sábado, 28 de maio de 2011

AS MEMÓRIAS HUMANAS


Marta Antunes Moura


O Dicionário Médico Enciclopédico Taber informa, na página 1.103 da 17a edição, que “memória é registro, retenção e recordação mental da experiência, conhecimento, idéias, sensações e pensamentos passados”. Apresenta, em seguida, significados de vários tipos de memória humana. A Neurobiologia e a Psicologia Cognitiva apresentam conceitos semelhantes, destacando que não existe uma memória, mas várias. Médicos, biólogos e psicólogos concordam que a memória é a base do conhecimento, independentemente da forma com que se apresente. Deve, pois, ser estimulada e desenvolvida para que experiências humanas se acumulem e sejam capazes de imprimir significado à vida cotidiana.

As pesquisas científicas mais significativas são recentes (segunda metade do século vinte), a despeito de existirem informações que se reportam a Sócrates e Aristóteles. Os estudos das diferentes memórias são complexos e envolvem uma gama de conhecimentos especializados, sobretudo investigações sobre fatores neurofisiológicos, bioquímicos, moleculares e emocionais. Importa considerar que a memória não se restringe a um “local” ou “setor” em nosso cérebro, onde são guardados os registros do mundo e de nós próprios. Por não ser também uma função única de retenção de dados informativos, evita-se hoje falar em memória, no sentido singular, mas em vários sistemas ou tipos de memórias, que abarcam mecanismos, tipos e formas relacionados a diferentes funções mentais.

A memória humana está, atualmente, classificada em dois tipos, segundo os critérios de duração, funções cerebrais envolvidas, grau de retenção, conteúdos e processamentos neurológicos: memória declarativa e memória de procedimentos.

A primeira, relacionada à capacidade de verbalizar fatos e eventos, depende do esforço de evocação ou de recordação. Está subdividida em:

a) memória imediata, assim denominada porque tem duração de segundos, ou menos, sendo apagada em seguida. Exemplo: capacidade de repetir mentalmente um número antes de uma discagem telefônica;

b) memória de curto prazo ou, segundo a Psicologia Cognitiva, memória de trabalho. A duração é de algumas horas, deixando traços na mente. Está vinculada às emoções, às sensações e aos hábitos. O cérebro registra apenas o que precisa ser lembrado e utilizado. Exemplos: lembranças sobre alimentos ingeridos no almoço ou de atividades realizadas no dia anterior;

c) memória de longo prazo. Esta memória abrange períodos de tempo maiores, meses ou anos. Exemplo: aprendizado de uma nova língua.

O segundo tipo de classificação da memória – a de procedimentos ou não-declarativa – diz respeito à capacidade mental de reter e processar informações que não podem ser verbalizadas. Exemplos: tocar um instrumento musical, andar de bicicleta, executar uma atividade manual (bordar ou costurar, pintar uma parede) ou procedimento técnico (fazer incisão cirúrgica). Trata-se de uma memória mais permanente, difícil de ser perdida.

Existem outros tipos de memórias que podem ser inseridos nessa classificação, como as memórias implícita e explícita, comumente identificadas nas abordagens cognitivistas. As duas estão relacionadas à capacidade mental de “lembrar de informações armazenadas em diferentes tipos de memórias, como a declarativa (fatos) e procedural (movimentos)”.1 Há também as memórias semântica e episódica. A semântica refere-se à retenção de informações solidamente aprendidas, tais como conceitos, habilidades, fatos e raciocínios: “Seria uma memória de domínio, expertise, de informações utilizadas de forma adequada e freqüentemente (por exemplo, gramática, matemática, vocabulários, fatos) associadas a abstrações e linguagem”.2 A memória episódica está associada à lembrança de eventos pontuais que especificam quando, onde e como aconteceram em nossa vida. Depende, pois, do contexto espaço- temporal.2

Doenças físicas e psíquicas, traumas psicológicos ou provações previstas no planejamento reencarnatório podem afetar os diferentes tipos de memória. As patologias neurológicas (AVC,Doença de Alzheimer, amnésias, etc.), em especial, têm servido de referência para estudos avançados. O padrão comum, no que diz respeito aos dispositivos reencarnatórios em vigência no Planeta, é ode não se recordar de experiências pregressas vividas em outras existências ou no plano espiritual. Recordações espontâneas de vidas passadas ainda representam exceção à regra.

O grande desafio apresentado às ciências biomédicas é o de precisar onde e como são processadas as informações que caracterizam as memórias: no cérebro ou na mente? Os cientistas concordam que os processos de memórias ocorrem nos lobos cerebrais, sendo que os lobos frontais têm ação específica porque fazem conexões com outras estruturas do cérebro, como o hipocampo e a amídala neural. Essa concordância não se estabeleceu, porém, em bases pacíficas, provocando uma polêmica que parece não ter fim. Há cientistas que defendem a idéia de que o cérebro serve apenas de suporte para a manifestação da mente; outros argumentam que o cérebro em atividade “cria” a mente.3

A Doutrina Espírita não tem dúvidas a esse respeito. Como espíritas, sabemos que o comando de todos os processos intelectivos e morais cabe ao Espírito. A mente é de natureza extrafísica e dirige todas as funções fisiológicas, sobretudo as neurológicas, com auxílio do perispírito. O perispírito serve de intermediário entre o Espírito e o corpo, transmitindo sensações e percepções. “[...] Relativamente às que vêm do exterior, pode-se dizer que o corpo recebe a impressão; o perispírito a transmite e o Espírito, que é o ser sensível e inteligente, a recebe. Quando o ato é de iniciativa do Espírito, pode dizer-se que o Espírito quer, o perispírito transmite e o corpo executa”.4

O assunto, entretanto, é bem mais complexo do que imaginamos. O Espírito André Luiz esclarece que o acesso a memórias é feito por meio de ações apropriadas no cérebro (físico e/ou perispiritual), conforme demonstra a experiência vivida por dona Laura e o esposo Ricardo, personagens de Nosso Lar: “[...] Depois de longo período de meditação [...] fomos submetidos a determinadas operações psíquicas, a fim de penetrar os domínios emocionais das recordações. Os espíritos técnicos no assunto nos aplicaram passes no cérebro, despertando certas energias adormecidas... [...]”.5

Os lobos frontais do cérebro, objeto de importantes estudos atuais, desenvolvidos pela Ciência, são especialmente manipulados quando se deseja acessar arquivos de memórias. No Mundo Maior, há o relato
da ação de Cipriana no cérebro de Ismênia, visando a liberação de memórias específicas (memória episódica): “[...] nossa diretora, cingindo-lhe os lobos frontais com as mãos, a envolvê-la em abundantes irradiações magnéticas, insistia, meiga, provocando a emersão da memória em seus mais importantes
centros perispiríticos [...]”.6

André Luiz, na tentativa de esclarecer a relação que existe entre o cérebro e a mente do Espírito, revela a importância de ambos nos processos de memórias e do psiquismo humano:

“Erguendo-se sobre os vários departamentos do corpo [...] o cérebro, com as células especiais que lhe são próprias, detém verdadeiras usinas microscópicas [...].

É aí, nesse microcosmo prodigioso que a matéria mental, ao impulso do Espírito, é manipulada e expressa [...].

Nas reentrâncias de semelhante cabine, de cuja intimidade a criatura expede as ordens e decisões [...] temos, no córtex, os centros da visão, da audição, do tato, do olfato, do gosto, da palavra falada e escrita, da memória [destacamos] e de múltiplos automatismos, em conexão com os mecanismos da mente, configurando os poderes da memória profunda, do discernimento, da análise, da reflexão, do entendimento e dos multiformes valores morais de que o ser se enriquece no trabalho da própria sublimação”.7


Referências:

1- BERTOLOZZI, Márcia Regina. Um estudo sobre a memória e solução de problemas: enfoque das neurociências. Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção
do título de Mestre em Engenharia.
São Paulo: USP, 2004. p. 26.

2- Idem, ibidem. p. 27.

3- Idem, ibidem. p. 25.

4-KARDEC, Allan. Obras póstumas. 38. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Primeira parte, “Manifestações dos Espíritos”, item 10, p. 49-50.

5-XAVIER, Francisco Cândido. Nosso lar. Pelo Espírito André Luiz. 56. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 21, p. 136-137.

6- No mundo maior. Pelo Espírito André Luiz. 24. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005. Cap. 19, p. 296.

7- XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Mecanismos da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 25. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap. 9, p. 81-82.


Reformador - Novembro 2006


texto - http://www.panoramaespirita.com.br/novo/artigos/50-ciencia/
imagem - prevenlife.blogspot.com

4 comentários:

Catia Bosso disse...

Tu acredita mesmo que podemos nos basear em fatos de vidas passadas pra escolhermos algo nesta vida atual? por ex uma profissão, etc?

Acha q nossa memória espiritual pode beneficiar a faculdade atual de estudo?

Acha que atraves de uma regressão podemos saber se estamos na profissão certa?

Quero saber com todo respeito, até pq considero muito serio este assunto.

Catia

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Olá Jorge. Esse assunto é complexo e sério e foi muito bem colocado aqui. Inclusive com outras referências para quem quiser se aprofundar nesse estudo. Beijos, meu amigo.

Jorge Nectan disse...

Quando reencarnamos, Esquecemos o nosso passado para reiniciarmos a nossa caminhada baseada nesta reencarnação. Temos apenas as tendências do nosso passado e é com isso que vamos seguir nesta vida. Se Deus nos fez nascer assim, é porque lembrar do passado pode não ser bom para nós.
Quanto a regressão, não é recomendado a não ser em casos extremos de desequilíbrios.


Um grande beijo, Catia!!!

Jorge Nectan disse...

Maria José,
é um assunto fascinante, mas complexo também. Um vasto campo de estudos onde ainda temos muito a aprender.

Um super-beijo, Coração!!!

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