Francisco Curado
Os problemas que poderão obstar à existência de vida num planeta não têm a ver apenas com a dificuldade da sua origem, mas também com a sua sobrevivência nesse planeta.
Um dos factores determinantes é a existência de uma atmosfera em redor do planeta. Esta tem a dupla função de suportar os fenómenos respiratórios dos seres vivos, mas também o de travar os objectos celestes que se despenham sobre o planeta, pondo em causa a sobrevivência dos seres.
Planetas habitados: quantos?
Outro factor a ter em conta é a intensidade da chuva de meteoritos, asteróides e cometas a que um planeta pode estar sujeito. Estima-se que a Terra tenha sido durante milhões de anos bombardeada por estes corpos, de tal forma que mesmo que a vida emergisse nalgum local do planeta, as probabilidades de ela subsistir seriam muito reduzidas. Por fim há que ter em conta um outro factor que até há bem pouco tempo era uma preocupação fundamental da Humanidade e que muitos pensadores ponderavam se seria uma vocação das sociedades tecnolo-gicamente avançadas: a autodestruição.
Tendo em conta alguns destes factores, Frank Drake, presidente do Instituto de Pesquisa de Vida Extraterrestre (SETI), estabeleceu uma equação que estima o número (N) de civilizações tecnológicas detectáveis no universo: N = R * fp * ne * fl * fi * fc * L
O significado dos parâmetros desta equação é descrito no final deste artigo, para que o leitor possa fazer os seus cálculos. De acordo com tal fórmula, resolvemos fazer um cálculo, usando alguns números que não são os mais optimistas:
a=Idade do Universo: 15.000 milhões de anos
b=Nº de Galáxias: 100.000 milhões
c=Nº médio de estrelas por galáxia: 300.000 milhões
d=b x c: total de estrelas do Universo: 30.000.000.000.000.000 milhões
arbitrando fp = 10%, ne = 0.1%, fl = fi = fc = 1% (probabilidades não muito optimistas) para os parâme-tros da equação de Drake e L=100 anos (uma estimativa pessimista para a duração de uma sociedade tecnologicamente avançada), calculando R = d/a, obtém-se o valor de N= 20.000 planetas.
Resumindo, com base em números pessimistas, e nos nossos conhecimentos actuais, seria de esperar que o número de planetas habitados semelhantes ao nosso fosse da ordem das dezenas de milhar, só na parte do Universo por nós conhecido!
Note-se que este cálculo diz respeito apenas a civilizações com tecnologia avançada (segundo os nossos prismas), com capacidade de usar sinais inteligentes para comunicar no Espaço. Na realidade, o número de "civilizações" poderá ser muito maior, e o número de planetas habitados (mas sem sociedades organizadas) poderá ser muitíssimo superior, tendo em conta as probabilidades.
Se os números parecem ser tão optimistas, por que não detectam os pesquisadores outras civilizações no Espaço? Que pesquisas estão a ser feitas?
Pesquisas de vida extraterrestre
A Agência Espacial Norte-Americana (NASA) suporta já há longos anos um programa de pesquisa de inteligência extraterrestre (o programa SETI) que actualmente foca a vizinhança de mil estrelas do tipo do Sol (usando 28 milhões de canais de radiotelescópio) para tentar detectar sinais de civilizações com um grau de evolução tecnológico equiparado ou superior ao nosso.
A Sociedade Planetária (sediada nos Estados Unidos) tem suportado projectos de pesquisa baseados nos mesmos princípios tecnológicos, embora pesquisando diferentes zonas do Espaço. Actualmente, esta sociedade implementou um dos mais ambiciosos e caros projectos nesta área, utilizando centenas de milhões de canais de radiotelescópio em simultâneo na sua tentativa de detecção de sinais inteligentes.
Para além disso, lembramos que todas as missões de sondas espaciais enviadas a outros planetas do nosso Sistema Solar (Lua e Marte sobretudo) fazem recolha de amostras bioquímicas, tendo como um dos objectivos a pesquisa de vida ou pelo menos de matéria orgânica na superfície desses planetas.
Não se pode dizer, portanto, que no nosso século a ciência e a tecnologia tenham descurado a pesquisa de vida fora da Terra.
Quanto aos resultados, eles são bem menos animadores: a matéria orgânica tem sido detectada em corpos celestes como meteoritos e asteróides, mas não mais do que isso. Quanto à pesquisa de sinais de rádio no Espaço, alguns sinais intrigantes têm sido detectados, mas sem se poder concluir que se trata de mensagens com conteúdo inteligente.
A realidade deste tipo de pesquisa é que ela é bastante exigente em termos de recursos tecnológicos e as probabilidades de se conseguir receber sinais são baixas, uma vez que os radiotelescópios são geralmente apontados a uma pequena faixa do firmamento. Estas áreas do universo são seleccionadas para pesquisa com base no conhecimento dos astrónomos em relação à presença de estrelas com possíveis sistemas planetários — trata-se na realidade de um jogo probabilístico. Cobrir toda a esfera celeste neste tipo de missão seria impraticável.
Visitantes de outros planetas?
Se o tema da existência de extraterrestres tem dado lugar a aceso debate, mais candente ainda é a questão do seu aparecimento na Terra vulgarmente conhecida pela designação de fenómeno OVNI. Não se pode tentar sustentar uma posição relativa a este assunto sem conhecimentos empíricos. Mas, a menos que uma posição preconceituosa nos leve à partida a negá-lo, pode abordar-se a questão da possibilidade do fenómeno, sob um ponto de vista teórico.
Uma das questões que se coloca quando se fala de viajantes interestelares é a incomensurabilidade das distâncias a percorrer, relativamente à duração da vida de um ser do tipo humano. Ora a teoria da relatividade restrita veio já há alguns anos dar uma achega à questão, demonstrando que o tempo não passa da mesma forma para observadores em repouso e para observadores em movimento — concretamente, tal como foi já provado experimentalmente, o tempo passa mais lentamente para os observadores em movimento.
Assim, para um ser a viajar a uma velocidade próxima da luz, o tempo passaria muito lentamente e dar-lhe-ia a possibilidade de viajar enormes distâncias no Espaço, no tempo correspondente à duração da sua vida.
Exemplificando, para um viajante numa nave espacial, a 99,999% da velocidade da luz, o tempo passaria 224 vezes mais lentamente do que para um irmão seu que tivesse ficado na Terra. Em 10 anos, o viajante percorreria 2239,98 anos-luz; na Terra teriam passado 2240 anos, enquanto para ele teriam passado apenas 10 anos! Como efeito colateral, o nosso astronauta teria viajado não só no espaço, mas também no tempo.
É claro que viajar à velocidade da luz, ou próximo disso, é um feito tecnologicamente inalcançável para a nossa civilização actual. Mas não podemos estabelecer limites aonde nos poderá levar o progresso, se nos for dado o tempo suficiente.
Mais recentemente, outras descobertas da física-matemática vieram reequacionar as possibilidades de viajar no espaço-tempo(21). Derivadas da teoria da relatividade de Einstein, começaram a surgir novas teorias que incluem fenómenos tão exóticos como os buracos-negros e os buracos-de-verme.
Segundo alguns dos mais conceituados físicos da actualidade, o Universo estará permeado de buracos-de-verme, que são túneis no espaço-tempo que poderiam ser usados e até construídos por civilizações muito avançadas para viajar, ultrapassando as limitações teóricas impostas pela velocidade-limite da luz. Estes túneis do espaço-tempo permitiriam, entre outras coisas, passar de um Universo para outro.
À luz do espiritismo
Não podemos deixar de esboçar por vezes um ligeiro sorriso, quando deparamos com algumas das conclusões científicas como as acima referidas, e por dois motivos: um pelo reconhecimento daquilo que algumas revelações espíritas têm vindo a afirmar ainda antes de os cientistas estarem dispostos a aceitar tais teses; o outro, perante uma certa ingenuidade da abordagem científica. Tentemos refinar estas duas afirmações.
Em primeiro lugar, o espiritismo não vem tentando aproveitar da ciência aquilo que lhe interessa para suporte das suas teses, rejeitando tudo o que com elas não se compatibiliza. Acontece na realidade que o espiritismo tem tido uma capacidade de previsão e de explicação notável dos fenómenos, o que em ciência é sempre considerado como a melhor prova da correcção de uma teoria.
Em segundo lugar, nós espíritas não podemos deixar de sorrir por vezes perante o preconceito com que a ciência oficial encara toda a fenomenologia que escapa às ferramentas do seu método habitual. É interessante assinalar, por exemplo a posição de um dos autores atrás citados sobre este tema da origem da vida, quando classifica de «recurso ao sobrenatural» as teses que recorram a intervenções externas para dinami-zar a vida no nosso planeta. É uma atitude equivalente a desprezar o pensamento de um indígena que, ao encontrar um relógio perdido num deserto, associasse o maravilhoso do mecanismo à intervenção de outros seres mais evoluídos. Se não se deve, na realidade, em ciência, fomentar o mito, também não é adequado deitar fora elementos de trabalho que poderiam revelar-se fundamentais.
Por fim, uma palavra de apreço à ciência por muito do que sabemos e outra de advertência. Foi com o método científico que aprendemos a ser meticulosos nas nossas observações e cautelosos nas nossas conclusões. Allan Kardec ensinou-nos a respeitar estes princípios e dessa forma incorporou o método científico no espiritismo.
Em ciência, constrói-se passo a passo, sem precipitações, aproveitando os alicerces e o edifício já edificado por outros anteriormente, sempre na esperança de que esses precursores tenham tido o mesmo cuidado na sua construção.
Mas por vezes alguns dos que se dizem cientistas não estão livres de preconceito, nem escapam à tentação de querer ver apenas aquilo que querem ver.
A história da pesquisa científica sobre a origem da vida está eivada de casos deste género, que contaminarão durante muito tempo o edifício científico nesta área. É necessário separar o trigo do joio.
__________
Parâmetros da fórmula de Drake: R : Taxa de formação de estrelas susceptíveis de gerar condições para a vida. fp : fracção de estrelas com sistemas planetários. ne: fracção de planetas com condições ambientais para suportar vida. fl : fracção de planetas com condições apropriadas, que suportam vida actualmente. fi : fracção de planetas com vida, que terão vida inteligente. fc : fracção de civilizações com capacidade tecnológica para serem detectadas no espaço. L :indicador da duração de uma civilização capaz de enviar para o espaço sinais inteligentes detectáveis. N = número de civilizações tecnológicas detectáveis no Universo.
Referências bibliográficas:
(1) Stephen Hawking .O Fim da Física. Gradiva (1994).
(2) B.Yavorsky, A.A.Detlaf. Prontuário de Física. Edit. Mir (Moscovo 1984).
(3) Máximo Ferreira, G. Almeida. Introdução à Astronomia e às Observações Astronómicas. Plátano edit. (1993).
(4) Robert Burnham. Glorious Universe. Astronomy-Out-1992.
(5) Belind Wilkes.The emerging pictures of quasares. Astronomy-Dez-1991.
(6) Jeff Kanipe. Rethinking the Big-Bang. Astronomy-Abr-1992.
(7) David Bruning. Lost and found: pulsar planets. Astronomy-Jun-1992.
(8) David Brunning. Desperately seeking Jupiters. Astronomy-Jul-1992.
(9) Seth Shostak. Listening for life. Astronomy-Out-1992.
(10) Christopher Chyba. The cosmic origins of life on Earth. Astronomy-Nov-1992.
(11) Ken Croswell. Have Astronomers solved the quasar enigma?. Astronomy-Fev-1993.
(12) Alan Dyer. A new map of the Universe. Astronomy-Abr-1993.
(13) Julie Paque. A friend for life? . Astronomy-Jun-1995.
(14) Richard Monda. Shedding light on Dark Matter. Astronomy-Fev-1992.
(15) Planetary Society. Planetary Report; vol. xiii, nº 5.
(16) Planetary Society. Planetary Report; vol. xv, nº 3.
(17) Michio Kaku. What happened before the Big-Bang?. Astronomy-Mai-1996.
(18) Patrick Moore. The New observer’s book of Astronomy. Warne publ. (Londres 1962).
(19) Robert Naeye. New solar systems. Astronomy-Abr-1996.
(20) Robert Shapiro. Origens - A criação da vida na Terra, um guia para o céptico. Gradiva (1987).
(21) Barry Parker. Tunnels through time. Astronomy-Jun-1992.
Revista de Espiritismo nº. 33, Outubro/Dezembro 1996
texto - http://www.panoramaespirita.com.br/novo/artigos/ciência
imagem - ovnihoje.com
Um comentário:
O Espiritismo nos dá a certeza de que não estamos a sós. Também não teo o do porquê não ser assim. Será que Deus daria apenas este pequeno planeta numa infinidade de estrelas e planetas para viver? Falta lógica e bom-senso, que a Ciência vai alcançar um dia.
Abraços
Postar um comentário