quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A ARCA DE NOÉ


Paulo da Silva Neto Sobrinho


Iremos estudar, numa análise crítica, longe do fanatismo religioso, a Bíblia para que tenhamos uma visão sobre este assunto: ficção ou realidade?

Tomaremos, para isto, alguns versículos dos capítulos 6 a 9 da Gênesis.

“O Senhor arrependeu-se de ter criado o homem na terra, e teve o coração ferido de intima dor”. (Gênesis 6, 6).

Que Deus é este que chega ao absurdo de arrepender-se de ter criado o homem. Onde estava a sua onisciência? Talvez seja um Deus humano, ou seja, de carne e osso como um ser humano, pois até coração Ele tinha.

“E disse: ‘Exterminarei da superfície da terra o homem que criei, e com ele os animais, os répteis e as aves dos céus, porque me arrependo de os haver criado’”. (Gênesis 6, 7).

Se Deus após ver a maldade dos homens (O Senhor viu que a maldade dos homens era grande na terra, e que todos os pensamentos do seu coração estavam continuamente voltado para o mal, conforme se lê em Gênesis 6, 5) arrepende-se e resolve eliminar os homens da face da terra, até que tinha seus motivos, mas os animais, os répteis e as aves dos céus não tinha nenhum motivo para exterminá-los, a não ser por pura “maldade”, coisa que foi o motivo da condenação dos homens. E os animais que vivem nas águas eram inocentes?

“Noé era um homem justo e perfeito no meio dos homens de sua geração. Ele andava com Deus”. (Gênesis 6, 9).

Vejamos como Noé era um homem justo e perfeito: “Noé, que era agricultor, plantou uma vinha. Tendo bebido vinho, embriagou-se, e apareceu nu no meio de sua tenda. Cam, o pai de Canaã, vendo a nudez do seu pai, saiu e foi contá-lo aos seus dois irmãos”. (Gênesis 9, 20-22) Quando Noé despertou de sua embriaguez, soube o que tinha feito o seu filho mais novo. “Maldito seja Canaã, disse ele; que ele seja o último dos escravos de seus irmãos”. (Gênesis 9, 24-25).

Que comportamento exemplar para um homem perfeito, se embebeda e sai nu pelo acampamento. Que homem justo, quando castiga a Canaã, seu neto, em vez de castigar a seu filho Cam, que não parece ser o filho mais novo e sim o do meio (“Noé teve três filhos: Sem, Cam e Jafet”, em Gênesis 6, 10), por ter visto a sua nudez, quando a culpa era dele mesmo Noé ao sair pelo acampamento nu como se estivesse desfilando no Sambódromo em pleno Carnaval.

“Faze para ti uma arca de madeira resinosa, dividi-la-ás em compartimentos e a untarás de betume por dentro e por fora. E eis como o farás: seu comprimento será de trezentos côvados, sua largura de cinqüenta côvados, e sua altura de trinta. Farás no cimo da arca uma abertura com dimensão dum côvado. Porás a porta da arca a um lado, e construirás três andares de compartimentos”. (Gênesis 6, 14-16).

No livro A História da Bíblia, de Hendrik Willem Van Loon, tradução de Monteiro Lobato podemos ler o seguinte: “Noé e os filhos puseram-se ao trabalho, sob a chacota dos vizinhos. Que estranha idéia construir um navio num lugar onde não havia água – rio nenhum, e o mar a mil milhas distante!”. Ora, se uma milha equivale a 1.609 metros, temos, então, que estavam a 1.609 km do mar. Pela distancia que moravam do mar é bem provável que não tinham a menor experiência sobre construção naval, não é mesmo? Assim como conseguiram construí-la?

Conforme pudemos apurar nas notas explicativas o côvado equivale a 45 cm. Então temos: comprimento 45 cm x 300 = 135 metros, largura 45 cm x 50 = 22,5 metros e altura 45 cm x 30 = 13,5 metros. Como cada um dos três andares mediria 3.037,5 metros quadrados, a área total da arca estaria pelos 9.112,5 metros quadrados. Área muito pequena para caber tudo o que Deus ordenara a Noé colocar lá dentro. Como veremos na passagem seguinte.

“De tudo o que vive, de cada espécie de animais, farás entrar na arca dois, macho e fêmea, para que vivam contigo. De cada espécie de aves, e de cada espécie de animais que se arrastam sobre a terra, entrará um casal contigo, para que lhes possa conservar a vida. Tomarás também contigo de todas as coisas para comer, e armazená-los-as para que te sirvam de alimento, a ti e aos animais”. (Gênesis 6, 19-21).

Imaginemos: Noé com sua família eram 8 pessoas, soma-se mais um casal de todos os animais vivos e mais alimentação para as pessoas e os animais que teria de durar por um ano, quando saiu Noé já tinha um neto, Canaã, qual seria o peso e o volume disto tudo? Caberia nestes poucos mais de 9.000 metros quadrados? Além de que a diversidade da alimentação dos animais, como colocar isto dentro da arca? Mais ainda, não foi ordenado a Noé colocar água dentro da arca, como os seres viveram por pouco mais de um ano sem água para beber? E o que se come não é eliminado pelo organismo? Aonde foram jogados os dejetos dos homens e dos animais, pois a arca estava quase que totalmente fechada? E o ar lá dentro, como deveria estar? Haveria ainda oxigênio para se respirar nesta arca? Será que com somente 8 pessoas eles conseguiriam alimentar todos os animais todos os dias, sem um único dia para o descanso, durante o período de um ano e pouco?

“O Senhor disse a Noé:" Entre na arca, tu e toda a tua casa, porque te reconheci justo diante dos meus olhos, entre os de tua geração. De todos os animais puros tomarás sete casais, macho e fêmea, e de todos os animais impuros tomarás um casal, macho e fêmea, das aves dos céus igualmente sete casais, machos e fêmeas, para que se conserve viva a raça sobre a terra”. (Gênesis 7, 1-3).

Aqui se fala em sete casais de animais, puros e das aves, ora, anteriormente já não havia dito ser de todos os animais um casal apenas? Não estaria em contradição?

“O dilúvio caiu sobre a terra durante quarenta dias. As águas incharam e levantaram a arca, que foi elevada acima da terra. As águas inundaram tudo com violência, e cobriram toda a terra, e a arca flutuava na superfície das águas. As águas engrossaram prodigiosamente sobre a terra, e cobriram todos os altos montes que existem debaixo dos céus; e elevaram-se quinze côvados acima dos montes que cobriam”. (Gênesis 7, 17-20).

Na terra encontramos a água nos rios e mares, na atmosfera, nas nuvens, nos lençóis subterrâneos e em forma de gelo nas altas montanhas e nos pólos. As que se encontram na superfície correm para as partes mais baixas do planeta, formando os mares. E segundo a ciência 2/3 do nosso planeta é composto de água. Ora para se ter água a ponto de cobrir todos os montes da terra, temos duas hipóteses:

1ª - afundamento de toda a superfície de terra; ou...

2ª - as águas da chuva vieram de outro lugar que não a Terra, pois água do nosso planeta é pouca para cobrir todos os montes altos (Monte Evereste 8.848 metros de altura).

Se considerarmos um dilúvio localizado, em determinada região da Terra, e não nela toda, é bem possível a 1ª hipótese, fora disto só em filmes de Steven Spielberg.

Interessante a nota de rodapé constante, nesta passagem, na Bíblia Sagrada, Editora Vozes: O dilúvio não foi universal mas uma grande inundação que cobriu o horizonte geográfico de Noé. A existência de histórias do dilúvio em outros povos primitivos mostra que há uma consciência geral sobre uma catástrofe que ameaçou a humanidade dos primórdios. Ótimo, confirma a possibilidade de ser localizado, entretanto o que não compreendemos é que apesar disso ainda teimam em dizer que ele foi universal.

“No ano seiscentos da vida de Noé, no segundo mês, no décimo sétimo dia do mês, romperam-se naquele dia todas as fontes do grande abismo e abriram-se as barreiras dos céus". (Gênesis 7, 11).

“No ano seiscentos e um, no primeiro mês, no primeiro dia do mês, as águas tinham secado sobre a terra. Noé descobriu o teto da arca, olhou e viu que a superfície do solo estava seca. No segundo mês, no vigésimo sétimo dia do mês, a terra estava seca". (Gênesis 8, 13-14).

Do início do dilúvio e até o dia em que a terra estava toda seca, passaram-se 1 ano e 10 dias (considerando-se o mês de 30 dias). Período confirmado pelo nascimento de Canaã, neto de Noé, filho de Cam.

Observar que Noé descobriu o teto da arca, o que leva a crer que neste período todo a arca estava completamente fechada, numa escuridão total. Como viveram os que lá estavam, neste período todo, sem a luz do sol?

“Ora, Deus lembrou-se de Noé, e de todos os animais e de todos os animais domésticos que estavam com ele na arca”. (Gênesis 8, 1).

Ainda bem que Deus se lembrou, pois se isto não tivesse acontecido estaria chovendo até hoje, assim as águas já teriam transbordado do planeta, atingindo o espaço sideral.

“E Noé levantou um altar ao Senhor: tomou de todos os animais puros e de todas as aves puras, e ofereceu-os em holocausto ao Senhor sobre o altar”. (Gênesis 8, 20).

É incrível que depois de todo sacrifício para salvar os animais, queima-os ao Senhor, o mesmo Deus que ordenara a Noé salvar os animais.

“O Senhor respirou um agradável odor, e disse em seu coração: ‘Doravante, não mais amaldiçoarei a terra por causa do homem – porque os pensamentos do seu coração são maus desde a sua juventude -, e não ferirei mais todos os seres vivos, como o fiz’”. (Gênesis 8, 21).

Os animais sendo oferecidos em sacrifício, queimando no altar, e Deus respirando o cheiro “agradável” de carne queimada. Aqui, novamente, Deus é de carne e osso, pois até respira e sente cheiro. Na fala entendemos que Deus, finalmente, por compreender que o homem tinha os pensamentos maus desde a juventude se arrepende de o ter eliminado, então promete não mais ferir os seres vivos.

“Vós sereis objeto de terror e espanto para todo o animal da terra, toda a ave do céu, tudo que se arrasta sobre o solo e todos os peixes do mar: eles vos são entregues nas mãos”. (Gênesis 9, 2).

Bom, deve ter havido algum engano, pois se estiver em nossa frente um leão faminto ele não vai tremer por estarmos diante dele, com certeza, depois de nos almoçar, vai deitar e roncar feliz da vida.

“Deus disse:" Eis o sinal da aliança que eu faço convosco e com todos os seres vivos que vos cercam, por todas as gerações futuras. Ponho o meu arco nas nuvens, para que ele seja o sinal da aliança entre mim e a terra. Quando eu tiver coberto o céu de nuvens por cima da terra, o meu arco aparecerá nas nuvens, e me lembrarei da aliança que fiz convosco e com todo ser vivo de toda a espécie e as águas não causarão mais dilúvio que extermine toda criatura. Dirigindo a Noé, Deus acrescentou: “Este é o sinal da aliança que faço entre mim e todas as criaturas que estão na terra”. (Gênesis 9, 12-15, 17).

Como quase esqueceu que Noé estava na arca durante o dilúvio, e para não correr o risco de esquecer-se da aliança que agora fazia com Noé, resolve colocar um arco nas nuvens, assim como nós que amarramos fitinha nos dedos para não esquecermos de algo que não podemos deixar de fazer.

Afinal, sabe que arco é esse? Não? Então vamos ver o que é na Bíblia Sagrada, Editora Vozes Ltda., 8ª Edição, em Gênesis 9, 14, 16: “Quando cobrir de nuvens a terra, aparecerá o arco-íris. Quando o arco-íris estiver nas nuvens eu o olharei como recordação da aliança eterna entre Deus e todos os seres vivos, com todas as criaturas que existem sobre a terra”. É isto mesmo, o famoso arco-íris que aparece no céu após uma chuva como fenômeno natural, os raios do sol refletindo nas águas das nuvens se decompõem em 7 cores principais. Processo também obtido com um prisma de cristal. Mas Deus ainda não tinha conhecimento disto, não é mesmo?

“Noé viveu ainda depois do dilúvio trezentos e cinqüenta anos; a duração total da vida de Noé foi de novecentos e cinqüenta anos, e morreu”. (Gênesis 9, 28-29).

Entre outros de longa vida, temos Noé com 950 anos, frontalmente contra os argumentos dos cientistas que colocam a vida humana bem abaixo disto, com um tempo próximo desta narrativa: “O Senhor então disse: ‘ Meu espírito não permanecerá para sempre no homem, porque todo ele é carne, e a duração de sua vida será só de cento e vinte anos’”. (Gênesis 6, 3) É de se perguntar, será que Deus não se lembrou de Noé e ele conseguiu ultrapassar a duração da vida que Ele tinha fixado em 120 anos?

Como conclusão, podemos verificar que existem fatos na Bíblia que fogem ao censo lógico e científico. Não deixando de citar as adulterações efetuadas (como no caso do arco-íris, que não consta da Bíblia editada pela Editora Ave Maria), sabe-se lá porque motivos. Assim podemos aceitar que a história de Noé como relatada é fantasiosa, entretanto como a questão do dilúvio parece constar da cultura de outros povos, poderemos até aceitar, mas somente se ele tiver sido algo localizado e não sobre a terra toda.

E para confirmar que a história de Noé, não passa de uma lenda, vamos ver o que consta da Revista Galileu, Fevereiro/2001, nº 115:



As raízes de Noé

Lendas sobre grandes dilúvios estão espalhadas entre diferentes culturas. Estima-se que cerca de 300 histórias desse tipo já tenham sido registradas. A de Noé, no entanto, é a mais famosa na civilização ocidental.

Estudiosos apontam que o Dilúvio, parte do livro do Gênesis, tenha sido escrito entre 550 a.C. e 450 a.C., período em que os judeus mais influentes de Jerusalém foram aprisionados na Babilônia. “O Gênesis cumpria o papel de reforçar a identidade desse povo”, explica Fernando Altemeyer, professor de teologia da PUC. Inspirado na literatura babilônica, o livro mostrava que os judeus tinham uma história e um passado respeitável e deveriam buscar seu futuro a partir daqueles ensinamentos de seus antepassados.

A história de Noé tem muito em comum com um poema babilônico escrito por volta de 1600 a.C., que faz parte do Épico de Gilgamesh. O poema trata de um rei mítico chamado Atrahasis, que é avisado a tempo pelos deuses de que um dilúvio está prestes a destruir a humanidade. Atrahasis constrói então uma enorme embarcação, e nela coloca sua família, seus pertences e alguns animais. As semelhanças entre o Gênesis e Gilgamesh são muitas. A lenda babilônica, por sua vez, também não é original, mas baseada em uma história suméria cerca de mil anos mais antiga, provavelmente assimilada pelos babilônicos durante a conquista da região.

A versão babilônica não influenciou somente o Antigo Testamento. Entre os gregos, a lenda era muito popular, pois eles mesmos já tinham presenciado a fúria das águas devido à erupção de um vulcão no século 15 a.C. Dos gregos, a história passou aos romanos, e dessa vez, quem assume a autoria do dilúvio é o deus Júpiter, enfurecido com a má conduta humana.


Fev/2001.

Bibliografia:
Bíblia Sagrada, Editora Ave Maria Ltda., 68ª edição;
Bíblia Sagrada, Editora Vozes, 8ª Edição.
A História da Bíblia, Hendrik Willem Van Loon, tradução de Monteiro Lobato, Editora Cultrix, São Paulo, 1981.
Revista Galileu, fevereiro/2001, Ano 10, nº 115, Editora Globo.


imagem - scb.org.br

6 comentários:

Unknown disse...

Sem condições de ler hoje, dificuldade de concentração...
Beijos :)

Bloguinho da Zizi disse...

Caro Jorge
Os véus estão caindo, mas ainda há quem prefira mantê-los sobre os olhos.
Sou grata.

Hana disse...

Querido amigo, aki é um banho de sabedoria, e venho banhar-me sempre aki sempre que posso, hoje com tempo, passei meu tempo aki, adoroooooo sempre.Mas quanto ao seu post, quem conta um conto sempre coloca mais uma virgula, rs, eu adoro estas lendas do diluvio, das pragas do egito, as historias são lindas mas com interpretações imaginarias, sempre.beijossssssss
com carinho
Hana

Jorge Nectan disse...

Jeanne,

o que vale é a sua presença!!

Beijo, de coração!!!

Jorge Nectan disse...

Zizi,

concordo com você. Mas mesmos estes, abrirão os olhos um dia.

Um beijo, ANjo!

Jorge Nectan disse...

Hana,

em tudo que lemos podemos tirar coisas boas, afinal nada se joga fora, simplesmente por acharmos que nada temos a aprender.
Anjo, um doce beijo!!!

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