saber-se que a concepção no reino animal tem seu início na junção do espermatozóide com o óvulo feminino.

A fecundação reflete não somente a atuante e estuante força da Natureza, na busca de perpetuação da espécie, mas igualmente, e de forma inequívoca, a Lei Maior de DEUS, que através do automatismo, do desejo ou do amor, faz perpetuar as espécies, a fim de que elas se multipliquem e se aprimorem.

Sem dúvida, poderia parecer à primeira vista que a única finalidade da multiplicação dos seres seria a de cobrir a Terra de seres viventes, dando ensejo ao funcionamento das leis genéticas, incluindo, por exemplo, a prevalência do mais forte, através do processo seletivo.

Concepção multiplicação, mutação e seleção, todos esses fenômenos têm sido estudados exaustivamente, há séculos, para que melhor se conhecessem as leis que regem a Natureza.

Esforços ingentes, labores incalculáveis sempre buscaram insistentemente o porquê da Vida, seus mais difíceis e intrincados meandros, na permanente porfia entre a ignorância e o saber. Ignorância e saber humanos que se digladiam como feras acuadas ante a superioridade da Sabedoria Divina, que muitas vezes os pesquisadores negam, afoitos e presunçosos, erguendo altares ao seu próprio ego.

Todas as instâncias do saber humano periclitam em suas bases, sem o convívio permanente e necessário com o Hausto Divino.

A supremacia da Divindade é fato inconteste a estadear-se no Plano da Criação, do micro ao macrocosmo.

A esse respeito, cumpre-nos prazerosamente consultar “O Livro dos Espíritos” que, no capítulo III da 1ª parte - Da Criação - Formação dos Mundos, diz-nos:

“O Universo abrange a infinidade dos mundos que vemos e dos que não vemos, todos os seres animados e inanimados, todos os astros que se movem no espaço, assim como os fluidos que o enchem”.

Mais adiante, de maneira genérica, ainda em “O Livro dos Espíritos”, em Formação dos seres vivos, como resposta à questão 43, responderam os Espíritos:

“No começo tudo era caos, os elementos estavam em confusão. Pouco a pouco cada coisa tomou o seu lugar. Apareceram então os seres vivos apropriados ao estado do globo”.

Nesta incursão à gênese da Criação, feita de forma humilde e despretensiosa, sente-se a grandeza das Leis Divinas a coordenar fatos e princípios. Não há vácuo no Plano Criador.

O que se nos parece sem vida ganha cor; o estático aparente apenas mimetiza a dinâmica sempre atuante.

Ao leitor espírita ou espiritualista não há como conceber um Universo sem DEUS, ou o Acaso gerando formas e situações.

O Acaso é o nada e o nada não existe.

Eis porque é lógico, crível e até científico chegar-se à CRIAÇÃO, com DEUS a presidi-la.

Na publicação “Ciência Ilustrada” da Editora Abril Cultural Ltda., sob o título O homem descobre o Mundo, que versa sobre a matéria “Ciência é saber ver um Universo claro e exato”, deparamos com bela foto de uma esponja que na simetria do seus esqueleto “fixa o padrão de sua espécie”. “Na simetria do 'esqueleto' da esponja da foto, o padrão da espécie está indelevelmente fixado.

Em cada geração a mesma forma se repete graças aos mecanismos genéticos.

Compreender uma estrutura conhecer suas leis gerais é também fazer Ciência”.

A cada passo, ante a imensidade daquilo que foi desvendado no campo da Ciência, e diante do que falta desvendar, vê-se claramente - como numa operação matemática - a presença de DEUS e a negação do acaso.

A Doutrina dos Espíritos, que é Filosofia, Ciência e Religião, traz em seu bojo salutares esclarecimentos, que não infirmam as descobertas científicas, antes as iluminam e ampliam, imprimindo-lhes o sinete da Presença Divina em tudo e em todos.

Compreende-se de uma vez por todas, que a Criação não é obra do Acaso, que o vazio nela não existe, e que os reinos mineral, vegetal e animal se agitam e reproduzem, mercê de Leis Sábias e absolutamente equânimes, com vistas ao povoamento e perpetuação das espécies em todos os departamentos do Planeta.

III - HEREDITARIEDADE: APENAS UMA LEI DA NATUREZA?

Alguns menos avisados hão de querer julgar que ao Espiritismo e aos espíritas faltam-lhes o mediano senso de crítica, responsável por uma análise mais perfeita dos fatos, das pessoas e das coisas.

Dentre os que seriamente aderiram ao Espiritismo, desde a sua origem, encontram-se dos simples operários aos homens notáveis pelo saber e pela cultura.

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“Na Doutrina Espírita aprendemos a amar, mas igualmente a estudar, para enfrentarmos a Razão face a face”

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Quem conhece a História do Espiritismo sabe muito bem que, afastado o aspecto burlesco das comunicações iniciais das mesas girantes e falantes, ficou a mensagem, a seriedade, aquilo que fala à alma e ao coração, a sapiência sem peias, e, junto a tudo isso, a nata da inteligência francesa, sem sombra de dúvidas, protagonizada no mestre lionês - Hippolyte León Denizard Rivail (Allan Kardec) e todos os que àquela altura o acompanhavam, conquistando a Doutrina dos Espíritos - mais adiante - inúmeros cidadãos de invejável cultura que a História registra como marcos inconfundíveis de grandes vitórias (vide a obra de “Allan Kardec”, em 3 volumes, autoria de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, Editora FEB). Essa obra é, inquestionavelmente, uma extraordinária e meticulosa pesquisa bibliográfica.

Ser espírita, portanto, não é somente ser deísta, crer na imortalidade da alma, admitir-lhe as comunicações, modificar-se interiormente, mas, de igual maneira, buscar a Verdade através do Saber.

Na Doutrina Espírita aprendemos a amar, mas igualmente a estudar, para enfrentarmos a Razão face a face.

O fanatismo pode rondar os nossos arraiais, mas não os penetra, pois dele somos a própria antítese.

Eis por que nem sempre andamos de mãos dadas com certas afirmações que, a despeito de serem consagradas, respeitamo-las, mas não as endossamos.

Vejamos, por exemplo, o problema da Hereditariedade, capitulado no campo da Biologia, mais especificamente na Genética.

Transcreveremos do ótimo livro didático “Biologia Moderna” (Maria Luiza Beçak e Willty Beçak - volume 2 - Livraria Nobel S.A. - 1975), o que se lê na página 11, encimado pelo subtítulo Herança e Meio:

“Um dos problemas mais antigos em Biologia é o estudo das causas fundamentais, que condicionam a grande variabilidade existente entre os seres vivos. Plantas e animais apresentam grande variedade de caracteres relacionados à cor, tamanho, forma e atividades fisiológicas.

As causas fundamentais que condicionam a variabilidade biológica são a hereditariedade e o ambiente. Genética é a ciência que estuda as semelhanças e as diferenças entre seres vivos e as suas causas. É a ciência que estuda a hereditariedade e o ambiente. (...)

Resultando os caracteres tanto da influência de herança, como do ambiente, a hereditariedade não implica que os filhos sejam necessariamente idênticos aos pais. Indivíduos com igual patrimônio hereditário poderão ser diferentes, quando se desenvolvem em meios diversos. (...)

JOHANNSEN, em 1911, propôs o termo "genótipo” para designar a constituição hereditária, (...) e “fenótipo” para designar a aparência de um indivíduo, ou seja, a soma total de suas peculiaridades de forma, tamanho, cor, comportamento externo e interno. (...)

O que o indivíduo herda é o genótipo e não o fenótipo."

De posse dessas informações, fica o indivíduo que somente deseja saber, restrito ao aspecto meramente didático e prático, ciente de que somos, inapelavelmente, no campo físico, o somatório de contingências hereditárias, aliadas aos problemas de meio ambiente, etc. Enfim, herdamos por genotipia e nos modificamos através de processos outros, que nos levam à fenotipia.

Em que pese o nosso mais profundo respeito por todas essas conceituações científicas, grande parte delas irrefutáveis, cumpre-nos lembrar que não podemos encarar o problema da hereditariedade somente sob o frio aspecto com que ele nos é mostrado pela Ciência. Há que se perquirir, perguntar, estudar, levantar hipóteses acerca do fenômeno da hereditariedade, que está inserido no Plano da Criação Divina.

Exatamente aí, neste campo em que se cruzam os fatores materiais e espirituais, é que está o cerne da questão.

Ocorre que, ao sermos informados por aqueles que residem no Além, vemo-nos obrigados por uma questão de consciência, a expender conceitos que nem sempre se afinizam com outros já conhecidos e consagrados. No caso em apreço, sem dúvida, é a Ciência Espírita em ação.

Sobre hereditariedade, herança morfológica, etc., vale lembrar ensinamentos valiosos de André Luiz, médico que foi na Terra, ora vivendo no Plano Espiritual, em sua obra “Evolução em dois Mundos”, psicografada por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira editado pela FEB.

À guisa de antelóquio dessa obra, sob o título Anotação, ensina-nos Emmanuel:

"O Apóstolo Paulo, no versículo 44 do capítulo 15 de sua primeira epístola aos coríntios, asseverou, convincente:

-Semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual”.

Ao espírita não há como fugir à conceituação da existência do corpo animal e do corpo espiritual, sendo que aquele é posterior ao segundo.

A existência do Espírito eterno, imortal, e sua configuração perispirítica, profundamente estudada nas obras espíritas, faz-nos atentar para o fato de que a vida, ou seja, o ser configurado sob as vestes carnais, não é somente reflexo de leis naturais fixadas sob o império da hereditariedade.

Cada indivíduo, cada ser vivente, deixa os estreitos limites onde é analisado, para surgir como junção de dois elementos - corpo e espírito – distintos porém entrelaçados, agindo e reagindo reciprocamente.

Na obra “A Evolução Anímica”, de Gabriel Delanne, encontramos esta jóia de informação científica, que bem explica a junção espírito-matéria e suas conseqüências, sob o título A utilidade fisiológica do perispírito:

“Estabelecemos de princípio, por experimentações espiríticas, que os Espíritos conservavam a forma humana e isto não só por se apresentarem tipicamente, assim, como porque o perispírito encerra todo um organismo fluídico-modelo, pelo qual a matéria se há de organizar, no condicionamento do corpo físico”.

Consultando-se a citada obra “Evolução em dois Mundos”, cuja leitura recomendamos, nela encontraremos resposta adequada à extensa linha de quesitos que se possa propor, enfocando corpo e espírito. A bem da verdade, essa obra é um extraordinário vade-mécum a quem desejar conhecer a gênese dos Espíritos, e, conseqüentemente, da matéria.

Nela se aprende que o chamado “elo perdido”, que medeia entre formas rudimentares do ser vivo e outras mais adiantadas foi resultado da intervenção dos Mentores espirituais na alteração psicossomática de formas que viveram na Terra, dando prosseguimento ao Plano Criador, sempre se justapondo o corpo carnal à matriz espiritual.

IV - A QUESTÃO DA HEREDITARIEDADE PSICOLÓGICA

Levantamos aqui uma propositura, que nos parece bem interessante, sobre a questão da hereditariedade e psicologia humanas.

É exatamente aí, e mais do que nunca nesta questão, que se sente a presença do Espírito, agindo e reagindo, atestando-se fruto de si mesmo, segundo a já citada afirmação do Apóstolo Paulo. É a presença inequívoca do Espírito no Plano da Criação.

Subtraindo-se às injunções de todo o processo genético, desde a fusão do espermatozóide com o óvulo até às linhas cromossômicas, que tipificam morfologicamente o ser, permanece imune a presença do ser espiritual, na sua caminhada evolutiva em busca da Luz e da Perfeição.

Atado mas não escravo, resguardando suas características próprias, ele (O Espírito) busca sua movimentação própria no que concerne ao psiquismo, dando margem à formulação de questionamentos a seu respeito.

A sua presença, que guarda certa independência, há de espantar aqueles que tudo julgam sob o critério único do imediatismo fisiológico.

Dentro da literatura espírita são clássicas e inúmeras as citações a respeito do problema da hereditariedade, principalmente a de origem psicológica. Vejamos algumas.

Na obra “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”, autoria de Léon Denis, no capítulo XV, que trata das vidas sucessivas, das crianças-prodígio e da hereditariedade, encontramos:

“Podem-se considerar certas manifestações precoces do gênio como outras tantas provas das preexistências, no sentido de serem uma revelação dos trabalhos realizados pela alma em outros ciclos anteriores. (...)

Cada encarnação encontra, na alma que começa vida nova, uma cultura particular, aptidões e aquisições mentais que explicam sua facilidade para o trabalho e seu poder de assimilação, por isso dizia Platão: 'Aprender e recordar-se'."

Seguem-se, na mesma obra, inúmeras citações que comprovam, à saciedade, que o ser espiritual preexiste à matéria, mantém suas características de evolução, e foge aos liames da “ditadura escravizante” das leis genéticas, estereotipadas na hereditariedade. Esta, se é total na genotipia e quase o é na fenotipia, deixa de sê-lo no campo psicológico.

O Espírito não é fruto da carne.

Após essas oportunas e esclarecedoras afirmações, não há como contestá-las, mas apenas referendá-las, sob a ótica da Filosofia e Ciência Espíritas. Vai-se fechando, dessa maneira, o elo necessário à grande corrente do Saber Espiritual, que nos aponta a existência e preexistência do Espírito, a manifestar-se no jogo da vida sem clausura total nas leis da reprodução.

Aproveitando a idéia de tempo que nos veio à mente, é de se notar que os Espíritos de Luz, fiéis mensageiros do Senhor, continuam insistindo na tese contrária à legitimidade de uma herança psicológica.

A Federação Espírita Brasileira, através de seu Departamento Editorial, publicou em 1989 a obra “Temas da Vida e da Morte”, pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo Pereira Franco, na qual encontramos matéria alusiva à hereditariedade psicológica, inserida sob o título Tendência, aptidões e reminiscências:

"É evidente que os processos da reencarnação se fazem mediante as leis de afinidade espiritual, por impositivos anteriores, o que resulta em identificações e choques nos clãs, onde se reencontram seres simpáticos, ou adversários que o berço volta a reunir. (...)

As aptidões e tendências só raramente correspondem às leis de hereditariedade, especialmente hoje, quando as opções para a conduta e a ação se fazem um leque imenso de possibilidades, ensejando a identificação do homem com suas próprias realidades. (...)

Eis por que as tendências, as aptidões humanas, sem descartar-se a contribuição dos genes e cromossomas, procedem das experiências do passado, em que o espírito armazenou valores que lhe pesam na economia evolutiva como poderosos plasmadores da personalidade, da inclinação para uma como para outra área de conhecimento, para a vivência da virtude ou do vício."

Eis considerações exatas, perfeitas e atuais, sobre o assunto em tela, enumeradas do Plano Espiritual.

Um fato nos preocupou seriamente: o da longevidade das informações.

Mas como já ficou claro que o tempo não passa em vão, e é iconoclástico como sempre o foi, ele poderia ter derrubado antigos mitos e opiniões. Veja-se, por exemplo, essa nota da Editora da FEB (1952), inserida antes do índice da obra “A Evolução Anímica”, de Gabriel Delanne, onde o Autor trata da Hereditariedade Psicológica:

“Devemos lembrar ao leitor que esta obra foi publicada em 1895. Muitos conhecimentos científicos aqui expostos sofreram, no correr dos anos, sua natural transformação e progresso, o que, entretanto, não invalidou o vigor e a firmeza dos conceitos espiritistas emitidos pelo Autor, mas, antes vieram afirmá-los cada vez mais”.

Compulsando ambas, a nota editorial e a mensagem da obra “Temas da Vida e da Morte”, deixamos para trás nossas preocupações sobre a possibilidade de serem longevos ou ultrapassados os estudos espíritas sobre o assunto Hereditariedade, mais especificamente Hereditariedade Psicológica.

Considerando-se que, há cerca de um século, os Espíritos iluminados mantêm o mesmo pensamento sobre o assunto, há que aceitá-lo como certo.

Com Kardec aprendemos que a “universalidade dos ensinos” dá-nos a certeza da veracidade.

No caso em apreço, verifica-se que Delanne fez publicar sua obra em 1895, na qual apreciou a hereditariedade psicológica, e hoje, um século após os conceitos espíritas por ele emitidos, são corroborados na obra “Temas da Vida e da Morte”, do Espírito Manoel Philomeno de Miranda.

Em face dos nossos limitados conhecimentos, cremos não haver mais nada a acrescentar ao tema em estudo.

Os Espíritos de Luz, Vanguardeiros da Eterna Verdade, continuam nos alertando para a necessidade de amarmos e estudarmos.

E certo será que burilando-nos internamente no campo das Virtudes, e estudando, por certo chegaremos à meta a que nos propusemos.


Referências Bibliográficas:

(Pela ordem de apresentação do trabalho.)

- KARDEC, Allan. O Livros dos Espíritos, parte 1ª, Cap. III, Formação dos

Mundos, 79ª ed. Rio de Janeiro; FEB, 1997, 495p., pp. 64-65.

- Ibidem, questão 43.

- Ciência Ilustrada, Editora Abril Cultural Ltda., 1969, p. 11.

- BEÇAK, Maria Luiza e BEÇAK Willy, Biologia Moderna, volume 2, Livraria

Nobel S.A., 1975.

- XAVIER, Frnacisco C, e VIEIRA, Waldo. Evolução em dois Mundos, pelo

Espírito André Luiz, 15ª ed. Rio de Janeiro. FEB, 1997, 224p.

-DELANNI, Gabriel. A Evolução Anímica, 8ª ed. Rio de Janeiro; FEB,. 1995, 256p.,

p 37, Cap. I.

- DENIS, Léon .O Problema do Ser, do Destino e da Dor. 19ª ed. Rio de Janeiro

FEB, 1997, 416p., p. 236.

DELANNE, Gabriel. A Evolução Anímica, 8ª ed. Rio de Janeiro; FEB 1995, 256p.,

pp. 230-231.

FRANCO, Divaldo Pereira. Temas da Vida e da Morte, pelo Espírito Manoel

Philomeno de Miranda, 4ª ed. Rio de Janeiro, FEB, 1996, 160p., pp. 42-43.

Fonte: Revista Reformador – julho/1998


ENDEREÇO: http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo2019.html
IMAGEM: karina15fabio14marta.blogspot.com



sábado, 27 de março de 2010

PENA DE MORTE SOB A ÓTICA DO ESPIRITISMO


Bismael B. Moraes (*)

"Se tivessem os legisladores promulgado tantas leis para recompensar as boas ações quantas promulgaram para castigar os crimes, o número de virtuosos teria aumentado mais pela atração da recompensa do que o número dos perversos tem diminuído pelo medo do castigo".
(Luis XVI, Rei da França, 1754 – 1793)

SUMÁRIO: 1. Introdução ao tema; 2. Alguns pensadores e o conhecimento;3. Cesare Lombroso e Jean Charon; 4- Ensino da Doutrina Espírita; 5. Finalidade da Reencarnação; 6. Beccaria na Visão Espírita; 7. Discussão da Pena Capital e os Filões Rentáveis; 8. Observações de um Professor Cubano; 9. Razões Contra a Pena de Morte.

1. INTRODUÇÃO AO TEMA

Quanto mais as notícias sobre a violência e o crime aumentam – e, com elas, o medo -, há também, na busca por saídas para a paz social, aqueles que pensam imediatamente na exacerbação das penas e até na pena capital, para "combater os criminosos frios e violentos". Como a Doutrina Espírita analisa este problema? Vejamos.

O senso crítico é próprio dos seres que pensam. Qualidade do ser humano. Por outro lado, há uma assertiva do filósofo alemão Arthur Schopenhauer, no que tange à verdade, mostrando que esta passa sempre por três estágios: no primeiro, ela é ridicularizada; num segundo momento, é veementemente antagonizada, e, por fim, acaba sendo aceita.

Registra a história que, durante a Idade Média, muitos pensadores foram excomungados pela Igreja e, com o aval ou o silêncio do monarca, condenados à morte. Qualquer avanço da ciência, que pusesse em xeque o ensinamento eclesiástico, era tido como obra do demônio e classificado como heresia. Basta um exemplo: Galileu Galilei, condenado como herege por defender o heliocentrismo de Nicolau Copérnico, e que não se coadunava com o pensamento ensinado pela Religião Católica, contrária ao movimento da Terra em torno do Sol, somente agora, em 1992, com os pedidos de escusas pelo Papa João Paulo II, foi reabilitado da injustiça que, em 1663, lhe impôs a Inquisição. Imagine-se o risco de pensar e expor, àquela época, que a Terra era redonda!

Aliás, não foi apenas a reabilitação de cientistas: a Igreja Católica, ainda na Idade Média, aprovou que Joana D`Arc fosse queimada como feiticeira (em 30 de maio de 1431), porque esta dissera ter "ouvido vozes do céu" e foi logo associada ao diabo; porém, séculos depois (por decreto da Igreja, em 18 de abril de 1909), foi canonizada como Santa, saindo do inferno, para onde fora despachada, e sendo conduzida para o céu!

O preconceito, a ignorância, o interesse, a vaidade, a hipocrisia, tudo, enfim, é entrave ao progresso da humanidade. É por isso que as próprias Religiões ainda se digladiam, execrando umas às outras, sob alegação de que o fazem em nome de Deus, porque a verdade está do seu lado ou lhes pertence. Assim procedendo, envolvem as pessoas simples, que aceitam tudo sem raciocinar, sendo também convenientes aos comodistas, que não querem pensar –e, se pudessem, até comprariam um lugar cativo "no céu"!

2. ALGUNS PENSADORES E O CONHECIMENTO

O Espiritismo é a Doutrina da fé raciocinada, porque pede que cada pessoa – espírito encarnado -, diante de qualquer informação ou dúvida, reflita ou pergunte à sua própria consciência, somente aceitando como verossímil aquilo que a razão não desmentir.

Henri Bergson, filósofo francês, afirmou: "Materialistas constitucionais, estamos acostumados a lidar com matéria e mecanismos; e, a não ser que olhemos para dentro de nós, tudo figuraremos como máquinas materiais".

Herbert Spencer, filósofo inglês, reconheceu: "Somos obrigados a confessar que a vida, em sua essência, não pode ser concebida apenas em termos físico-químicos".

Jiddu Krishnamurti, filósofo indiano, alerta: "O homem ignorante não é o homem sem instrução; é aquele que não conhece a si próprio".

Sócrates, filósofo grego, de modo sucinto, ensinou: "Conhece-te a ti mesmo..., e conhecerás o Universo de Deus".

Se o intelecto e a moral caminhassem no mesmo patamar, não seriam necessárias as leis dos homens ou as leis do Estado; bastariam as Leis Morais, ou as Leis de Deus, ou as Leis da Natureza. Mas, a propósito, é bom que se repita: a filosofia já reconheceu que nenhuma lei humana será perfeita, se não for baseada nas Leis da Natureza, porque só estas são perfeitas e imutáveis, sendo, portanto, essenciais à felicidade do ser humano. Assim, só alcançaremos o progresso moral, quando, olhando para dentro de nós e refletindo sobre a nossa pequenez e o quanto somos presunçosos, tivermos a humildade de buscar nas Leis de Deus a inspiração para as nossas leis. Do contrário, não poderemos nos colocar como cristãos ou religiosos e – muito menos – dizer que amamos a Deus (causa primária de todas as coisas, inteligência suprema).

Em tudo isso, os seres humanos jamais devem esquecer que as bases biológicas são materiais ou físicas, mas as bases lógicas são espirituais ou racionais. Se a razão deve prevalecer sobre o instinto, o Espírito deve prevalecer sobre a matéria. Ou não há motivo de nos orgulharmos como seres pensantes!

O princípio cartesiano (do filósofo Descartes) – "Cogito; ergo sum": "penso; logo, existo", é uma verdade de que não se duvida, sob pena de o ser humano não poder vangloriar-se como ser dotado de razão, em oposição aos irracionais! Por isso, devemos evitar, quando tratando de assunto sério – como é a Doutrina Espírita -, expressões como: "Não acredito", ou: "Isso é bobagem", sem estudar.

3. CESARE LOMBROSO E JEAN CHARON

Mesmo o cientista Cesare Lombroso, tão conhecido pelos penalistas e criminólogos, que começou suas observações sobre o criminoso - especialmente, sobre o homicida – partindo do elemento físico ou da herança atávica, por intermédio do que procurava provar que, quanto maior fosse o número de indivíduos com as mesmas características na família (que indicasse o instinto sanguinário), mais próxima estaria tal indivíduo do tipo criminoso nato, evoluiu em suas pesquisas e, em 1909, lançou seu livro "Fenomeni Ipnotici e Spiritici" (tradução de Carlos Imbassahy, edição Lake, SP, como "Hipnotismo e Espiritismo"). Procurou ir mais fundo nos estudos do ser humano, com base nas experiências de De Vesme, Crookes, Richet, Lodge, De Rochas, Morselli, Aksakof e outros, em busca dos segredos da alma, enquanto os chamados criminólogos materialistas, ao que parece, estacionaram.

Ainda recentemente, um cientista francês, grande estudioso da obra de Alberto Einstein, o professor de Física Jean E. Charon, no seu livro "O Espírito, Este Desconhecido" (Editora Melhoramentos,SP, 1990), procurou, na pesquisa e na análise sérias, explicar e reconhecer a eternidade do Espírito, partindo do estudo dos elétrons. Aliás, como todo cientista consciente, explica: "O presente trabalho se dirige a todos que refletem sobre o mistério de nosso corpo e de nossa consciência, e mais globalmente às relações do Espírito com a Matéria, na escala do Universo inteiro". E, criticando os "cientistas ortodoxos" que "se recusam a ver a Metafísica penetrar sua linguagem e seu campo de experiência, como se estes problemas" (morte, espírito, matéria) "fossem indignos do conhecimento científico" (páginas 15,17,18), o professor Charon, de modo categórico, reconhece que "dentro de cada homem, há individualidades microscópicas que pensam, que sabem, que transportam o Espírito dentro do Universo, e que podemos chamar, segundo os antigos agnósticos, de ÉONS, mas que são, na realidade, os ELÉTRONS".

4. ENSINO DA DOUTRINA ESPÍRITA

A Doutrina Espírita (com base na Filosofia, na Ciência e na Moral Religiosa) ensina e prova, a quantos queiram aprender, que o corpo é passageiro, mas a alma é eterna. Quando fora do corpo, a alma chama-se Espírito. O corpo humano, na Terra, é instrumento de aprendizado – com expiações e provas – para o progresso do Espírito, que é o seu elemento nobre, pois todo conhecimento se manifesta por intermédio dele (Espírito), regente dos pensamentos, palavras e atos conscientes e voluntários do ser humano. Um pouco de ponderação e persistência fará com que cada pessoa, mesmo a mais descrente, descubra esta realidade.

Não se pode, ou melhor, não se deve fechar a porta ao arrependimento do criminoso, cortando-lhe a oportunidade de passar pelas provas e expiações naturais desta vida, mas, sim, procuram auxiliar o Plano Espiritual Superior em fazê-lo, mesmo vagarosamente, progredir, pois o Espírito atrasado, em relação à descoberta do amor fraterno, acha-se enfermo e precisa do tempo necessário à sua cura, nesta ou noutras existências.

5. FINALIDADES DA REENCARNAÇÃO

Falando da reencarnação (o Espírito retornando à Terra em outro corpo, masculino ou feminino, negro, branco, vermelho ou amarelo, no mesmo país, na mesma família, ou em outros lugares do globo terrestre, em outras sociedades, na riqueza ou na pobreza, na sabedoria ou na ignorância, perfeito fisicamente ou defeituoso, para viver poucos dias ou muitos anos, até o desencarne ou a morte, retornando ao plano espiritual ou à erraticidade – tempo que medeia uma e outra reencarnação), o filósofo Allan Kardec pergunta ao Espírito, na questão 166(de "O Livro dos Espíritos"):

"A alma que não atingiu a perfeição durante a vida corpórea, como acaba de depurar-se?" (E a resposta do Espírito, a esta indagação e às seguintes – a, b e c -, é esclarecedora).

"Submetendo-se à prova de uma nova existência. Ao se depurar, a alma sofre sem dúvida uma transformação, mas para isso necessita da prova da vida corpórea". Porque "a alma tem muitas existências corpóreas". Todos nós temos muitas existências. Os que dizem o contrário querem manter-vos na ignorância em que eles mesmos se encontram; esse é o seu desejo". E, por fim, mostra ser "evidente" que o princípio reencarnatório resulta do fato de que, "após ter deixado o corpo, a alma toma outro; ela se reencarna em novo corpo".

E quando Kardec pergunta, na questão 167, qual a finalidade da reencarnação, a resposta do Espírito é a seguinte:

"Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isso, onde estaria a justiça?"

E, na questão 171, perguntado ao Espírito sobre o que se funda o dogma da reencarnação, este responde:

"Sobre a justiça de Deus e a revelação, pois não nos cansamos de repetir: um bom pai deixa sempre aos filhos uma porta aberta ao arrependimento". (...)

E, a seguir, Allan Kardec esclarece melhor esse tópico:

"Todos os Espíritos tendem à perfeição, e Deus lhes proporciona os meios de consegui-la, com as provas da vida corpórea. Mas, na sua justiça, permite-lhes realizar, em novas existências, aquilo que não puderam fazer ou acabar numa primeira prova. (...). A doutrina da reencarnação, que consiste em admitir para o homem muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à idéia da justiça de Deus, com respeito aos homens de condição moral inferior; a única que pode explicar o nosso futuro e fundamentar nossas esperanças, pois oferece-nos os meios de resgatarmos os nossos erros através de novas provas. A razão assim nos diz, e é o que os Espíritos nos ensinam".

6. BECCARIA NA VISÃO ESPÍRITA

Embora ainda se encontrem algumas pessoas que, falando de justiça, pretendam, de fato, a vingança (e que, para o Espiritismo, são espíritos com grande atraso moral, mesmo que, por vezes, sejam portadores da boa educação formal), nota-se um lento progresso nas legislações humanas, o que demonstra que a evolução é uma realidade; com entraves, mas ela prossegue.

Da vingança privada, chegou-se à pena de talião: tal mal, tal a pena, mais conhecida como "dente por dente, olho por olho". Explicava o saudoso professor Basileu Garcia, em suas "Instituições de Direito Penal", vol. I (Max Limonad, Editor, SP-1972), que "a pena de talião, embora hoje se afigure brutal, significa uma conquista", porque já apresenta o "princípio da personalidade da responsabilidade criminal", o que não ocorria na época da vingança, em que pelo fato praticado por um indivíduo, não só este pagava, mas também os que lhe fossem solidários.

Ensinava o mestre Basileu, na sua obra citada, que "O Direito antigo desconhecia o cárcere; "daí a utilização, tão generalizada da pena de morte. Aliás, mostra que, por volta do Século XVII, na França, a pena capital era imposta de cinco maneiras: 1 – o esquartejamento; 2 – morte na fogueira, em praça pública; 3- suplício da roda – com os membros partidos e o rosto virado para o céu, até morrer; 4- o enforcamento; 5- decapitação, depois aperfeiçoada pela invenção da guilhotina (para a morte ser mais rápida). Havia, ainda, outras modalidades cruéis de morte, sem contar os suplícios corporais – ferro em brasa, amputações das mãos, arrastamento por animais nas ruas, corte da língua, vazamento dos olhos etc.

No Século 18, Cesare Bonesana, o Marquês de Beccaria, investiu contra os castigos cruéis e, principalmente, contra a pena capital: "partindo da teoria do contrato social" (de Jean Jacques Rousseau), "raciocina Beccaria: o homem, cedendo uma parcela mínima de sua liberdade, para tornar possível a vida em coletividade, não se privou de todos os seus direitos; não poderia conferir a outrem o direito de matá-lo. Portanto, a pena de morte é desautorada pelo contrato social". (Basileu, op. cit., p. 56).

Evidentemente, todos os penalistas são unânimes em reconhecer a luta de Beccaria e a sua importância para a moderação das penas e a busca para a humanização do cárcere. No seu livro "Dos Delitos e das Penas", mostra que, "para que uma pena não seja um ato de violência contra o cidadão, deve ser essencialmente pública, pronta, necessária, a menor das penas aplicáveis, proporcionada ao delito e determinada pela lei". Tudo isso é básico no Direito Penal Moderno. (Por essas razões, e muito mais, se tivermos que analisar Beccaria à luz do Espiritismo, não há dúvida de nele reconhecer um Espírito de alta hierarquia, um grande missionário de luz da sua época).

Para aqueles que, ainda hoje, defendem a pena de morte (à luz do Espiritismo, tais pessoas são Espíritos vingadores, não afeitas à justiça), é bom lembrar um nome que, ainda no Século 19, pugnava pelo correcionalismo da pena: a pensadora espanhola Concepción Arenal, que entendia não haver "criminosos incorrigíveis, e sim incorrigidos", e que a pena só teria razão de existir se fosse "essencialmente correcional", argumentando, ainda, que as penitenciárias deveriam ser "grandes enfermarias do espírito".

7. DISCUSSÃO DA PENA CAPITAL E OS FILÕES RENTÁVEIS

Pena é sofrimento imposto pelo Estado; pena capital é pena de morte. E a pena de morte sempre foi e continua sendo discutida no mundo inteiro. Hoje, graças ao progresso das sociedades humanas, embora lento, ela vem sendo aplicada em poucos países. Mas existem, infelizmente, defensores dessa pena. Aqui e agora, devemos analisar a PENA DE MORTE SOB A ÓTICA DO ESPIRITISMO. Antes, porém, uma constatação: o crime, a violência e o medo vêm rendendo dividendos, sob várias formas: econômicos, políticos e até intelectuais, sem contar a fama de alguns pela ignorância de muitos. Mas não se pode deixar de observar que os crimes são, grosso modo, praticados por ação e por omissão, tanto dos indivíduos como dos órgãos públicos e privados. Basta parar pensar.

É o medo e o crime como filões rentáveis, assim como a ignorância sobre o Espírito, que, deliberadamente mantida por alguns segmentos que se dizem religiosos, têm rendido fama e fortuna a espertalhões e mistificadores, abusando da credulidade de muitos que não têm tempo para raciocinar.

A propósito do medo e do crime industrializado, seria conveniente uma vista d´olhos no livro "O Medo – Mal n.º I", de Georges Barbarin (Edição Forense, Rio, 1968), em que o autor, depois de falar sobre a fabricação do medo pelos meios de comunicação e de tratar das empresas que embrutecem o pensamento, falando até da responsabilidade das igrejas pela difusão das várias formas de tormentos e suplícios, chama a atenção de todos, com a seguinte observação: "Imagine-se o que pode ser a administração das coletividades humanas por chefes que o Medo produz e cujos reflexos físicos, mentais e morais estão ofuscados. Em verdade, o Medo povoou o mundo de loucos e de semi-loucos, tanto mais perigosos quanto mais elevada sua situação social e quanto mais afluem para os governos, as administrações, as igrejas, as universidades e os parlamentos!" (p.14).

Sobre a pena de morte, à luz do Espiritismo, há um livro clássico do professor Fernando Ortiz, da Universidade de Havana, denominado "A Filosofia Penal dos Espíritas", em que o autor faz um estudo jurídico, analisando as escolas penalógicas em confronto com os ensinamentos constantes de "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec.

Aliás, a tradução da obra do Professor Ortiz deve-se a Carlos Imbassahy, também tradutor de "Hipnotismo e Espiritismo", de Cesare Lombroso, e também autor de várias obras, destacando-se "A Mediunidade e a Lei" (Edição FEB/Rio), em que analisa questões envolvendo o Espiritismo e decisões dos Tribunais. Mas, agora, vejamos algumas observações e conclusões do mestre da Universidade de Havana.

8. OBSERVAÇÕES DE UM PROFESSOR CUBANO

O Professor Fernando Ortiz, da Universidade de Havana, no seu livro "A Filosofia Penal dos Espíritas" (Edição FEESP), faz a seguinte afirmação:

"Se classificarmos a teoria espírita da penalidade" – (com dois fundamentos: 1 – imediato – a defesa social humana; 2 – mediato – a tutela, a correção do delinqüente, seu melhoramento, seu progresso) – "entre as conhecidas teorias da ciência criminal, teremos que incluir a penalogia espírita na escola neocorrelaciolista de filosofia penal".

O mesmo Professor Ortiz, analisando o pensamento da chamada escola antropológica, de que há delinqüentes incorrigíveis, mostra que "o pensador de ciência positivista, que encerra suas idéias no campo de visualidade restrito da observação positiva dos fenômenos da vida, não vê além do que esta vida lhe oferece", enquanto que, "segundo a filosofia espírita, não há Espíritos incorrigíveis; todos são capazes de emendar-se e progredir".

Evidentemente, o positivista, especialmente se não houver perquirido, com profundidade e persistência, sobre a sua origem intelectiva, em comparação aos demais seres de sua espécie,- de onde venho e para onde vou? – (quando a própria Igreja Católica, recentemente, no mês de setembro de 1998, com a Encíclica "Fides et Ratio", para analisar a fé à luz da razão, já procura se redimir do seu dogmatismo de séculos) -, continuará com a impressão de que sua existência e a de todos os homens se resumem ao mero período que seu corpo atual suportar, tempo ínfimo diante da eternidade ou das muitas vidas para o progresso do Espírito (inteligência que anima o corpo passageiro), pontos basilares do Espiritismo.

Assim, no que tange ao fato de a corrigibilidade ser um problema de duração para os positivistas e defensores potenciais da pena capital para os criminosos incorrigíveis, mostra o Professor Fernando Ortiz que eles "erram por vezes, visto que o tempo de que dispõem para seus diagnósticos éticos é escasso, dura somente uma vida", enquanto "os espíritas podem crer-se vitoriosos, porque sua metafísica lhes amplia indefinidamente o tempo para a ação correcional, lhes concede várias vidas, ou melhor, lhes dá o infinito".

E, ainda em seu livro de confronto das teorias penais e com a Doutrina Espírita, o Professor Ortiz, depois de analisar a visão dos positivistas radicais da criminologia, que pretendem fundamentar a pena de morte na lei natural de seleção, fazendo sucumbir o delinqüente incorrigível, em nome da defesa social, traz à luz um argumento lógico intransponível:

"Hoje..., a ninguém ocorre, pelo mesmo princípio da defesa social, matar um leproso"- e nós acrescentamos: um aidético, um hemofílico – "incurável; e, a menos que se tenham em conta motivos de vingança na reação contra o delito, não há razão científica para raciocinar de um modo contra o delinqüente, e de outro contra o enfermo incurável e contagioso".

"Pode a morte de ambos" (o delinqüente e o doente) "ser desculpável em idades bárbaras, quando se ignoravam outros meios de defesa e de humana solidariedade; hoje, porém, são inexplicáveis. Assim o entende a ciência contemporânea e assim também o entende o Espiritismo, negando expressamente a necessidade e a justiça da pena de morte".

9. RAZÕES CONTRA A PENA DE MORTE

Assim, há três razões fundamentais contrárias à pena de morte:

a primeira, de ordem religiosa ou espiritual, pois não parece coerente com os ensinamentos cristãos ou com os que se dizem tementes a Deus, pugnar pela pena capital, sob a alegação de que os reincidentes em certos crimes hediondos não têm recuperação e, como animal peçonhento ou erva daninha, devem ser eliminados; isso, além do mais, mostra que os defensores desse ato irreversível, mascarando seus desejos de vingança, parecem pretender ombrear-se a Deus – onisciente, onipotente e onipresente - , pois, embora não criando o ser humano, antecipa-lhe o tempo de vida terrena, afirmando que o mesmo é irrecuperável para a sociedade; dessa forma, à luz do Espiritismo, a morte antecipada (pois a vida só a Deus pertence) estará contrariando a caminhada para o progresso do Espírito, que se dá por meio de provas e expiações, para que aprenda;

a segunda, de ordem moral ou social, porque o ser humano não é um número ou um objeto, pelo que não podem o Estado e a sociedade falhar na prevenção material, permitindo, por negligência ou falta de solidariedade, a fome, a miséria, a falta de moradia, de emprego e de escola, e na prevenção policial, possibilitando, por imprevisão, ignorância ou desconhecimento dos governantes, ou por mero interesse econômico ou político, que os delinqüentes atinjam as vítimas, para, em seguida, com argumentações estatísticas de fatos que poderiam ter sido evitados, pretenderem justificar a instituição da pena de morte;

a terceira, de ordem ético-jurídica, pois o Estado – pelos seus Três Poderes (Legislativo, criando a lei; Judiciário, aplicando a lei e Executivo, fazendo cumprir a lei), especialmente condenando os que praticam friamente crimes hediondos, os criminosos insensíveis e calculistas, também de modo aberrante, estará, de forma ainda mais cruel, agindo com data e hora marcadas, de modo "cientificamente" requintado – injeção letal, cadeira elétrica, câmara de gás, fuzilamento, enforcamento, decapitação, etc. -, e até contando com servidores públicos da hora – carrascos oficiais ou profissionais do extermínio -, pagos pelos cofres estatais, para a execução da funesta missão de matar, agora, não mais em legítima defesa, mas num hipotético "exercício regular de um direito", o que só envergonha a condição do ser humano, que se diz "pensante" e "civilizado".

Para o Espiritismo, com base na justiça divina da reencarnação, matar o criminoso, ao invés de fazê-lo cumprir a pena que lhe permita a reflexão e a correção de sua vida, é cortar-lhe a oportunidade de progredir, e - o mais grave – representa um cruel ato de vingança, contrário a qualquer princípio cristão.

A Doutrina Espírita ainda será, em futuro não distante, a base segura para os autênticos criminólogos e penalistas que, abolindo todas as formas de preconceito, queiram alcançar a verdadeira justiça, visando a uma sociedade mais humana e fraterna.

(*) Bismel B. Moraes, Mestre em Direito Processual pela USP, Professor da Academia de Polícia "Dr. Coriolano Nogueira Cobra" de São Paulo e da Faculdade de Direito de Guarulhos, é ex-Presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo.

OBSERVAÇÃO:

Caso queira maiores informações, Adquira o livro de Bismael B. Moraes, cujo título é Pena de Morte & Cremação Numa Visão Espírita (Dados Históricos, Procedimentos Legais - Normas, Requisitos e Objeções


endereço: http://www.espirito.org.br/portal/artigos/diversos/violencia/pena-de-morte-sob-a-otica.html

imagem: palavras gospelmusicas.blogspot.com


quinta-feira, 25 de março de 2010

CIÊNCIA E RELIGIÃO


Albert Einstein

Parte I

Durante o século passado e em parte do que o precedeu, a existência de um conflito insolúvel entre conhecimento e crença foi amplamente sustentada. Prevalecia entre mentes avançadas a opinião de que chegara a hora de substituir, cada vez mais, a crença pelo conhecimento; toda crença que não se fundasse ela própria em conhecimento era superstição e, como tal, devia ser combatida. Segundo essa concepção, a função exclusiva da educação seria abrir caminho para o pensamento e o conhecimento, devendo a escola, como o órgão por excelência para a educação do povo, servir exclusivamente a esse fim.

É provável que raramente, ou mesmo nunca, possamos encontrar o ponto de vista racionalista expresso com tanta crueza; pois todo homem sensível veria de imediato o quanto essa formulação é tendenciosa. Mas é conveniente formular uma tese de maneira nua e crua quando se quer aclarar a própria mente com relação a sua natureza.

É verdade que a experiência e o pensamento claro são a melhor maneira de fundamentar as convicções. Quanto a isto, podemos concordar irrestritamente com o racionalista extremado. O ponto fraco dessa concepção, contudo, e que as convicções necessárias e determinantes para nossa conduta e nossos juízos não podem ser encontradas unicamente nessa sólida via cientifica.

Pois o método cientifico não nos pode ensinar outra coisa além do modo como os fatos se relacionam e são condicionados uns pelos outros. A aspiração a esse conhecimento objetivo está entre as mais elevadas de que o homem e capaz, e certamente ninguém pode suspeitar que eu deseje subestimar as realizações e os heróicos esforços do homem nessa esfera.

É igualmente claro, no entanto, que o conhecimento do que é, não abre diretamente a porta para o que deve ser. Podemos ter o mais claro e completo conhecimento do que é, sem contudo sermos capazes de deduzir disso qual deveria ser a meta de nossas aspirações humanas. O conhecimento objetivo nos fornece poderosos instrumentos para atingir certos fins, mas a meta final em si é a mesma, e o desejo de atingi-la devem emanar de outra fonte. E é praticamente desnecessário defender a idéia de que nossa existência e nossa atividade só adquirem 'sentido' mediante o estabelecimento de uma meta como essa e dos valores correspondentes. O conhecimento da verdade como tal é maravilhoso, mas é tão pouco capaz de servir de guia que não consegue provar sequer a justificação e o valor da aspiração a esse mesmo conhecimento da verdade.

Aqui defrontamos, portanto, com os limites da concepção puramente racional de nossa existência.

Mas não se deve presumir que o pensamento inteligente não possa desempenhar nenhum papel na formação da meta e de juízos éticos. Quando alguém se dá conta de que certo meio seria útil para a consecução de um fim, isto faz com que o próprio meio se torne um fim. A inteligência elucida para nós a inter-relação entre meios e fins. O mero pensamento não pode, contudo, nos dar uma consciência dos fins últimos e fundamentais. Elucidar esses fins e valores fundamentais é engastá-los firmemente na vida emocional do indivíduo; parece-me, precisamente, a mais importante função que a religião tem a desempenhar na vida social do homem. E se alguém pergunta de onde provém a autoridade desses fins fundamentais, já que eles não podem ser formulados e justificados puramente pela razão, só há uma resposta: eles existem numa sociedade saudável na forma de tradições vigorosas, que agem sobre a conduta, as aspirações e os juízos dos indivíduos; eles existem, isto é, vivem dentro dela, sem que seja preciso encontrar justificação para sua existência. Nascem, não através da demonstração, mas da revelação, por meio de personalidades excepcionais. Não se deve tentar justificá-los, mas antes, sentir, simples e claramente, sua natureza. Os mais elevados princípios para nossas aspirações e juízos nos são dados pela tradição religiosa judáico-cristã. Trata-se de uma meta muito elevada, que, com nossos parcos poderes, só podemos atingir de maneira muito insatisfatória, mas que da um sólido fundamento a nossas aspirações e avaliações. Se quiséssemos tirar essa meta de sua forma religiosa e considerar apenas seu aspecto puramente humano, talvez pudéssemos formulá-la assim: desenvolvimento livre e responsável do indivíduo, de modo que ele possa por suas capacidades, com liberdade e alegria a serviço de toda a humanidade.

Não há lugar nisso para a divinização de uma nação, de uma classe, nem muito menos de um indivíduo. Não somos todos filhos de um só pai, como se diz na linguagem religiosa? Na verdade, mesmo a divinização da humanidade, como totalidade abstrata, não estaria no espírito desse ideal. E somente ao indivíduo que é dada uma alma. E o 'sublime' destino do indivíduo é antes servir que comandar, ou impor-se de qualquer outra maneira.

Se considerarmos mais a substância que a forma, poderemos ver também nestas palavras a expressão da postura democrática fundamental. Ao verdadeiro democrata e tão inviável idolatrar sua nação quanto ao homem religioso, no sentido que damos ao termo.

Qual será então, em tudo isto, a função da educação e da escola? Elas devem ajudar o jovem a crescer num espírito tal que esses princípios fundamentais sejam para ele como o ar que respira. O mero ensino não pode fazer isso.

Se mantemos esses princípios elevados claramente diante de nossos olhos, e os comparamos com a vida e o espírito de nosso tempo, revela-se flagrantemente que a própria humanidade civilizada encontra-se, neste momento, em grave perigo. Nos Estados totalitários, são os próprios governantes que se empenham hoje em destruir esse espírito de humanidade. Em lugares menos ameaçados, são o nacionalismo e a intolerância, bem com a opressão dos indivíduos por meios econômicos, que ameaçam sufocar essas tão preciosas tradições.

A clareza da enormidade do perigo está se difundindo, no entanto, entre as pessoas que pensam, e há uma grande procura de meios que permitam enfrentar o perigo - meios no campo da política nacional e internacional, da legislação, da organização em geral. Esses esforços são, sem dúvida, extremamente necessários. Contudo, os antigos sabiam algo que parecemos ter esquecido. "Todos os meios mostram-se um instrumento grosseiro quando não tem atrás de si um espírito vivo". Se o desejo de alcançar a meta estiver vigorosamente vivo dentro de nós, porém, não nos faltarão forças para encontrar os meios de alcançar a meta e traduzi-la em atos.

Parte II

Não seria difícil chegar a um acordo quanto ao que entendemos por ciência. Ciência é o esforço secular de reunir, através do pensamento sistemático, os fenômenos perceptíveis deste mundo, numa associação tão completa quanto possível. Falando claramente, é a tentativa de reconstrução posterior da existência pelo processo da conceituação. Mas, quando pergunto a mim mesmo o que é a religião, a resposta não me ocorre tão facilmente. E, mesmo depois de encontrar uma resposta que possa me satisfazer num momento particular, continuo convencido de que nunca consigo, em nenhuma circunstância, criar um acordo, mesmo que muito limitado, entre todos os que refletem seriamente sobre essa questão.

De início, portanto, em vez de perguntar o que é religião, eu preferiria indagar o que caracteriza as aspirações de uma pessoa que me dá a impressão de ser religiosa: uma pessoa religiosamente esclarecida parece-me ser aquela que, tanto quanto lhe foi possível, libertou-se dos grilhões, de seus desejos egoístas e está preocupada com pensamentos, sentimentos e aspirações a que se apega em razão de seu valor suprapessoal. Parece-me que o que importa é a força desse conteúdo suprapessoal, e a profundidade da convicção na superioridade de seu significado, quer se faça ou não alguma tentativa de unir esse conteúdo com um Ser divino, pois, de outro modo, não poderíamos considerar Buda e Spinoza como personalidades religiosas. Assim, uma pessoa religiosa é devota no sentido de não ter nenhuma dúvida quanto ao valor e eminência dos objetivos e metas suprapessoais que não exigem nem admitem fundamentação racional. Eles existem, tão necessária e corriqueiramente quanto ela própria. Nesse sentido, a religião é o antiqüíssimo esforço da humanidade para atingir uma clara e completa consciência desses valores e metas e reforçar e ampliar incessantemente seu efeito. Quando concebemos a religião e a ciência segundo estas definições, um conflito entre elas parece impossível. Pois a ciência pode apenas determinar o que é, não o que deve ser, está fora de seu domínio, todos os tipos de juízos de valor continuam sendo necessários. A religião, por outro lado, lida somente com avaliações do pensamento e da ação humanos: não lhe é lícito falar de fatos e das relações entre os fatos. Segundo esta interpretação, os famosos conflitos ocorridos entre religião e ciência no passado devem ser todos atribuídos a uma apreensão equivocada da situação descrita.

Um conflito surge, por exemplo, quando uma comunidade religiosa insiste na absoluta veracidade de todos os relatos registrados na Bíblia. Isso significa uma intervenção da religião na esfera da ciência; é aí que se insere a luta da Igreja contra as doutrinas de Galileu e Darwin. Por outro lado, representantes da ciência tem constantemente tentado chegar a juízos fundamentais com respeito a valores e fins com base no método científico, pondo-se assim em oposição a religião. Todos esses conflitos nasceram de erros fatais.

Ora, ainda que os âmbitos da religião e da ciência sejam em si claramente separados um do outro, existem entre os dois fortes relações recíprocas e dependências. Embora possa ser ela o que determina a meta, a religião aprendeu com a ciência, no sentido mais amplo, que meios poderão contribuir para que se alcancem as metas que ela estabeleceu. A ciência, porém, só pode ser criada por quem esteja plenamente imbuído da aspiração e verdade, e ao entendimento. A fonte desse sentimento, no entanto, brota na esfera da religião. A esta se liga também a fé na possibilidade de que as regulações válidas para o mundo da existência sejam racionais, isto é, compreensíveis à razão.

Não posso conceber um autêntico cientista sem essa fé profunda. A situação pode ser expressa por uma imagem: a ciência sem religião e aleijada, a religião sem ciência e cega.

Embora eu tenha afirmado acima que um conflito legítimo entre religião e ciência não pode existir verdadeiramente, devo fazer uma ressalva a esta afirmação, mais uma vez, num ponto essencial, com referencia ao conteúdo efetivo das religiões históricas. Esta ressalva tem a ver com o conceito de Deus. Durante o período juvenil da evolução espiritual da humanidade, a fantasia humana criou a sua própria imagem 'deuses' que, por seus atos de vontade, supostamente determinariam ou, pelo menos, influenciariam o mundo fenomênico. O homem procurava alterar a disposição desses deuses a seu próprio favor, por meio da magia e da prece. A idéia de Deus, nas religiões ensinadas atualmente, é uma sublimação dessa antiga concepção dos deuses. Seu caráter antropomórfico se revela, por exemplo, no fato de os homens recorrerem ao Ser Divino em preces, a suplicarem a realização de seus desejos.

Certamente, ninguém negará que a idéia da existência de um Deus pessoal, onipotente, justo e todo-misericordioso é capaz de dar ao homem consolo, ajuda e orientação; e também, em virtude de sua simplicidade, acessível as mentes menos desenvolvidas. Por outro lado, porem, esta idéia traz em si aspectos vulneráveis e decisivos, que se fizeram sentir penosamente desde o início da história. Ou seja, se esse ser é onipotente, então tudo o que acontece, aí incluídos cada ação, cada pensamento, cada sentimento e aspiração do homem, é também obra Sua; nesse caso, como é possível pensar em responsabilizar o homem por seus atos e pensamentos perante esse Ser 'todo-poderoso'? Ao distribuir punições e recompensas, Ele estaria, até certo ponto, julgando a Si mesmo. Como conciliar isso com a bondade e a justiça a Ele atribuídas?

A principal fonte dos conflitos atuais entre as esferas da religião e da ciência reside nesse conceito de um Deus pessoal. A ciência tem por objetivo estabelecer regras gerais que determinem a conexão recíproca de objetos e eventos no tempo e no espaço. A validade absolutamente geral dessas regras, ou leis da natureza, e algo que se pretende - mas não se prova. Trata-se sobretudo de um projeto, e a confiança na possibilidade de sua realização, por princípio, funda-se apenas em sucessos parciais. Seria difícil, porém, encontrar alguém que negasse esses sucessos parciais e os atribuísse a ilusão humana. O fato de sermos capazes, com base nessas leis, de predizer o comportamento temporal dos fenômenos de certos domínios, com grande precisão e certeza, está profundamente enraizado na consciência do homem moderno, ainda que possamos ter apreendido muito pouco do conteúdo dessas leis. Basta considerarmos que as trajetórias planetárias do sistema solar podem ser antecipadamente calculadas, com grande exatidão, com base num número limitado de leis simples. De maneira similar, embora não com a mesma precisão, é possível calcular antecipadamente o modo de funcionamento de um motor elétrico, de um sistema de transmissão ou de um aparelho de rádio, mesmo quando estamos lidando com uma invenção inédita.

É bem verdade que, quando o número de fatores em jogo num complexo fenomenólogico é grande demais, o método científico nos decepciona na maioria dos casos. Basta pensarmos nas condições do tempo, cuja previsão, mesmo para alguns dias à frente, é impossível. Ninguém duvida, contudo, de que estamos diante de uma conexão causal cujos componentes causais nos são essencialmente conhecidos. As ocorrências nessa esfera estão fora do alcance da predição exata por causa da multiplicidade de fatores em ação, e não por alguma falta de ordem na natureza.

Penetramos muito menos profundamente nas regularidades que prevalecem no âmbito das coisas vivas, mas o suficiente, de todo modo, para pelo menos perceber a existência de uma regra necessária. Basta pensarmos na ordem sistemática presente na hereditariedade e no efeito que provocam os venenos - como o álcool, por exemplo - no comportamento dos seres orgânicos. O que ainda falta aqui é uma compreensão de caráter profundamente geral das conexões, não um conhecimento da ordem enquanto tal.

Quanto mais o homem esta imbuído da regularidade ordenada de todos os eventos, mais firme se torna sua convicção de que não sobra lugar, ao lado dessa regularidade ordenada, para causas de natureza diferente. Para ele, nem o domínio da vontade humana, nem o da vontade divina existirão como causa independente dos eventos naturais. Não há dúvida de que a doutrina de um Deus pessoal que interfere nos eventos naturais jamais poderia ser refratada, no sentido verdadeiro, pela ciência, pois essa doutrina pode sempre procurar refúgio nos campos em que o conhecimento científico ainda não foi capaz de se firmar. Estou convencido, porém, de que tal comportamento por parte dos representantes da religião seria não só indigno como desastroso. Pois uma doutrina que não é capaz de se sustentar à "plena luz", mas apenas na escuridão, está fadada a perder sua influência sobre a humanidade, com incalculável prejuízo para o progresso humano. Em sua luta pelo bem ético, os professores de religião precisam ter a envergadura para abrir mão da doutrina de um Deus pessoal, isto é, renunciar a fonte de medo e esperança que, no passado, concentrou um poder tão amplo nas mãos dos sacerdotes. Em seu ofício, terão de se valer daqueles forças que são capazes de cultivar o Bom, o Verdadeiro e o Belo na própria humanidade. Trata-se, sem dúvida, de uma tarefa mais difícil, mas incomparavelmente mais valiosa. Quando tiverem realizado esse processo de depuração, os professores da religião certamente hão de reconhecer com alegria que a verdadeira religião ficou enobrecida e mais profunda graças ao conhecimento científico.

Se um dos objetivos da religião é libertar a humanidade, tanto quanto possível, da servidão dos anseios, desejos e temores egocêntricos, o raciocínio científico pode ajudar a religião em mais um sentido. Embora seja verdade que a meta da ciência é descobrir regras que permitam associar e prever os fatos, essa não é sua única finalidade. Ela procura também reduzir as conexões descobertas ao menor número possível de elementos conceituais mutuamente independentes.

E nessa busca da unificação racional do múltiplo que a ciência logra seus maiores êxitos, embora seja precisamente essa tentativa que a faz correr os maiores riscos de se tornar uma presa das ilusões. Mas todo aquele que experimentou intensamente os avanços bem-sucedidos feitos nesse domínio é movido por uma profunda reverência pela racionalidade que se manifesta na existência. Através da compreensão, ele conquista uma emancipação de amplas conseqüências dos grilhões das esperanças e desejos pessoais, atingindo assim uma atitude mental de humildade perante a grandeza da razão que se encarna na existência e que, em seus recônditos mais profundos, é inacessível ao homem. Essa atitude, contudo, parece-me ser religiosa, no mais elevado sentido da palavra. A meu ver, portanto, a ciência não só purifica o impulso religioso do entulho de seu antropomorfismo, como contribui para uma 'espiritualização' religiosa de nossa compreensão da vida.

Quanto mais avança a evolução espiritual da humanidade, mais certo me parece que o caminho para a religiosidade genuína não passa pelo medo da vida, nem pelo medo da morte, ou pela fé cega, mas pelo esforço em busca do conhecimento racional.

Neste sentido, acredito que o sacerdote, se quiser fazer jus a sua 'sublime' missão educacional, deve tornar-se um professor.


"Ciência e Religião" (1939-1941) - Págs. 25 a 34. Einstein, Albert, 1870-1955 Título original: "Out of my later years."

Escritos da Maturidade: artigos sobre ciência, educação, relações sociais, racismo, ciências sociais e religião.

Tradução de Maria Luiza X. de A. Borges - Rio de Janeiro : Editora Nova Fronteira, 1994.


endereço: http://www.espirito.org.br/portal/artigos/diversos/ciencia/ciencia-e-religiao.html

imagem: teachers.egfi-k12.org


segunda-feira, 22 de março de 2010

ESPIRITISMO E CIÊNCIA


O que é uma Ciência?



A visão clássica da Ciência assume que uma disciplina é uma ciência quando adota um método específico chamado de método científico. Um ramo da Filosofia denominado de Filosofia da Ciência trata da explicação, compreensão e elaboração do método científico. De acordo com esta visão, uma ciência é criada a partir de um longo processo de coleta de informações, através da observação de fenômenos (ou objetos) a serem estudados. As informações colhidas dariam origem a leis, e a junção de várias leis formariam as teorias científicas que seriam responsáveis por explicar os fenômenos observados e prever novos acontecimentos. O ápice desta visão ocorreu durante as décadas de 20 e 40 do século passado e ficou conhecido como positivismo lógico. Ao longo das décadas seguintes, questões importantes foram levantadas contra esta concepção filosófica, fazendo-se restrições variadas. Dentre estes críticos destacam-se Karl Popper, Thomas Kuhn, Imre Lakatos, Paul Feyrabend e Willard Quine. Uma visão mais atual da Filosofia da Ciência, não compartilhada ainda por todos os cientistas, define que na atividade científica, a observação dos fatos e as teorias desenvolvem-se juntas numa ampla experimentação de hipóteses, apoiadas numa ampla discussão em torno de novos fatos, e ao contrário do que defendia o positivismo, as teorias poderiam ser de caráter metafísico, sendo mais importantes a capacidade destas teorias de explicarem os fenômenos adequadamente, fazer previsões empíricas e ter a virtude da simplicidade e abrangência. Resumidamente: uma ciência completa possui um núcleo teórico principal formado por leis fundamentais, um grupo de hipóteses auxiliares que servem de conexão com o grupo de fatos. Eventuais discordâncias entre a teoria e os fatos, seriam resolvidas por ajustes nas hipóteses auxiliares.



O Método Espírita



Kardec presenciou os fenômenos das mesas girantes, e por ter uma personalidade curiosa e investigativa, tomou para si um propósito de explicar o que estava acontecendo. Kardec tinha uma profunda base científica e filosófica, e usando destas resolveu se debruçar sobre estes fenômenos, como o astrônomo que diante das estrelas procura conhecer os seus segredos. A princípio cético e sem nenhuma pressuposição, passou a freqüentar mais assiduamente às sessões mediúnicas, cujo desenrolar e conteúdo logo o levaram a aprofundar sua pesquisa. Com seu espírito observador, passou a aplicar o método da observação experimental nos fenômenos que se manifestavam. Ele estudou as mensagens transmitidas pelos médiuns tão friamente e racionalmente, como estudou os próprios médiuns, avaliando seu linguajar, sua educação ou sua cultura geral, e concluiu que eles não poderiam de forma alguma tecer comentários tão profundos e superiores como das pessoas mais sábias que pisaram o planeta, ou tão banais e simplórios como de qualquer pessoa sem estudo, muito aquém do nível destes médiuns. Algumas mensagens eram de conhecimento muito íntimo de pessoas já falecidas, que de nenhuma forma eram do conhecimento geral, e outras muito racionais para uma personalidade poética, ou muito poética para uma personalidade prática. Ouviu explicações variadas de temas importantes, como Deus, o homem, a natureza ou o sentido da vida. Não tinha outra explicação plausível: os mortos se manifestavam por esses médiuns e toda uma nova filosofia nascia, toda uma nova série de fenômenos se apresentava, era chegado o momento de revelar ao mundo a doutrina dos espíritos. Ele acreditava na manifestação dos espíritos pela profundidade e pela lógica do que se discutia e se apresentava, não pela manifestação em si, ou pelas mudanças apresentadas pelos médiuns, seja na voz ou na postura ou por algum efeito físico concomitante como materializações ou levitação de objetos. A beleza, a simplicidade, a coerência e a unidade de visão do que os espíritos falavam era que tornava convincente esta realidade.

Ele usou o que hoje se poderia nomear na filosofia fenomenológica de redução eidética [1]. Ele fez múltiplas perguntas a vários médiuns diferentes e de vários níveis de cultura, e coletou uma série de respostas sobre os mais diversos temas. Destas respostas ele procurou uma unidade, procurou retirar o que era imutável, retirar a sua essência e disto surgiu o que representava o pensamento dos espíritos de escol para a humanidade, e nos foi dada a Ciência dos Espíritos.



O Espiritismo como Ciência



Vimos portanto que o método empregado por Kardec para a fundamentação da Doutrina Espírita foi o método da observação experimental e se ajusta perfeitamente ao que se faz em ciência para descobrir as leis que regem os fenômenos investigados. A partir dos dados coletados e avaliados, Kardec provou a existência do espírito, que é a sua essência, o seu Eu que sobrevive à morte e que é a sede das emoções e do pensamento, pois esse Eu retornara do túmulo e através da mediunidade “de efeitos intelectuais”, apresentava uma personalidade que era reconhecida por amigos, parentes, conhecidos ou por uma avaliação da cultura que apresentava, por suas idéias particulares ou sua moral. Era como uma impressão digital insubstituível, uma característica que era própria ou uma lembrança que era particularmente sua. E estas características ou lembranças servem para comprovar a identidade de uma pessoa, como também a sobrevivência desta pessoa à morte, como tantas vezes se apresentou na história do Espiritismo. Não se pode dizer que a Ciência Espírita, seja uma ciência tradicional nos moldes da Biologia, da Química ou da Física. Não temos para apresentar ao mundo o peso de um espírito, ou sua composição química, ou um molde de seus órgãos internos, pois o Espiritismo não é do domínio da ciência tradicional, mas é uma ciência por seu método científico de investigação e uma Filosofia moral por suas implicações. Como disse Kardec (1857/2003):

“As ciências ordinárias repousam sobre as propriedades da matéria que se pode experimentar e manipular à vontade; os fenômenos espíritas repousam sobre a ação de inteligências que têm a sua própria vontade e nos provam a cada instante que elas não estão à disposição dos nossos caprichos. As observações, portanto, não podem ser feitas da mesma maneira; elas requerem condições especiais e um outro ponto de partida; querer submetê-las aos nossos processos ordinários de investigação, é estabelecer analogias que não existem. A Ciência, propriamente dita, como ciência, portanto, é incompetente para se pronunciar na questão do Espiritismo: não tem que se ocupar com isso e seu julgamento, qualquer que seja, favorável ou não, não poderia ter nenhuma importância. (p. 23-4)”

Donde se conclui que o Espiritismo não necessita da Ciência Materialista ou de seus cientistas, pois nem a Ciência nada tem a oferecer ao Espiritismo em sua fundamentação nem os cientistas podem explicar os fenômenos espíritas mais coerentemente que seus estudiosos. Não devemos pois incorrer no erro dos grupos de estudos que surgiram após a doutrina espírita como a Metapsíquica de Charles Richet, a Sociedade de Pesquisas Psíquicas inglesa ou americana ou a própria Parapsicologia que tenta estudar entre outras coisas a existência do espírito ou a sobrevivência do mesmo à morte, usando de fundamentos positivistas (o que é uma incoerência, pois o positivismo exclui a metafísica).

Nas palavras de Aécio P. Chagas (1995):

“Muitos estudiosos têm se envolvido numa determinada linha de pesquisa, que remonta à época das mesas girantes, e que tem por objetivo provar a existência do Espírito através de métodos físicos. Apesar de não estar só, em minha obscura opinião, esta linha não chegou e nem chegará a nada, pois os métodos físicos são adequados para estudar a matéria (foram feitos para isto). Caso alguém evidencie a presença do Espírito através de um método físico, cabe sempre um questionamento metodológico, e daí não se chega a parte alguma. Por outro lado, muitos confrades poderiam ainda argumentar com o fato de Kardec, em suas obras, mencionar várias vezes que o Espiritismo e a Ciência marchariam lado a lado. Estas afirmações poderiam causar (e causam) em muitos leitores a impressão de que Kardec falava das ciências da matéria. Creio que Kardec tinha em mente a Ciência Espírita, que ele acreditava com toda a certeza, que ainda estava no começo e que iria crescer...”

A este respeito também comenta Sílvio S. Chibeni (1988):

“... é preciso cautela no entendimento da progressividade do Espiritismo...ela deve ocorrer...sem recurso a elementos estranhos, venham de onde vierem, sob o risco de este perder sua consistência...a harmonia com as conquistas da Ciência não deve ser buscada irrestritamente e a qualquer preço, visto estar ela, em suas proposições abstratas, constantemente sujeita a enganos e retificações...aparentemente, os que em nossos dias advogam a tese do ”ajuste à Ciência” ainda não se deram conta desse fato, nem perceberam que...em A Gênese, Kardec deixou clara uma ressalva, ao falar desse ajuste...”

A passagem comentada por Chibeni em “A Gênese” de Kardec (1868/2002) é a seguinte:

“O Espiritismo não coloca, pois, como princípio absoluto, senão o que está demonstrado como evidência, ou que ressalta logicamente da observação. Tocando em todos os ramos da economia social, às quais presta o apoio de suas próprias descobertas, assimilará sempre todas as doutrinas progressivas , de qualquer ordem que sejam, chegadas ao estado de verdades práticas, e saídas do domínio da utopia; sem isso se suicidaria; cessando de ser o que é, mentiria à sua origem e ao seu fim providencial” (p. 40).

Como vimos, o Espiritismo e a Ciência Positivista são de domínios diferentes, e portanto, estudos que visam desvendar características materiais, usando aparelhos para captar manifestações que são intimamente de outra ordem, são esforços desperdiçados e de pouca utilidade pois a existência do espírito para o espírita já é uma realidade objetiva nas mesas mediúnicas. Quando na verdade, deveríamos estar aumentando nosso conhecimento sobre a mediunidade e seu desenvolvimento, o plano espiritual, as conseqüências de nossos atos, ou melhorando-nos moral e eticamente, pois a finalidade da vida revelada pelos espíritos é o aperfeiçoamento da alma e a eliminação de nossas deficiências, desenvolvendo um espírito de caridade e amor por nossos semelhantes.



Jorge Cordeiro



Notas:

[1] – “A Redução Eidética (em grego, éidos significa essência ou idéia, no sentido platônico) é o momento em que a consciência deve tornar-se capaz de perceber que, para além da coisa, com o seu conjunto de dados sensíveis ou psíquicos, há um sentido nela latente. O sujeito do conhecimento deve tornar-se capaz de perceber esse sentido para além da coisa. É preciso perceber que as aparências encobrem o sentido que deve ser desvelado. Nesse momento, a consciência torna-se segura de que há um "interior", uma essência, para além das aparências”. Em: http://www.filosofiaclinica-ce.com.br/rotas/fernaocapelo.html# (Rota 003 - Viagem pela Fenomenologia - Fenomenologia: Informações Elementares, em 15/11/2003)



Fontes:

Chagas, Aécio Pereira (1987). As provas científicas. Artigo publicado em Reformador, agosto de 1987, pp. 232-33.

__________________ (1995). A Ciência confirma o Espiritismo? Artigo publicado em Reformador, julho de 1995, pp. 208-11.

Chibeni, Silvio Seno (1988). A excelência metodológica do Espiritismo. Artigo publicado em Reformador, novembro de 1988, pp. 328-33 e dezembro de 1988, pp.373-78.

_________________ (1991). Ciência espírita. Artigo publicado na Revista Internacional de Espiritismo, março de 1991, pp. 45-52.

_________________ (1994). O paradigma espírita. Artigo publicado em Reformador, junho de 1994.

_________________ (2003). O Espiritismo em seu tríplice aspecto: científico, filosófico e religioso. Texto elaborado para o XII Congresso Estadual de Espiritismo (USE) – Tema 4.10 Campinas, 17 a 20/04/2003.

Guiot, Alain e Gisèle (1999). A verdade revelada por Allan Kardec – a atualidade do ensinamento kardecista. São Paulo: Madras.

Kardec, Allan (1857/2003). O livro dos espíritos. Araras, SP: IDE.

__________ (1868/2002). A gênese. Araras, SP: IDE.



endereço: http://www.terraespiritual.org/espiritismo/esp01.html imagem: joaobosco.wordpress.com


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