Por: Rev. Haraldur Niesson
Dificilmente se poderá ocultar quão poderoso se tomou, em nossos dias, o movimento do Espiritismo e das Pesquisas Psíquicas em muitos países – não na Dinamarca nem na Escandinava em geral – mas na América, na Inglaterra, na Escócia, na França e na Itália.
Se alguém duvidasse disto, eu lhe recomendaria que fosse à Inglaterra ou à Escócia e, ali, observasse as comunidades espíritas.
Nas duas últimas vezes em que fui à velha Albion, nos verões de 1909 e de 1921, entrei em várias igrejas e assisti a algumas reuniões dominicais ou atos religiosos dos espíritas. Verifiquei que as primeiras longe estavam de ser freqüentadas, ao passo que as segundas eram quase sempre assistidas por uma multidão compacta. Ou então que leiam os livros dos doutrinadores, os de Conan Doyle, por exemplo.
Os homens sentem que o Espiritismo lhes traz algo de novo, que lhes dá qualquer coisa que constitui seu último anseio, porque a grande questão não é, ainda hoje, menos importante: - "Nossa vida acaba no túmulo, ou há uma região além da morte? E se há uma vida depois da morte, como é essa vida? E podemos, na verdade, entrar em relação com aqueles que já provaram o que seja a morte e que, assim, conseguiram saber um pouco mais sobre essa existência?"
Sabemos todos que à Igreja tem sido possível responder, com segurança: sim - à primeira parte destas questões, porém, exige que sua resposta seja aceita pela fé. A última parte, isto é, se podemos entrar em contacto com os mortos, responde: "Não". Provas de sua afirmativa? Não as tem e alguns dos seus servidores, em geral, nutrem certa desconfiança por quaisquer provas sobre o assunto. São de opinião que, na matéria, somente a fé pode ajudar-nos. Não parece terem compreendido que o Cristianismo não começou apenas pela crença na ressurreição, mas sim, pelo conhecimento dos fatos que a comprovam.
Se houvéssemos interrogado o apóstolo Paulo, para sabermos se ele acreditava na ressurreição, ter-nos-ia, certamente, respondido: "Não, crer não é bem o termo a se empregar a tais fatos; tenho sim conhecimento deles. Não creio apenas, mas sei, porque eu próprio vi várias vezes o Ressuscitado e lhe falei".
Paulo e os cristãos primitivos acreditavam em uma incessante comunicação com um mundo invisível, mais evoluído do que o nosso. :E: essa mesma comunicação que os espíritas reataram. Há já mais de 70 anos que eles anunciaram essa descoberta mas, em regra geral, só tem encontrado desprezo e cólera por parte da Igreja, como em toda a parte. Finalmente, conseguiram atrair a atenção de alguns homens de ciência e, desde que esses iniciaram investigações e que muitos dentre eles chegaram à mesma convicção, a causa espírita fez notável progresso. As pesquisas dos sábios acerca dos fenômenos espíritas e as declarações espíritas foram estimuladas pelos estudos psíquicos.
Falando esta noite sobre a Igreja e as Pesquisas Psíquicas, penso nos resultados que têm sido obtidos por investigadores como Sir William Crookes, Sir Oliver Lodge, Sir William Barret, o psiquista italiano Lombroso, o filósofo norte-americano Prof. James H. Hyslop, o fisiologista francês Charles Richet e o médico norte-americano, mundialmente conhecido, Adolph Knopf. Cito apenas estes, como exemplos.
Poderia acrescentar ainda os nomes de uma plêiade de sábios de renome que alcançaram, todos, o mesmo resultado. Mas não é necessário: são assaz conhecidos vossos.
Quando, porém, o vulgo percebeu que os mestres das ciências tinham chegado a resultados idênticos aos dos espíritas e que revelaram a nova ciência em obras facilmente compreensíveis, as fileiras dos espíritas começaram a engrossar. Citarei apenas um livro que, sob este ponto de vista, tem feito prodígios. Trata-se da obra de Sir Oliver Lodge Raymond or Life and death (Raimundo ou A vida e a morte). Tenho bastas vezes considerado o tempo que seria preciso aos eclesiásticos para se aperceberem de que o Espiritismo superior é parente próximo do Cristianismo primitivo [].
Que seja difícil a leigos descobri-lo, explica-se pelo pequeno conhecimento que eles tem do Novo Testamento. A verdade é que estudamos nas Faculdades de Teologia da maior parte das Universidades com os óculos da dogmática. Assim era, pelo menos, no meu tempo, nas Universidades de Copenhague, na Dinamarca; de Halle, na Alemanha e de Cambridge, na Inglaterra. Não temos, porém, o direito de esquecer que, evidentemente, o ensino ortodoxo da Igreja é, em vários pontos, um tanto diferente do ensino ministrado pelo Cristo.
Muitos leigos acreditam que era Jesus em pessoa e somente ele que operava maravilhas e que os milagres se produziam somente por ele e com ele, entretanto, o Novo Testamento nos ensina algo um tanto diferente. Logo da primeira vez que. ele enviou os seus apóstolos, não foi somente para espalharem o Evangelho mas também para fazerem milagres. O Evangelho segundo Mateus refere que Jesus lhes disse: "Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios" (Mateus, X 8). E alegres porque possuíam tal poder, voltaram da primeira viagem. O Evangelho segundo Marcos faz notar ter Jesus prometido que tais sinais seguirão, em todos os tempos, os que tiverem fé. O Evangelho segundo João nos transmite a expressão de Jesus: "Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim, fará também as obras que eu faço e as fará maior do que estas, pois que eu me vou para o Pai" (João, XIV 12).
Também os Atos dos Apóstolos nos falam dos milagres que foram praticados pelos apóstolos e outros escritos não conheço que contenham tantas narrações desses fatos, que muitos chamam, hoje, com desprezo, de fenômenos espíritas. Se a crença nos espíritos se baseia em algum documento, é, por certo, nesse incomparável e inestimável relato, nessa descrição da primeira comunidade cristã.
Os Atos dos Apóstolos tratam, em seguida, de aparições, de revelações, de profecias, de curas pela força espiritual, de materializações (aparições de anjos) e magníficas levitações.
Duas dessas narrativas ferem-nos, particularmente, a atenção:
A narrativa do segundo capítulo sobre as maravilhas do Pentecostes (o ruído que vinha do céu como o de um vento impetuoso, línguas de fogo, os discursos dos apóstolos em diversos idiomas ou fenômeno de xenoglossia) e a bela narração do 12º capítulo: Como se mostrou o anjo a Pedro na prisão, o despertou levemente e o fez sair através de portas fechadas e sólidas muralhas, depois do que desapareceu, deixando Pedro na rua, completamente desperto, ante os muros da prisão.
Nos meus primeiros anos de ensino teológico, quando eu explicava aos alunos do seminário de Reykjavik esta passagem e fazia notar que aí estava, seguramente, a narração de um acontecimento tão real quando tantos outros produzidos no século XIX, um dos discípulos obtemperou: "O apóstolo Pedro não tem grande mérito em ter tamanha fé se lhe foi dado realizar tal prodígio. Eu também teria uma fé imensa se dado me fosse realizar semelhante fato".
Ocorre, então, perguntar: Em que Igreja há hoje ocasião de se fazerem tais experiências ou de se realizar coisa semelhante? Creio ser forçado a responder: Em nenhuma. Entretanto, os espíritas, na América, na Inglaterra e na França, vêm repetindo há mais de meio século: Vinde a nós e vereis e realizareis um pouco de tudo isso. Mostrar-vos-emos nas nossas assembléias o mesmo serviço divino dos primeiros cristãos, do qual nos fala o Novo Testamento".
É possível que alguns sacudam a cabeça em sinal de incredulidade, mas devemos primeiramente representar com clareza o que eram as reuniões dos primeiros cristãos, muito diferentes do culto divino que se celebra hoje nas igrejas. Delas nos deu o, apóstolo Paulo, em suas epístolas, uma clara descrição, principalmente na 1. a Epístola aos Coríntios, a qual, certamente, conheceis [].
Naqueles tempos não havia nenhum pregador preparado que pregasse às assembléias com vestes sacerdotais, mas se escutava atentamente o que tinham a dizer os profetas ou outros homens possuidores de dons espirituais. E os dons celestes dessas pessoas inspiradas podiam ser e eram de várias espécies. A seu respeito assim se exprime Paulo. "A um é dado pelo espírito a palavra da sabedoria; a outro porém a palavra da ciência, segundo o mesmo espírito; a outro a fé, pelo mesmo espírito; a outro o dom de curar enfermidade em um mesmo espírito, a outro a operação de maravilhas; a outro a profecia; a outro o discernimento dos espíritos; a outro a variedade de línguas, e a outro a interpretação das palavras (I. Coríntios, XII 8-9-10)".
E não devemos esquecer que esses homens inspirados, na maior parte das vezes, se achavam em um estado particular. Pessoas que vinham ouvi-los acharam tão estranho tal estado que julgavam estivessem eles loucos ou ébrios. Acontecia em suas reuniões que, uns após outros, sofressem essas influências; por vezes mesmo, uma terrível confusão se produzia por que vários desses inspirados falavam ao mesmo tempo, por isto teve o apóstolo necessidade de fixar regras para conservar a mais completa disciplina. Vede o que ele diz: "Que fareis, pois, meus irmãos? Se, quando vos congregais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem língua estranha, tem revelação, tem interpretação" (I Coríntios, XIV, 26).
Assim ele fixou regras para que, numa mesma comunidade, fosse apenas permitido a dois ou, no máximo, a três falarem diversas línguas, um após o outro, devendo um outro interpretar os discursos. E, para os profetas a mesma ordem: "Que só dois ou três falem e que os outros julguem o que ouvirem".
Mas que é que se devia julgar? A coisa não era assim tão simples. Os primeiros cristãos acreditavam que eram verdadeiros espíritos que falavam por esses indivíduos especiais, sejam eles designados pelo nome de profetas ou por outro nome.
Os gregos tinham um nome comum para todos: Pneumáticos, aqueles que eram dirigidos pelo espírito, ou, talvez, mais exatamente: aqueles que estavam sob a influência de um espírito ou de um anjo.
Paulo exprime-se tão claramente em dois versículos que não se pode deixar de compreendê-la. Diz ele que é possível manter a boa ordem nas reuniões, com facilidade, porque "os espíritos dos profetas estão submetidos aos profetas" (I Coríntios, XIV, 32).
E, em outra passagem do mesmo capítulo, diz: "Assim também vós, pois que aspirais dons espirituais (isto é, desenvolver a mediunidade e entrar em relação com os espíritos) seja isto para edificação da Igreja e que os procureis possuir em abundância" (I Cor., XIX, 12).
No texto grego está – espíritos e não dons espirituais – como menciona a tradução dinamarquesa da Bíblia. Em muitas traduções da Bíblia, esta passagem está vertida em sentido confuso, apesar de não haver a menor dúvida quanto à verdadeira significação dos termos gregos do texto original: epei zelotai este pneumaton.
Os tradutores e os revisores da Bíblia nem sempre têm tido a coragem de traduzir, exatamente, as Escrituras Sagradas, o que não nos causa espanto. Os teólogos prenderam os seus sistemas dogmáticos em pesadas e estreitas cadeias. Por outro lado, leigos ortodoxos, em muitos países, não podem suportar a verdadeira tradução por julgarem que ela destrói os seus dogmas. Tenho alguma experiência sobre o assunto e falo do que conheço.
Segundo a concepção dos tempos apostólicos, os espíritos podiam ser bons ou. maus, isto é, muito evoluídos ou inferiores e atrasados.
Podia acontecer mesmo se manifestarem espíritos com os quais ninguém desejasse entrar em relação. Estes tais impunham-se com insolência, vinham sem ser evocados, exatamente da mesma maneira como acontece nas reuniões espíritas ou nos lugares onde os pesquisadores psíquicos fazem experiências com médiuns e, mais freqüentemente, nos casos em que estes possuem ótimas faculdades medi únicas para manifestações físicas. É por isso que o autor da l.a Epístola de João recomenda aos seus leitores não terem confiança em todos os espíritos: "Caríssimos, não creais em todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus" (I João, IV, 1) e adiante acrescenta: "porque foram muitos os falsos profetas que se levantaram no mundo".
Acreditava-se que havia falsos profetas, isto é, homens influenciados por espíritos impuros e mentirosos, sem que eles mesmos o suspeitassem, certamente por serem médiuns inconscientes.
Também se considerava muito importante haver uma regra determinada para se experimentarem os espíritos. O apóstolo Paulo prescreve tal regra à sua Igreja: "Portanto vos faço saber que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz anátema a Jesus. E ninguém pode dizer Senhor Jesus senão pelo Espírito Santo" (I Coríntios, XII, 3) [].
Meus caros ouvintes, isto vos parece, certamente, espantoso, mas é a pura verdade. Nas assembléias dos primeiros cristãos podia acontecer que uma inteligência, falando por um profeta inspirado - empregado o termo profeta na sua mais larga acepção - lançasse maldição sobre o Cristo. A regra dada por Paulo não tem por si nenhuma eficácia, mas fornece um testemunho da compreensão que então se tinha dessas coisas. Os profetas ou pneumáticos dos tempos apostólicos ou dos primeiros cristãos são a mesma espécie de indivíduos a que, presentemente, chamamos médiuns ou sujets psíquicos. A tal respeito nenhuma dúvida subsiste entre os que têm estudado as duas partes: tanto os fenômenos que o Novo Testamento relata como os fenômenos psíquicos que o Espiritismo agora apresenta. Todos os dons espirituais de que fala Paulo, ora atribuídos aos médiuns atuais, eram bem conhecidos.
A mediunidade tem numerosas modalidades, exatamente como os dons espirituais do tempo de Paulo. E quem eram, afinal, esses indivíduos inspirados, segundo a concepção apostólica? É isso justamente o que hoje significa a palavra médium.
Alguns dos meus honrados ouvintes pensarão, talvez, que a mediunidade deve ser olhada como coisa insignificante ou desprezível Penso de maneira diametralmente oposta. Estão possivelmente próximos da verdade os que julgam ser ela, de algum modo, a demonstração do desenvolvimento espiritual e que toda a humanidade, no futuro, possuirá esses dons, já previstos por muitos profetas do Antigo Testamento.
Creio ter sido Sir Arthur Conan Doyle quem denominou a mediunidade uma faculdade sagrada e neste ponto, parece-me estar ele de acordo com o apóstolo Paulo que chamava essas misteriosas forças: dons espirituais (charismata).
Considerava ele, portanto, como uma graça particular de . Deus o ser alguém provido desses dons. Seguramente era por essa razão que os apóstolos possuíam essas faculdades pelas quais podiam entrar em relação com o Mestre bem amado, depois de ter ele sofrido a humilhante e dolorosa morte na cruz.
Talvez alguns dentre vós não tenhais jamais assistido a uma sessão experimental com um médium em transe. Pensareis, bem provavelmente, que será uma coisa maravilhosa ir a uma sessão espírita e ouvir falar um médium de incorporação. Imaginai, agora, como ficaríeis espantados se. estivésseis na sala incontestavelmente simples em que se realizavam as reuniões da Igreja de Corinto e escutásseis os pneumáticos discorrerem em êxtase (isto é, em transe), se os ouvísseis descreverem as visões e as revelações que obtinham. Mas o que mais vos espantaria seria ver o apóstolo Paulo e ouvi-lo falar em diferentes línguas, pois que nisso o Novo Testamento proclama ser ele um mestre. Segundo a Escritura Sagrada, ele possuía, no mais alto grau, todos os dons espirituais, porém se vós estais tomados de espanto, deveis também ficar estupefatos porque tanto um como o outro desses fenômenos se produziam no estado de transe.
O 13º capítulo da 1ª epístola aos Coríntios, o cântico sobre o amor, nos faz perceber com que ardor e com que inspiração ele falava quando se achava debaixo da influência de um mundo superior. O próprio Paulo nos diz que estava freqüentemente em transe. O apóstolo Pedra conta-nos a mesma coisa. Na tradução dinamarquesa da Bíblia inglesa, encontra-la-eis muitas vezes. Da própria Bíblia foi que o termo transe (êxtase) passou para a linguagem comum.
Compreendeis agora porque devem ser identificados os espíritos e também experimentados. Isto se fazia, provavelmente, pela clarividência (tal qual hoje) que Paulo considerava como o melhor auxílio nessas relações. Comparai, agora, tudo isso com o que se passa, atualmente, nas sessões espíritas. Do que aprendi posso assim ensinar: Quando a faculdade mediúnica está bastante desenvolvida para permitir uma comunicação verdadeira, as inteligências, que se manifestam pelo médium e que exercem sobre ele sua ação, pedem que se entoem cânticos ou que se façam preces, e isso a fim de que o ambiente fique tão harmonioso quão possível e que todos os assistentes sintam a maior simpatia uns pelos outros. Essas relações harmoniosas e fraternas ajudam os bons espíritos nos seus esforços para estabelecer uma comunicação perfeita e afastar os espíritos inferiores que procuram, com afã, captar forças em seu proveito, para fazerem o mal.
Penso, por esta razão, que devemos ser muito prudentes, especialmente no começo, quando nos queiramos ocupar de experiências psíquicas ou de sessões espíritas.
Estou convencido de que o médium pode sofrer com isso se não tiverem a previdência e a vigilância necessárias. A organização das sessões. é uma coisa muito séria e a tais sessões deveríamos ir sempre com o mesmo sentimento piedoso que, em geral, nos inunda quando entramos na Igreja.
Ninguém deveria ocupar-se dessas experiências sem conhecimento do assunto. Em particular, todas as naturezas, que não fossem harmoniosas, deveriam manter-se afastadas. Não é demais relembrar que a possessão é uma realidade e que o médium e talvez mesmo um dos assistentes podem cair sob a influência de espíritos atrasados, se houver facilidade para isto.
Sei, é verdade, que muitos teólogos modernos, não somente das universidades alemãs, negam grande parte dos milagres do Novo Testamento ou continuam a explicá-los como dantes, notadamente a cura do possesso pelo Cristo. Eles crêem que o Cristo se enganou e agiu, neste caso, como um homem do seu tempo. Estou convencido de que as pesquisas psíquicas darão razão ao Cristo e aniquilarão o racionalismo superficial que, no fundo, é apenas fruto da psicologia. materialista da nossa época.
O Espiritismo tem sustentado, desde o seu advento, a exatidão da concepção do Novo Testamento sobre este caso.
Dois dos mais eminentes psiquistas americanos, o Dr. James H. Hyslop e o Dr. Walter F. Prince, escreveram importante trabalho para demonstrar a realidade da possessão em nossos dias.
Penso, agora, mais do que nunca, no grosso volume sobre a Srta. Doris Fisher (The Doris Fisher Case), mas os teólogos racionalistas parecem nem sequer suspeitar da existência de tais obras. Continuam a ver nos relatos do Novo Testamento, sobre os milagres, apenas um resto de superstições. E continuam a ensinar-nos que podemos considerar o Cristo como o grande Mestre e Salvador de toda a Humanidade, mesmo que ele se tenha enganado sobre tão graves questões, mesmo que ele haja pensado que expulsara espíritos quando não fazia mais do que fustigar, pela sugestão do inconsciente, a vontade flácida e os nervos esgotados de pessoas fracas. Pensai bem como todo este raciocínio é absurdo, como podemos nós dizer do Cristo tais coisas e assim mesmo nos ser ainda possível crer nele!
Não! A verdade é que muitas coisas, na concepção da teologia moderna a respeito do sobrenatural, ou mais exatamente, sobre o supranormal, enterraram a crença no Cristo que o Novo Testamento sempre nos mostrou. Por isso penso também que a Igreja Cristã devia ser grata aos pesquisadores psíquicos por tudo quanto eles têm feito em favor da reabilitação da Bíblia. Muitos deles têm declarado que, apesar de terem sido outrora completamente agnósticos, não encontraram mais obstáculos à aceitação de todos os fatos do Novo Testamento.
Conquanto, após 17 anos de pesquisas neste terreno, eu não tenha a menor dúvida de que os primeiros cristãos acreditavam ter relações com o mundo invisível, sou, entretanto, de opinião que as suas representações da vida espiritual foram muito imprecisas, o que é, aliás, muito natural. Nosso conhecimento das leis do Universo é consideravelmente mais vasto que o seu. Que progresso enorme fez a humanidade no transcurso das últimas gerações! Entretanto somos ainda bastante ignorantes neste assunto. Sim, esta espécie de pesquisas apresenta-se, bem difícil, e, mais especialmente ainda; quanto às relativas aos fenômenos ditos psico-físicos.
Surpreende-nos ver até onde foram homens de ciência como Sir William Crookes e o Dr. W. F. Crawford na Inglaterra, o Barão Schrenck-Notzing na Alemanha, Madame Bisson e o Dr. Gustave Geley na França; e, entretanto, eles confessam saber muito pouco acerca das leis que, regem os ditos fenômenos. Quanto à realidade dos fenômenos não tiveram a menor dúvida.
No banquete solene que encerrou o Congresso Psíquico de Copenhague, o Dr. Schrenck-Notzing já exprimia a opinião de que, dentro de poucos anos, o combate a esses fenômenos equivaleria a uma prova de ignorância. Vê-se muito bem que os fenômenos mencionados no Novo Testamento são os mesmos verificados hoje, efetivamente, pelos investigadores científico~; eis o que deveria despertar o interesse dos homens da Igreja.
Se todos esses fenômenos de nossa época fossem explicados pela teoria animista (isto é, pelas forças ocultas na alma dos vivos), esta mesma teoria se aplicaria aos fenômenos bíblicos e não haveria razão para crermos que fossem produzidos pela ação de um mundo mais elevado. Que conseqüências teria tal resultado das pesquisas psíquicas para a Igreja! Entretanto, se evidenciar que alguns desses fenômenos só podem ser explicados pela hipótese espírita, o Espiritismo e as Pesquisas Psíquicas reabilitarão a Bíblia, de modo definitivo.
Quando obtemos provas da existência de um mundo espiritual e da possibilidade de entrarmos em comunicação com os mortos, não há a menor razão para duvidarmos de que certos indivíduos tenham podido estar em relação com o mundo dos espíritos, tanto na época do Antigo Testamento como nos dias dos apóstolos. E não se diga que são apenas os "espíritas, pobres de espírito" que crêem na possibilidade da "comunicação" entre nós e os nossos queridos mortos, pois muitos e notáveis homens de ciências são da mesma opinião. Tomemos por exemplo Sir Oliver Lodge. Conheceis o seu ponto de vista pelo seu livro Raymond, que acaba de ser traduzido em dinamarquês. É incontestavelmente um dos sábios mais conhecidos da Terra.
Ou então, pensai no célebre naturalista Alfred Russel Wallace ou em Sir William Barrett que foi, por mais de 30 anos, professor de Física Experimental na Universidade de Dublin.
Em carta dirigida ao Congresso de Pesquisas Psíquicas, ele declarou estar, depois de mais de 50 anos de pesquisas ocultas, absolutamente convencido de que, pelos fenômenos, entramos em comunicação com um mundo invisível, com aqueles que já nos precederam nas regiões do Além.
O muito crítico, mas distintíssimo psiquista americano, Dr. James H. Hyslop, falecido em 1920, assim se exprimiu em uma das suas últimas obras: "Considero cientificamente provada a existência dos espíritos desencarnados e não faço a tal respeito nenhuma concessão aos cépticos. Como se eles pudessem ter o direito de discutir tais questões! Quem não aceita a existência dos espíritos desencarnados e a prova de sua existência ou é um ignorante ou um covarde moral".
É estranhável que a maior parte dos homens da Igreja, nos países escandinavos, não volva suas vistas para as notáveis coisas que se produzem diante deles! Na Inglaterra sucede o contrário: entre os pioneiros do movimento espírita se encontram não poucos religiosos. Mostraram-me em Londres uma lista de nomes de mais de 50 eclesiásticos que se interessam pelas pesquisas psíquicas ou são espíritas convictos. Permiti-me citar somente alguns nomes. O pastor Arthur Chambers, hoje falecido, escreveu, sobre as relações do Espiritismo com a Igreja e o Cristianismo, numerosos livros, dos quais só um teve 120 edições.
Thomas Colley, pastor em Stockton, trabalhou por mais de 30 anos na difusão do Espiritismo, tendo obtido os mais notáveis fenômenos com um outro pastor que lhe servia de médium. O pastor Charles L. Tweedale escreveu uma das melhores obras que existem sobre as ciências psíquicas e não há, absolutamente, espírita mais convicto do que ele. Até mesmo do alto do seu púlpito, ele se exprimiu a tal respeito e o resultado é ser a sua Igreja mais freqüentada agora do que dantes.
Mais bem conhecido ainda é o pastor inglês George Vale Owen, de Qxford. E isto por ter tido Lord Northcliffe a iniciativa de publicar as comunicações de escrita automática desse pastor num dos jornais mais vulgarizados, o Weekly Dispatch.
Conheço pessoalmente o pastor Vale Owen e considero uma felicidade poder contá-lo no número dos meus amigos. Fiz-lhe uma visita no verão de 1919 e, no corrente ano [], fui novamente ao seu presbitério.
É um homem maravilhoso, um verdadeiro servo de Deus. Contou-me ele que lhe foram precisos dez anos para se convencer da realidade dos fenômenos espíritas, e, depois, mais quinze para ficar certo de que se podia receber mensagens do Além. Após esses vinte e cinco anos, começou ele próprio a escrever automaticamente.
Depois de sua prece noturna, ainda com suas vestes sacerdotais, ele ia para a sacristia e ali começava a escrever as mensagens que recebia e que, mais tarde, foram publicadas no referido jornal, mensagens essas que muitos consideram a mais perfeita descrição do Além recebida até hoje.
As mensagens apareceram sob a forma de uma obra dividida em quatro tomos [].
Logo que os primeiros números do Weekly Dispatch saíram à venda com a publicação dessas mensagens mediúnicas, um dos seus vizinhos colegas, trovejou do alto do seu púlpito, criticando-as em termos violentos.
Passados seis meses, o mesmo pastor foi a Oxford falar com Vale Owen, pediu perdão ao seu colega e confessou que a leitura das mensagens mediúnicas, que ele havia condenado sem ler, lhe tinha causado grande alegria e muito conforto. E pediu-lhe, depois, que fosse à sua casa, no outono, e pregasse em sua Igreja.
Um dos pregadores que melhor tem defendido o Espiritismo na Inglaterra é o Doutor em Teologia, Percy Dearmer, que, durante a guerra, muito trabalhou em prol da união cristã dos moços. .
Há alguns anos, o Dr. Dearmer escreveu um excelente e profundo artigo no jornal religioso The Guardian, onde dizia, entre outras coisas, o seguinte: "Uma porção de homens e senhoras, em todo o país, ficaram, neste ano, convencidos de que falaram com caros entes desaparecidos, como se estes ainda existissem. Esses não mais receiam a morte, antes a encaram com uma serena expectativa. Não se preocupam, em demasia, com as coisas terrestres e não mais os atormentam dúvidas sobre o invisível. Deus se lhes tornou tangível a Grande Realidade e eles ficaram cristãos mais verdadeiros do que tinham sido até então".
Devo lembrar-vos ainda que um dos maiores luminares da Igreja Anglicana contemporânea, o primeiro deão Basil Wilberforce, falecido em 1916, que não era só pastor da célebre abadia de Westminster mas também capelão da Câmara dos Comuns, e, mais especialmente, orador afamado da Universidade de Oxford, estava convencido de que podemos entrar em comunicação com os nossos mortos e exprimia ao menos indiretamente, nos seus sermões, esta convicção.
Durante minha estada em Londres, neste verão de 1921, fiz uma visita ao conhecidíssimo pastor F. Fieldling Ould. Há muito tempo que ele se entregava às pesquisas psíquicas e está convencido de que é exata a explicação espírita dos fenômenos. Várias obras escreveu sobre a questão, entre outras, essa que tem o título característico: Is Spiritualism of the Devil? (O Espiritismo é obra do Diabo?) De nenhuma forma dissimula ele a sua convicção, ao contrário, afirma que seria uma falta calar-se alguém quando chega ao conhecimento de questões tão importantes. Porque, na sua opinião, o Espiritismo já fez infinito bem e assumiu para muitas pessoas grande importância. Para elas, diz, é uma nova revelação, dá-lhes uma convicção sólida e lhes abre as portas de um mundo até então desconhecido e de uma beleza nunca imaginada".
Em pequena brochura que editou na primavera, escreveu ele em certo trecho: "O leigo terá uma representação mais bela e mais espiritual de Deus e do Cristo lendo After Death (Depois da Morte) de "Júlia" do que esmiuçando os cinqüenta volumes de Tomaz de Aquino".
Não é digna de vossa atenção a circunstância que me foi referida, na capital inglesa, de ser amigo íntimo do Bispo de Londres, o pastor que tão corajosamente trata de tais assuntos? Por que ousa assim formular tão abertamente o seu pensamento? Simplesmente porque estuda estas questões há muitos anos e conseguiu reunir a ciência à sua fé. É a nova ciência, esta que vos dá a coragem de avançar até onde nós estamos, convictos de que é a verdade e que tudo isto é de uma importância enorme para a Igreja e para a Humanidade inteira.
O mesmo pastor, escrevendo em um dos jornais ingleses um artigo sobre Joana d'Arc, lembrou que a mesma Igreja, que havia mandado queimar a virgem de Orleans, fez dela, quinhentos anos depois, uma santa. E ao mesmo tempo explicou que tão certamente Joana d'Arc mantinha comunicação com um mundo mais elevado quanto é certo que, em nossos dias, conversamos com os mortos. E terminou o artigo com estas palavras que nos parecem proféticas: "Que não levará a Igreja menos de 500 anos para meter isto na cabeça, na sua bela cabeça, mas um pouco dura".
Não vos escondo que sou da mesma opinião que esses religiosos ingleses. Por isto .é que constituiu para mim uma viva alegria encontrar-me com um deles no Congresso de Copenhague: o pastor Drayton Thomas, cuja exposição foi uma das mais convincentes das que ouvimos. Ele obteve um dos mais maravilhosos book-tests e newpaper-tests de seu próprio pai, que fora também pastor, pela célebre médium Sra. Leonard.
Assim, deveis compreender bem que possamos falar de um desenvolvimento da antiga revelação, no antigo caminho em que os profetas e os apóstolos dos velhos tempos cristãos recebiam os seus ensinamentos.
Devemos reconhecer que muitas coisas novas, em nossos dias, tem aparecido por via do Espiritismo superior e .que estas . coisas nos têm ajudado a compreender o Cristianismo melhor do que nos tem sido possível, até agora, e a esclarecer questões que até então tinham permanecido incompreensíveis.
Como nos ensinaram o Espiritismo e as Pesquisas Psíquicas a compreender a força do pensamento!
As leis da telepatia têm inúmeras conseqüências para a vida religiosa. Os pensamentos não são, seguramente, dispensados de fiscalização.
Vosso caráter é essencialmente formado, constituído pelos vossos pensamentos. Por vossos pensamentos exerceis uma influência contínua sobre outros homens, sem que o suspeiteis. Pelo poder do vosso pensamento estendeis vossa influência até o mundo invisível. Pelo telégrafo sem fio do pensamento, podeis enviar vosso coração pelo Universo em fora e podeis estar certos de que ele será captado em uma das incontáveis estações ou na grande estação central.
O Espiritismo e as Pesquisas Psíquicas nos ajudam a compreender que o Cristo falava de uma realidade tangível quando insistia na importância da prece.
Mercê dos novos conhecimentos da telepatia, compreendemos, agora, que a inspiração é um fato, uma lei do Universo, tão real no nosso tempo quanto na época dos apóstolos, e, nós, por isso não temos nenhuma dificuldade em crer que a Bíblia tem muito de inspirada, mas a conseqüência que daí decorre é que, em virtude da mesma lei, devemos pensar que, em nossos dias, podem aparecer muitos livros inspirados. Temos, assim, obtido uma idéia muito mais completa da inspiração. A inspiração não nos dá, entretanto, garantia alguma de que a Bíblia não tenha falhas. O que é inspirado é sempre mais ou menos colorido pela própria consciência do profeta ou da pessoa inspirada. Daí se conclui claramente, que se deve ter, na revelação, como em qualquer outro assunto, um desenvolvimento.
Sir Arthur Conan Doyle proferiu a palavra salvadora e encontrou a fórmula conveniente aos pensamentos expressos de muita gente quando deu a um dos seus livros o título: "A Nova Revelação".
Esta nova concepção veio precisar a nossa idéia da ressurreição e da vida após a morte.
Quão perturbador era o pensamento da ressurreição do corpo no dia do juízo final e quão ininteligente o pensamento de que, com a morte, seria determinado o nosso destino eterno!
A quantas pessoas tem afugentado da Igreja este terrível ensinamento dos eternos suplícios do inferno! E quão desoladora esta idéia do repouso na tumba ou da vida irreal até o dia do julgamento.
Não devia a Igreja ser reconhecida aos espíritas e aos pesquisadores psíquicos por todo o conhecimento novo que eles puseram em foco nesse domínio? Efetivamente, as novas idéias começaram já a infiltrar-se em todas as igrejas, mesmo entre esses pregadores religiosos que ainda atacam o Espiritismo a cutiladas e que são contrários a todas as investigações psíquicas. Reconhecesse a Igreja ter chegado verdadeiramente a sua hora e seria tão reconhecida quão jubilosa.
O Dr. Hyslop disse, certo dia, que, em nossa época, "uma ocasião áurea" (golden opportunity) se havia verdadeiramente apresentado e com ela um meio de pormos em fuga o falso materialismo e obtermos os mesmos fenômenos sobre os quais se edificou o Cristianismo original, de termos, enfim, provas da existência do mundo invisível e da continuação da vida após a morte do corpo.
Lembremo-nos de que este meio - provar a continuação da vida - parece, indubitavelmente, ter sido o que Cristo adotou. Se alguma coisa é b.em certa, é esta: Ele fez um grande esforço para convencer seus discípulos de que ele vivia, apesar de seu corpo ter sido crucificado. Apareceu-lhes sempre repetidamente e o próprio Tomé teve, por fim, de abandonar a sua dúvida. O Cristo não quereria enviá-los, mundo a fora, com uma fé vacilante e uma incerta esperança. Não, ele lhes forneceu provas irrefutáveis que podiam palpar e sentir. Se lhe parecia tão importante entreter-se assim com eles, dar-lhes uma convicção inquebrantável como a rocha, não seria também permitido aos nossos mortos falar conosco, quando quisessem?
Duvidam muitos de que seja, em geral, lícito fazer sessões para entrar em relação com um mundo mais elevado. Citam, normalmente, o 1° livro de Samuel, cap. 28, onde se diz que o Rei Saul foi consultar a pitonisa de Endor e julgam que isso não é um exemplo a imitar-se. Penso que seria melhor recordar uma outra cena que é, sem dúvida, de maior valia e que é comentada em três dos evangelhos do Novo Testamento: aquela a que comumente se chama Transfiguração do Tabor. O Cristo escolheu, ele próprio, três discípulos mais psiquicamente dotados e levou-os consigo para o alto da montanha. Quando caíram todos os três em transe, ou em um sono igual ao transe, como sabeis, apareceram dois mortos: Moisés e Elias, e o Cristo conversou com eles. O Evangelho segundo Lucas nos informa que o assunto da conversa foi a morte do Cristo, então discutida em Jerusalém.
Acreditais verdadeiramente que Jesus estivesse, então, cometendo um pecado? Deveríamos todos ter bastante raciocínio para compreendermos que ele foi o Grande Precursor, neste domínio.
Durante a sua existência terrestre, ele falou com Elias e Moisés. Depois de sua morte manifestou-se a seus discípulos por uma forma em grau ainda não atingido. Tudo isto não pode ficar por mais tempo oculto, por tanto tempo quanto tivemos o Novo Testamento.
Os padres e os bispos da Igreja Cristã não deveriam deixar de lembrar-se disto, quando, em nossos dias, discutem sobre as pesquisas psíquicas.
Grandes transformações e enormes subversões ocorrem em nossa época, até mesmo .no terreno religioso e, inevitavelmente, a Igreja terá de lutar contra grandes dificuldades. Um pouco do antigo deve ruir, de modo que logo o novo apareça.
Muita gente tem grande dificuldade em compreender as mutações que marcham inevitavelmente com o progresso, com o desenvolvimento espiritual. E, entretanto, a transformação consiste, principalmente, no rejuvenescimento do que é velho.
O obsoleto é renovado. A confusão espiritual que ora vemos generalizar-se não é uma revolução, é, antes, uma reforma ou uma evolução. Mas que muitos a consideram uma revolução, isto não se deve estranhar: Não realizamos nós o progresso da descoberta de um mundo invisível e da possibilidade da comunicação com os mortos que vivem em esferas mais elevadas da existência? Uma tal descoberta necessariamente acarreta uma grande transformação. Cada descoberta provoca sempre alguns desconsertos. Algo de arcaico deve desabar, porque se patenteia anacrônico. Isto intimida a todos os que têm medo da novidade, mas, se se consideram as coisas de mais perto, vê-se que, no fundo, a mudança é o aperfeiçoamento do antigo, mas, de nenhum modo, o seu aniquilamento. Por toda parte encontramos lei do crescimento e do desenvolvimento. O novo é o melhoramento do velho.
No lar paterno, na Islândia, quando eu era ainda criança, via sempre, pelas sombrias noites de inverno, minha mãe e minhas irmãs andarem pela casa com a luz. E ao fraco clarão da candeia de azeite de peixe é que eu tinha de fazer os meus primeiros deveres escolares. Quando tinha mais idade, meu pai comprou uma lâmpada de querosene. Lembro-me ainda do dia em que foi aceso: eu não podia mais tirar os olhos do novo lampião, tanto ele me deslumbrava. Quando era estudante na Dinamarca, conheci a iluminação a gás e, mais tarde, a luz elétrica. Julgo, hoje, a eletricidade assaz preferível a todas as luzes e espero que ela fará com que desapareçam as outras. Entretanto, se essa transformação se operar não será um aniquilamento da luz que brilhava na candeia, mas um melhoramento, um magnífico aperfeiçoamento: a luz não pode estar fora de um aparelho. Não condenamos, porém, a luz, mesmo relegando a candeia, o lampião de azeite de peixe, o lampião de querosene e os bicos de gás, e empregando, em seu lugar, as lâmpadas elétricas.
O mesmo acontece com as nossas concepções religiosas, com as nossas formas de crenças. Elas devem modificar-se na mesma medida em que crescem a fé e a razão e se desenvolvem e se tornam mais perfeitas. Estou, pois, inteiramente de acordo com Sir Arthur Conan Doyle quando declarou: "Possuímos a força construtiva das provas, mas não pedimos uma rutura violenta da fé antiga. Oferecemos uma ciência aceitável e não uma diminuição do valor espiritual que o indivíduo possui".
Reconheço que vivemos numa época de transição e uma tal época tem sempre as suas dificuldades. Por outro lado, nenhuma geração viveu, como nós, acontecimentos tão consideráveis como os que nos tem sucedido. Não me refiro à Grande Guerra, mas penso nos magníficos fatos das pesquisas psíquicas: Alguns de nós temos obtido provas irrefutáveis de que estamos em comunicação com os nossos caros desaparecidos e de que estes já têm tentado dar-nos explicações sobre essa vida na qual ingressaremos em breve. Assim, todo o medo da morte está dissipado, receio este que provém especialmente das representações imprecisas, e inexatas que temos imaginado da sobrevivência.
Estou convencido de que as pesquisas psíquicas darão a toda a humanidade provas da continuação da vida de além túmulo. Estou, também convencido de que isto exercerá poderosa influência sobre a vida religiosa dos homens.
Que enorme consolo o Espiritismo e as Pesquisas Psíquicas têm trazido aos que estão de luto!
Ninguém pode predizer a que profundeza se efetuará a difusão da nova ciência da vida humana.
Certo e incontestável é que a Igreja ficará em perigo se os sacerdotes permanecerem, por muito tempo, em face destas questões, na sua ignorância e no seu desprezo habituais.
E o perigo reside justamente nisso: Que o muito grande conservantismo da Igreja e sua hostilidade contra tudo que é novo ajudem o Espiritismo a transformar-se numa seita religiosa, o que justamente não deverá acontecer. É esse o falso caminho, penso eu, que ele tomou na Dinamarca.
Bem entendido, o Espiritismo não é uma religião e sim uma ciência, mas essa ciência é de uma importância extraordinariamente grande para a religião []. Possam os religiosos da Escandinava reconhecer o que há de novo e de precioso neste movimento!
Estou certo de que não se formarão mais associações espíritas particulares desde que os eclesiásticos façam ver, em seus sermões, o que há de bom e de verdade no Espiritismo. As igrejas de cada país encher-se-iam.
Mas, se temos. obtido provas absolutamente indiscutíveis de que a morte não põe termo à vida, que há de mais importante para nós do que a própria Verdade? Se uma revelação mais nova, mais completa, da verdade, se verifica em nossos dias, se a clara luz de uma ciência nova cai sobre nós do "céu aberto" de Deus, devemos ainda ater-nos a frases dogmáticas e a conhecimentos teológicos ou decisões, aliás, só aceitas em concílios, após longas e tempestuosas discussões? Não, a ciência atual deve induzir-nos ao sagrado dever de testemunhar, de maneira razoável, o que para nós se tornou a grande Verdade ainda que outros contradigam, sem terem tido ocasião de ver nem de ouvir o que nós vimos e ouvimos. Já suportamos facilmente um pouco de zombaria e de ridículo.
Era o amor à verdade que Jesus exigia dos seus discípulos. Ele mesmo pôs em destaque, num dos instantes mais importantes da sua vida terrestre, que a sua dignidade soberana consistia em testemunhar a favor da verdade. Não temos missão mais bela do que tentarmos, neste terreno, seguir as pegadas do Mestre.
Podemos ter confiança: o teólogo alemão falou a verdade quando declarou que a verdadeira piedade é buscar Deus e querer achá-lo como ele é, e não como os dogmas da Igreja exigem que Ele seja.
Cada nova descoberta e cada novo conhecimento são revelações d'Ele. Quanto mais aprendemos a melhor conhecer as leis do Universo, tanto do mundo visível como do invisível, mais sabemos a respeito de Deus, porque toda a criação dá testemunho d'Ele. Deus não segue a um ou a outro partido. Ele está sempre do lado da Verdade. Eis porque o servem todos os pesquisadores, todos os que, sem respeito humano, estão prontos a honrar unicamente a Verdade.
A Igreja deve, antes de tudo, aprender a buscar a Verdade sob pena de ver arrebatar-se-lhe o facho. Eis porque é preciso recordar-lhe, como convém em nossos dias, as profundas palavras de Paulo: "Não abafeis o espírito, não desdenheis os profetas, examinai tudo e aceitai o melhor".
DOS FENÔMENOS MEDIÚNICOS (PARENTESCO FLAGRANTE)
Os fenômenos algo insólitos da história do Cristianismo primitivo subsistiram no Espiritismo moderno. Casos de aparições (Luc. 1: 11); transfiguração; materialização de espírito (Mat. 17: 2, 3); xenoglossia (At. 2: 4), enfim, toda sorte de casos ditos psíquicos que no século passado voltaram a abalar o orbe religioso, arregimentando às fileiras espíritas vários sábios, muito dos quais, então, materialistas ferrenhos. Alguns deles, pelo menos publicamente, mantiveram bastante reserva ao tratar desses casos, enquanto outros renunciando a anteriores concepções filosóficas ou científicas - em defesa da causa que lhes parecera tão oportuna e valiosa dirigiram-se à sociedade, buscando ratificar a realidade daquilo que outrora julgaram ilusório. Dentre esses ilustres representantes da área científica devemos incluir alguns luminares da esfera eclesiástica que, livres pensadores como foram, não temeram os empecilhos ao tratar, também de público, das conclusões a que chegaram.
A Bíblia, grande livro dentro do seu gênero, nada possui do ponto de vista científico que sirva de base ao levantamento experimental da sobrevivência do espírito. Semelhante deficiência findou por levar algumas autoridades religiosas, meio intrigadas com os incontáveis enigmas e mistérios que a Fé comporta, a atribuírem algum valor à recente fase do espiritualismo que surgia no século dezenove. Entre muitos, podemos citar o "Pastor Arthur Chambers, que escreveu sobre as relações do Espiritismo com a Igreja e o Cristianismo, vários livros dos quais só um teve 120 edições; Thomas Colley, Pastor de Stockton, que trabalhou por mais de trinta anos na difusão do Espiritismo, tendo obtido os mais notáveis fenômenos com outro Pastor que lhe servia de médium; o Pastor Charles L. Tweedale que escreveu uma das melhores obras que existem sobre as ciências psíquicas e não existe, absolutamente, espírita mais convicto do que ele. Até mesmo do alto do seu púlpito ele se exprimiu a tal respeito, e o resultado foi a sua igreja ser mais freqüentada do que antes. Mais bem conhecido ainda é o Pastor inglês George Vale Owen, de Oxford, que após 25 anos de Espiritismo passou, ele próprio, a escrever medi unicamente. Depois de sua prece noturna, ainda com vestes sacerdotais, ia à sacristia e dali começava a escrever as mensagens que recebia do além, e que, mais tarde, foram publicadas. Mensagens que muitas pessoas consideram como sendo a mais perfeita descrição do além recebidas até hoje. Um dos maiores luminares da Igreja Anglicana, o primeiro deão Basil Wilberforce, que era não só Pastor da célebre abadia de Westminister, mas também capelão da Câmara dos Comuns e, especialmente, orador afamado da Universidade de Oxford, estava convicto de que podemos entrar em comunhão com os nossos mortos e exprimia ao menos indiretamente esta convicção. O Pastor Fielding Ould, em uma pequena brochura que editou, escreveu em certo trecho: 'O leigo terá uma representação mais bela e mais espiritual de Deus e de Cristo, lendo Afier Dead (Depois da Mor te), de "Júlia", que esmiuçando os cinqüenta volumes de Tomás de Aquino'. O Pastor Drayton Thomas obteve um dos mais maravilhosos Book-teste do seu pai, que também fora Pastor, pela célebre médium Sra. Lonard."1
1 O Espiritismo e a Igreja, de Rev. Haraldur Nielsson, então, professor de teologia em um seminário para Pastores na Universidade de Islândia. p. 45-65. 2a edição.
Fonte: Verdades e Mentiras sobre o homem chamado Jesus, Aderbal Pacheco, São Paulo: DPL, 2003, pp. 24-25)
endereço: http://www.apologiaespirita.org/
imagem: lipappi.com.br
6 comentários:
Oi queerido amigo, que bom ver vc em meu cantinho, sabe eu estava pensnado em vir aki, eu gostaria de dar uma sugestão, eu sempre venho te ler, mas seus post são grandes, e não consigo terminar por falta de tempo, depois eu volto e não lembro onde parei, estão é só uma sugestão humilde, se vc postar textos menores, e fazer sequancia será qu enão fica mais fácil para o leitor? esqyeça se não for uma boa sugestão, rs, é que sempre me perco na leitura, acho que eu mesmo que sou meio perdidinha! vou deixar meu carinho e vc sabe da minha admiração pelo seu cantinho espiritual, encontro toda a luz aki, e deixo meu sorriso.
beijos.
com carinho
Hana
Oiee Jorge!!
Bem ainda bem q chegou fds, virei amanhã(e sem sono pra ler até o final)pense!!!tá ótimo!!
Bjss♥paz!
Jorge querido, sempre penso com certa tristeza no fato de que tantas alterações foram feitas nos textos bíblicos, em nome do poder dos homens e da igreja também.
Fico pensando que até quando vão deixar de admitir o que não tem como não admitir...que a vida continua, que temos um intercâmbio com desencarnados ou que vão continuar afirmando a existência de céu e inferno ao invés de tantas moradas... e tantas outras coisas que encontramos tão bem elucidadas na Doutrina Espírita.
Eu sei que tudo ao seu próprio tempo, mas às vezes sinto tanto esta demora.
No meu coração, eu queria que todos se esclarecessem, entendessem o quanto é importante buscar o crescimento espiritual.
Desculpe amigo, sei que falei demais...
Bom final de semana...
Beijos...
Valéria
Hana,
A sua sugestão é boa, acredite; no entento, por uma questão de hábito, gosto de ler direto para não perder o fio da meada da leitura. Sei que um tema extenso, ainda mais quando se trata de temas não só reflexivo, mas de estudo mesmo, requer tempo e hoje poucas pessoas tem esse tempo.
Ainda assim, peço-te desculpas por manter nesta forma, pelo menos por enquanto, que para mim é mais prático.
Mas vale como sugestão futura. Obrigado, Anjo Amiga!!!
Beijo!
Teresa,
é um tema bem interessante.
Creio que vais gostar.
Um beijo!!!
ValeriaC,
talvez se a Biblia estivesse mantido escrito assuntos polêmicos, se certas religiões não tivessem banido alguns temas do seu contexto, talvez o mundo fosse mais descrente ainda porque o homem ainda não está preparado para certas verdades. E só o tempo mudará isso. Questão de amadurecimento.
Um doce beijo, minha amiga,
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