sábado, 13 de março de 2010

BULLYING ESCOLAR - UMA VISÃO ESPÍRITA


Edgard Diaz de Abreu

Todas as crianças e adolescentes têm direito a escolas onde existam alegria,amizade, solidariedade e respeito às características individuais de cada um deles.

Aramis Antonio Lopes Neto

Neste artigo vamos abordar uma das formas de assedio moral, o bullying escolar, prática cada vez mais freqüente nas escolas, e que vem causando grandes transtornos nas vidas das vítimas desse processo.
A prática de bullying começou a ser pesquisada há cerca de 10 anos na Europa, quando descobriram que essa forma de violência estava por trás de muitas tentativas de suicídios de adolescentes.
Não temos a pretensão de esgotar o tema, mas apenas e sobretudo lançar um pouco de luz num assunto tão importante, e alertar para esta pratica tão desumana da nossa sociedade. Não resta dúvida que o mundo atual encontra-se enfermo, e a ética está abandonada por grande parte da população, resultando em comportamentos cuja tônica é o egoísmo. Trata-se de forma de exclusão escolar e por extensão social, perversa e cruel, já que, normalmente, colegas de escola freqüentam muitas vezes os mesmos lugares, tais como cursinhos de inglês, academias de ginástica, shopping centers, e festinhas; estando em contato certamente grande parte do dia, inclusive fora das escolas.
Psicólogos têm me asseverado que o bullying tem ocorrido em vários escolas da rede particular do Rio de janeiro, estando inclusive mais presentes nas grandes escolas, pois em escolas pequenas, fica mais difícil de realizar a prática sem chamar a atenção dos professores e da direção da escola.
Lembrando a pergunta 754 de “O Livro dos Espíritos” A crueldade não derivará da carência de senso moral?
“Dize – da falta de desenvolvimento do senso moral; não digas da carência, porquanto o senso moral existe, como princípio, em todos os homens. É esse senso moral que dos seres cruéis fará mais tarde seres bons e humanos. Ele, pois, existe no selvagem, mas como o princípio do perfume no gérmen da flor que ainda não desabrochou.
”O que viria a ser o bullying escolar? Seria quando um grupo de colegas de uma mesma escola, freqüentemente da mesma turma, promove uma segregação, de forma repetitiva, tentando isolar um dos membros da turma, seja este membro rapaz ou moça, de forma que este fique isolado e sem ambiente na turma, o que gera muitas vezes na vítima, depressão, apatia, falta de motivação, baixa do rendimento escolar, falta de apetite e tendência ao isolamento (passa a não ter prazer em sair de casa ou a se relacionar com as pessoas) e vontade de trocar de escola.
A motivação para essa conduta tem muitas causas, mas poderíamos relacionar algumas que nos parecem as mais freqüentes: busca de poder no grupo (necessidade de dominar), egoísmo, vaidade, sedução, insegurança, necessidade de chamar a atenção para si, segregação racial, segregação de classe social (aluno bolsista) etc.
A forma de execução do bullying acontece de muitas maneiras, sendo freqüente entre os rapazes o uso da força física ou psicológica e da intimidação, e entre as moças a mentira, a fofoca, a maledicência, e a difamação; todas de forma orquestrada, ou seja, de comum acordo e planejadas pelo grupo agressor, para desacreditar a vítima, de forma progressiva, numa atitude de franca antipatia, muitas vezes ignorando a vítima nos ambientes que ela freqüenta, como se ela não existisse, levando essa vítima a um stress com os sintomas relacionados acima, demonstrando a que nível de perversão alguns adolescentes estão chegando.
O levantamento realizado pela ABRAPIA, em 2002, envolvendo 5875 estudantes de 5ª a 8ª séries, das escolas públicas e privadas localizadas no município do Rio de Janeiro, revelou que 40,5% desses alunos admitiram ter estado diretamente envolvidos em atos de bullying, naquele ano, sendo 16,9% alvos, 10,9% alvos/autores e 12,7% autores de bullying.
Estudos demonstraram que a média de idade de maior incidência entre os agressores, situa-se na casa dos 13 a 14 anos, estando presente entretanto com freqüência até os 19 anos. A grande maioria, ou seja, 69,3% dos jovens admitiram não saber as razões que levam à ocorrência de bullying.
Muitas vezes os colegas percebem a situação, mas por medo se omitem, pois temem ser a próxima vítima.
Não resta dúvida que este tipo de conduta retrata um grande apego às coisas materiais e, por extensão, afastamento da religião de uma forma geral, ou seja, estes alunos, na sua grande maioria, não possuem crença religiosa, estando movidos na luta pelas aquisições materiais principalmente, já que desconhecem a vida espiritual. Podemos notar neste processo o que já relatamos em artigo anterior, “Desafios na educação do Adolescente” (RIE Agosto 2006), que trata da falta de limites de uma grande parte dos adolescentes atualmente. São pessoas que não têm pudor, e fazem de tudo para conquistar seus objetivos, passando por cima de tudo e de todos, achando que os fins justificam os meios.
Na pergunta 755 de “O Livro dos Espíritos” Kardec interroga os espíritos :“Como pode dar-se que no seio da mais adiantada civilização, se encontrem seres às vezes tão cruéis quanto os selvagens?"
"Do mesmo modo que numa árvore carregada de bons frutos se encontram frutos estragados.
São, se quiseres, selvagens que da civilização só tem a aparência, lobos extraviados em meio de cordeiros. Espíritos de ordem inferior e muito atrasados podem encarnar entre homens adiantados, na expectativa de também se adiantarem; contudo, se a prova for muito pesada, vai predominar a natureza primitiva.”
Todos sabemos que a criança para o seu pleno desenvolvimento necessita sentir-se amada, valorizada, aceita, incentivada à auto-expressão e ao diálogo, incentivada à prática religiosa, principalmente na adolescência, porém a noção de limites precisa e deve ser estabelecida com firmeza e sobretudo com coerência. Mas observa-se, na sociedade atual, crianças as quais são criadas dentro de padrões de liberalidade excessiva, sem limites, sem noções de responsabilidade, sem disciplina, sem religião e muitas vezes sem amor; estas serão aquelas com maior tendência aos comportamentos agressivos, tais como o bullying, pois foram mal acostumadas e por isso esperam que todos façam as suas vontades e atendam sempre às suas ordens.
É importante observar, que num mundo com tantas mazelas como o nosso, pode ser possível que, algumas vezes, os pais desses algozes, percebam o bullying praticado pelos filhos, mas façam vista grossa, por perceberem que a prática do filho pode estar rendendo-lhe algum tipo de vantagem, o que torna o ato mais desumano ainda, pois estaria presente a conivência paterna. Tal ato poderia ser facilmente explicado pela falta de ética e educação dos referidos pais, fato tão comum nos dias atuais.
Devemos ressaltar que o apoio da família, neste momento, é fundamental, entretanto é necessário ter prudência, pois num primeiro momento o sentimento que predomina é o da retaliação, ou mesmo da vingança. Mas a Doutrina Espírita nos ensina que violência gera violência, ou que o ódio gera mais ódio ainda, lembrando a frase do Apóstolo Paulo de Tarso: “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”. Devemos procurar os professores da turma em questão e colocar o ocorrido, de forma serena, mas com firmeza, numa tentativa de amenizar a situação, o que nem sempre é fácil, se não houver a participação de pais, professores e funcionários, em virtude dos traumas e das humilhações já vivenciadas,algumas vezes uma troca de turma numa mesma escola já pode ajudar. Podemos ainda incentivar o convívio com outros colegas, com os quais essas crianças não tinham convívio ainda, às vezes até por falta de oportunidade. Devemos ainda, caso a criança encontre-se deprimida, lançar mão da ajuda de um profissional, como um psicólogo, para ajudar na recuperação desta criança, facilitando assim sua reintegração na escola. Devemos ressaltar que trocar de escola pode não ser uma boa idéia, pois assim estaríamos dando o entendimento a criança, que toda vez que houver um problema em sua vida, é só mudar de lugar que tudo estará resolvido, ou seja, fugir do problema em vez de procurar resolvê-lo. Gostaríamos de lembrar como aprendemos na Doutrina Espírita, que nada acontece por acaso, e sendo assim tudo na vida encerra um ensinamento e, portanto, concorre para o nosso crescimento; dentro desta visão, as crianças que sofrem esta prática de assédio moral, podem estar passando por um processo de aprendizado, que as impeça de se comportarem desta forma com os outros no futuro, e ao mesmo tempo, podem estar sendo incentivadas à humildade (do latim HUMUS = terra fértil para a colheita) e a solidariedade, práticas das quais poderiam estar se afastando lentamente, em razão do mundo atual mostrar-se muito egoísta, cruel e algumas vezes prepotente, onde a imoralidade e a falta de ética, são coisas corriqueiras, assunto por nós já mais detalhado no artigo “A ética e o mundo atual” (RIE Agosto 2007).
Lidar com as adversidades da vida requer vontade, fé, serenidade e coragem(cor = coração), lembrando ainda que: “ A vontade é a mola do mundo, mas o amor é a manivela”, e relembrando Joanna de Ângelis “ Só o amor transforma conhecimento em sabedoria”.
E, para encerrar, como espíritas devemos estar sempre atentos para os atos de nossos filhos, para que não façam aos outros, o que não gostariam que lhes fizessem. Podemos nos basear no exemplo de Eurípedes Barsanulfo que, em sua escola Espírita em Sacramento, a primeira do Brasil, no início do século XX, dizia que não se satisfazia em criar cidadãos para a sociedade, mas que procurava criar filhos de Deus. A explicação é simples: filhos de Deus respeitam tudo que é criação de Deus, são, portanto, éticos e ecologicamente corretos, pois são incapazes de destruir o que Deus criou, respeitando assim a natureza e os seus semelhantes.


Bibliografia:

1 – http://www.bullying .com.br/
2 - http://www.abrapia. org.br/ (site da Associação BrasileiraMultiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência) .
3 – “O Livro dos Espíritos”, Allan kardec, perg. 754 e 755,


endereço: http://use-tatuape.blogspot.com/2008/03/bullying-escolar-uma-viso-esprita.html
imagem: internet


5 comentários:

Anônimo disse...

Meu eterno amigo, Uman.
Ótima postagem. Excelente tema para ser abordado com seriedade.
Você soube retratar com muita propriedade a problemática gerada em torno de umas das mais ignominiosas práticas chamada bullying.
Entendo que tudo gira em torno da falta de orientação dos pais e responsáveis, da ausência de limites, da permissividade exagerada, do adolescente querer se pautar em modelos nocivos da sociedade estabelecidos errôneamente como regra, e claro, a falta total de limites.
O grau do dano moral e psicológico sofrido pela vítima é muito subjetivo, mas toda e qualquer prática de bullying deve ser prontamente identificada e coibida por todos os envolvidos, inclusive os educadores,coordenadores, pedagogos, reitores, responsáveis, enfim, todos devem tomar as providências preliminares.
E se não fôr suficiente, aí sim, pelos efeitos desastrosos da prática do bullying, caberão atitudes mais severas, nos limites da lei, a fim de coibir a continuidade de atos tão nocivos, inclusive esgotar todas as vias judiciais e ingressar com as açõe próprias inclusive as criminais.
Não há como aceitar a prática de atos criminosos destes de forma pacífica, temendo retaliações, ameaças que sempre existem a eles relacionados, e deixar que estes verdadeiros meliantes, delinquentes continuem praticando atos juridicamente definidos como criminosos mesmo.
Meu amigo, rogo a Deus que ilumine as cabeças das autoridades envolvidas em prol de coibir a prática tanto do bullying como de trotes inaceitáveis, igualmente criminosos, muitos redundando em morte de alunos inocentes.

Um bom final de semana

Muitos beijos de luz

Jorge Nectan disse...

Regina, Mestra do coração,

É doloroso quem passa por isso. Concordo que é responsabilidade dos pais, e eles se justificam a conivência por falta de tempo, muito trabalho dizendo que já fez a sua parte em colocar no mundo mais um ser. Se funesta à criança com pais assim, mais funesta é a responsabilidade dos pais e as suas consequências. E numa situação dessas, todo o resto se completam.

Grande amiga, um doce beijo,
Jorge

GENINHA disse...

Boa tarde`

É a primeira vez que comento, mas visito seu Blog muitíssimas vezes. Sou sua seguidora.
Muitos parabéns e muito obrigada por tudo o que partilha connosco.

Na realidade, o bullying está já por todo o lado... em Portugal ultimamente, tivemos um caso dum rapazinho de 10 anos (Leandro), que decidiu entrar no rio Tua (norte do país) e afogou-se voluntariamente. Porque era constantemente agredido, humilhado... Na escola, sabiam e nada fizeram. O menino não resistiu mais. Parece que foi decisão do momento. Seu corpinho ainda não foi encontrado.


Há 36 anos atrás, por 2 longos anos, também eu fui vitíma de bullying psicológico - humilhada através de palavras por colegas da escola, dentro e fora da aula. Uma vez, não aguentei mais e chorei em frente de todos na aula de Religião e Moral. Lembro-me do padre-professor dizer algumas palavras de ordem, tudo acalmou um
pouco , mas depois da aula voltou tudo igual.

Motivo ? - era pequena, gordinha, peluda ... e tinha boas notas.

Tudo acabou quando mudei de escola e mudei de colegas. Contudo, a auto-estima demorou muito tempo a melhorar. Nunca pensei em suicídio, nunca tive essa inclinação, mas sofri muito.

Volvidos tantos anos, posso afirmar que todos os que eram criticados na altura, estão relativamente bem no dia de hoje, têm sua vida, sua casa, sua profissão , enfim: levam a vida adiante.
Os outros, aqueles que criticavam, que injuriavam, a grande maioria tem uma vida desiquilibrada, pelo menos um deles suicidou-se.
Quando me cruzo com algum, relembro o antigo temor, mas olhando nos olhos deles só vislumbro o cansaço, a desilusão, foi-se aquele ar de desafio, arrogante e superior. A própria vida encarregou-se do assunto.

Não é por isso que vou ficar estagnada e esquecer o assunto : - tenho uma filhinha de 5 anos, muito reguila e tenho receio que seja ela a agressora de alguém. Ou que venha a ser vítima.
Como mãe, sei que tenho o dever sagrado de a educar (não é fácil nos dias de hoje) e de lhe facilitar a compreensão e, sobretudo, de lhe ensinar a sua parte de responsabilidade nos seus actos.

E a Filosofia e Doutrina Espírita, serão certamente a minha força e o meu apoio. Muito obrigada em meu nome e de tantos outros, pela divulgação do conhecimento espírita através deste Blog. Bem Haja ! Que Deus ilumine todos os
seus caminhos !

Um abraço fraterno
de Albufeira / Portugal
Eugénia

Jorge Nectan disse...

Geninha, boa tarde!!!

Gostei demais do teu comentário!!!
É para refletir mesmo. As consequências dessas atitudes podem lesar por muito tempo uma criança que ainda está em formação em todos os sentidos.

Muito obriagado pela sua visita, minha amiga. Que bom que gosta deste cantinho. Volte sempre!!!

Beijo,
Jorge

Anônimo disse...

Eu sofri bulling na escola municipal Octavio Pereitra Lopez nos anos de 1983 a 1984, não suportava ter sofrido diariamente humilhações e até agressões fisicas a pedradas na cabeça, mudei para o Julio Pestana, mas as agreções iam diminuindo com o tempo, repeti 3 vezes a sexta série e quando terminei o antigo ginasio fui para o Colégio Professor Eurico Figueredo e depois de repetir o Segundo ano do Antigo Colegial, abandonei os estudos e passei nove anos sem estudar, voltei no ano 2001 e terminei os estudos do atual ensino médio fazendo um curso supletivo.
Hoje estou 4 anos desempregado, sempre me lembro com tristeza de tudo isso, me isolei das pessoas, tenho medo até hoje quando vejo um grupo se aproximar fico com medo, não sou de conversar, sempre me isolo num canto, por trauma não casei e tenho até hoje dificuldades de me aproximar de fazer amizades, minha vida esta marcada para sempre, não sou nada e não sou ninguem.

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