sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O HOMEM MEDIÚNICO



Uma Visão do ser Humano para o Futuro

Prof Dr. Nubor Orlando Facure


Carl Von Linné (1707-1778), médico e naturalista sueco publicou em 1740 a primeira edição da sua obra genial “Sistema da Natureza” introduzindo o método de classificação binária (gênero e espécie) dos seres vivos. Sua atividade científica iniciou-se muito cedo com uma publicação aos 16 anos de um livro de botânica “As Núpcias das plantas” onde ele estudou o mecanismo de fecundação das flores.

Linné, no decorrer de sua vida publicou 180 obras de cunho científico dedicadas às Ciências Naturais. Ele trabalhou com auxiliares que enviou para “todos os cantos do mundo” a fim de lhe fornecerem material para a sua monumental classificação dos seres vivos e acreditava ter contado tantas espécies quantas foram criadas inicialmente por Deus.

Aristóteles, cerca de 400 anos antes de Jesus Cristo já havia feito uma classificação mais rudimentar na qual os seres vivos eram divididos em uma hierarquia de classes, sendo alguns superiores e outros de classe inferior estando o homem acima de todos. Tanto Aristóteles como Linné, acreditavam que as espécies eram imutáveis, que foram criadas com uma determinada aparência e assim permaneceriam sem qualquer mudança física. Só bem mais tarde, já no século XVIII, Charles Darwin estabeleceria os princípios da sua Teoria sobre a “evolução das espécies”.

Na classificação geral dos seres vivos o homem moderno é rotulado de Homo sapiens notando-se de antemão que a expressão “sapiens” dá um destaque privilegiado à sua inteligência.

Percorrendo os caminhos da Filosofia e da Ciência veremos que a preocupação sobre a natureza do ser humano é antiga e quase sempre esteve ligada à noção que o homem faz de si mesmo e, principalmente, do mundo onde está inserido. Para os sábios da antigüidade parecia, inicialmente, ser mais fácil estudar o ambiente externo do homem, incluindo aí todo o Universo visível na época, do que voltar-se para dentro de si mesmo e responder as suas indagações mais íntimas. Por muitos séculos o destino do homem e todas suas mazelas ou conquistas foram regidas pela disposição dos Astros no firmamento ou pelas expressões de grandeza das forças da Natureza. A Terra, o Fogo, o Ar e a Água foram tidos como as substâncias fundamentais de todo Universo e tanto a Vida como a Morte resultavam de suas transformações.

Na antiga Grécia, Sócrates, inicia o exercício da análise interior. Ensinava a primeira regra de identificação do ser Humano: “conheça-te a ti mesmo” e ditava aos seus discípulos que “o Homem é a sua Alma”.

Na Galiléia, a grandiosidade de Jesus sobrepujou o senso comum quando, referindo-se às nossas potencialidades, nos afirmou categórico, “sois deuses”. As interpretações humanas, distorceram e adaptaram a doutrina divina de Cristo aos interesses terrenos e percorreram os séculos da Idade Média alimentando o obscurantismo. Os dogmas religiosos foram se ajustando para se adequarem ao controle dos dominadores poderosos que não admitiam perder suas regalias. E, assim, a Religião que deveria consolar, esclarecer e libertar, escravizou e oprimiu. Construiu-se para Deus uma imagem antropomórfica. A Terra era tida como o centro do Universo e só aqui florescia a vida. O Homem era um ser espiritual destinado a temer a Deus e o seu corpo seria ressuscitado no final dos tempos. Estabeleceu-se uma hierarquia de falsos valores espirituais onde, determinadas pessoas, assumiam poderes especiais, por se considerarem possuidores do mandato de Deus para julgarem seus semelhantes, podendo perdoar ou condenar em nome deste Deus. A sociedade ficou dividida entre “cristãos” e “hereges” e esta diferença permitiu legalmente que campanhas de batalhas fossem organizadas para dizimar populações inteiras por não professarem o mesmo credo e, povos primitivos, com culturas seculares eram convencidos, à força, a mudarem seus costumes, afim de serem aceitos no céus que a Igreja postulava como único e verdadeiro. O Espírito prevalecia sobre o corpo, o que justificava as penitências ou os sacrifícios e, toda fisiologia do organismo, dependia da sua atuação. Esta doutrina assimilou os princípios de Galeno que se ajustavam muito bem às suas proposições.

Galeno foi um médico grego, que trabalhou em Roma para o Imperador Marco Aurélio entre os anos 170 e 200 da era cristã. Ele propunha que as funções do nosso organismo eram sustentadas pelos “pneumas” que faziam circular o sangue, movimentar os músculos e registrar os sentidos. O princípio fundamental da vida física era o “calor vital” que resultava da circulação do “pneuma” e sustentava a tenacidade dos organismos vivos. Esta doutrina prevaleceu por mais de 15 séculos sem que ninguém ousasse contestar Galeno.

As descobertas do Novo Mundo no século XVI ampliaram as terras conhecidas dando uma dimensão maior para as expressões da vida. Plantas novas, animais exóticos e povos estranhos exigiam uma revisão nos conceitos da condição humana na Terra. Nascem as primeiras intenções de se promover um conhecimento científico da Natureza através da observação direta ao invés de se admitir, sem contestação, as leis antigas impostas pelos eclesiásticos sem comprovações experimental.

Foram surgindo assim, os novos paradigmas para reinterpretarem os fenômenos naturais e a constituição do homem.

Giordano Bruno sugeriu a existência de uma substância única na constituição de todo Universo e afirmava que a Terra e o Sol não passariam de pequena parte de um Universo muito maior. No início de 1600 ainda prevalecia a intolerância religiosa e Giordano Bruno foi levado fogueira para se “evitar que este mal se propagasse”, sem que a Ciência avaliasse a importância da sua tese.

Galileu Galilei, introduziu os primeiros princípios da experimentação científica e propôs que todo fenômeno na natureza deveria ser quantificado através de medições, as quais seriam transformadas em formulações matemáticas para serem melhor compreendidas as leis que regulam a produção e as causas destes fenômenos. A fisiologia humana, obedecendo a este mesmo critério, começou a ser avaliada pela balança, o microscópio e o termômetro que passaram a fazer parte da instrumentação médica. Assim como um relógio de cordas, o corpo humano, viria a ser analisado em cada uma de suas partes para se identificar os mecanismos íntimos que faziam esta máquina funcionar.

Foi o anatomista André Vesálius quem em 1543 começou a desfazer os rígidos dogmas de Galeno. Ele iniciou o estudo do cadáver humano dissecando músculos, nervos , veias, cérebro e vísceras expondo cada uma de suas peças anatômicas com uma nova apresentação, revolucionando os conceitos da anatomia que ele denominou de “Fábrica Humana”.

Algumas décadas depois, Willian Harvey, levou até ao Rei Charles I, na Inglaterra, o coração de um cão que ele dissecara, conseguindo demonstrar que o sangue circulava pelas artérias e retornava pelas veias às custas do impulso motor provocado pela contração dos músculos do coração. Harvey, estava confirmando a possibilidade de se analisar o corpo humano como uma máquina, que, aos poucos, estava revelando cada um dos princípios mecânicos que punham este corpo em funcionamento.

A filosofia se vê então, obrigada a repensar o mundo e René Descartes, o grande filósofo francês, estabeleceu um novo paradigma. Ele defendia o direito de duvidar de tudo ensinando que apenas o pensamento é livre e sua existência não pode ser questionada. Afirmava de maneira emblemática na sua mais famosa frase, “penso, logo existo”. Descartes, separou o campo das coisas materiais, que denominou de “rés extensa”, do conteúdo da mente, que chamou de “rés cogitans”. Estabeleceu-se desde então, um princípio dualista, ao consolidar-se um mundo físico, independente da vida espiritual que o movimenta. O corpo separa-se da Alma e passa a ser motivo de estudo como qualquer outra máquina que o homem desmonta e torna a montar para conhecer seus mecanismos.

O filósofo Francis Bacon criou na Inglaterra em 1640, o método indutivo na investigação científica, estabelecendo uma nova relação entre causa e efeito. Todos os fenômenos naturais passam a ser compreendidos a partir da observação minuciosa que permite descobrir-se as leis que regem cada um deles. Ficam superadas as Teorias antigas baseadas na intuição ou nas deduções de racionalidade aparente mas, sem qualquer vínculo com a realidade que agora terá que ser quantificada pela observação.

O corpo humano acometido pela doença se transforma e degenera mas, a Ciência agora, usa o bisturi na cirurgia ou na necrópsia e começa pela observação minuciosa a revelar a extensão destas lesões. Giovani Morgani aos 22 anos de idade assombrou a medicina italiana esclarecendo a patologia humana que havia por traz de cada uma das doenças que analisava. Ele reunia os dados clínicos que colhia exaustivamente para depois estudar o cadáver em todas suas perturbações descobrindo a causa de cada uma das moléstias que estudava.

O naturalista Robert Hooke montou um conjunto de lentes criando o primeiro microscópio e consegui identificar num pequeno fragmento de cortiça a formação de um amontoado de lojas que mais tarde foram denominadas de células. A partir do uso do microscópio percebeu-se que plantas e animais e, na verdade, todos os seres vivos eram constituídos destas células que variavam enormemente de forma e tamanho para cada organismo estudado. Marcelo Malpighi usando um microscópio, descobriu pequenos vasos que promoviam a união das artérias com as veias completando o circuito da circulação que Willian Harvey havia descoberto. Faltavam serem descritos os capilares que Malpighi descubriu para se compreender como o sangue passava das artérias para as veias voltando ao coração sem necessidade do pneuma vital sugerido por Galeno.

O médico alemão Rudolf Virchow adquire renome em Berlim aos 36 anos de idade quando criou a primeira revista de anatomia patológica introduzindo o estudo microscópico na patologia, revolucionando, mais uma vez, o estudo no corpo humano, esclarecendo as causas e a natureza das doenças.

Os Alquimistas da Idade Média procuraram em vão descobrir o “Elixir da Juventude” e a “Pedra Filosofal” que permitiria transformar todos materiais em ouro. Suas experiências contribuíram para descobertas importantes na química que, Paracelsus, soube aproveitar empregando o antimônio, o mercúrio e o ouro como recursos terapêuticos com alguns casos de sucesso.

Paracelsus, ao introduzir a química na Medicina, estimula os estudos da digestão, da fermentação dos alimentos, da composição da saliva e dos líquidos do estômago. Inicia-se com a química a idéia da existência de um metabolismo celular que através da digestão poderia explicar o misterioso “fenômeno da vida”.

Nesta época, a Medicina ainda se debate no grande dilema entre a Ciência e a Alma, mas, a cada investigação nova, no entanto, os fenômenos naturais vão se revelando, cada vez mais, como processos químicos e mecânicos que podem ser medidos e reproduzidos nos laboratórios. Vai perdendo sentido a existência de uma “entidade imaterial” no domínio da fisiologia orgânica.

A descoberta das células na estrutura que tece cada um dos parênquimas de cada órgão, punha a descoberto a possibilidade de se compreender a fisiologia de todo organismo. A respiração passa a ser vista como uma troca de gases e o oxigênio foi revelado como fonte de sobrevivência. Os músculos ao se contraírem justificam, a força do coração que bombeia o sangue e a agilidade com que se contraem braços e pernas explicando os movimentos. A mecânica do relógio de cordas ou dos moinhos tinham muito a ver com o conceito de “máquina humana” que aos poucos vinham se revelando na fisiologia de cada uma de suas peças.

A visão mecanicista na compreensão dos fenômenos orgânicos se expandia com os instrumentos de medida e observação quando, na França, Claude Bernard, inicia uma nova fase ao introduzir a experimentação médica sistemática como meio de investigação dos fenômenos fisiológicos. A anatomia já se servira do estudo de animais para correlacionar seus dados com os achados no organismo humano. Agora, no laboratório, Claude Bernard trazia os coelhos que submetia à experiências e controles que lhe permitiram a descoberta da homeostasia. Demonstrou que o equilíbrio químico e hemodinâmico do organismo condiciona a harmonia da vida.

Em pleno século XVIII as propostas materialistas do Mecanicismo ainda não tinham conseguido afastar de vez a Alma da fisiologia humana. É por isto que George Stahl, mantém sua Teoria vitalista na base de todos fenômenos naturais. Os “fluidos” de Galeno são vistos agora como um “éter” que emana da Alma sustentando a vida. A circulação se mantém as custas de uma tonicidade das artérias e os músculos se contraem por força do livre arbítrio que a Alma escolhe e determina.

As linhas de pesquisa na Medicina se detinham e se aprofundavam nos aspectos materiais da anatomia e da fisiologia humana quando, a partir de 1784, a cidade de Viena é agitada pela atividade inusitada do famoso magnetizador Frans Anton Mesmer. Na sua Tese de doutorado, Mesmer, tinha defendido a atuação dos Astros na produção das doenças e propagava que esta influência era exercida por um “fluido” que penetrava todas as coisas. Mesmer chamou este elemento imaterial de “fluido magnético” e supunha que ele podia ser transferido de uma pessoa para outra. Na sua clínica, o Dr. Mesmer, dizia curar seus pacientes às custas da transmissão destes fluidos que ele conseguia mobilizar em seus pacientes.

Durante as aplicações do fluido magnético, Mesmer, produzia em suas pacientes um estado de agitação convulsiva e sonolência que ele chamou de “crise sonambúlica”. As pessoas que entravam nestas crises eram extremamente sensíveis ao comando de Mesmer e, mais tarde, seus discípulos vieram a confirmar, que a crise mesmérica era provocada, mais por sugestão, que pela ação do fluido magnético. Com Mesmer, estavam nascendo as primeiras experiências que, de alguma maneira, permitiam a investigação da mente humana nos domínio da sua intimidade. Certas pessoas se mostravam extremamente sensíveis à sugestão sendo predispostas a obedecer e executar atitudes e comportamentos sugeridos após despertarem da crise sonambúlica. Este fenômeno foi descoberto por um discípulo de Mesmer, o Marques de Puysègur, que o reconheceu como efeito de sugestão pós-sonambúlica.

Em Manchester, na Inglaterra, o Dr. James Braid publicou, em 1840, seus estudos sobre o mesmerismo concluindo que podia induzir a “crise” mantendo o paciente com o olhar preso a um objeto brilhante e com a atenção fixada em palavras repetidas pausadamente sugerindo relaxar e dormir. O Dr. Braid propunha que o sonambulismo descoberto por Mesmer, estaria relacionado diretamente com a atividade cerebral, tendo denominado este estado de “sono nervoso” ou hipnose.

O paciente sob hipnose pode receber sugestões e ficar livre de sintomas que o molestam ou de traumas psíquicos que o afetam. Aprofundando o transe ele pode ser submetido a cirurgia sem sentir dor e apresentar pouco sangramento quando cortado. Estas propriedades da hipnose foram percebidas desde o início da sua descoberta e, em meados do século passado, na França, numa clínica rural próximo a Nancy, um médico abnegado, o Dr. Liébeault, chegou a tratar por mais de vinte anos uma enorme clientela com a qual ele conseguia enorme sucesso aplicando as técnicas da hipnose. Nesta ocasião, começava a se destacar a eminente figura do neurologista francês, Jean Martin Charcot, que é tido como o fundador da neurologia francesa ao criar no Hospital de La Salpetriere, em Paris, a sua Escola Neurológica. Entre os seus assistentes encontravam-se Pierre Janet e Sigmund Freud cujos trabalhos vieram a ter grande repercussão na compreensão dos processos mentais. Por influência de Charles Richet, fundador da Metapsíquica e famoso fisiologista francês, o Dr. Charcot passou a se interessar por hipnose utilizando-a no tratamento de suas doentes portadoras de histeria. No quadro clínico da histeria podem ocorrer paralisias, anestesia e perda de fala que são totalmente revertidas através da sugestão hipnótica. A relação entre histeria e hipnose serviu de motivo para calorosa polêmica travada entre os médicos da Clinica de Nancy e o professor Charcot. Em Nancy afirmava-se que a hipnose seria uma condição humana possível de se provocar em qualquer pessoa, ao passo que na escola de Charcot acreditava-se que apenas a mulher histérica era passível de ser hipnotizada. No meio desta polêmica, Sigmund Freud, conhece a Clinica de Nancy e inicia com a hipnose seus primeiros estudos que resultaram no grande monumento da psicanálise. Conforme Freud e Pierre Janet puderam perceber, a histeria parecia provocar uma cisão na personalidade e a paciente perdia o controle dos seus atos.

Pierre Janet introduziu o conceito de automatismo psicológico, no qual, em certas circunstância, o psiquismo provocaria comportamentos ou atos motores automáticos. Neste grupo de manifestações, Janet, incluiu a catalepsia, a psicografia e relatos semiconsciente que ele denominou de vidas sucessivas. Estava diante de Janet, todo um material precioso de manifestações mediúnicas embora ele não o tenha conseguido identificar como sendo atividade espiritual ou, como teria dito Charles Richet, como manifestações de forças inteligentes estranhas ao ambiente.

Sigmund Freud, não se revelou um bom hipnotizador, tendo baseado seu diálogo terapêutico na livre associação, na análise dos sonhos, no significado dos atos falhos e na regressão aos fatos e conflitos da infância. Freud, põe a descoberto a grande realidade do inconsciente, no qual, cada um de nós faz submergir os desejos não manifestos, reprimidos pela censura do consciente. Cada um dos nossos comportamentos passa a ser compreendido como manifestações destes desejos ocultos que, de alguma forma, vem a tona pelas emoções, pelos gestos impensados ou pelas decisões de racionalidade aparente.

Freud, pela primeira vez, organiza uma estrutura para nossa constituição psíquica. O Id, o Ego e o Superego constróem nosso aparelho psíquico que começa a se organizar nas fases que se iniciam logo após o nascimento: a fase oral, a anal, a narcisista e finalmente a maturidade sexual. Os conflitos vivenciados em cada fase ou a possibilidade de se estacionar em uma delas, vão produzir as manifestações neuróticas que nos martirizam pela vida a fora.

O inconsciente, trazido a tona por Freud, revela um mundo interior jamais suspeitado até mesmo pelos grandes filósofos da Grécia. Neste inconsciente, está representado todo o conflito humano, na sua mais dramática complexidade. A definição de quem somos, depois de Freud, teve que obrigatoriamente vasculhar os porões do inconsciente em que cada um de nós deixa submergir seus mais ardentes desejos ou sufocar seus maiores tormentos.

Pouco antes do surgimento da Escola Neurológica de La Salpêtrière, o médico alemão Franz Joseph Gall, imaginou existir uma relação entre as diversas aptidões humanas e as saliências palpáveis no crânio das pessoas que examinava. Ele catalogou a benevolência, a humildade, a inteligência, a firmeza de caráter, a combatividade entre inúmeras outras habilidades como possíveis de se confirmar, no crânio, a sua maior ou menor desenvoltura. Esta hipótese teve o mérito de reconhecer, pela primeira vez, que existem no cérebro, áreas especializadas para cada atividade, o que era um grande avanço para época. Este estudo pseudo-científico denominado por Gall de frenologia, mostrou-se totalmente incorreto e caiu no descrédito, tendo nos dias de hoje, interesse apenas histórico.

O método de avaliação, em que se atribui às aparências externas, uma relação direta com as aptidões psicológicas ou com as características da personalidade, teve, de novo, grande aceitação com os estudos de Cesare Lombroso. Ele sugeria haver, na aparência fisionômica do indivíduo, traços, que nos permitiriam reconhecer uma propensão para o crime. A criança já nasceria, de alguma forma, predestinada a se tornar um criminoso pelos traços fisionômicos que herdasse. Na doutrina forense esta tese prevaleceu por muito tempo, notando-se até hoje, sinais que refletem sua aceitação. Cada um de nós sabe, e muito bem, como somos, de maneira insensata, tentados a dar parecer e fazer julgamentos precipitados, sobre as pessoas que nos cercam, emitindo observações baseadas numa simples aparência de um olhar ou de um sorriso. Sabemos, também, pela experiência pessoal, que na maioria das vezes as aparências já nos pregaram grandes decepções.

Foi a partir de 1869 que o cirurgião e antropólogo francês Paul Brocá confirmou a especialização das áreas cerebrais no desempenho de cada uma de suas funções. Ele confirmou que a área da fala, mais precisamente da linguagem falada, se localizava no pé da circunvolução frontal esquerda e, a partir daí, uma série de estudos foram mapeando, no cérebro, cada uma de suas inúmeras funções. Criou-se assim, um novo campo de estudo, no qual, se via no cérebro, a justificativa de todos nossos movimentos, percepções, desempenhos, reações reflexas e, mais tarde, até mesmo as aptidões psicológicas e as emoções, se renderam, revelando também suas localizações anatômicas. Surgiu a idéia de que a mente não existiria independente do cérebro com queria René Descartes, e que seria mero produto emanente da complexa atividade cerebral. O dualismo Corpo-Alma parecia, agora, que deveria subjugar-se ao conceito moderno de interação cérebro-mente no qual ambos seriam indissociáveis.

Recentemente, o avanço da fisiologia cerebral foi enriquecido com os estudos das formulações matemáticas que constroem computadores cada vez mais complexos. A relação entre a complexidade dos computadores e a estrutura das redes de neurônios que se organizam no cérebro, fez surgir a ciência que levou à criação da Inteligência Artificial. Esta forma de equacionar soluções que exigem a rapidez nos cálculos e a possibilidade da máquina tomar decisões, permitiu a fabricação de robôs extremamente versáteis, ao mesmo tempo que fez surgir com mais força, a antiga comparação do homem com a máquina, com o agravante agora, de que é a máquina que está imitando o Homem e com perfeição cada vez maior.

Nas últimas décadas do século passado o meio científico foi abalado pela mais espetacular Teoria sobre as origens da vida e a natureza do ser humano. Foi Charles Darwin que em 1869 publicou, depois de 20 anos de hesitação, sua Teoria sobre a evolução das espécies. Os seres vivos passaram a ter uma origem comum primitiva e, no decurso da sobrevivência, os mais aptos foram paulatinamente sendo selecionados numa competição permanente de adaptação para proliferação das espécies. Cai por terra a visão Criacionista de origem bíblica, para surgir uma proposta revolucionária que mantém para o ser humano um vínculo biológico com todos os demais seres vivos. Somos produtos de um processo de seleção natural onde prevaleceu a maior capacidade de adaptação para permitir que o material genético pudesse dar seqüência às gerações futuras.

Além dos aspectos biológicos que nos prende aos animais que nos precederam, estão implícitas também, nesta evolução milenar, às aptidões psicológicas, comprovadas agora, como resultado desta jornada que nos permitiu acumular nas experiências da sobrevivência, as aquisições mentais que fizeram desabrochar o instinto, o discernimento, o raciocínio e a inteligência. Desta maneira, os biólogos de hoje, identificam em cada um dos nossos comportamentos, mesmos os mais sofisticados relacionados com as emoções, com a racionalidade ou com o aprendizado corriqueiro, uma ligação direta com o comportamento animal das espécies que coabitam conosco todo cenário da vida que povoa nosso planeta. Assim, a ligação afetiva com os filhos, a cooperação com os elementos da mesma espécie, a aquisição de linguagem, os acertos e erros nos processos de aprendizado, as reações reflexas de sobrevivência que nos predispõe a lutar ou fugir, a escolha de caminhos mais adequados, o julgamento que nos permite distinguir o certo do errado tem, todos estes comportamentos um fundamento biológico que nossos ancestrais primitivos foram acumulando no decorrer dos milênios. Com esta percepção da evolução das espécies, a condição humana, em termos biológicos não nos faz superior ou inferior a qualquer um dos animais que transitam conosco nesta jornada evolutiva.

Foi nesta mesma ocasião, quando Charles Darwin assombrava o mundo com a Teoria da Evolução das Espécies, que surge na França a codificação da Doutrina Espírita por Allan Kardec. Num questionário dirigido aos Espíritos, Allan Kardec, recebeu as revelações de uma doutrina que posicionava definitivamente a origem da vida, a natureza do ser humano, o significado do seu sofrimento e o destino que o futuro lhes reserva. Somos todos Espíritos imortais que ocupamos temporariamente o corpo físico para nosso desenvolvimento e progresso espiritual. Todo ser vivo está sujeito à evolução que, através de vidas sucessivas favorece a oportunidade de renovação e crescimento com destino à perfeição. Somos todos irmãos em situações diversas de aprendizado, vivenciando experiências onde o princípio espiritual estagiou no mineral, na planta e nos animais para chegar a desfrutar milênios depois da condição de ser humano. Neste e noutros mundos, continuaremos a jornada evolutiva pelo infinito a fora. Nosso cérebro não tem ainda condições de fixar em sua memória as experiências de nossas vidas anteriores mas, o inconsciente de cada um de nós, retém os dramas fundamentais destas vivências que, com freqüência, estão repercutindo em nossas decisões e comportamentos. Estamos todos mergulhados num mundo espiritual que nossos sentidos grosseiros ainda não nos permite perceber em sua plenitude. Este mundo espiritual é habitado pelos espíritos desencarnados que estabelecem conosco uma relação contínua de mútua interferência. Os Espíritos participam de nossos mais íntimos pensamentos e, com freqüência, envolvem-se em nossos acertos e erros durante toda nossa vida. Através da aptidão da mediunidade, determinadas pessoas tem a capacidade de entrar em sintonia com os espíritos desencarnados e receber ostensivamente sua comunicação. No futuro todo homem terá esta aptidão e o Homem mediúnico terá condições de transitar livremente pelas dimensões do plano espiritual. O Espírito é energia de criação divina que atua presidindo todos os fenômenos físicos e psicológicos que se processam em nosso organismo. Para que esta ação possa ocorrer entre a dimensão física e a espiritual se situa o perispírito, ou corpo espiritual, que serve de intermediário entre o corpo o e espírito. Através dos fluidos que constituem o perispírito, é que se processam todos os fenômenos mediúnicos e, quando um espírito se comunica com o outro, seus pensamentos se transmitem de um para o outro através dos fluidos que emanam de seus respectivos perispíritos. Através da atuação persistente do pensamento o perispírito assume a forma que o espírito lhe impuser podendo assim, cada espírito, se apresentar com a aparência que considerar ser mais apropriada. As nossas condutas, principalmente morais, imprimem em nosso perispírito as influências que nossos desejos bons ou maus fixam no campo de ação do nosso perispírito. Assim, cada um de nós. não tem como disfarçar sua verdadeira aparência psíquica. quando se mostra no plano espiritual. Em nossa volta, os fluidos espirituais imprimem as formas que nossos pensamentos constróem por força dos desejos que cultivamos com intensidade.

A Doutrina Espírita, como se percebe, ampliou o conhecimento sobre o ser humano. A Anatomia tem que acrescentar agora o corpo espiritual e suas relações com o mundo espiritual. A fisiologia é forçada a entender o Espírito como agente direto dos fenômenos vitais e a patologia tem que considerar as construções que o pensamento materializa no campo de ação do corpo espiritual e seus desdobramentos na auto-obsessão.

É este ser humano com sua transcendência e seu destino comprometido com a perfeição que o Espiritismo propõe para nossa reflexão. Às custas deste esclarecimento veremos nascer um Homem comprometido com suas origens espirituais. O Homem mediúnico, estendendo nossas sensibilidades para as dimensões espirituais. vai ampliar os horizontes da humanidade e a sua participação na vida deste planeta.


endereço: http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo500.html
imagem: amigofraternidade.blogspot.com



9 comentários:

Michelle disse...

Parabéns pelo blog, muito profundo, muito completo.

Realmente muito interessante este material; o autor consegue sintetizar a história da medicina e da psicologia de um ponto de vista espírita, mostrando o homem moderno e futuro, cada vez mais ligado à espiritualidade.

Votos de paz e luz!

Jorge Nectan disse...

Raquel,

obrigado pela sua visita. Estarei te visitando e agradeço, desde já, pelo presente.

Um beijo,
Jorge

Jorge Nectan disse...

Sra S,

O homem se aproxima, gradualmente, do lado espiritual, que é a sua essência.
Obrigado pelo seu comentário!!!

Um beijo, de coração,
Jorge

Luciana Horta disse...

Nada melhor do que ler sobre a "ALMA" humana...

Bom fim de semana!

Luciana (Catadora de Palavras)

Teresa Cristina disse...

Somos espíritos imortais em evolução. Esta é a grande realidade a qual precisamos assimilar, conscientizando-nos de que a vida humana é um período escolar, dentro de uma série de existências, onde nos educamos e reeducamos; sofremos e nos alegramos, erramos e acertamos, progredindo sem cessar.
òtimo Post!....como sempre!
bjss

Unknown disse...

Ótimo artigo. De todos os precursores citados, acho que Freud deixou um legado que abriu as portas da ciência de uma maneira irreversível.
E o espiritismo entra com a afirmação do espirito eterno, facilitando o processo de entendimento do ser integral.
Que venha logo o homem mediúnico!
Bom domingo, beijos :)

Jorge Nectan disse...

Luciana,

nada melhor que compreender a alma humana!
Obrigado pela sua visita!!!

Um beijo,
Jorge

Jorge Nectan disse...

Teresa,
estamos cursando a escola da vida. Em qual nível escolar estamos?

Minha amiga, um beijo, de coração,
Jorge

Jorge Nectan disse...

Jeanne,
enquanto não nos tornarmos homens integrais, seremos criaturas incompletas.

Com amor,
Jorge

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