quinta-feira, 30 de junho de 2011

COMUNICAÇÃO COM OS MORTOS: FATOS ESCONDIDOS NAS TRADUÇÕES E EXEGESES BÍBLICAS


Estávamos lendo o livro “Os 3 caminhos de Hécate”, do escritor espírita J. Herculano Pires (1914-1979), que falando das manifestações de espíritos na Bíblia, cita, entre outros, os seguintes passos: “Em Provérbios, 31:1-9, o espírito da mãe de Lamuel aparece-lhe para lhe transmitir conselhos. Em Juízes, 13, um espírito aparece a Manué e sua mulher” (p. 113). Bem curioso e até ansioso pela nova informação, fomos imediatamente conferi-la. E foi aí que vimos a verdade dos fatos que fazem de tudo para esconder.

Vejamos o passo Pr 31,1-9, do qual colocaremos apenas o versículo 1, já que é ele o que nos interessa:

Bíblia de Jerusalém: Palavras de Lamuel, rei de Massa, as quais lhe ensinou sua mãe. [...]

(Textos com mesmo sentido ao citado: Bíblia do Peregrino; Bíblia Sagrada – Santuário; Bíblia Sagrada – Vozes; Bíblia Sagrada – Ave Maria; Bíblia Shedd, Bíblia Sagrada - Pastoral e Bíblia Anotada – Mundo Cristão)

Bíblia Sagrada - Barsa: Palavras do rei Lamuel. Visão, pela qual o instruiu sua mãe. […]

(Texto com mesmo sentido ao citado: Bíblia Sagrada – Paulinas).

Novo Mundo: Palavras de Lemuel, o rei, a mensagem ponderosa que sua mãe lhe deu em correção: [...]

Bíblia Sagrada – SBB: Palavras do rei Lemuel: a profecia que lhe ensinou sua mãe. [...]

Infelizmente, percebemos que, na maioria das traduções bíblicas citadas, a passagem foi modificada (se o certo não for dizer adulterada ou corrompida) para não deixar transparecer a realidade de que essas instruções, que Lamuel (ou Lemuel) recebe de sua mãe; e pela sua redação a impressão que se tem é que elas foram recebidas de uma morta, ou seja, a mensagem foi transmitida pelo espírito de sua mãe. Apenas na narrativa de três delas podemos fazer uma análise e chegar a conclusão que se trata mesmo de uma aparição, oportunidade em que o espírito transmitiu a sua mensagem.

Visão em êxtase ou noturna, são os dois tipos de visões que aparecem na Bíblia. Fora as que se relacionam a eventos futuros, geralmente, são protagonizadas por seres espirituais. Algumas passagens do Antigo Testamento, inclusive, relatam pessoas tendo visões do Espírito de Deus, como se isso fosse um fato possível a um ser humano. E aí nos surge um questionamento: Por que Ele não aparece mais a ninguém nos dias de hoje?

Muitos dos antigos profetas eram videntes (1Sm 9,9), como, por exemplo, Samuel e Ido, citados com tal faculdade; certamente que tinham visões dos espíritos. Pedro, Tiago e João viram os espíritos Moisés e Elias conversando com Jesus (Mt 17,1-9). Zacarias vê o anjo Gabriel (Lc 1,19), que também foi visto por Daniel que disse ser ele um homem (Dn 9,21).

Uma outra visão bem interessante é a de Paulo que vê um macedônio, que lhe suplicava ir à sua cidade (At 16,9); o fato é que no passo não se dá para concluir se esse macedônio era vivo ou morto. Não estranhe, caro leitor, os vivos também podem se manifestar, pelo fenômeno da emancipação da alma - na linguagem bíblica eles são tidos como “arrebatamentos em espírito”.

Leiamos, agora, a segunda passagem:

Jz 13,2-25: Havia um homem de Saraá, do clã de Dã, que se chamava Manué. Sua mulher era estéril e não tinha filhos. O anjo de Javé apareceu à mulher e lhe disse: "Você é estéril e não tem filhos, mas ficará grávida e dará à luz um filho...” A mulher foi falar assim ao marido: "Um homem de Deus veio me visitar. Pela sua aparência majestosa, parecia um anjo de Deus…". Então Manué rezou a Javé: "Eu te peço, Senhor: que o homem de Deus que enviaste, volte e nos diga o que devemos fazer com o menino, quando ele nascer". Deus ouviu a oração de Manué, e o anjo de Deus apareceu outra vez à mulher, quando ela estava no campo. Seu marido Manué não estava com ela. A mulher foi correndo avisar o marido: "O homem que me visitou outro dia, voltou". Manué seguiu a mulher e foi perguntar ao homem: "Foi você quem falou com esta mulher?" Ele respondeu: "Sim. Fui eu mesmo". Manué disse: "Quando se realizar a sua palavra, como será o comportamento do menino? O que é que ele deve fazer?" O anjo de Javé respondeu a Manué: "A mulher não poderá fazer nada daquilo que lhe foi proibido:...". Manué disse ao anjo de Javé: "Fique conosco, que vamos preparar um cabrito para você". O anjo de Javé respondeu a Manué: "Mesmo que eu fique, não provarei a sua comida. Mas, se você quiser, prepare um holocausto e ofereça a Javé". Manué não tinha percebido que esse homem era o anjo de Javé. E Manué perguntou: "Qual é o seu nome, para que possamos agradecer a você, quando suas palavras se realizarem?" O anjo de Javé retrucou: "Por que você está querendo saber o meu nome? Ele é misterioso". Então Manué pegou o cabrito com a oferta, e ofereceu-o sobre a rocha em holocausto a Javé, que realiza coisas misteriosas. Manué e sua mulher ficaram observando. Quando a chama do altar subiu para o céu, o anjo de Javé também subiu na chama. Vendo isso, Manué e sua mulher caíram com o rosto no chão. O anjo de Javé não apareceu mais, nem para Manué nem para a sua mulher. Então Manué entendeu que era o anjo de Javé. Ele disse à sua mulher: "Certamente morreremos, porque vimos a Deus". A mulher respondeu: "Se Javé nos quisesse matar, não teria aceito o holocausto e a oferta, não nos teria mostrado tudo o que vimos, nem nos teria comunicado essas coisas"...

Para designar o mesmo ser que aparece a Manué e sua mulher, são utilizados estes termos para descrevê-lo: “anjo de Javé”, “um homem de Deus, que parecia um anjo de Deus”, “anjo de Deus”, “o homem” e “Deus”. Percebe-se a grande confusão que faziam diante das manifestações espirituais, não conseguindo, de fato, distinguir o que realmente viam.

Na verdade, o que viam eram anjos, que nada mais são que espíritos desencarnados, razão pela qual eram confundidos com homens. Para corroborar isso, basta ler em Atos o que aconteceu com Pedro. Ele estava preso a mando de Herodes, que já havia mandado matar a Tiago, irmão de João, e pretendia fazer o mesmo com Pedro, uma vez que viu que isso agradava aos judeus (At 12,1-3). Pedro após ser solto por um anjo do Senhor se dirige à casa de Maria, mãe de João, onde muitos estavam reunidos (At 12,6-12), leiamos, na própria narrativa bíblica, do que se sucede em seguida:

Bateu à porta, e uma empregada, chamada Rosa, foi abrir. A empregada reconheceu a voz de Pedro, mas sua alegria foi tanta que, em vez de abrir a porta, entrou correndo para contar que Pedro estava ali, junto à porta. Os presentes disseram: 'Você está ficando louca!' Mas ela insistia. Eles disseram: 'Então deve ser o seu anjo!' Pedro, entretanto, continuava a bater. Por fim, eles abriram a porta: era Pedro mesmo. E eles ficaram sem palavras. (At 12, 13-16).

Diante da possibilidade de Pedro estar à porta e como o supunham já morto, concluíram que só poderia ser o anjo dele que estava ali; em outras palavras: Então deveria ser o seu espírito!

R. N. Champlin, nos explica essa passagem da seguinte forma:

"Os cristãos primitivos têm com toda a razão sido criticados por essa sua atitude. Primeiramente rebateram a jovem escrava completamente, não crendo nela, preferindo acreditar que ela estava louca a crerem que as suas próprias orações haviam sido respondidas! E então, quando ela insistiu tão veementemente que não se equivocara com respeito à presença de Pedro ao portão, porquanto ele tinha um timbre de voz todo pessoal, chegaram eles a acreditar que Pedro já fora executado, à semelhança de Tiago, e que a aparição fora de seu espírito".

[...]

Aqueles primitivos crentes devem ter crido que os mortos podem voltar a fim de se manifestarem aos vivos, através da agência da alma. Observemos que a segunda alternativa, por eles sugerida, sobre como Pedro poderia estar no portão, era que ele teria sido morto e que o seu "anjo" ou "espírito" havia retornado. Portanto, aprendemos que aquilo que é ordinariamente classificado como doutrina "espírita" era crido por alguns membros da igreja cristã de Jerusalém. Isso não significa, naturalmente, que eles pensassem que tal fosse a regra nos casos de morte; porém, aceitaram a possibilidade da comunicação dos espíritos, que a atual igreja evangélica, especialmente em alguns círculos protestantes dogmáticos, nega com tanta veemência.

[…] Porém, por toda a parte abundam histórias de fantasmas, e muitos céticos negam tudo. Todavia, há muitos desses fenômenos, sob tão grande variedade, e cruzam todas as fronteiras religiosas, para que se possa duvidar dos mesmos como fatos. Algumas vezes os mortos voltam, e entram em comunicação com os vivos. Os teólogos judeus aceitavam isso como um fato, havendo entre eles a crença comum de que os "demônios" são espíritos humanos maus, desencarnados.

[...] É um equívoco cercarmos as doutrinas de muralhas, supondo em vão que somente nós, da moderna igreja cristã do século XX, temos as corretas interpretações das verdades bíblicas. Ainda temos muito a aprender, sobre muitas questões, e convém que guardemos nossas mentes abertas, pelo menos o suficiente para permitirmos a entrada de uma réstia de luz. Sabemos pouquíssimo sobre o mundo intermediário dos espíritos e supomos que o estado "eterno" já existe, o que todas as evidências mostram não ser ainda assim.

[...]

Naturalmente, sem importar o que os judeus criam a respeito dessas coisas, isso não prova nada neste caso. Porém, a experiência humana parece ser capaz de ilustrar amplamente que, algumas vezes, os espíritos dos mortos voltam a este mundo e entram em contato (pela permissão divina) com os homens. E com base nisso ficamos sabendo, pelo menos, que tais espíritos podem vir a fim de realizar determinadas missões, como também depreendemos que nossos conhecimentos sobre o mundo intermediário dos espíritos é extremamente limitado, porquanto muito nos resta ainda a apreender acerca do mundo dos espíritos, bem como sobre as capacidades e atividades dos espíritos. (CHAMPLIN, 2005, p. 250) (grifo do original).

Eis aí os fatos que comprovam o que fazem para tirar das passagens bíblicas a realidade da comunicação com os mortos. Aliás, ficamos pensando seriamente que se considerassem mesmo a Bíblia como sendo a palavra de Deus, não teriam coragem de alterá-la, modificá-la ou adulterá-la (caro leitor, escolha a que achar melhor), como flagrantemente fazem. Inclusive alguns tradutores têm o disparate de colocar em Dt 18,10-11, que sempre é citada como proibindo as comunicações com os mortos, palavras que não existiam à época que os textos bíblicos foram escritos, fora o fato de que não existem em hebraico, aramaico ou grego, como: Espiritismo, espiritistas, médiuns e médium espírita, que são neologismos criados por Kardec em abril do ano de 1857, quando publica a obra O Livro dos Espíritos.

Paulo da Silva Neto Sobrinho

nov/2008

Referências bibliográficas:

CHAMPLIN, R. N., O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo, vol. 3, São Paulo: Hagnos, 2005.

PIRES, J. H. Os 3 caminhos de Hecate. São Paulo: Paidéia, 2004.

A Bíblia Anotada. 8ª ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1994.

Bíblia de Jerusalém, nova edição. São Paulo: Paulus, 2002.

Bíblia do Peregrino. s/ed. São Paulo: Paulus, 2002.

Bíblia Sagrada, 37a. ed. São Paulo: Paulinas, 1980.

Bíblia Sagrada, 5ª ed. Aparecida-SP: Santuário, 1984.

Bíblia Sagrada, 8ª ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1989.

Bíblia Sagrada, Edição Barsa. s/ed. Rio de Janeiro: Catholic Press, 1965.

Bíblia Sagrada, Edição Pastoral. 43ª imp. São Paulo: Paulus, 2001.

Bíblia Sagrada, s/ed. Brasília – DF: Sociedade Bíblica do Brasil 1969.

Bíblia Sagrada. 68ª ed. São Paulo: Ave Maria, 1989.

Bíblia Shedd. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova; Brasília: SBB, 2005.

Escrituras Sagradas, Tradução do Novo Mundo das. Cesário Lange, SP: STVBT, 1986.


endereço: http://www.apologiaespirita.org/

imagem: clap.org.br

terça-feira, 28 de junho de 2011

NEURÔNIOS E CONSCIÊNCIA


Joanna de Ângelis (espírito)

A visão materialista, a respeito do ser humano, com a sua proposta fatalista sobre o determinismo biológico apresenta, na sua essência, uma expressiva contribuição de estímulo à insensatez, às perversidade e à desestabilização moral, por liberá-lo de qualquer responsabilidade ante os acontecimentos do seu dia-a-dia.

Guiado pelos automatismos bioquímicos do cérebro, gera o reducionismo que o propele a ser aquilo que se encontra desenhado nos refolhos da sua constituição neuronal.

Os sentimentos de bondade, de beleza, de perfeição, como os de criminalidade, de desconsertos morais, de conduta e de conquistas ou prejuízos resultariam, desse impositivo determinante, do qual ninguém foge.

Os fatores psicossociais, sócio-educacionais, sócio-econômicos poderão contribuir para amenizar circunstâncias, realizações vitais e suas conseqüências, não porém, para alterar o curso existencial, face a essa fatalidade desastrosa da origem.

Tal conceito, além de caótico é, ao mesmo tempo, cômodo, por isentar de esforço e de respeito por si mesmo, todo aquele que se sente impulsionado à conduta agressiva, delinqüente ou vulgar, que se permite.

O ser neuronal exclusivamente será sempre vítima das disposições dos equipamentos cerebrais que dele fazem um anjo ou um revel, um gênio ou um monstro.

Certamente, não se pode desconsiderar os contributos do bioquimismo cerebral na existência humana. Isto, no entanto, não constitui a causa única de êxito ou de insucesso, de moralidade ou desgraça, em razão de se encontrarem esses neurônios estruturados nas mensagens que procedem das tecelagens mui sutis do perispírito, no qual, as redes que os constituem têm as suas gêneses - as conquistas e os danos operados pelo Espírito.

Sendo a consciência uma conquista do Espírito e não uma secreção neuronal, tal conhecimento altera o quadro da responsabilidade do ser perante ele próprio, a vida e a humanidade, porquanto confere-lhe o discernimento, a lucidez, a livre opção para agir.

Harmonia ou instabilidade emocional, psíquica e orgânica, procedem do ser imortal, cujas realizações imprime na constituição biológica através da reencarnação.

À educação compete o desenvolvimento dos valores em germe sob o apoio dos sentimentos que elaboram a realidade de cada qual.

*

O fatalismo biológico desenvolve-se nos moldes da energia perispiritual, que faculta à mitose celular reproduzir-se de maneira que ajusta os órgãos no campo vibratório que lhe é próprio.

Sendo a mente uma faculdade do Espírito e não do cérebro, que tem a função de decodificá-la, ajustando-a às possibilidades do seu desenvolvimento intelectual, direciona o processo da reencarnação conforme as realizações em precedentes existências das quais procede.

A mente pensa sem o cérebro e comunica-se após a morte do corpo, enquanto que, danificado ou sem a ação que dela se origina, ele é incapaz de pensar.

Processos bioquímicos são destituídos de discernimento para gerar idéias e selecioná-las, não obstante esses impulsos as possam arquivar nos refolhos das zonas da memória, que se liga por mecanismos mui específicos ao Espírito de onde procedem.

Outrossim, os variantes níveis de consciência jamais resultam da freqüência dos hormônios neuronais, e das cerebrinas ou de outros fatores biológicos, em razão do processo evolutivo que fixa cada período, emulando o ser a conquistas mais expressivas e elevadas.

A máquina, seja qual for, é destituída de espontaneidade, não funcionando sem o auxílio daquele que a elaborou. Por mais complexo e admirável seja o seu mecanismo, o agente independe-lhe, embora ela não o dispense.

Os impulsos cerebrais, as sinapses responsáveis pela preservação da vida orgânica decorrem do agente que a organiza e direciona, mesmo que sem consciência do processo estruturado nas Leis da Vida, que estabeleceram a mecânica da reencarnação.

Sem o ser causal, não há funcionamento no conjunto orgânico temporal.

*

A consciência cresce e desenvolve-se à medida que o Espírito adquire experiência através das reencarnações. Em uma existência apenas, torna-se irrealizável o esforço de alcançar os patamares elevados, a perfeita integração com a Cósmica. Entretanto, degrau a degrau, vivenciando as realizações e incorporando-as ao patrimônio intelecto-moral, momento surge em que o conhecimento discerne e age em consonância com os Divinos Códigos, passando, então, a viver o patamar libertador.

Todas essas conquistas são impressas nos neurônios cerebrais através dos processos bioquímicos propiciados pelo perispírito e manifestando-se no comportamento do ser humano.


(Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, em 18/11/1997, em Porto Alegre - RS)


A mente pensa sem o cérebro e comunica-se após a morte do corpo


(Jornal Mundo Espírita de Janeiro de 1998)


texto - http://www.espirito.org.br/artigos/mundo-espirita

imagem - forumatenas.blogspot.com

quinta-feira, 23 de junho de 2011

FOTOGRAFIAS PSÍQUICAS E FOTOGRAFIAS DE FANTASMAS


Carlos Antonio Fragoso Guimarães

A questão do Inconsciente e do Espiritismo

(...) o desenvolvimento do tema exigia que eu refutasse, baseando-me em fatos, a inefável objeção anti-espirítica segundo a qual, não se podendo assinar limites às faculdades supranormais da telepatia, da telemnesia, da telestesia, também nunca será possível demonstrar experimentalmente, portanto, cientificamente, a existência e a sobrevivência do espírito. (...) As provas de identificação espirítica, fundadas nas informações pessoais fornecidas pelos mortos que se comunicam, longe de serem as únicas que se podem conseguir para a demonstração experimental da sobrevivência, mais não são que simples unidade de prova, dentre as múltiplas provas que se podem extrair do conjunto de fenômenos metapsíquicos, mas, sobretudo, das manifestações supranormais de ordem extrínseca, as quais, de ninguém dependendo, resultam independentes dos poderes do inconsciente”.

Ernesto Bozzano, “Animismo ou Espiritismo?”, 1937

Hoje já é medianamente conhecido a uma parcela dos meios espíritas e no meio mais culto da população em geral a polêmica, travada normalmente por intermédio da mídia, sobre a questão da natureza e origem dos assim chamados fenômenos paranormais (etimologicamente, fenômenos ao lado ou paralelos aos considerados fenômenos normais).

Assunto polêmico por várias e complexas razões, transcendendo mesmo a soma dos fatos e evidências positivas colecionadas nos últimos 144 anos, tanto pelo espiritismo na sua vertente científica, quando pelos vários pesquisadores dos fenômenos psíquicos, ou psi, em especial a partir da célebre Society for Psychical Researchbritânica, fundada em 1880, atravessando a Metapsíquica francesa de Geley, Richet, Bozzano e Sudre, a atualParapsicologia anglo-americana de Rhine, Bender e Pratt, a Psicobiofísica do professor Hernani Guimarães Andrade e aPsicotrônica (nome dado aos estudos psi no antigo bloco socialista do leste europeu), a questão da realidade dos fenômenos paranormais, apesar de seu conjunto de evidências, possui dos frontes principais de polêmicas de difícil solução, pois que é este um dos raros campos de conhecimento onde fica mais visível o posicionamento perante idéias adotadas a priori e calcadas em um determinado paradigma ou metafísica da realidade que propriamente baseadas e correlacionadas a fatos positivos, enormemente coletados, classificados e descritos nos últimos 144 anos, o que pode ser exemplificado por inúmeros exemplos.

O estudo dos fenômenos psíquicos nas Universidades

Tomemos como ilustração os estudos sobre telepatia e clarividência executados na década de 20 do século passado pela Universidade de Groningem, na Holanda, em cooperação com a Universidade de Harvard, sob a direção, na primeira, do Dr. H. J. Brugmans, e, na segunda, com o Dr. G. H. Estabrooks, com a cooperação do célebre professor William McDougall.

A coleta de evidências pró-realidade dos fatos da Telepatia e da Clarividência foi de tal monta, que o Dr. McDougall, que era membro da Society for Psychical Research (sociedade privada, não ligada à academia, embora plena de célebres docentes das mais variadas áreas) chegou a transferir-se de Oxford para Harvard e, posteriormente, para a Universidade de Duke, com o fim de dedicar grande parte do seu tempo ao estudo destes fenômenos, onde, em 1930, com a ajuda de dois talentosos orientandos seus, Joseph Banks Rhine e sua esposa, Louise Ella Rhine, fundaria o primeiro laboratório acadêmico para o estudo do que passaria a ser chamado de Parapsicologia.

O grande problema porém, foi o fato que as evidências coletadas tanto em Groningem, quanto em Harvard e, posteriormente, em Duke e vários outros centros acadêmicos posteriores não foram aceitos plenamente pelos psicólogos, médicos e outras áreas científicas, embora fosse particulamente bem vista pelos físicos teóricos de ponta, em especial os voltados para o estudo da Física das Partículas, ou Física Quântica. Isto representa o primeiro front de polêmicas, ou seja, da aceitação de fatos e evidências que superam os limites da visão de mundo do modelo de realidade estritamente mecânico da ciência clássica, o que levou o Dr. Rhine a dizer: “hoje, ao volver o olhar para estas experiências, torna-se difícil compreender como uma mente verdadeiramente científica pôde permanecer indiferente ao problema apresentado por trabalhos tão minunciosos como os que foram efetuados pelos Doutores Estabrookes e Brugmans. A ciência também é cega quando não quer ver” (citado em MUNTAÑOLA, RYZL et al, 1978, p. 223).

O segundo front, porém, é encontrado dentro da própria área dos estudos psi, desde o seu início. É constituído pelos trabalhos coletados e/ou experimentados por inúmeros célebres pesquisadores, que, apesar de aceitar a realidade dos fenômenos psíquicos ou mediúnicos, se dividem, porém, quanto à interpretação das causas dos mesmos, constituindo duas escolas antagônicas e uma que tem elementos de ambas:

  1. A primeira é a escola espiritualista, que se caracteriza pela aceitação, ao menos teoricamente falando, de que os fatos paranormais, em parte ou em seu todo, tem por causa ou substrato um fator espiritual, que domina a matéria e escapa aos limites de tempo e espaço ao qual esta está submetida. Entre seus membros mais destacados temos Camille Flammarion; Gustave Geley, Ernesto Bozzano. Ela admite que várias faculdades psi são inerentes aos seres vivos.
  2. A segunda é a escola mecanicista, que postula que os fenômenos são produtos excepcionais da combinação orgânica do organismo com seu meio, tendo o sistema nervoso e, em especial, o cérebro, papel fundamental nos fenômenos psi. Entre seus membros mais famosos temos René Sudre, Robert Amadou e Susan Blackmore;
  3. A Escola holística, em que seus membros aceitam ambas as explicações como necessárias ao entendimento do universo dos fenômenos psíquicos, porém dando ênfase ao aspecto não físico –fator psi- dos fenômenos paranormais. Esta não as entende, porém, as explicações espiritualistas e mecanicistas como antagônicas, mas como complementares, ambas necessárias, podendo uma ou outra se aplicar melhor a cada caso. Entre seus membros estão muitos ou todos os da primeira escola, em especial Bozzano e Geley, mas também J.B. Rhine, Roca Muntañola, Hernani Andrade, Ramon Simó, Ian Stevenson, Erlendur Haraldsson, Karlis Osis e Charles Richet, este, em especial, em seus últimos anos, como podemos ver em seus livros A Grande Esperança e No Limiar do Mistério.

Provavelmente, a melhor e mais equilibrada postura seria a da última escola, mas é necessário perceber que a adoção de uma abordagem teórica tem muito a ver com a educação recebida e a filosofia de vida da pessoa que a adota, sendo pois, como diria Max Weber, uma ação com sentido, pessoal e emocional, mais que uma adoção racionalizada a partir de fatos.

A questão dos posicionamentos radicais

Tornou-se relativamente conhecida no Brasil a questão do uso do conceito do inconsciente, próprio da Psicanálise a partir dos trabalhos profundos de Sigmund Freud (1856-1939), por determinados estudiosos, em especial ligados à Igreja Católica, para a explicação de fenômenos paranormais, eliminando a possibilidade causal deste serem provocados por consciências não físicas, ou espíritos, que escapariam aos limites teológicos de sua tradição religiosa. Seja como for, esta abordagem tem sido tema de discussões nas salas e corredores das faculdades de Psicologia, já que o conceito de inconsciente adotado por tais estudiosos parece ser tudo, menos o inconsciente psicanalítico de Freud ou Jung, ou bem pouco ligado ao conceito clínico de inconsciente. Na verdade, como bem falam os psicanalistas, o uso do termo “o inconsciente” por algumas pessoas lembram mais o uso de um conceito vago para explicar coisas de que não se sabe nada. Ademais, é problemático se substantivar o "inconsciente", bem como o "consciente". Não existe um objeto espacial, físico, chamado "o inconsciente", nem um que seja "o consciente". Sabemos que áreas no cérebro que são ligadas à funções fisiológicas precisas, mas uma área específica da memória e do pensamento parece ser difícil de ser encontrada. O que existem são processos de memória, processos de pensamentos, processos conscientes e processos inconscientes pelo simples fato que o foco da consciência é limitado, o que não impede que material em certo momento desconhecido não seja conhecido em uma mudança de estado de consciência, como o prova a Psicologia Transpessoal.

Convém aqui lembrar as palavras do grande Psicanalista Carl Gustav Jung sobre o abuso que se vem fazendo com o conceito de inconsciente, em uma entrevista filmada com o psicólogo e professor Richard Evans, em 1957:

Quando dizemos "inconsciente" o que queremos sugerir é uma idéia a respeito de alguma coisa, mas o que conseguimos é apenas exprimir nossa ignorância a respeito de sua natureza.

Para os que adotam reducionisticamente a abordagem do “onipotente” inconsciente parapsíquico, este seria o responsável pelos fenômenos parapsicológicos autênticos, sendo suficiente para explicar tudo o que não for obra de fraude. Porém, a questão parece quase que se resumir ao fato de que se usa uma palavra, um termo, do qual não se sabe bem a que se refere, para explicar algo que escapa, quase sempre, aos conceitos correntes de realidade a que fomos educados ordinariamente pelo sistema científico atual. Ou seja, usa-se um conceito vago sobre algo cuja pretensa orientação causal escapa ao entendimento atual, procurando-se ajusta-lo a conceitos familiares. Mas a ciência normal mesma dá o exemplo que está menos interessada no porquê dos fenômenos e mais no como estes se dão, os descrevendo e expondo suas associações fenomênicas. Portanto, adotar como explicação dos fenômenos psíquicos como – à exceção das fraudes – causados unicamente pelo inconsciente é tão reducionista quanto dizer que todos eles são causados unicamente por fatores espirituais, ambos os posicionamentos sendo, portanto, radicais.

Cabe, agora, tentar perceber os limites das duas polaridades antagônicas, o extremo mecanicismo (ou o extremo materialismo) e o extremo espiritualismo. Comecemos pelo primeiro.

Será mesmo que é sempre o inconsciente individual (mera palavra que nada explica em termos paranormais se não se estabelecer claramente a sua natureza. Se é um epifenômeno fisiológico, como a bílis é produto ou epifenômeno do fígado, deveria estar limitada às leis convencionais de tempo e espaço que condicionam todos os fenômenos biológicos, mas as faculdades paranormais quebram amplamente estes limites. Se é um ente, como o postula Rhine e Thouless, independente da matéria e que a condiciona – o fator psi -, então caímos nas explicações espiritualistas, apenas adaptadas ao modelo científico contemporâneo e em tentativa de escapar ao clima religioso que a palavra espírito geralmente assume, e o inconsciente nada mais seria que as capacidades do espírito humano dos quais seu ego, em estado de vigília, não tem plena ciência) é responsável pelos efeitos conseguidos? Isso é uma hipótese? Uma teoria científica? Se for, pode ser testada e passar pelo crivo da falibilidade. Se não, temos um dogma, um posicionamento filosófico que propõe uma "explicação" irrefutável, exatamente por não poder ser testada e, ainda mais, por ser indemonstrável.


Vejamos, agora, como os posicionamentos antagônicos dentro dos fenômenos paranormais se expressam nas chamadas fotos transcendentais, onde se inserem as fotografias de fantasmas e as fotografias do pensamento (escotografia).

Fotos de Fantasmas

Ora, geralmente médiuns, sensitivos e paranormais provocam fenômenos ou dão informações que estão bem além dos conhecimentos deles e da assistência. Sem problema, os adeptos reducionistas radicais responsabilizam sempre e unicamente o paranormal, ainda que este aja “inconscientemente” e apontam para a criptestesia (conhecimento adquirido pela percepção extra-sensorial) onde o inconsciente do informante capta a informação existente em algum outro lugar (pela telepatia ou pela clarividência), para o sucesso de seus atos. Se este conhecimento é expresso em algum tipo de ação física, entra em ação a psicocinesia ou telecinesia (capacidade de afetar a matéria pela “mente”).

Bem, a foto acima foi tirada nos Alpes austríacos no final da década de 90. Sem que ninguém esperasse em uma foto tradicional de amigos, aparece um busto de uma pessoa desconhecida de todos, inclusive do fotógrafo, que parece atravessar a mesa. Para os adeptos do inconsciente "paranormal", alguém do grupo teria "inconscientemente"provocado o fenômeno. Mas o problema é que este tipo de argumentação é irrefutável exatamente por não ser provável. Como é que se pode provar que inconscientemente alguém desejava que uma figura aparecesse na fotografia “atravessando” a mesa? E mais, a foto foi batida sem flash, o que levou o fotógrafo logo depois, em segundos, a repetir o processo, e na segunda foto o “busto” já não aparece. Outra, havia um clima de descontração entre as pessoas e ninguém se lembra de ter se esforçado ou desgastado fisicamente (características típica de muitos paranormais que conseguem fotografias do pensamento, como Ted Sérios, geralmente obtendo siluetas ou figuras pouco nítidas) ao bater a foto. Mesmo assim, a desculpa da escotografia é usada e assim pretensamente explica tudo. Veremos, porém, que os poucos casos autênticos conseguidos voluntariamente apresentam características bem distintas dos casos espontâneos de fotografias de fantasmas, ou fotografias espirituais.

O vigário K. F. Lord da Igreja de Newby, perto de Yorkshire, em 1963 apenas queria registrar a foto do altar da Igreja, acabou depois por ver na chapa revelada um fantasmagórico, realmente assustador, espectro, em uma foto hoje famosa (foto acima), no qual aparece uma figura semelhante a um monge (alguns mais impressionáveis dizem que é a figura da morte), em processo de semi-materialização. Mas ai fica a pergunta: como ter certeza de que o inconsciente do fotógrafo estava realmente preocupado, planejando e materializando a foto do fantasma, e por quê? Como se mede o "pensamento" intencional do inconsciente? Como ele atua? Sai da "cabeça" da pessoa (ou alguma outra parte) para dar às caras às câmeras? Como podem eles ter a certeza de que, neste e em outros casos, isso foi fruto da ação do "inconsciente"? Por que ambos os fotógrafos não mais conseguiram repetir fotos semelhantes tendo um inconsciente tão talentoso?

O famoso Pe. Quevedo e seus discípulos (como o Pe. Juarez Farias, Márcia Côbero e outros) usam e abusam do fato de que um americano, chamado Ted Serios, demonstrou suas faculdades paranormais de escotografia em vários experimentos e pretendem que todas as fotografias de fantasmas, quando não são fraudes, seriam nada mais nada menos que escotografias inconscientes. Mas o que Quevedo não diz é que para conseguir as Escotografias (e muita gente acha que nem sempre todas as fotos conseguidas por Serios, geralmente silhuetas, eram autênticas, embora um bom conjunto delas dificilmente sejam explicadas por fraude, ainda que possam ser simuladas artificialmente), Serios se punha em um estado de grande tensão consciente para obter as fotos e, conforme GARCIA FONT, "com as veias prestes a rebentar, a suar e a beber whisky" (MONTAÑOLA, RYZL et al, 1978, vol. 1, p. 264), e freqüentemente punha uma ou as duas mãos em contato com a objetiva da câmera ou encostava a cabeça na lente da câmera. Ao lado esquerdo, uma foto de Ted Serios em ação e, à direita, uma de suas escotografias, de um prédio realmente existente.

A escotografia, portanto, existe, mas apenas em pessoas especialmete dotadas que se esforçam conscientemente para obter as fotos psíquicas. Coisa que não acontece com as fotos de fantasmas. Na maior parte das fotos de fantasmas acidentais, as pessoas não pensavam em obter as figuras, muito menos entravam em um nervoso estado de tensão conscientemente provocado. Aliás, existem fotos obtidas por circuitos internos sem que pessoa alguma estivesse presente, o que já deixa a teoria da escotografia de fantasmas igualmente em cheque: Quevedo e discípulos dizem que sem um sensitivo, paranormal ou qualquer que seja o nome dado, não existem fotos paranormais sem que a pessoa causante esteja presente até pouco mais de 50 metros de distância. Que dizer então da seguinte foto (trecho de um vídeo de um circuito fechado de tv), em um estacionamento vazio pelo circuito interno eletrônico de tv nos Estados Unidos, em uma área de mais de 150 metros, sem que ninguém estivesse presente, onde um fantasma está planando acima dos carros?

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Animismo ou Espiritismo, qual dos dois explica o conjunto dos fatos? Fácil se me tornou responder, nos termos seguintes:

Nem um nem outro logra, separadamente, explicar o conjunto dos fatos supranormais. Ambos são indispensáveis a tal fim e não podem separar-se, pois que são efeitos de uma causa única e esta causa é o espírito humano que, quando se manifesta, em momentos fugazes durante a encarnação, determina os fenômenos anímicos e, quando se manifesta mediunicamente, durante a existência desencarnada, determina os fenômenos espiríticos”

Ernesto Bozzano, Animismo ou Espiritismo?, p. 9

pguimar@openline.com.br

Bibliografia:

  • BOZZANO, E. Animismo ou Espiritismo? 1995, Feb, Rio de Janeiro

  • EDSALL, F. S. O Mundo dos Fenômenos Psíquicos. 1999, Editora Pensamento, São Paulo.

  • MacKENZIE, A . Fantasmas e Aparições. 1986. Editora Pensamento, São Paulo.

  • MONTAÑOLA, J. R.; RYZL, M. Et al. Enciclopédia de Parapsicologia e Ciências Ocultas. 1978, RPA Publicações Ltda. Lisboa

  • TEIXEIRA DE PAULA, J. Enciclopédia de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo. 1972. Cultural Brasil Editora, São Paulo

(Publicado no Boletim GEAE Número 474 de 27 de abril de 2004)



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segunda-feira, 20 de junho de 2011

O CÉU E O INFERNO


Autor: J. Herculano Pires

Allan Kardec apresenta a verdadeira face do desejado Céu, do temido Inferno, como também do chamado Purgatório. Põe fim às penas eternas, demonstrando que tudo no universo evolui.

Lendo-se este livro com atenção vê-se que a sua estrutura corresponde a um verdadeiro processo de julgamento. Na primeira parte temos a exposição dos fatos que o motivaram e a apreciação judiciosa, sempre serena, dos seus vários aspectos, com a devida acentuação dos casos de infração da lei. Na segunda parte o depoimento das testemunhas. Cada uma delas caracteriza-se por sua posição no contexto processual. E diante dos confrontos necessários o juiz pronuncia a sua sentença definitiva, ao mesmo tempo enérgica e tocada de misericórdia. Estamos ante um tribunal divino.

Os homens e suas instituições são acusados e pagam pelo que devem, mas agravantes e atenuantes são levados em consideração à luz de um critério superior.

A 30 de Setembro de 1863, como se pode ver em Obras Póstumas, Kardec recebeu dos Espíritos Superiores este aviso: "Chegou a hora de a Igreja prestar contas do depósito que lhe foi confiado, da maneira como praticou os ensinamentos do Cristo, do uso que fez de sua autoridade, enfim, do estado de incredulidade a que conduziu os espíritos". Esse julgamento começava com a preliminar constituída pelo Evangelho Segundo o Espiritismo e devia continuar com O Céu e o Inferno. Dentro de dois anos, em seu número de Setembro de 1865, a Revista Espírita publicaria em sua seção bibliográfica a notícia do lançamento do quarto livro de Codificação Espírita: O Céu e o Inferno. Faltava apenas A Gênese para completar a obra da Codificação da III Revelação.

Dois capítulos de O Céu e o Inferno foram publicados antecipadamente na Revista: o capítulo intitulado Da apreensão da morte, vigorosa peça de acusação, no número de Janeiro de 1865, e o capítulo Onde é o Céu, no número de Março do mesmo ano. Apareceram ambos como se fossem simples artigos para a Revista, mas o último trazia uma nota final anunciando que ambos pertenciam a uma "nova obra que o Sr. Allan Kardec publicará proximamente". Em Setembro a obra já aparece anunciada como à venda.

Kardec declara que, não podendo elogiá-la nem criticá-la, a Revista se limitava a publicar um resumo do seu prefácio, revelando o seu conteúdo. Os capítulos antecipadamente publicados aparecem, o primeiro com o mesmo título com que saíra e o segundo com o título reduzido para O Céu.

Estava dado o golpe de misericórdia nos dogmas fundamentais da teologia do cristianismo formalista, tipo inegável de sincretismo religioso com que o Cristianismo verdadeiro, essencial e não formal conseguira penetrar na massa impura do mundo e levedá-la à custa de enormes sacrifícios. Kardec reafirma o caráter científico do Espiritismo. Como ciência de observação a nova doutrina enfrenta o problema das penas e recompensas futuras à luz da História, estabelecendo comparações entre as idealizações do céu e do inferno nas religiões anteriores e nas religiões cristãs, revelando as raízes históricas, antropológicas, sociológicas e psicológicas dessas idealizações na formulação dos dogmas cristãos.

A comparação do inferno pagão com o inferno cristão é um dos mais eficazes trabalhos de mitologia comparada que se conhece. A mitologia cristã se revela mais grosseira e cruel que a pagã. Bastaria isso para justificar o Renascimento. O mergulho da humanidade no sorvedouro medieval levou a natureza humana a um retrocesso histórico só comparável ao do nazi-fascismo em nosso tempo. Os intelectuais materialistas assustaram-se com o retrocesso do homem nos anos 40 do nosso século e puseram em dúvida a teoria da evolução. Se houvessem lido este livro de Kardec,

saberiam que a evolução não se processa em linha reta; mas em ascensão espiralada.

Vemos assim que este livro de Kardec tem muito para ensinar, não só aos espíritas, mas também aos luminares da inteligência néo-pagã que perdem o seu tempo combatendo o Espiritismo, como gregos e romanos combateram inutilmente o Cristianismo. O processo espírita se desenvolve na linha de sequência do processo cristão. A conversão do mundo ainda não se completou. Cabe ao Espiritismo dar-lhe a última demão, como desenvolvimento natural, histórico e profético do Cristianismo em nosso tempo.

A leitura e o estudo sistemático deste livro se impõem a espíritas e não-espíritas, a todos os que realmente desejam compreender o sentido da vida humana na Terra. Mesmo entre os espíritas este livro é quase desconhecido. A maioria dos que o conhecem nunca se inteirou do seu verdadeiro significado. Kardec nos dá nas suas páginas o balanço da evolução moral e espiritual da humanidade terrena até os nossos dias. Mas ao mesmo tempo estabelece as coordenadas da evolução futura. As penas e recompensas de após a morte saem do plano obscuro das superstições e do misticismo dogmático para a luz viva da análise racional e da pesquisa

científica. É evidente que essa pesquisa não pode seguir o método das ciências de mensuração, pois o seu objetivo não é material, mas segue rigorosamente as exigências do espírito científico moderno e contemporâneo.

O grave problema da continuidade da vida após a morte despe-se dos aparatos mitológicos para mostrar-se com a nudez da verdade à luz da razão esclarecida.


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sexta-feira, 17 de junho de 2011

ANJOS GUARDIÃES


Autor: Allan Kardec

Comunicação espontânea obtida pelo senhor L.., um dos médiuns da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.

É uma doutrina que deveria converter os mais incrédulos pelo seu encanto e pela sua doçura: a dos anjos guardiães. Pensar que se tem, junto de si, seres que vos são superiores, que estão sempre aí para vos aconselhar, vos sustentar, para vos ajudar a escalar a áspera montanha do bem, que são amigos mais seguros e mais devotados que as mais íntimas ligações que se possa contrair nesta Terra, não é uma idéia bem consoladora? Esses seres estão aí por ordem de Deus; foi ele quem os colocou junto de nós, e estão aí pelo amor dele, e cumprem, junto de nós, uma bela mas penosa missão. Sim, em qualquer parte que estejais, ele estará convosco: os calabouços, os hospitais, os lugares de deboche, a solidão, nada vos separa desse amigo que não podeis ver, mas do qual vossa alma sente os mais
doces impulsos e ouve os sábios conselhos.
Por que não conheceis melhor essa verdade! Quantas vezes ele vos ajudou nos momentos de crise, quantas vezes vos salvou das mãos de maus Espíritos! Mas, no grande dia, esse anjo do bem terá, freqüentemente, a vos dizer: "Não te disse isso? E tu não o fizeste. Não te mostrei o abismo, e tu nele te precipitaste; não te fiz ouvir na consciência a voz da verdade, e não seguiste os conselhos da mentira?" Ah! questionai vossos anjos guardiães; estabelecei, entre ele e vós, essa ternura íntima que reina entre os melhores amigos. Não penseis em não lhes ocultar nada, porque são o olho de Deus, e não podeis enganá-los. Sonhai com o futuro, procurai avançar nesse caminho, vossas provas nele serão mais curtas, vossas existências mais felizes. Ide! homens de coragem; lançai longe de vós, uma vez por todas, preconceitos
e dissimulações; entrai no novo caminho que se abre diante de vós; caminhai, caminhai, tendes guias, segui-os: o objetivo não pode vos faltar, porque esse objetivo é o próprio Deus.
Àqueles que pensam que é impossível a Espíritos verdadeiramente elevados se sujeitarem a uma tarefa tão laboriosa e de todos os instantes, diremos que influenciamos vossas almas estando a vários milhões de léguas de vós: para nós o espaço não é nada, e mesmo vivendo em um outro mundo, nossos espíritos conservam sua ligação com o vosso. Gozamos de qualidades que não podeis compreender, mas estejais seguros que Deus não nos impôs uma tarefa acima de nossas forças, e que não vos abandonou sozinhos na Terra, sem amigos e sem sustentação. Cada anjo guardião tem o seu protegido, sobre o qual ele vela, como um pai vela sobre seu filho; ele é feliz quando o vê seguir o bom caminho, e geme quando seus conselhos são desprezados.
Não temais nos cansar com vossas perguntas; ficai, ao contrário, em relação conosco: sereis mais fortes e mais felizes. São essas comunicações, de cada homem com seu Espírito familiar, que fazem todos os homens médiuns, médium ignorados hoje mas que se manifestarão mais tarde, e que se espalharão como um oceano sem limites para refluir a incredulidade e a ignorância. Homens instruídos, instruí; homens de talento, elevai vossos irmãos. Não sabeis que obra cumpris assim: é a do Cristo, aquela que Deus vos impôs. Por que Deus vos deu a inteligência e a ciência, se não para partilhá-las com vossos irmãos, certamente para avançá-los no caminho da alegria e da felicidade eterna.


São Luís, Santo Agostinho.


Nota. - A doutrina dos anjos guardiães, velando sobre seus protegidos, apesar da distância que separa os mundos, nada tem que deva surpreender; ela é, ao contrário, grande e sublime. Não vedes sobre a Terra, um pai velar sobre seu filho, embora dele esteja distante, ajudar com seus conselhos por correspondência? Que haveria, pois, de espantoso que os Espíritos possam guiar aqueles que tomam sobre sua proteção, de um mundo ao outro, uma vez que, para eles, a distância que separa os mundos é menor que aquela que, na Terra, separa os continentes?


Revista Espírita, janeiro de 1859



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terça-feira, 14 de junho de 2011

O ENCONTRO DE SAULO (PAULO DE TARSO) COM ABIGAIL


por: Emmanuel

... Abigail, por sua vez, apertava-lhe as mãos com imensa ternura. O ex-rabino desejaria prolongar a deliciosa visão para o resto da vida, manter-se junto dela para sempre; contudo, a entidade querida esboçava um gesto de amoroso adeus. Esforçou-se, então, por catalogar apressadamente suas necessidades espirituais, desejoso de ouvi-la relativamente aos problemas que o defrontavam. Ansioso de aproveitar as mínimas parcelas daquele glorioso, fugaz minuto, Saulo alinhava mentalmente grande número de perguntas. Que fazer para adquirir a compreensão perfeita dos desígnios do Cristo?
- Ama! - respondeu Abigail espontaneamente.
Mas, como proceder de modo a enriquecermos na virtude divina? Jesus aconcelha o amor aos próprios inimigos. Entretanto, considerava quão dificil devia ser semelhante realização. Penoso testemunhar dedicação, sem o real entendimento dos outros. Como fazer para que a alma alcançasse tão elevada expressão de esforço com Jesus-Cristo?
- Trabalha! - esclareceu a noiva amada, sorrindo bondosamente.
Abigail tinha razão. Era necessário realizar a obra de aperfeiçoamento interior. Desejava ardentemente fazê-lo. Para isso insulara-se no deserto, por mais de mil dias consecutivos. Todavia, voltando ao ambiente do esforço coletivo, em cooperação com antigos companheiros, acalentava sadias esperanças que se converteram em dolorosas perplexidades. Que providências adotar contra o desânimo destruidor?
- Espera! - disse ela ainda, num gesto de terna solicitude, como quem desejava esclarecer que a alma deve estar pronta a atender ao programa divino, em qualquer circunstância, extreme de caprichos pessoais.
Ouvindo-a, Saulo considerou que a esperança fora sempre companheira dos seus dias mais ásperos. Sabia aguardar o porvir com as bençãos do altíssimo. Confiaria na sua misericórdia. Não desdenharia as oportunidades do serviço redentor. Mas ... os homens? Em toda parte medrava a confusão dos espíritos. Reconhecia que, de fato, a concordância geral em torno dos ensinamentos do Mestre Divino representava uma das realizações mais difíceis, no desdobramento do Evangelho; mas, além disso, as criaturas pareciam igualmente desinteressadas da verdade e da luz. Os israelitas agarravam-se à Lei de Moisés, intensificando o regime das hipocrisias farisaicas; os seguidores do "Caminho" aproximavam-se novamente nas sinagogas, fugiam dos gentios, submetiam-se, rigorosamente, aos processos da circuncisão. Onde a liberdade do Cristo? Onde as vastas esperanças que o seu amor trouxera à humanidade inteira, sem exclusão dos filhos de outras raças? Concordava que se fazia indispensável amar, trabalhar, esperar; entretanto, como agir no âmbito de forças tão heterogêneas? como conciliar as grandiosas lições do Evangelho com a indiferença dos homens?
Abigail apertou-lhe as mãos com mais ternura, a indicar as despedidas, e acentou docemente:
- Perdoa!...
Em seguida, seu vulto luminoso pareceu diluir-se como se fosse feito de fragmentos de aurora.

...


* Sobre o autor: Emmanuel é o nome do espírito que tutelou a atividade mediúnica de Franscisco Cândido Xavier, o maior médium psicógrafo de sempre, hoje com mais de 350 obras psicografadas. Ao tempo da passagem de Jesus pela Terra, chamou-se Públio Lentulus - senador romano -, e, ao que se sabe, foi a única autoridade que efetuou perfeito descrição Dele, através da célebre carta, publicada em numerosas línguas, autêntica obra-prima do gênero pessoalmente, encontrou-O, solicitando-Lhe auxílio para a cura de sua filha Flávia, que, supomos, estaria leprosa desencarnou em Pompeia, no ano 79, vítima das lavas do Vesúvio, encontrando-se na altura invisual anos depois, reencarnaria como judeu na Grécia, em Éfeso, já não mais sob a toga de orgulhoso senador romano, mas sim na estamenha de modesto escravo Nestório, que, na idade madura, participava das reuniões secretas dos cristãos nas catacumbas de Roma. Podemos ficar com melhor conhecimento da história dessse espírito através das suas obras: Há Dois Mil Anos e Cinquenta Anos Depois, transmitidas mediunicamente através de Chico Xavier. Estas obras constituem verdadeiras obras primas de literatura mediúnica e histórica.

Tags: EMMANUEL,


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quinta-feira, 9 de junho de 2011

ÉTICA E ECOLOGIA NUMA VISÃO ESPÍRITA


Bismael B Moraes(*)

Introdução ao tema

Como se acha ou em que pé se encontra a influência mesológica dos seres humanos nas áreas onde vivem e atuam? Como eles tratam o meio ambiente de que todos dependem? O grande brasileiro Ruy Barbosa, ao seu tempo, já ensinava algo mais ou menos assim: se cada pessoa limpar a frente de sua casa, a cidade toda será limpa. Numa análise macro-social, sendo a Terra o nosso lar, se não nos preocuparmos com o seu equilíbrio, como será a nossa vida e a das futuras gerações? Faz parte do progresso do ser humano que ele próprio destrua seu habitat?

Todos os espíritas conscientes sabem que a moral é a regra de cada um conduzir-se no bem e, porque se funda na Lei Natural ou Lei de Deus, permite-nos facilmente distinguir o certo do errado. Compreendemos – porque todos somos dotados de razão e de livre arbítrio – que o ato por nós praticado só é moralmente correto quando visa ao bem geral, ou seja, ao bem de todos, ao bem coletivo. E como não queremos o mal para nós, não devemos desejá-lo aos semelhantes.

O grande físico do século 20, Albert Einstein, em seu livro "Como Vejo o Mundo" (Editora Nova Fronteira), afirma: "E cada dia, milhares de vezes, sinto minha vida – corpo e alma – integralmente tributária do trabalho dos vivos e dos mortos. Sou realmente um homem, quando meus pensamentos e atos têm uma única finalidade: a comunidade e seu progresso".

No livro "Renúncia", de Emmanuel, psicografado por Chico Xavier, encontramos o seguinte: "O mundo material é uma tenda de esforços infinitos, onde fomos chamados a colaborar com o Criador no aperfeiçoamento de suas obras". Pode-se ler no livro "Palavras de Emmanuel", psicografado por Chico Xavier, que "o quadro social que existe na Terra não foi formado pela vontade do Altíssimo; ele é reflexo da mente humana, desvairada pela ambição e pelo egoísmo".Noutro livro – "Pão Nosso" - de Emmanuel, também psicografado por Chico Xavier, temos esta lição: "A vida humana, apesar de transitória, é a chama que nos coloca em contato com o serviço de que necessitamos para a ascensão justa. Nesse abençoado ensejo, é possível resgatar, corrigir, aprender, ganhar, conquistar, reunir, reconciliar e enriquecer-se no Senhor".

Um resumo de Ética

Ética, para o filósofo Sócrates, é o estudo do procedimento ideal, da sabedoria de viver. Ética é, também, o ramo da filosofia que trata da essência, da origem e do caráter da moral; cuida da consciência moral e do livre arbítrio.Ética profissional é o conjunto de princípios que exige de cada integrante desta ou daquela carreira o dever moral de cumprir a lei e atuar com probidade. Ética, na visão do Espiritismo, tem sua base na Lei Natural, ou Lei de Deus, ou Lei Moral, nela estabelecendo-se a medida da Justiça Divina: "Não fazer ao semelhante o que, naturalmente, não deseja para si mesmo".

Em "O Homem Integral" (Alvorada Editora, Salvador, BA, 1996, p.53/46), Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis, ao tratar da consciência ética, encontramos que "o homem é o único ‘animal ético’ que existe. Não obstante, um exame da sociedade, nas suas variadas épocas, face à agressividade bélica, à indiferença pela vida, à barbárie de que dá mostras em inúmeras ocasiões, nos demonstra o contrário". E mostra que o indivíduo deve fazer um mergulho introspectivo para se conhecer melhor como um membro responsável da sociedade humana, da qual sempre necessita. E, amadurecendo psicologicamente, tal indivíduo assume a sua parte na humanidade. Aí, "as ações humanitárias são o passo que desvela a consciência ética no indivíduo, que já não se contenta com a experiência do prazer pessoal, egoísta, dando-se conta das necessidades à sua volta, aguardando-lhe a contribuição". E complementa: "A consciência ética é a conquista da iluminação, da lucidez intelecto-moral, do dever solidário e humano".

E, nas páginas 99/101, ao falar do ter e do ser, mostra que "cunhou-se o conceito irônico de que o dinheiro não dá felicidade, porém ajuda a consegui-la. Ninguém o contesta; no entanto, ele não é tudo". Mas, argumenta Joanna de Angelis que "cada indivíduo tem suas próprias aspirações e metas, não podendo ser movido, pelo prazer insano ou com bons propósitos que sejam, por outras pessoas". E conclui: "A integridade e a segurança defluem do que se é, jamais do que se tem".

Portanto, a nossa existência no planeta Terra é uma etapa de aprendizado na prática do bem, única forma correta de exemplo e progresso moral para os espíritos.Não devemos jamais esquecer dessa realidade. E o Espiritismo é, por excelência, uma doutrina ética, embora possa haver quem se diga espírita e não procure exemplificar no exercício eticamente cristão... Mas a cada um será dado segundo o seu merecimento, nesta e noutras existências.

Questões morais e o egoísmo

Há os que sofrem na vida as mais diversas dores morais e materiais, ora envolvendo o analfabetismo, o desemprego, a fome, o abandono, o descrédito, as injustiças, o desabrigo, a falsidade, a decepção, assim como as doenças, agressões, mortes, arbitrariedades, prisões, castigos corporais e toda a sorte de crueldades.

Em "O Livro dos Médiuns", de Allan Kardec (tradução de Herculano Pires, Editora LAKE, 23ª edição, Capítulo XXXI – Dissertações Espíritas – item III), há a manifestação de Jean Jacques Rousseau, nos seguintes termos: "A meu ver, o Espiritismo é uma alavanca que derruba as barreiras da incompreensão. A preocupação com as questões morais está sendo despertada por toda parte. Discute-se a política que desperta o interesse geral; discutem-se os interesses particulares; despertam paixões o ataque ou a defesa de personalidades; os sistemas conquistam partidários e detratores; mas as verdades morais, que são o alimento da alma, o pão da vida, permanecem na poeira acumulada pelos séculos".

Dentre as mais graves imperfeições humanas, destaca-se o egoísmo como praga social; e ele só "se enfraquecerá com a predominância da vida moral sobre a vida material". Logo após a questão 917, em "O Livro dos Espíritos", da Allan Kardec (Edição FEESP, tradução de Herculano Pires), há uma mensagem doEspírito Fénelon, mostrando ser necessário combater o egoísmo, "como se combate uma epidemia. Para isso, deve-se proceder à maneira dos médicos: remontar à causa. Que se pesquisem em toda a estrutura da organização social, desde a família até os povos, as influências patentes ou ocultas que excitam, entretêm e desenvolvem o sentimento do egoísmo".E reconhece que a cura para esse grande mal – o egoísmo – será a educação, "não essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas a que tende a fazer homens de bem".

Falta de consciência e o efeito paralelo

Se todos os seres humanos seguissem à risca as leis divinas – especialmente, a Lei de Justiça, Amor e Caridade -, as leis do Estado, os códigos estabelecidos pelos homens, por via legislativa, seriam desnecessários! Mas os seres humanos ainda não aprenderam viver fraternal e pacificamente em sociedade. Por isso, faz-se imprescindível a Lei Humana, que, ao mesmo tempo em que "dá direitos, impõe deveres", a fim de que haja um mínimo de equilíbrio na vida social, em todos os cantos deste ‘planeta de provas e expiações’. Aliás, isso está bem assente na resposta à questão 877, em "O Livro dos Espíritos". Basta uma breve leitura aos interessados.

Em regra, pelo costume e pela insensibilidade em relação ao nosso semelhante, costumamos defender e usar aquilo de que gostamos, sem a menor preocupação com os outros, suas preferências, sua contrariedade, suas alergias, sua saúde etc. Por exemplo, aos viciados em fumo, bebida e drogas, mesmo cientes de que são males perigosos para si e para os outros, quem não os acompanhe ou concorde com seus costumes, em geral, são uns "quadrados", "metidos" ou "chatos". Como se vê, até pelos males de que são acometidos, falta-lhes aconsciência moral ensinada pelos Espíritos do bem. (Aliás, lembramo-nos agora das últimas estatísticas da OMS – Organização Mundial de Saúde –, informando que, anualmente, morrem de câncer cinco milhões de pessoas no mundo, sendo a maioria delas por motivo do fumo!).

A propósito, o escritor Ruy Castro, no artigo "Notícias do fumacê" (jornal Folha de S.Paulo, 23-4-2008, p. A-2), noticiou que pesquisadores canadenses, em estudo científico publicado na revista "Chemical Research Toxicology", afirmaram que a fumaça da maconha apresenta mais substâncias tóxicas do que o fumo comum, verificando-se que um ‘baseado’ de Cannabis contém "uma quantidade de amônia equivalente a 20 cigarros comerciais". E argumenta que os fumantes passivos de maconha estão sujeitos aos mesmos riscos que os viciados. E, por isso, na Grã-Bretanha, em atenção aos alertas dos agentes sanitários, "o governo classificou a maconha na lista das drogas perigosas", fazendo-a sair do grupo C (de remédios controlados) para o grupo B(das anfetaminas), significando "que, a partir de agora, os britânicos apanhados com a erva estarão sujeitos a prisão e multa, e não apenas à apreensão".

A propósito da realidade dos fumantes passivos, nos dias atuais, existe um grande músico e compositor popular brasileiro que, sem jamais fumar ou usar drogas, e sem notícia da doença na família, se descobriu com um câncer no pulmão, em estado avançado, tudo pelo fato de haver, por mais de 30 anos, vivido em estúdios de gravações e em seus corredores, inalando fumaça de cigarros de músicos, cantores e outros artistas.

A quantas andam as nossas ações?

Temos agrotóxico em excesso nas verduras e frutas (alface, batata, maçã, morango, berinjela, pepino, cenoura, beterraba, banana, mamão, laranja, e outras) para evitar prejuízos ao produtor, mas sem a mesma preocupação com os eventuais danos aos consumidores, que somos todos nós.

No que tange à poluição do ar e das águas, e com as cidades ‘ficando nuas’ de árvores, vemos outros maus exemplos: milhares de empresas lucrativas, mas que emitem volume insuportável de gás carbônico. Muitas delas, inclusive, dando de ombros à saúde da população, têm suas ações e seus títulos comercializados nas bolsas de valores, para bons lucros aos seus adquirentes, que se lembram apenas das variações em cifras, sem jamais perguntarem a quantas pessoas estão ofendendo, direta ou indiretamente!

Não bastassem o abate das baleias, das focas, dos golfinhos, das tartarugas, e o despejar de detritos no mar e nos lagos, verifica-se, por força da fumaça da grande indústria e das queimadas, que o aquecimento global continua, com geleiras se derretendo e os mares crescendo a níveis nunca antes vistos, cobrindo pequenas ilhas, invadindo vilas e cidades, desalojando e mesmo dizimando pessoas. (E há, ainda, quem se oponha ao trabalho sério e de abnegada consciência do movimento "Greenpeace" e de ONGs que lhe seguem os passos, em defesa da vida humana e animal sobre a Terra!).

Agora, em razão das dificuldades dos combustíveis fósseis e de sua carga poluidora, descobriu-se a fonte renovável dos biocombustíveis - que já não precisam apenas de conhecimento tecnológico para a sua produção, mas também de análise lógica, a fim de não haver risco, presente ou futuro, de escassez ou falta de comida para o povo! (Porque de nada vale ter uma geladeira, um fogão e um veículo com a melhor tecnologia, se não houver alimentos abundantes e saudáveis para os seus contentes possuidores!).

Do que trata a Ecologia?

Tudo que se relaciona aos organismos vivos e ao seu "habitat" é objeto de estudos da Ecologia. Aliás, em sua origem grega, essa palavra – ecologia – liga-se ao lugar onde alguém mora, significando o lar ou a casa. Os estudiosos dessa matéria pesquisam o modo de vida dos seres, os meios de que dispõem na natureza, a influência entre a flora e os animais, analisando os elementos físicos e químicos, preocupados com a preservação dos bens materiais, visando ao equilíbrio das espécies. Destarte, considerando que a Terra, como um todo, representa um grande ecossistema, a Ecologia tem a finalidade de concentrar estudos e preocupação nas atividades dos seres humanos, a fim de todos usem corretamente os recursos que a natureza lhes põe à disposição.

Infelizmente, é ainda o ser racional – o ser humano, e não os animais irracionais – que pratica ou aceita atos desastrosos contra o ecossistema do planeta. Temos ouvido falar e também lido a respeito de problemas como desflorestamento, desertificação, extinção de espécies animais e vegetais, deteriorando as águas, destruindo a camada de ozônio e tantas outras tristes realidades, tendo como causadores, por motivo de egoísmo, guerra, revoluções, vaidade ou ignorância social, os próprios seres humanos, que se dizem ‘civilizados’.

Observe-se que os animais não canalizam esgotos para os mananciais de água potável; não fazem campeonatos de caça e pesca, sacrificando criaturas da natureza em busca de troféus; não realizam queimadas sobre vegetais e seres vivos; não experimentam artefatos mortíferos nos mares e no ar, disseminando a poluição; não devastam as selvas, sem controle, em busca de lucros; não lavam calçadas ou quintais com água tratada, cloretada e fluoretada, enquanto muitos não podem sequer tomar banho por falta do líquido e alguns até sofrem sede... Somente os seres humanos, "seres racionais e civilizados", muitos dos quais diplomados, formalmente intelectualizados, fazem tudo isso e muito mais! São "túmulos caídos por fora...".

Trabalho de uma mulher de fibra

Setores do governo federal detectaram que, dos 36 municípios brasileiros que desmatam na área amazônica, conforme notícia do jornal Folha de S.Paulo (23-4-2008), destaca-se o Município de Marcelândia, em Mato Grosso, onde se descobriu, em março de 2008 e numa única área, um desmatamento superior a 25 vezes o tamanho do Parque Ibirapuera, em São Paulo! De acordo com os órgãos governamentais, "de agosto de 2006 a julho de 2007, foram registrados 4974 quilômetros quadrados a menos de floresta no Brasil!".

É de se destacar o trabalho insano da atual Ministra do Meio Ambiente, Senadora Marina Silva, mulher que sempre viveu na Amazônia e que, mesmo combalida pela malária (reincidente, várias vezes), tem mantido uma luta constante contra o desmatamento irregular do nosso "mundo verde", opondo-se ao perigo da desertificação e da esterilização do solo de grandes áreas. Graças ao seu empenho, desde muito jovem e com outras lideranças brasileiras, incluindo o saudoso Chico Mendes, tem-se registrado certa redução do desmatamento e da agressão ao meio ambiente, mas ainda é pouco, porque o assunto requer educação e sensibilidade de ricos e pobres. A criação de gado e o plantio de soja, bem como o corte de madeiras lei, velhas e raras (às vezes, com 100 ou mais anos), e a produção de carvão, tudo é feito com o desmatamento e as queimadas, nem sempre com o replantio e a reposição. Isso deve ser objeto de cuidados técnicos sustentáveis, pois, embora ocorra o trabalho de pequena mão de obra local e reverta em milhões de reais aos empresários do setor, resulta em perigosa atividade, prejudicial à fonte de oxigênio, com o desaparecimento das árvores. Sem oxigênio, as doenças crescem e a vida humana se esvai.

Controle legal do predador

Conceitualmente (até porque as leis naturais não podem ser revogadas pelos seres humanos, que não as criaram, pois que delas tudo se origina), de algum tempo até esta data, as pessoas mais lúcidas e estudiosas começaram a se preocupar com a Natureza, com vistas a seu equilíbrio para a manutenção da vida sobre a face da Terra. Por isso, para controlar seu maior predador – o próprio ser humano -, o Estado vem procurando se organizar juridicamente, com instrumentos adequados, para preservar o meio ambiente e garantir a sobrevivência dos terráqueos. Em nossa Constituição Federal, no artigo 225, encontramos normas de Direito Ambiental. Em "Curso de Direito Administrativo" (Editora Forense, Rio, 1998, 11ª edição, páginas 391 a 406), o Professor Diogo de Figueiredo Moreira Neto faz uma análise objetiva dessa matéria, sob o título de Direito AdministrativoAmbiental. E há inúmeras leis federais a esse respeito, visando à preservação da vida e à preservação dos elementos físicos da natureza, cuidando do ser humano, da fauna e da flora, contra a poluição e a catástrofe ecológica, numa preocupação constante com os recursos naturais, terrestres, hídricos e aéreos.

Desta forma, ao poder público cabe estabelecer normas para preservar a água (salgada e doce), assim como a flora, a fauna, o ar e o clima, e ainda cuidar da fertilização do solo, reconstituir locais de erosão, proibir a derrubada de florestas e proteger espécies em extinção. Podemos citar, além do artigo 225 da Constituição, algumas leis federais: Lei nº 7802, de 11/07/1989 (sobre danos ao meio ambiente); Lei nº 9605, de 12/02/1998 (sobre crimes ambientais); Lei n º 9649, de 27/05/1998 (que trata do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal); Lei nº 8974, de 05/01/1995 (sobre a preservação da diversidade do patrimônio genético e do controle de substâncias com riscos para a vida e o meio ambiente); Lei nº 6383, de 31/08/1981 (sobre política nacional do meio ambiente); e ainda podem ser citadas as leis nº 5197, de 03/01/1967 (Código de Caça); Lei nº 4771, de 15/09/1965 (Código Florestal); Decreto-Lei nº 22, 28/02/1967 (Código de Pesca); Decreto – Lei nº 227, de 28/02/1967 (Código de Mineração), acrescentando-se, ainda, o Decreto-Lei nº 1808, de 07/10/1980 (sobre proteção ao programa nuclear brasileiro). Portanto, no que tange àLei dos Homens ou Lei do Estado, a preocupação com o Meio Ambiente, matéria afeta à ecologia, parece que estamos bem servidos. Mas como se acha o comportamento moral dos seres humanos, que é regido pela Lei de Deus, ou Lei Moral, ou Lei da Natureza, em relação às atitudes com os seus semelhantes e com os irmãos irracionais?

Menos egoísmo e mais fraternidade

"Deus, causa primária de todas as coisas e inteligência suprema", sempre concede aos seres humanos todos os meios de que estes necessitam, fazendo a Terra produzir os bens essenciais aos seus habitantes. A Natureza não é imprevidente, mas os seres humanos, muitos deles diplomados, vaidosos e egoístas, nem sempre equilibram o necessário e o supérfluo. Como se verifica da Lei Natural de Conservação, as carências e as dores dos indivíduos na organização social decorrem de suas próprias mazelas, tais como ambição, ociosidade e falta de previdência. Se não reconhecemos falhas nossas, na vida presente, por certo, trazemos débitos morais do passado. Até porque, como ensina o filósofo Jiddu Krishnamurti, "o ser humano ignorante não é aquele sem instrução; é aquele que não conhece a si mesmo!".

Assim, "cada um recebe segundo seu merecimento", conforme a lei natural. Não se trata de castigo divino, porque Deus não premia nem despreza o ser humano. Cada um de nós é dotado de livre-arbítrio e sabe distinguir, claramente, o certo do errado, o bem do mal. E, na caminhada terrena, de provas e expiações, devemos fazer bom uso do senso moral. Não devemos realizar um discurso em defesa da ética, do bom proceder, apenas para os ouvidos e as palmas dos circunstantes e, em seguida, hipocritamente, praticar tudo aquilo que condenamos! Todos já ouvimos críticas àqueles que "cospem para cima e o cuspe lhes cai no rosto", bem como dos que "não devem sujar em sua nascente a água corrente que nos mata a sede mais abaixo", etc. E por que não agimos como falamos? Dominemos o egoísmo e respeitemos a Natureza, para que a fraternidade nos faça seres humanos éticos.

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(*) BISMAEL B. MORAES, advogado, Mestre em Direito Processual pela USP, autor de 12 livros jurídicos e de literatura, é membro da União dos Delegados de Polícia Espíritas do Estado de S.Paulo – UDESP - e trabalhador do Centro Espírita Ismael, no bairro do Jaçanã, na Zona Norte da Capital.

São Paulo, maio de 2008


texto - http://www.ceismael.com.br/filosofia/

imagem - tribodejacob.blogspot.com

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