domingo, 27 de junho de 2010

A FIGURA ESPIRITUAL DE FREDERICO NIETZSCHE E O ESPIRITISMO


Dr. Iso Jorge Teixeira*

isojorge@globo.com

Freqüentemente, ainda hoje, o filósofo FREDERICO NIETZSCHE tem sido acusado de ter decretado a morte de DEUS e de sua Filosofia ser anti-semita. Não concordando com tais opiniões e observando, que jovens estudiosos estão sendo levados por essa opinião (cf. revista UNIVERSO ESPÍRITA, Ano 2, n.º 22, 2005, p. 64), fruto de uma leitura ligeira das obras de um dos maiores filósofos de todos os tempos, resolvemos repetir, aqui, um artigo que escrevemos há quase 19 anos atrás, quando éramos principiantes no estudo da Doutrina Espírita, embora já tivéssemos uma boa experiência de Psiquiatria e, conseqüentemente, algum conhecimento da obra de alguns grandes filósofos.

O referido artigo, que repetiremos aqui, especialmente para o Portal TERRA ESPIRITUAL( http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/ ) , com ligeiras modificações, foi publicado no Jornal Espírita (Órgão da FEESP), no suplemento PARANORMAL EM NOTÍCIAS – Ano XI – n º 138, dezembro/1986, p. 9. Vamos à leitura dele:

“O propósito deste nosso estudo não é dissecar toda a obra de FREDERICO NIETZSCHE, e sim resgatar a figura espiritual de NIETZSCHE como verdadeiro espiritualista e relacioná-la, no que for possível, com o pensamento contido na Codificação Espírita. Não o consideramos ateísta, anticristão, anti-semita e figura das sombras como já se tentou enquadrá-lo...

No livro “Universo e Vida” (Edit. FEB), atribuído ao Espírito ÁUREO, psicografado por HERNANI T. SANT’ANNA, encontramos páginas admiráveis, [à primeira vista], com um eruditismo unido à simplicidade de exposição impecáveis [às vezes, até simploriedade]; entretanto, encontramos no Cap. X, um trecho que julgamos injusto, quando lemos:

“A resposta do anticristo ao novo Pentecostes de claridades eternas não se fez esperar. Karl Marx fundou o materialismo dialético e abriu caminho para o bolchevismo ateu. Frederico Nietzsche desenvolveu a teoria do Super-Homem, exaltando a vontade de guerra: de superioridade e de domínio, e criando condições para o racismo intolerante de Rosenberg e, para o nazismo de Hitler” – grifo nosso.

Teria NIETZSCHE exaltado a “vontade de guerra”? Acreditamos que não e até o contrário disto, como tentaremos demonstrá-lo, a seguir...

A guerra e a luta como necessárias, apesar de indesejáveis

De acordo com MÁRIO D. FERREIRA SANTOS, no prólogo à tradução do livro “Vontade de Potência” (Der Wille Zur Macht) de NIETZSCHE, à pág. 75 das Edições Ouro, 1966, lemos:

“Nietzsche falava num futuro humano em que não mais fossem necessárias as guerras. Mas o homem triunfaria quando pudesse vencer os períodos que o separam da super-humanidade do futuro. Em uma de suas últimas páginas apensas à segunda edição de ‘Origem da Tragédia’ disse: ‘Prometo uma idade trágica; a arte mais elevada na afirmação da vida, a tragédia renascerá quando a humanidade tenha atrás de si a consciência das guerras mais cruéis, mas as mais necessárias, sem delas mais sofrer”.

Não está aqui o que a Doutrina Espírita preconiza? A Humanidade não se regenerará? As guerras não são necessárias, segundo o Espiritismo?! Parece-nos que sim. Elas não são desejadas, nem desejáveis, mas têm uma finalidade Providencial de contribuir para a liberdade e o progresso (cf. resposta à questão 744 de “O Livro dos Espíritos”) e é o que podemos interpretar, quando ALLAN KARDEC nos diz no item 23 do livro “A Gênese...”:

“Há também considerações morais de ordem elevada. É necessária a luta para o desenvolvimento do Espírito. Na luta é que ele exercita suas faculdades. O que ataca em busca do alimento e o que se defende para conservar a vida, usam de habilidade e inteligência, aumentando em conseqüência, suas forças intelectivas. Um dos dois sucumbe: mas, em realidade, que foi o que o mais forte ou o mais destro tirou ao mais fraco? A veste de carne, nada mais; ulteriormente, o Espírito que não morreu, tomará outro”.

Estaria KARDEC exaltando a “vontade de guerra”? Obviamente, não!

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Destruição
“A destruição recíproca dos seres vivos é, dentre as leis da Natureza, uma das que, à primeira vista, menos parecem conciliar-se com a bondade de Deus. Pergunta-se por que lhes criou ele a necessidade de mutuamente se destruírem, para se alimentarem uns às custas dos outros”.
- grifo nosso (ALLAN KARDEC, “A Gênese...” – Cap. III- Destruição dos seres vivos uns pelos outros – item 20, pág. 67, Edit. LAKE, 1982, São Paulo).
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Além disso, a guerra não é criada por DEUS. Ele deu o livre-arbítrio ao homem, isto sim, e é defendendo o exercício do livre-arbítrio em toda sua obra, que NIETZSCHE, como poeta-filósofo que foi, pleno de aforismos, não foi entendido por seus contemporâneos e por muitos, ainda hoje...

Por que um Teísta anunciaria a morte de DEUS ?

NIETZSCHE criticou a Igreja romana e luterana naquilo que elas tinham de hipócritas; defendia a verdade, a realidade, a fé com raciocínio. Não era um irracionalista. Opunha a Razão à Contra-Razão, para chegar à verdadeira RAZÃO, com todas as letras maiúsculas...

Quando propalou a morte de DEUS, ele o fez em relação ao Deus da Igreja romana e luterana, não como um ateu, mas, metodologicamente, como o fizera R. DESCARTES na “dúvida metódica” e E. HUSSERL o fez, colocando-o “entre parênteses”. Isso fica bem claro, quando lemos em “Vontade de Potência” (op. cit.), no item 462:

“Afastemos a mais alta bondade da idéia de Deus – ela é indigna de Deus.

Afastemos da mesma forma a mais alta sabedoria – ela é vaidade dos filósofos, que têm na consciência a loucura desse monstro de sabedoria que seria Deus: pretendiam que Deus se lhes assemelhasse tanto quanto possível... Não! Deus a mais alta potência – isso basta! Dele resulta tudo, dele resulta tudo – ‘o mundo’! [grifos nossos].

E no livro “Assim Falava Zaratustra”:

“Homens superiores – assim diz a populaça – não há homens superiores; todos somos iguais; perante Deus um homem não é mais do que outro; todos somos iguais.[grifos nossos].

Perante Deus! Mas agora ESSE Deus morreu, e perante a populaça nós não queremos ser iguais. Homens Superiores fugi da praça pública.” [grifo nosso].

Como podemos constatar, NIETZSCHE combatia o Deus antropomórfico, combatia a vaidade dos homens e demonstrou claramente que não era ateu, pois disse: “Deus, a mais alta potência- isso basta!”. Também aqui se desenvolveram os mesmos princípios defendidos pelo Espiritismo [moderno]: DEUS não-antropomórfico, variedade de graus de adiantamento espiritual – a Igreja romana diz que os Espíritos bondosos ganhariam o Reino dos Céus e os maus o Inferno, como pena eterna e “a mais alta potência” de bondade na Terra seria o Papa... Obviamente, que este Deus está morto. Deus este que morreu na grande maioria dos espíritas, que foram católicos e protestantes no passado... Esse Deus morreu e não foi NIETZSCHE quem o matou, e sim, a própria Igreja.

Sobre o “Homem Bom” ou a hemiplegia da virtude

Como dissemos, anteriormente, NIETZSCHE foi um grande defensor do exercício do livre-arbítrio, ele próprio exerceu-o enquanto pôde [até ser aniquilado pela doença]. Para ele, o homem bom é uma abstração, pois o Bem e o Mal fazem parte, indissolúvel, da natureza humana. Eis o que ele diz em “Vontade de Potência”:

“É-se bom com a condição de que também se saiba ser mau; é-se mau, porque de outra forma não se poderia ser bom. De onde, portanto, provém esse estado doentio, essa ideologia contra a natureza, que nega esse caráter duplo – que ensina como virtude suprema possuir somente um semivalor? De onde provém essa hemiplegia da virtude, invenção do homem bom? [grifos nossos].

Mais adiante, diz ele:

“Têm feito, em todos os tempos, e sobretudo nas épocas cristãs, o maior esforço para reduzirem o homem a essa semi-atividade que é o “bem”; também hoje não faltam seres deformados e enfraquecidos pela Igreja, para quem essa intenção é idêntica à ‘humanização’ em geral ou à ‘vontade de Deus’ ou ainda à ‘salvação da alma’ ” [grifos nossos]. E acrescenta o erudito filósofo:

“Talvez não tenha existido, até o presente, ideologia mais perigosa, maior desatino in psychologicis, que essa vontade do bem: fizeram desenvolver que é mister ser-se carola para se encontrar o verdadeiro caminho de Deus, que a vida do carola é a única vida que agrada a Deus.- grifos nossos.

Portanto, novamente vemos que NIETZSCHE tem sido muito mal interpretado. Ele não combatia o homem “bom”, e sim alertava o carola que se tornava um joguete nas mãos da Igreja; o que ele combatia era o conceito de “vontade” divulgado pela Igreja. O livre-arbítrio implica em a dialética do Bem e Mal... Desejar-se que as pessoas sejam “boas”, aconselhando-as simplesmente que extirpem o mal, isto implica em impedi-las de serem livres. Os Espíritos Superiores nunca induzem ninguém a extirpar o mal... Às vezes, até situações de prova seriam úteis para o exercício do livre-arbítrio... Na alegoria da serpente, que tenta ADÃO e EVA, não está implícita a prova para o exercício da autodeterminação?...

Portanto, NIETZSCHE pretendia era o homem inteiriço, livre, sem clichês que o embotassem e que progredisse – exatamente o que a Doutrina Espírita postula.

Um Espiritualista que desconhecia o Espiritismo – Um sonho de NIETZSCHE

Mesmo desconhecendo o perispírito nas suas manifestações no sono e, em alguns casos, em vigília, NIETZSCHE não deixou de resgatar o exercício do livre-arbítrio no homem carnal; talvez, por esse desconhecimento é que ele achasse “o Espírito puro, uma pura tolice”, [aliás, o que ele referia como “Espírito puro” não é exatamente o que nós, espíritas, consideramos]...“Se abstrairmos do sistema nervoso e dos sentidos o ‘invólucro mortal’, enganamo-nos no nosso cálculo, nada mais”, disse ele. Se conhecesse, como nós, as manifestações do perispírito; se a sua preocupação fosse mais científica e não filosófica somente, talvez a forma de defender suas idéias seria outra; embora, também, não teria sido tão genial...

É claro que o “Espírito Puro”, na acepção nietzscheana, no homem carnal é uma “tolice”, contudo, em situações de sono podemos ter idéia do além-túmulo e, portanto, do “Espírito puro” [ou quase puro]. Mas, NIETZSCHE não se preocupou com o estudo da vida além-túmulo. Se ele tivesse se aprofundado num sonho que teve na infância, talvez seria outra sua cosmovisão. Eis o que ele escreveu, belissimamente, aos 14 anos de idade com relação à morte do irmão, após a morte do pai (que era pastor e músico):

“Quando se despoja uma árvore de sua coroa, ela seca e os pássaros abandonam os galhos. Nossa família foi despojada de sua coroa, toda a alegria se desvaneceu de nossos corações e uma tristeza profunda apossou-se de nós. E nem bem as feridas estavam fechadas, já foram abertas dolorosamente. ¾ Nesse tempo sonhei ouvir o órgão ressoar surdamente como num funeral. E como procurava a causa, um túmulo se abriu subitamente, e meu pai apareceu caminhando envolto em uma mortalha. Atravessou a Igreja, veio até junto a mim com uma criança nos braços. O túmulo abriu-se de novo, meu pai desceu e as pedras fecharam o túmulo. No mesmo instante, o murmúrio do órgão cessou, e despertei. De manhã contei este sonho à minha mãe. Pouco depois, meu irmão José adoeceu, teve ataque de nervos, e morreu em poucas horas. Nossa dor foi terrível. Meu sonho transformou-se exatamente numa realidade; e o pequeno corpo foi depositado nos braços de meu pai. Depois dessa dupla desgraça, o Senhor, nos Céus, foi a nossa única consolação. Isso aconteceu em fins de janeiro de 1856”. (cf. MÁRIO D. FERREIRA SANTOS. In “Vontade de Potência”, op. cit., p. 20).

Como se pode observar, NIETZSCHE não se aprofundou no estudo do sonho premonitório, ocorrido na sua infância [aos 12 anos de idade]. Talvez, pelo não aprofundamento científico – era filho de religiosos e amante das artes – é que ele não tenha pensado numa manifestação espírita, julgou, simplesmente que o sofrimento aproximou-o, e a família, do Senhor...

Não obstante, nem por isso NIETZSCHE deixou de ser um espiritualista por excelência e, por ser genial, não foi entendido em sua época (século XIX), deixando uma mensagem que só a posteridade (século XX) a entenderia, parcialmente. Foi ele, e o teólogo e filósofo dinamarquês SÖREN KIERKEGAARD, um precursor do moderno Existencialismo, cultivado por grandes filósofos do século 20: KARL JASPERS, GABRIEL MARCEL, HEIDEGGER, SARTRE e outros... [E há quem veja, como nós, pontos de contato entre a filosofia de NIETZSCHE e a de HENRI BERGSON , que sem dúvida, estabeleceu diretrizes importantes no estudo da problemática do TEMPO, com seu “élan vital”, desenvolvido pela visão existencialista]...

Karl Jaspers

Sören KIERKEGAARD

Gabriel Marcel

Martin Heidegger

Henri BERGSON

J.P. Sartre

Foi KARL JASPERS que, em 1950, falando da “Importância de Nietzsche na História da Filosofia”, quem ressaltou este aspecto:

“Nietzsche é um dos três pensadores que não começaram a significar algo até o século XX, apesar de pertencer ao XIX. São os três pensadores que dominam o pensamento filosófico atual e que todavia estão sem acabar de entender, apesar de que sem eles não se explicam nem as idéias nem a linguagem da atualidade. Estes três são Kierkegaard, Marx e Nietzsche– grifos nossos.

E JASPERS esclarece, ainda:

“Na nova edição que se pretendia fazer de suas obras completas, que era totalmente necessária, foi consideravelmente aumentado o material. A anterior edição se retardara por falta de interesse na época tardia do Nazismo”.

E mais adiante, o grande filósofo e psiquiatra alemão compara os três pensadores no aspecto prático:

“Marx preparou a revolução mundial e a ditadura do proletariado. Kierkegaard desatou um terrível ataque contra a Igreja ao final de sua vida. E Nietzsche o fez contra o Reich alemão, com seus telegramas famosos no início de sua doença: (‘Prezado Imperador Guilherme’ – ‘fuzilados todos os anti-semitas’ e outros no estilo” – grifo nosso - [“Importância de Nietzsche na História da Filosofia”, in “Conferencías y Ensayos Sobre Historia de la Filosofia”, Ed. Gredos, Madrid, 1972, p. 313 e 319).

Aí está, NIETZSCHE não preparou campo algum para o racismo e para o nazismo; ele não foi entendido em sua época e ainda hoje permanece incompreendido... Apesar de sua doença (Paralisia Geral Progressiva – uma forma de sífilis cerebral tardia) deixou páginas magistrais, vazadas de um autêntico Espiritualismo, que influenciaram todo o pensamento existencialista contemporâneo...

Os Espíritos de escol não são compreendidos

Por que os Espíritos de escol, encarnados, não são, em geral, compreendidos em sua época? Acreditamos que a mensagem que trazem, transcende a época em que vivem, obviamente. NIETZSCHE tinha plena consciência de que sua mensagem não seria compreendida, pois disse:

“Pronunciadas estas palavras, Zaratustra tornou a olhar o povo e calou-se.

Riem-se – disse o seu coração. Não me compreendem: a minha boca não é boca que estes ouvidos necessitam”. [Assim falava Zaratustra].

Tanto JESUS quanto NIETZSCHE trouxeram ensinamentos imperecíveis, colocaram a candeia sobre o alqueire e só seriam entendidos postumamente, se é que foram entendidos...

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Cesare Beccaria e Allan Kardec nos leva a refletir sobre a condição humana atual, nos levando a questões como esta: o homem que mata perde, com isso, o direito à própria vida?” E Kardec, mais uma vez pergunta, agora na questão 761:

Cremos que não devemos criticar NIETZSCHE por não ter sido entendido em sua época e por ter usado aforismos. Se o CRISTO não foi e não é hoje entendido em seus ditos e suas parábolas!!! Como disse KARDEC:

“É então que não se deve pôr a candeia debaixo do alqueire, pois sem a luz da razão, a fé se enfraquece”. (“O Evangelho segundo o Espiritismo”, Cap. XXIV). Como nas parábolas do CRISTO, NIETZSCHE colocou a candeia sobre o candeeiro a fim de que todos os que entram possam vê-la... E a luz se irradiou do século XIX até a era contemporânea.

NIETZSCHE não foi Espírito das Trevas, e sim das Luzes – Luz intensa que sua doença não conseguiu dosar, assim supomos nós, como assinalava uma quadrinha do Espírito CASIMIRO CUNHA na pena de CHICO XAVIER:

Ante os problemas dos outros

Emudece os lábios teus.

Em tudo sempre supomos

Mas quem sabe é sempre Deus.

Foi este o estudo que fizemos em nosso artigo no JE, há quase 19 anos e hoje o repetimos aqui, especialmente para o Portal TERRA ESPIRITUAL, pois julgamos importante o resgate da figura espiritual de FREDERICO NIETZSCHE e sua correlação filosófica com o Espiritismo, numa época como a nossa, em que o Homem está tão necessitado de valores espirituais realmente superiores e de consolação...

Epílogo

O Espiritismo é a alavanca para penetrarmos nesses valores espirituais e NIETZSCHE muito contribuiu para encontrarmos em nós o verdadeiro “Além-Homem”, e não o “Super-Homem”, anti-semita, ateu, como tem sido corrompida a Filosofia e a própria pessoa do grande precursor do Existencialismo moderno.

O “super-homem” nietzscheano tem sido muito mal interpretado. “Se se interpreta Vontade de Potência, disse NIETZSCHE, como desejo de dominar, faz-se dela algo dependente dos valores estabelecidos. Com isso desconhece-se a natureza da vontade de potência como princípio plástico de todas as avaliações e como força criadora de novos valores. Vontade de Potência, diz NIETZSCHE, significa ‘criar’, ‘dar’, e ‘avaliar’ ” (cf. encarte da Coleção OS PENSADORES (p. 640, Abril Cultural S.A.: São Paulo, vol. XXXI – NIETZSCHE, 1974). E no mesmo texto, lemos: “Nietzsche responde ao pessimismo de Schopenhauer: em lugar do desespero de uma vida para a qual tudo se tornou vão, o homem descobre no eterno retorno a plenitude de uma existência ritmada pela alternância da criação e da destruição, da alegria e do sofrimento, do bem e do mal.” (op. cit., p. 640).

NIETZSCHE tinha plena consciência da sua existência de exceção e da falta de sintonia dos seus contemporâneos, e, provavelmente, por isso escreveu em “Para a Genealogia da Moral”:

“(...) No entanto com tal alarido e tagarelice de agitadores não se consegue nada comigo: esses corneteiros da efetividade são maus musicistas, suas vozes, bastante audivelmente, não vêm da profundeza, neles não fala o abismo da consciência científica – pois hoje a consciência científica é um abismo ¾ , a palavra “ciência”, nessas bocarras de corneteiro, é simplesmente uma indisciplina, um abuso, uma sem-vergonhice.” (Coleção OS PENSADORES, op. cit, p. 325).

Para os católicos e protestantes foi conveniente estigmatizar NIETZSCHE como o “Anti-Cristo” e as razões são óbvias, pois ele demonstrou que o Deus do Cristianismo dos vigários estava morto e foram os próprios religiosos que, ao longo de quase dois mil anos, o “mataram”, não obstante, a obra do Mestre JESUS, primitiva, seja intocável, pois foi realizada com Amor e compete ao Espiritismo desenvolvê-la, pois a Doutrina dos Espíritos é o “Consolador" que JESUS prometeu pedir ao Pai, mas disso já tratamos alhures...


* Médico. Psiquiatra. Prof. Livre - Docente de Psicopatologia e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Coordenador do Curso de Especialização em Psiquiatria (FCM - UERJ).



endereço: http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo1974.html

imagem: webstore.fr



8 comentários:

Unknown disse...

Post interessantíssimo, muito legal ler sobre as idéias de Nietzsche, grande pensador que até hoje nos influencia...
Bijos

Anônimo disse...

Jorge, meu eterno amigo do infinito.
Quanto mais eu leio sobre as doutrinas e filosofia do espiritismo enquanto ciência, mais eu me convenço que possuo uma missão a ser cumprida e que envolve o aprofundamento de estudos em busca de evolução e respostas.
Nietzche sem dúvida, enquanto filósofo, alavancou os princípios espirituais e deixou um grande legado para todo nós.
A teoria existencialista, sempre será objeto de estudos e constante busca do "Eu interior".
Quantas informações importantíssimas constantes nesse precioso post, para ser lido diversas vezes.
Obrigada por mais este presente, e apoio de sempre.

Um beijo repleto de luz, energias positivas, e sobretudo, cheio de saudades.

Jorge Nectan disse...

Jeanne,
Nietzsche é ainda muito criticado como aquele que matou Deus e pelo seu ateismo, que nada tem a ver.
Como disse o Dr. Iso, alguém acima do seu tempo, muita vez não é compreendido.

Anjo, beijo no coração!!

Jorge Nectan disse...

Regina,

creio tens muito conhecimento. Naturalmente o estudo deve ser constante. E compreender a filosofia existencialista é um vasto de aprendizado interior, isto é, não apenas no campo racional, mas no do sentimento.

Amiga da eternidade, beijo teu coração com muita admiração!!!

As Muitas Vidas ... disse...

O conceito de espírito ou alma surgiu quando o homem primitivo começou a interpretar o sonho como uma entidade que habitava nosso interior. Surgiu então o animismo, de alma ou espírito, entes imaginários, pois o que temos de imaterial é a nossa consciência, o pensamento, a imaginação, a mente, mas gerados por nossa própria condição biológica.
Assis Utsch (autor de o Garoto Que Queria Ser Deus)

Unknown disse...

Caro Jorge,
Nietzsche era ateu e se gabava disso. Ele valorizava não a igualdade Iluminista e cristã, mas a diferença e a força da diferença. Ele era racista (embora não nacionalista). Ele compreendeu com profundidade todas as transformações morais que o cristianismo fez na terra e discordou de todas ela. Sua ética do guerreiro não tem nada de parecido com a ética cristã. A maneira como Nietzsche exalta a força da vida é extremamente diferente do modo com o espiritismo o faz. O amor ao próximo cristão, essência suprema e bela compartilhada por todos os mestres, é tratado por Zaratustra como algo efetivamente desprezível. Politicamente ele flertava com regimes fortes, embora, enfatizo, seu campo de batalha não fosse tanto política e sim, a influência cristã no planeta. Ele flertava com a escravidão em uma época na qual ela ainda existia. Nietzsche odiava os valores humanistas e igualitaristas nos quais ele conseguia observar com agudeza (e com razão) como sendo consequências dos ensinamento de Jesus. E fez tudo isto sendo contemporâneo de Kardec. Atualmente, o terrível nihilismo, o qual relativiza, por exemplo, toda a moralidade, é filho do pensamento de Nietzsche. E olha que Nietzsche não era um relativista... ele, repito, admirava a força e a ética pré-cristãs com toda a sua beligerância, tragicidade,agonicidade e, até mesmo, implicações legislativas. "Racista","amante da diferença e da força" e profundamente combativo das implicações cristãs no mundo. Este era Nietzsche.

Tia dos gatos disse...

Sem desmerecer a beleza literária da obra nietzschiana, concordo inteiramente com o post acima, do sr. Eduardo. Sou formada em filosofia e, particularmente, não considero ser possível outra leitura que não a tão eloquentemente exposta pelo comentário anterior.

Unknown disse...

Vejo Nietzsche com os mesmos olhos de Jorge e cheguei a tal post (apesar de n ter contato com o espiritismo) pq num dado momento em que lia A Gaia Ciência cheguei a crê q existe algo de Nietzsche em mim, ele escreveu exatamente tdo q penso. Então assim me perguntei, 7 anos após debruçar minha vida sobre a filosofia nietzscheana "Será q existe algo do espírito dele em mim?".

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