terça-feira, 9 de março de 2010

ARQUIVOS DA MEMÓRIA


Dr. Jorge Andrea

Em se considerando o psiquismo, nossos campos de pensamento e memória ainda representam regiões desconhecidas e, como tal, suas estruturas são um grande mistério. Mais enigmáticos ainda são os arquivos da memória.

Pouca coisa se tem acrescentado desde a época pré-cristã, com Hipócrates, que considerava a zona cerebral como a fonte das idéias. O próprio Platão dizia que na cabeça estariam lapidadas as idéias e as fontes de suas respectivas criações. Os diálogos shakesperianos informavam que no cérebro existia a alma e Descartes a colocava como o hóspede misterioso da glândula pineal.

Com o advento das descobertas científicas no século XIX, o cérebro foi elevado à posição que lhe confere a biologia, sendo que os seus respectivos campos, do pensamento e da memória, foram como que interpretados como autênticos circuitos elétricos. O nosso século amplia os conceitos, porém ainda bem longe de definição, levando a idéia de que o pensamento e a memória, como exclusivos produtos da zona cerebral, funcionem como “computadores químicos”.

Psiquismo em esquema

1- Campo espiritual. Dimensões desconhecidas.
2- Campo perispiritual.
3- Zona física onde os comandos perispirituais se transformam em impulsos físicos, a se refletirem da base cerebral (B) para o córtex (C) ou zona de nosso entendimento psicológico.
4- O neurônio como unidade básica do sistema nervoso, com suas conexões sinápticas e esquema neurotransmissor.

Os campos de memória, com o advento da genética, estiveram ligados ao ADN (estrutura dos cromossomos) com seus respectivos genes, em parte confirmados por experiências detalhadas e bem criativas. A totalidade dos processos biológicos estando atados aos mecanismos genéticos dos cromossomos, a memória não poderia ser exceção. Nos campos da memória muito se tem feito em experiências psicológicas a fim de melhor entendermos as suas razões, embora continue a ser campo de muitas especulações. Segundo pesquisadores, existem no cérebro locais específicos onde dois tipos de memória se instalam: a memória factual e a memória hábil.

A memória factual pode mostrar-se, ora de curto, ora de longo prazo. A memória de curto prazo é passageira, fugaz e de rara fixação. A memória de longo prazo representaria o arquivo de nossos conhecimentos com suas respectivas imagens e revestimentos afetivos.

A memória hábil é aquela que reflete o nosso constante aprendizado, onde os múltiplos reflexos condicionados concorrem, não só no adestramento, mas, também, no reforço e afirmação dos conhecidos reflexos incondicionados, isto é, reflexos que acompanham o indivíduo desde o nascimento, pertencendo aos campos do inconsciente (o mesmo que zona espiritual), enquanto que a memória factual aparece com a maturação das células nervosas e sua respectiva rede de fibras que permitem unificação.

As informações dos pesquisadores situam os campos da memória como sendo elaborados na base cerebral e, ao mesmo tempo, transmitidos ao córtex cerebral, conhecido campo das atividades conscientes. Nestes mecanismos neurotransmissores, a seratonina e a adrenalina seriam elementos de importância como mensageiros químicos carregando informações de toda ordem, através da rede neuronial e as suas respectivas zonas de contato – as sinapses (ver figura1).

Nas elaborações musicais, idiomáticas, as equações matemáticas, etc., as pesquisas determinaram a existência de zonas específicas para cada estruturação em particular; isto é, para cada variação de música, cada tipo de idioma ou diversidades matemáticas, haveria adequados departamentos no cérebro. A localização dos arquivos da memória no cérebro, apesar de muitas e compreensíveis dificuldades de avaliações, não deve estar representada por uma única zona, deve, sim, estar distribuída por muitas regiões. É como se as funções cerebrais estivessem imbricadas participando de uma totalidade.

Conceitos científicos modernos falam em favor dessa proposição. Tem-se como verdade que o hemisfério cerebral esquerdo é responsável pelo aprendizado de línguas, zona de fatos lógicos e solução de problemas; poder-se-ia dizer ser o campo das análises. Quanto ao hemisfério cerebral direito, seria região respondendo pelos fatos intuitivos, artísticos, o campo onde os processos de síntese se mostrassem com todo potencial avaliativo. Apesar de tudo, não podemos deixar de compreender que os dois hemisférios cerebrais, com suas disposições funcionais, estão em constante ligação, de modo a permitir o entrelaçamento de todas as suas possibilidades de trabalho.

Percebe-se, diante dessa sintética visão, que a nossa ciência está muito longe de conhecer e definir os campos da memória, as elaborações dos pensamentos e outros tantos enigmas do psiquismo. Os 25 bilhões de neurônios da nossa organização nervosa estão associados por incontáveis comunicações, diretas ou indiretas (sinapses), funcionando, cada um deles, como avançada usina produtora. Dizer que as células nervosas funcionam como autênticos computadores é não dar suficiente atenção ao processo vital. Os neurônios são "máquinas" muito avançadas e ainda desconhecidas. As comunicações entre as células nervosas ou neurônios, pela intensa rede de filamentos, são feitas às expensas das moléculas de neurotransmissores nas zonas de contato – sinapses (ver figura1); essas substâncias químicas estão avaliadas em mais de três centenas, sendo que, ainda não se conhece a fórmula química da maioria. Além do mais, os próprios neuro-transmissores sofrem influências de substâncias especiais conhecidas como neuromoduladores. Ante tal complexidade, ficamos a perguntar se o quimismo biológico, nessas delicadas, precisas e inteligentes reações, possui condições de se organizar por si mesmo, ou se existe um condutor e orientador de tão exuberante proposta?

É neste ainda desconhecido impulso de orientação e comando das transmissões, em pleno terreno nervoso, que deslizam os campos dos pensamentos e da memória. Será que os neurônios ou pelo menos certos grupos serão os responsáveis pelas criações do pensamento e os arquivos de memória? Ou serão essas zonas, ainda não bem definidas, porém cientificamente comprometidas, verdadeiras telas por onde um campo mais expressivo se mostre? Tudo assim faz crer. Seria um campo mais avançado, um campo energético mais bem dotado canalizando para a zona das células físicas os seus superiores impulsos e donde colheriam, também, o material que as experiências do meio ambiente fossem ofertando.

Esse campo magnético, mais avançado que o campo material, vem sendo observado e analisado por alguns pesquisadores, às custas das equações parapsicológicas onde muitos fatos têm encontrado resposta. A doutrina espírita de há muito situou esse campo energético como sendo o perispírito, ou psicossoma no dizer de André Luiz, e que, apesar de bem mais avançado, ainda é campo intermediário por onde o espírito orienta a zona física. Desse modo, logicamente, temos que admitir que nas ligações do perispírito com os neurônios deveremos encontrar as explicações de desenvolvimento dos pensamentos e processos de memória (ver esquema). Bem claro que não será obra dos dias atuais. As fontes de criação e os autênticos arquivos da memória estariam nas zonas mais nobres do psiquismo, isto é, no próprio espírito. Apesar de tudo, tanto a zona física quanto a perispiritual, como telas refletoras das criações do espírito, por si só devem mostrar, aqui e ali, reduzidas produções que lhes serão próprias, de modo a permitir oscilações nos biótipos psicológicos de cada ser.

Ampliando as idéias e conceitos podemos dizer que no espírito estaria a sede real dos processos psíquicos, no perispírito a zona intermediária e, na zona física, as telas de manifestações de nossas percepções. Assim, as zonas, perispiritual e física, teriam as suas respectivas participações nos fenômenos do pensamento e memória, cada uma delas a seu modo, sendo que a zona física estaria em contato com o meio ambiente emitindo e captando experiências, ficando o espírito com os alicerces autênticos de todo o conteúdo do psiquismo.

O ser humano não pode ser representado, tão-somente, por um aglomerado material de 60 trilhões de células, mas, também, por um campo energético (espírito-perispírito) de funções que se vão ampliando em aptidões diante da colheita das experiências que as reencarnações propiciam. As aptidões dos campos de memória, como todas as demais experimentações e fatos vividos, representam aquisições jamais perdidas por todos aqueles que participaram dos eventos. O avanço evolutivo só poderá ser entendido no acréscimo de aptidões, caldeadas em constantes renovações e burilamentos, por sempre novas experiências, algumas até repetidas, que as diversas e variadas personalidades físicas oferecem pelas estradas da vida.


endereço: http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo1431.html
imagem:
populo.weblog.com.pt

4 comentários:

Unknown disse...

Somos extremamente complexos.
Só de pensar que vivemos sem acesso ao inconsciente, com raras excessões, dá para imaginar as dificuldades com que temos que nos enfrentar diariamente, tendo esta "caixa preta" inacessível dentro de nós, e muitas vezes comandando nossas ações.
Já passei da fase de estudar estes assuntos.
Desisti.
Agora é procurar ser melhor e viver conforme os ensinamentos do Cristo.
Mais simples, mais fácil.
Beijos :)

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Jorge. Este assunto é bem complexo. Tenho que ler novamente e com mais calma para deixar algum comentário que valha a pena. Beijos, amigo.

Jorge Nectan disse...

Jeanne,

Como eu gosto demais do Jorge Andrea, seus livros me são uma terapia.
Penso que, mais conhecendo sobre a mente e a memória, masi assumo responsabilidade pelo que sei e sem Jesus no coração, de nada vale o que estudo.

Minha amiga, um beijo,
Jorge

Jorge Nectan disse...

Maria José,
O tema é complexa mesmo, por isso bom de se estudar.
Mas o mais importante é a sua visita. Muito me alegra você me visitando.
Obrigado, meu Anjo!!

Beijo,
Jorge

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