domingo, 1 de agosto de 2010

OS CÉREBRES DESCULPISMOS DO "SÓ UM POUQUINHO"


"O vinho é escarnecedor e a bebida forte alvoroçadora; e todo aquele que neles errar nunca será sábio.(1)"

A questão da ingestão de alcoólicos é uma preocupação antiga. No Evangelho de Lucas lemos que "Ele [João Batista] será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte."(2)


O alcoolismo é um dos mais sérios problemas médico-sociais do mundo contemporâneo. Os especialistas se esforçam em buscar as matrizes cáusicas da questão, e dentre muitos outros fatores, destacam a gigantesca influência da propaganda bem produzida, veiculadas pela mídia, especialmente na televisão. As mensagens são fortíssimos apelos para a ingestão da bebida, que ficam impregnadas no subconsciente de telespectador desatento aos preceitos do equilíbrio.
Lembra Victor Hugo "no estado de alcoolismo faz-se muito difícil a recomposição do paciente, dele exigindo um esforço muito grande para a recuperação da sanidade. A obsessão, através do alcoolismo, é mais generalizada do que parece. Num contexto social permissivo, o vício da ingestão de alcoólicos torna-se expressão de "status", atestando a decadência de um período histórico que passa lento e doído."(3)
Conforme registra "Mundo Espírita" a propósito da alcoolomania no meio espírita há certos "líderes" espíritas que costumam justificar suas tragadinhas na vil taça com "infundados argumentos, como: todo mundo bebe; uns pouco goles não fazem mal; só bebo em ocasiões sociais; (...) beber moderadamente é até bom para a saúde..."(4)
Apesar dos danos que o Álcool provoca da estrutura fisiopsicossomática, existem aqueles especialistas" que alegam que o corpo físico necessita de pequenas quantidades dele. Ledo engano! isso é veementemente contestado pelos Drs. Edgar Berger e Oldmar Beskow, no livro intitulado: ESCRAVOS DO SÉCULO XX.
O alcoolista não é somente um destruidor de si mesmo, é também um veículo das trevas, ponte viva para as pontes arrasadoras do mal. Joanna de Ângelis nos ensina que a "pretexto de comemorações, festas e decisões, não nos comprometamos com o hábito da bebida. O oceano é constituído de gotículas, e as praias, de inumeráveis grãos. Libertemo-nos do chavão "HOJE SÓ", e quando impelidos a comprometimentos nocivos, não encampemos o célebre desculpismo "SÓ UM POUQUINHO", porquanto uma picada que injeta veneno letal, não obstante em pequena dose, produz morte imediata."(5) (grifos nossos)
A retórica permissiva do "inofensivo" drinque deve ser enterrada e jamais, sob nenhuma alegação, deveria ser exumada. Posto que tudo começa com o primeiro gole, depois vem a necessidade do segundo, do terceiro e assim por diante. Ainda sobre o editorial de "Mundo Espírita" se o espírita "conhece e faz-se de desentendido, é irresponsável que sofrerá as consequências da omissão em sua consciência profunda."(6)
Para o psicanalista Luis Alberto Pinheiro de Freitas, autor de "Adolescência, família e drogas" (Editora Mauad), a liberalidade de muitas famílias com o álcool é um dos maiores problemas para a prevenção:- Há o mito de que a maconha leva os jovens a outras drogas. Mas é o álcool que faz esse papel. E a própria família incentiva o consumo. Tenho pacientes que começaram a beber quando o pai, orgulhoso do filho que virava homem, os chamava para drinques. (7)
Os índices cresceram de 25% a 30% nos últimos cinco anos, segundo o psiquiatra Frederico Vasconcelos(8) "pesquisa sobre consumo de álcool entre jovens, pelo Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas Psicotrópicas (Cebride), da Unifesp. Para ele os jovens de hoje têm muitas dificuldades com limites e a faixa etária do abuso de álcool diminuiu. Há dez anos, o alcoólatra de 40 anos começava a beber aos 17 ou 18 anos. Hoje, aos 12 ou 13. Isso significa que, daqui a dez anos, teremos alcoólatras graves de apenas 35 anos, no auge da vida produtiva.
Vasconcelos atesta que o "álcool gera uma doença de longa evolução (dez anos em média) e o abuso entre jovens os leva a drogas maiores: - Uma delas é o ecstasy, encontrado em dois tipos de pastilha: a MAP( meta-anfetamina) e a MDMA (metil-dietil- MA), esta com propriedades alucinógenas e ambas vendidas a R$ 50 cada, nas boates da Zona Sul e da Barra da Tijuca. O adolescente se expõe hoje muito mais ao álcool. Está se formando uma geração de dependência de álcool. Além dos riscos à saúde, há os perigos de dirigir embriagado, da violência e de traumatismos decorrentes do abuso de álcool."(9)
Lamentavelmente, em nosso País se consome cerca de dois bilhões de litros de pinga e mais de cinco bilhões de litros de cerveja por ano. Segundo o Dr. Josimar França, membro da Faculdade da Ciência e Saúde da UnB (Universidade de Brasília), no Distrito Federal existem mais de cem mil alcoolistas e boa porcentagem desse universo é constituído de jovens com menos de 17 anos de idade. Josimar atesta que o alcoolismo é o mais importante problema de saúde pública no Brasil.
Retornando ao "Mundo Espírita" é muito bem ressaltado que "o espírita equivocado [esquece] de que nem tudo o que é comum na sociedade é normal, aconselhável. Para esse, há uma Doutrina dos Espíritos para o discurso de conveniência e outra doutrina para sua prática pessoal [espiritismo particular]. É adepto da aberração: Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço."(10)
Ante o desculpismo que procura arrazoar o hábito de beber ouçamos uma lenda que um dia vi num calendário com frases e pensamentos orientais:
Um homem chega ao líder de sua religião, que proíbe a bebida e indaga:
- Grande mestre, as uvas são proibidas?
- Não.
- E o suco de uva é contra a nossa religião?
- Absolutamente.
- E se as uvas fermentarem na água seremos culpados?
- De jeito nenhum.
- Pois ao fermentar, elas produzem o vinho. Por que é pecado então bebê-lo?
- Bem, respondeu o Grande mestre, - se eu lhe atirar um punhado de terra à cabeça, não lhe farei mal algum!.
- Claro!
- Se lhe jogar água misturada com terra, também não o ferirei!..
- Certo!
- Mas se eu pegar nesse punhado de terra misturado com água e o meter no forno para cozimento, transformando-o num tijolo e o atirar na sua cabeça que será que pode acontecer ?....
Todos os círculos da existência, para se adaptarem aos processos da educação, necessitam do esforço continuado (disciplina), porque todas as conquistas do espírito se efetuam na base de lições recapituladas. Hahnemann ensina que "homem não se conserva vicioso senão porque quer permanecer vicioso; aquele que queira corrigir-se sempre o pode. De outro modo, não existiria para o homem a lei do progresso."(11)


Jorge Hessen
E-Mail:
jorgehessen@gmail.com
Site:
http://jorgehessen.net

FONTES:
1- Provérbio de Salomão cap 20:1
2- Lucas 1:15 e 7:33
3- Franco, Divaldo Pereira. Calvário de Libertação - ditado pelo Espírito VICTOR HUGO , 1a. Ed. ALVORADA, 1979
4- Jornal Mundo Espírita da Federação Espírita do Paraná, julho/2002, pg.03- Editorial.
5- Franco, Divaldo Pereira. Estudos Espíritas, ditado pelo Espírito Joanna de Angelis 1a. Ed. Ed FEB, RJ: 1983
6- Cf. Jornal Mundo Espírita da Federação Espírita do Paraná, julho/2002, pg.03- Editorial
7- Revista "Época" de 29 de julho de 2002, (Marcia Cezimbra, jornal O Globo)
8- Frederico Vasconcelos, psiquiatra, coordenador da Aldeia Clínica e homenageado pelo presidente Fernando Henrique no mês passado, juntamente com a autora Glória Perez, por seus trabalhos de prevenção às drogas.
9- Revista "Época" de 29 de julho de 2002, (Marcia Cezimbra, jornal O Globo)
10- Cf. Jornal Mundo Espírita da Federação Espírita do Paraná, julho/2002, pg.03- Editorial
11- Kardec, Allan, Evangelho Segundo o o Espiritismo, mensagem de Sammuel Hahnemann, Cap 9 Ed. FEB, RJ 2000


imagem: www.osdeusesdevemestarloucos.com

9 comentários:

Hana disse...

O alcoolismo é uma doença séria, muito bom vc ter tratado deste assunto, que tanto causa dor e tragédias em familias, bem como as drogas, eu poderia escrever um livro sobre este asssunto, por dores que passei com alguém da familia com este problema, é dolosoro demais, mas não cultuo o passado nem os problemas assim vivo feliz este insatante, e cada benção quer recebo de Deus, e agradeço a Deus mesmo que eu chore, pois sei que ali tem uma lição, querido tenha uma semana maravilhosa viu com muita luz.
comc arinho
Hana

Jorge Nectan disse...

Hana

uma doença incentivada pela mídia. Uma pena que a ganância de alguns ajudem a outros cairem nas armadilhas do álcool.

Minha amiga, um grande beijo!!!

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Jorge, querido amigo. Você explanou com propriedade esse tema. Além de ser um vício incentivado pela mídia, nós, Espíritas, sabemos muito bem o lado negro da obsessão que o alcoolismo traz para a pessoa. Parabéns pela postagem. Beijos, meu amigo.

Analice disse...

infelicidade real... e fala sobre essas questões que buscamos desenfreadamente, sem compromissos, sem dores, ...onde nos levam? ao vazio e quais nos trazem a verdade, ao coração , a sensibilidade, a vivencia coletiva, a evolução... amar acima de tudo ao proximo e se ajustar ... a se contentar, a se aceitar ... conhecendo a si mesmo....sem buscas de amuletos, sem fugas,

Analice disse...

infelicidade real... e fala sobre essas questões que buscamos desenfreadamente, sem compromissos, sem dores, ...onde nos levam? ao vazio e quais nos trazem a verdade, ao coração , a sensibilidade, a vivencia coletiva, a evolução... amar acima de tudo ao proximo e se ajustar ... a se contentar, a se aceitar ... conhecendo a si mesmo....sem buscas de amuletos, sem fugas,

Jorge Nectan disse...

Maria José,

tem o lado obsessivo realmente. Por isso fica mais difícil, quando isso acontece, de se livrar do vício.

Beijo, minha amiga!!

Jorge Nectan disse...

Analice,
normalmente entramos em algum tipo de vício por carência. Seria para preencher uma vácuo na existência nossa. Se preenchermos este vazio aparente com Amor, alegria, provavelmente não precisaríamos do vício.

Anjo, um beijo!!!

ValériaC disse...

Excelente texto Jorge...bebida alcoólica é caso sério...de pouquinho em pouquinho, perde-se no vicio...melhor não beber.
Beijos...
Valéria

Jorge Nectan disse...

Valeria,
qualquer vício faz mal. O homem precisa se conscientizar disso. mesmo porque o maior lesado é ele mesmo.

Um beijo, Anjo!

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