terça-feira, 13 de julho de 2010

"O SÉCULO DAS LUZES" E O ESPIRITISMO


Juvanir Borges de Souza

O século XIX, denominado o “século das luzes”, pelo grande desenvolvimento dos conhecimentos humanos, caracteriza-se também pelo aparecimento de filosofias de conteúdo e fundo materialista que influenciaram poderosamente sobre as ciências e sobre o pensamento e as atitudes mentais do homem, retardando-lhe o conhecimento das realidades espirituais.

Estamos convencidos de que, sem prejuízo do livre-arbítrio dos habitantes da Terra, a Espiritualidade Superior, sob a orientação do Governador Espiritual deste Orbe, observando o avanço de sistemas materialistas inteligentemente organizados no decorrer do “século das luzes”, escolheu esse período da história humana para a vinda do Consolador, prometido por Jesus quando de sua passagem pela Terra.

Era a forma e o meio de assistir e amparar à Humanidade, contrabalançando a onda poderosa do materialismo multifário, dando-lhe as respostas que as religiões dogmáticas não ofereciam de forma proveitosa e convincente.

O materialismo sempre exerceu influência poderosa sobre a Humanidade, desde os tempos primitivos, procurando explicar os problemas das origens e as questões éticas, psicológicas e do conhecimento sempre com base na matéria e em processos mecânicos.

Em contraposição ao materialismo, as doutrinas espiritualistas, quer quanto aos fenômenos naturais, quer quanto aos valores morais, admitem o primado e a independência do espírito com relação à matéria.

No decorrer dos milênios, jamais houve conciliação entre materialismo e espiritualismo, este representado pelas religiões e aquele por diversas correntes filosóficas.

As ciências humanas deixaram-se influenciar pelo materialismo, o que se torna evidente até os dias atuais.

Mas é no século XIX, com o aparecimento de novos sistemas filosóficos de fundamentação materialista, que se evidencia a necessidade de contrabalançar a poderosa influência advinda desses novos sistemas sobre o pensamento humano e sobre os fenômenos mentais, espirituais, sociais, educacionais, morais e éticos, de interesse de todos os homens.

Se, de um lado, tomam corpo o Materialismo histórico-dialético e mecanicista, o Positivismo e o Utilitarismo, conduzidos por homens inteligentes mas preocupados somente com o imediatismo da vida, de outro lado surge o Espiritismo, o Consolador prometido, conduzido pelo Espírito de Verdade, o Cristo de Deus de volta.

Era o socorro da Espiritualidade Superior à Humanidade, já que as religiões se mostraram incapazes de demonstrar a incongruência do materialismo. Era necessário comprovar a existência do espírito, o outro elemento do Universo que interage com a matéria, ambos criados pela Inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas.

A Doutrina dos Espíritos, por meio de provas irrecusáveis, veio revelar aos homens um outro mundo, uma nova dimensão da vida, o mundo espiritual e suas relações com o mundo material.

Em 1848 surge o Manifesto Comunista, de Karl Marx, dando origem à criação de uma das escolas sociológicas materialistas que exerceria larga influência em todo o mundo, projetando-se no século XX.

O materialismo histórico e dialético de Marx, ao qual se associa Engels, seria a base da luta contra o idealismo das filosofias qualificadas de burguesas.

Da ideologia proletária de Lênin (marxismo-leninismo) resultou a grande revolução russa de 1917, que criou o regime soviético, dominante na Rússia e países da Europa oriental por mais de setenta anos.

Do Ocidente, a ideologia transferiu-se ao Oriente, dando origem à vitoriosa revolução chinesa, que custou o sacrifício de cerca de 48,5 milhões de vidas humanas.

O materialismo, sob a forma do marxismo, sustenta a ideologia de que a história é uma sucessão de lutas de classes sociais. O homem é visto somente do ponto de vista material: o “homem econômico”. As religiões são consideradas “o ópio do povo”.

Pelas conseqüências que gerou pode-se avaliar os prejuízos a que é levada a organização social, quando o homem é tomado apenas no seu aspecto material, com abstração da realidade do ser espiritual que ele é também – corpo material e espírito.

Assim, a concepção marxista da história, sua fixação na luta de classes, nos modos de produção e no estabelecimento da ditadura do proletariado são algumas das conseqüências de um pressuposto totalmente enganoso do materialismo.

O próprio desenrolar dos acontecimentos – guerras, organização do Estado e da sociedade, falta de incentivo ao trabalho individual – levou o povo à desilusão, na Rússia e países-satélites, pondo fim ao regime político-social dominante, com a volta à denominada democracia.

É interessante observar que, no mesmo ano do lançamento do Manifesto de Karl Marx (1848), surgiam os fenômenos de Hydesville, uma manifestação espiritual no mundo material, como tantas outras, em todos os tempos, mas que, naquele momento, tinha uma significação especial, como a lembrar aos homens a continuação da vida, além da morte.

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O Positivismo, de Augusto Comte (1798-1857) é um sistema filosófico que encara a vida unicamente pelo seu lado prático, de interesses imediatos e utilitários.

Denominado por seu fundador de “a religião da humanidade”, o Positivismo procurou sistematizar as ciências numa escala que começa com a Matemática e termina com a Sociologia, passando pela Astronomia, Física, Química e Biologia.

A denominada religião da humanidade compreende o culto, o dogma e o regime social e se sintetiza no amor por princípio, na ordem como base e no progresso como fim.

O Positivismo, que tem princípios que contribuíram para a construção das ciências, é, no fundo, uma filosofia materialista, de vez que não considera a existência de Deus como o Criador, nem a do Espírito imortal, limitando-se a observar e sistematizar os fenômenos da vida material na Terra.

Exerceu grande influência no século XIX e primeiras décadas do século XX.

No Brasil, a influência positivista se fez sentir no fim do Império e princípios da República, quando seus adeptos conseguiram inscrever na bandeira brasileira o dístico “ordem e progresso”, nitidamente positivista, além de ajudarem na separação entre a Igreja e o Estado, na Constituição de 1891.

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O Utilitarismo é outro sistema filosófico de fundo materialista que tem no interesse, particular ou geral, a diretriz para as ações do homem.

Algumas idéias utilitaristas provêm de filósofos gregos da antiguidade, principalmente dos sofistas, revividas por Hobbes (século XVII) e Bentham (fim século XVIII).

Modernamente, em meados do século XIX, John Stuart Mill e Spencer retomaram e desenvolveram essas idéias, que têm fácil aceitação nos indivíduos preocupados com o prazer e que fazem da utilidade o princípio de todos os valores, tanto no que diz respeito ao conhecimento quanto à ação.

É o materialismo na vida prática, em todos os tempos, inclusive na atualidade, quando não se tem noção do Bem, no seu sentido divino, que não se coaduna com o egoísmo individual e coletivo, o qual busca sempre o prazer como objetivo essencial.

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Opondo-se ao materialismo, nas suas diversas concepções filosóficas e práticas, surgiu a Doutrina dos Espíritos, sintetizada em O Livro dos Espíritos, em 1857.

Teria sido mera coincidência o aparecimento ostensivo da fenomenologia espírita, as mesas girantes, o estudo aprofundado de toda essa manifestação do mundo espiritual no mundo das formas pelo missionário Allan Kardec, justamente quando mais influentes se tornaram as diversas correntes materialistas?

Queremos crer que não houve simples coincidência no surgimento de filosofias de vida e revelações novas tão díspares.

Não é sem razão que o Espiritismo é considerado o maior opositor das doutrinas e sistemas materialistas.

Esses sistemas, que têm na matéria, como é conhecida no nosso mundo, a origem e a causa final de tudo o que existe, são profundamente prejudiciais ao homem, na sua natureza de espírito imortal ligado a um corpo material.

Não admitindo o materialismo a existência de Deus, o Criador de todas as coisas e do espírito, o segundo elemento do Universo, todas as suas concepções, criações e deduções falham em sua origem, pela supressão do elemento mais importante, embora invisível aos sentidos humanos.

Por isso acreditamos que a Espiritualidade Superior, observando a poderosa influência do pensamento materialista dos filósofos e pensadores do século XIX, procurou contrabalançá-la com a vinda do Consolador, prometido pelo Cristo, que viria relembrar verdades antigas, ao mesmo tempo que trazer revelações novas.

O Consolador, o Espiritismo no mundo, em pleno “século das luzes”, é o socorro às religiões, é o reforço dos conhecimentos sobre a vida atual e futura do homem, é a reafirmação da existência do Ser Supremo, o Criador do Universo e do Cristo de Deus, o Governador Espiritual da Terra.


Fonte: Revista Reformador – set/2002


endereço: http://terraespiritual.locaweb.com/espiritismo/artigo1989.html

imagem: auladeliteraturaportuguesa.blogspot.com

4 comentários:

Jeanne Geyer disse...

No curso que frequentei aprendemos que o espiritismo veio no momento em que a humanidade estava preparada intelectualmente para recebê-lo.
Hoje apesar de tudo parece que a espiritualidade está prevalecendo, talvez até como busca de respostas...
Beijos

Teresa Cristina disse...

Oiee!
O iluminismo o crescimento do ser humano e de toda a humanidade por meio das luzes da razão. A chamada idade da razão tem por objetivo a sua própria autonomia, no sentido de vencer as trevas da superstição, da ignorância, do fanatismo e da intolerância tanto moral quanto religiosa.
Ótimo Post!
Bjss e td de bom pra ti!!

Jorge Nectan disse...

Jeanne,

surgiu no momento certo também porque o materialismo estava se fortalecendo.


Um doce beijo, Anjo!!!

Jorge Nectan disse...

Teresa,
o objetivo do Espiritismo é iluminar mentes livres de preconceitos.
Ele nos trouxe a razão iluminada pelo bom-senso, ante o positivismo que se alastrava.

Anjo, beijo, de coração!!!

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