terça-feira, 8 de junho de 2010

DOAÇÃO DE ÓRGÃOS PARA TRANSPLANTES É PERFEITAMENTE LEGÍTIMA


JORGE HESSEN

Nas práticas médicas de todas as especialidades , o transplante de órgãos é a que demonstra com maior clareza a estreita relação entre a morte e a nova vida, o renascimento das cinzas como Fênix: o mitológico pássaro símbolo da renovação do tempo e da vida após a morte.([1])

A temática “doação de órgãos e transplantes” é bastante coetâneo no cenário terreno. Sobre o assunto as informações instrutivas dos Benfeitores Espirituais não são abundantes. O projeto genoma, as investigações sobre células-tronco embrionárias e outras sinalizam o alcance da ciência humana. Os transplantes , em épocas recuadas repletas de casos de rejeição, tornaram-se práticas hodiernas de recomposição orgânica. O esmero "in-vivo" de experiências visando regeneração de células e a perspectiva de melhoria de vida caminham adiante , em que pese às pesquisas ensaiarem, ainda, as iniciantes marchas. Isso torna auspiciosa a expectativa da ciência contemporânea. Contudo, o receio do desconhecido paira no imaginário de muitos.

Alguns espíritas recusam-se a autorizar, em vida, a doação de seus próprios órgãos após o desencarne , alegando que Chico Xavier não era favorável aos transplantes. Isso não é verdade! Mister esclarecer que Chico Xavier quando afirmou “a minha mediunidade, a minha vida, dediquei à minha família, aos meus amigos,ao povo. A minha morte é minha. Eu tenho este direito. Ninguém pode mexer em meu corpo; ele deve ir para a mãe Terra”, fê-lo porque quando ainda encarnado Chico recebeu várias propostas [inoportunas] para que seu cérebro fosse estudado após sua desencarnação. Daí o compreensível receio de que seu corpo fosse profanado nesse sentido.

Não podemos esquecer que se hoje somos potenciais doadores, amanhã, poderemos ser ou nossos familiares e amigos potenciais receptores. "Para a maioria das pessoas, a questão da doação é tão remota e distante quanto à morte. Mas para quem está esperando um órgão para transplante, ela significa a única possibilidade de vida!”([2]) Joanna de Angelis sabendo dessa importância ressalta “(...) Verdadeira bênção, o transplante de órgãos concede oportunidade de prosseguimento da existência física, na condição de moratória, através da qual o Espírito continua o périplo orgânico. Afinal, a vida no corpo é meio para a plenitude — que é a vida em si mesma, estuante e real” ([3])

Em entrevista à TV Tupi em agosto de 1964, Francisco Cândido Xavier comenta que o transplante de órgãos, na opinião dos Espíritos sábios é um problema da ciência muito legítimo , muito natural e deve ser levado adiante.Os Espíritos, segundo Chico Xavier - não acreditam que o transplante de órgãos seja contrário às leis naturais.Pois é muito natural que, ao nos desvencilharmos do corpo físico, venhamos a doar os órgãos prestantes a companheiros necessitados deles, que possam utilizá-los com proveito. ([4])

A doação de órgãos para transplantes é perfeitamente legítima . Divaldo Franco certifica: se a misericórdia divina nos confere uma organização física sadia, é justo e válido, depois de nos havermos utilizado desse patrimônio, oferecê-lo, graças as conquistas valiosas da ciência e da tecnologia, aos que vieram em carência a fim de continuarem a jornada([5])

Não há, também, reflexos traumatizantes ou inibidores no corpo espiritual, em contrapartida à mutilação do corpo físico. O doador de olhos não retornará cego ao Além. Se assim fosse, que seria daqueles que têm o corpo consumido pelo fogo ou desintegrado numa explosão?[6]

Quando se pode precisar que uma pessoa esteja realmente morta? conforme a American Society of Neuroradiology morte encefálica é o estado irreversível de cessação de todo o encéfalo e funções neurais, resultante de edema e maciça destruição dos tecidos encefálicos apesar da atividade cardiopulmonar poder ser mantida por avançados sistemas de suporte vital e mecanismo e ventilação.”.([7]).

A grande celeuma do assunto é a morte encefálica, na vigência da qual órgãos ou partes do corpo humano são removidos para utilização imediata em enfermos deles necessitados. Estar em morte encefálica é estar em uma condição de parada definitiva e irreversível do encéfalo, incompatível com a vida e da qual ninguém jamais se recupera. [8] Havendo morte cerebral, verificada por exames convencionais e também apoiada em recursos de moderna tecnologia, apenas aparelhos podem manter a vida vegetativa, por vezes por tempo indeterminado. É nesse estado que se verifica a possibilidade do doador de órgãos "morrer" e só então seus órgãos podem ser aproveitados — já que órgãos sem irrigação sangüínea não servem para transplantes. Seria a eutanásia? Evidentemente que caracterizar o fato como tal carece de argumentação científica (...) para condenarem o transplante de órgãos: a eutanásia de modo algum se encaixaria nesses casos de morte encefálica comprovada.([9])

A medicina, no mundo todo, tem como certeza que a morte encefálica, que inclui a morte do tronco cerebral([10]) só terá constatação através de dois exames neurológicos, com intervalo de seis horas, e um complementar. Assim, quando for constatada cessação irreversível da função neural, esse paciente estará morto, para a unanimidade da literatura médica.

Questão que também amiudemente é levantada é a rejeição do organismo após a cirurgia. Chico Xavier nos vem ao auxílio, explicando: André Luiz considera a rejeição como um problema claramente compreensível, pois o órgão do corpo espiritual está presente no receptor. O órgão perispiritual provoca os elementos da defensiva do corpo, que os recursos imunológicos em futuro próximo, naturalmente, vão suster ou coibir.([11]) Especialistas, a partir 1967, desenvolveram várias drogas imunossupressoras (ciclosporina, azatiaprina e corticóides), para reduzir a possibilidade de rejeição, passando então os receptores de órgãos a terem uma maior sobrevida.([12]) Estatisticamente, o que há é que a taxa de prolongamento de vida dos transplantes é extremamente elevada. Isso graças não só às técnicas médicas, sempre se aperfeiçoando, mas também pelos esquemas imunossupressores que se desenvolveram e se ampliaram consideravelmente, existindo atualmente esquemas que levam a zero por cento (0%) a rejeição celular aguda na fase inicial do transplante, que é quando ocorrem.([13])

André Luiz explica que quando a célula é retirada da sua estrutura formadora, no corpo humano, indo laboratorialmente para outro ambiente energético, ela perde o comando mental que a orientava e passa, dessa forma, a individualizar-se; ao ser implantada em outro organismo [por transplante, por exemplo], tenderá a adaptar-se ao novo comando [espiritual] que a revitalizará e a seguir coordenará sua trajetória.([14]) Condição essa corroborada por Joanna de Angelis quando expõe: (...) transferido o órgão para outro corpo, automaticamente o perispírito do encarnado passa a influenciá-lo, moldando-o às suas necessidades, o que exigirá do paciente beneficiado a urgente transformação moral para melhor, a fim de que o seu mapa de provações seja também modificado pela sua renovação interior, gerando novas causas desencadeadoras para a felicidade que busca e talvez ainda não mereça.([15])

Os Espíritos afirmaram a Karedc que o desligamento do corpo físico é um processo altamente especializado e que pode demorar minutos, horas, dias, meses.[16] Embora com a morte física não haja mais qualquer vitalidade no corpo, ainda assim há casos em que o Espírito, cuja vida foi toda material, sensual, fica jungido aos despojos, pela afinidade dada por ele à matéria. ([17]) Todavia, recordemos de situação que ocorre todos os dias nas grandes cidades: a prática da necrópsia, exigida por força da Lei, nos casos de morte violenta ou sem causa determinada: abre-se o cadáver, da região esternal até o baixo ventre, expondo-se-lhe as vísceras tóracoabdominais.([18]) Não se pode perder de vista a questão do mérito individual. Estaria o destino dos Espíritos desencarnados à mercê da decisão dos homens em retirar-lhes os órgãos para transplante, em cremar-lhes o corpo ou em retalhar-lhes as vísceras por ocasião da necrópsia?! O bom senso e a razão gritam que isso não é possível, porquanto seria admitir a justiça do acaso e o acaso não existe!([19])

Em síntese a doação de órgãos para transplantes não afetará o espírito do doador, exceto se acreditarmos ser injusta a Lei de Deus e estarmos no Orbe à deriva da Sua Vontade. Lembremos que nos Estatutos do Pai não há espaço para a injustiça e o transplante de órgãos (façanha da ciência humana) é valiosa oportunidade dentre tantas outras colocadas à nossa disposição para o exercício da amor.




[1] Mário Abbud Filho Ex-Presidente da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos. Presidente da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São José do Rio Preto.Membro da American Society Transplant Physician. Membro da International Transplantation Society, disponível <http://members.tripod.com/themedpage/artigos_doacao.htm>acesso em 12/04/2005

[2] In Doação de Órgãos e Transplantes de Wlademir Lisso / Cleusa M. Cardoso de Paiva, disponível <http://www.lissoportalespirita.com.br/sintese.htm>acesso em 15/04/2004

[3] Franco, Divaldo Pereira. Dias Gloriosos, Ditado pelo Espírito Joanna de Angelis. Salvador/Ba: Ed. LEAL, 1999, Cf. Cap. Transplantes de Órgãos:

[4] publicada na Revista Espírita Allan Kardec, ano X, n°38

[5] Franco, Divaldo Pereira. Seara de Luz, Salvador: Editora LEAL [o livro apresenta uma série de entrevistas ocorridas com Divaldo entre 1971 e 1990.]-

[6] Simonetti, Richard. Quem tem medo da morte? - São Paulo /SP: Editora Lumini ,2001

[7] In: “Dos transplantes de Órgãos à Clonagem”, de Rita Maria P.Santos, Ed. Forense, Rio/RJ, 2000, p. 41

[8] Bezerra, Evandro Noleto. Transplante de Órgãos na Visão Espírita, publicado na Revista Reformador– outubro/1998

[9] Idem

[10] O tronco cerebral, e não o coração, é reconhecido como o organizador e “comandante” de todos os processos vitais. Nele está alojada a capacidade neural para a respiração e batimentos cardíacos espontâneos; sem tronco ninguém respira por si só.

[11] Cf. Revista Espírita Allan Kardec, ano X, n°38

[12] Folha de S.Paulo, A3, “Opinião”, 15.Maio.2001

[13] Entrevista com o Prof. Dr. Flávio Jota de Paula Médico da Unidade de Transplante Renal do HC/FMUSP. 1º Secretário da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Diretor da I Mini Maratona de Transplantados de Órgãos do Brasil. Publicado em Prática Hospitalar ano IV n º 24 nov-dez/2002

[14] Xavier, Francisco Cândido. Evolução em dois Mundos – Ditado pelo Espírito André Luiz. 5ª Ed. Rio de Janeiro, RJ: Ed FEB, 1972, cap. “Células e Corpo Espiritual”

[15] Franco, Divaldo Pereira. Dias Gloriosos, Ditado pelo Espírito Joana de Angelis. Salvador: Ed. LEAL, 1999

[16] Kardec, Allan,. O Livros dos Espíritos, RJ: Ed FEB/2003, questão n° 155, Cap. XI.

[17] Kühl Eurípedes DOAÇÃO DE ÓRGÃOS TRANSPLANTES Entrevista Virtual disponível <www.cvdee.org.br/>acesso em 24/04/2005

[18] Cf. Bezerra, Evandro Noleto. Transplante de Órgãos na Visão Espírita, publicado na Revista Reformador– outubro/1998

[19] Bezerra, Evandro Noleto. Transplante de Órgãos na Visão Espírita, publicado na Revista Reformador– outubro/1998

endereço: http://www.apologiaespirita.org/
imagem: corposaun.com



8 comentários:

Norma Villares disse...

Jorge bom amigo.
Mudou o template. Ficou xikiiiiiii, bem.
Muito importante falar sobre doação de órgãos. Porque há muitas crenças errôneas. E o ato de doar é muito importante para aqueleas que necessitam de um órgão. O grave problema, é a demora dos órgão competentes virem buscar os órgãos doados. Meu sobrinho desencarnou num acidente, e no período da morte cérebral, doamos os órgão e ninguém veio buscar.
Este é o grande problema.
Muito bom este texto, bem lembrado.
Abraços sublimes

ValériaC disse...

Jorge querido amigo...
Fantástico você colocar este tema aqui...
Transplante de órgãos pode gerar dúvidas, até mesmo dentre os espíritas, por falta de boa informação.

Outro assunto que gostaria de ler e saber um pouco mais, seria sobre Eutanásia...assunto que gerou muita conversa entre meus filhos e eu.
Se você souber de algum livro que trate sobre o assunto, por favor, me indique...quero tentar explicar o melhor possível para eles, tudo o que implica este ato. Ou de repente, se quiser fazer um post sobre o tema,fique a vontade, vou apreciar muito e aprender um pouco mais.

Beijos...
Valéria

Jorge Nectan disse...

Norma,

obrigado pelo elogio.
O que falta na questão de doação de orgãos é de informação e maior boa-vontade das autoridades e equipes médicas.
Não tem cabimento ter orgão disponível e ninguém aparecer para pegar e transplantar a quem necessite.

Anjo, um beijo!!!

Jorge Nectan disse...

ValeriaC,

Quanto a eutanasia, tem um capítulo, do livro "Espiritismo uma visão panorâmica" do Wilson Czerski editado pelo "O Clarim" que que diz respeito a esse tema. Você vai gostar.

Anjo, beijo em teu coração!!

ValériaC disse...

Muito obrigada pela indicação amigo...vou procurar pelo livro...

Doce tarde amigo!!!
Um beijo na alma...
Valéria

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Jorge. Este tema é muito importante e deve ser amplamente discutivo mesmo entre nós, espíritas. Já ouvi coisas completamente divergentes umas das outras a esse respeito. Cheguei à conclusão que é um ato de amor e se há amor, temos Jesus ao nosso lado.
Muito obrigada pelas palavras carinhosas deixadas no Arca. A sua amizade me fortalece. Beijos, e fique com Deus.

Jorge Nectan disse...

ValeriaC

de nada, minha amiga!!!

Beijo!

Jorge Nectan disse...

Maria Jo´se,

é um ato de Amor sim. Salvar vidas é amar a Deus pois ama ao próximo.

Anjo, um beijo!!!

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