
domingo, 29 de agosto de 2010
FILOSOFIA DA CIÊNCIA ESPÍRITA – III - CIÊNCIA

quinta-feira, 26 de agosto de 2010
FILOSOFIA DA CIÊNCIA ESPÍRITA – II - A FILOSOFIA

Abbagnano, Nicola (2000). Dicionário de Filosofia, 4a Edição. Martins Fontes. Verbete Aristotelismo: página 79.
Abrão, Bernadette Siqueira (1999). História da Filosofia. Nova Cultura. Capítulo 3: p. 41-44.
Durozoi, Gerard & Boussel, André. Dicionário de Filosofia, 2a Edição. Papirus. Verbete Filosofia: p. 190.
Losee, John (1979). Filosofia da Ciência. Itatiaia. Capítulo 1: p. 15-26.
Kardec, Allan (1999). A Gênese, 19a Edição. LAKE. Capítulo 1: item 7 e 8.
terça-feira, 24 de agosto de 2010
FILOSOFIA DA CIÊNCIA ESPÍRITA – I – A RELIGIÃO

O Espiritismo é considerado por alguns como mais uma filosofia espiritualista. Outros já o enquadram como uma ciência rigorosa, empírica, não apresentando nenhum compromisso com princípios metafísicos. Outras correntes admitem um caráter eminente-mente religioso e moral, sem reflexões filosóficas ou teorias científicas. Finalmente, há aqueles que o classificam como mais uma técnica de cura ou terapêutica de medicina alternativa.
O que é realmente o Espiritismo ? Emmanuel ensina-nos que encontramos um tríplice aspecto, intrínseco em cada conceito espírita: ciência, filosofia, religião [1]. Assim ele divide os tópicos de seu livro O Consolador. Mas o que significa cada um desses termos e quais são as implicações desse entendimento? Vale a pena pensar nisso? Sabemos que sim, para descobrirmos os objetivos e método em que se formou a Doutrina Espírita. E, para compreendermos melhor, estudaremos nesta e nas próximas páginas esses três conceitos.
Na verdade, desde a pré-história humana, quando o homem ainda não desenvolvera a escrita, percebemos a busca incessante da felicidade. E, para chegar à felicidade, as experiências terrenas sempre levam a um questionamento sobre a realidade e as causas dos fenômenos que nos envolvem.
Entretanto, segundo Allan Kardec, "sendo o progresso uma condição da natureza humana, ninguém tem o poder de se opor a ele. É uma força viva que as más leis podem retardar, mas não asfixiar."[2] Vemos o ser primitivo inteiramente preocupado com a satisfação de seus interesses materiais. Nada podendo ainda conceber fora do mundo visível e tangível, imagina toda a realidade constituindo-se dos seres e das coisas com que se deparam. Mais tarde, torna-se necessário, para entender a si próprio, a compreensão do abstrato, para então, aos poucos, adentrar na essência espiritual da vida: a Verdade Real.[3]
Nesse sentido, diversas formas (métodos) de obter o conhecimento da Verdade a respeito de numerosos assuntos (objetos) foram construídos pela sociedade, em todos os períodos da humanidade. Não pretendemos aqui, definir cada método, mas os estudiosos do saber humano classificam o Conhecimento em dois grande grupos: o não-racional e o racional. Toda obtenção passiva, exterior, sem análise, pertence ao primeiro grupo: as diferentes superstições, as ideologias e, como veremos a seguir, as religiões. Por outro lado, todo conhecimento elaborado, refletido, pertence ao segundo grupo: a filosofia e a ciência.
Isso não implica dizer que a informação obtida é verdadeira ou falsa. A Verdade pode estar em qualquer uma dessas formas, mas elas se diferem pelo método, pelo meio de atingi-la. Muitas vezes, a conhecimento racional erra enquanto o não-racional detêm a veracidade.
A primeira grande organização do saber foram as religiões. Sabemos que os objetos (os assuntos) principais de qualquer religião são a Existência de Deus e a Imortalidade da Alma. Derivada do verbo latino "religare", a religião representa um laço de união entre a criatura e o Criador [4]. Por que, então, é classificada, de um modo geral, como uma forma não-racional do saber, até mesmo como uma superstição melhorada? Porque a esmagadora maioria desenvolve-se segundo o método da Revelação.
Revelar, do latim "revelare", cuja raiz é "velum", véu, significa literalmente "sair de sob o véu", figuradamente, descobrir, fazer conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. No sentido especial da fé religiosa, a revelação é sempre feita a homens privilegiados, designados como profetas ou messias, isto é, enviados, missionários, incumbidos de transmiti-la aos homens. Considerada sob esse ponto de vista, a revelação implica passividade absoluta; é aceita sem controle, sem exame, sem discussão. A submissão faz aceitar "de fora para dentro"[5].
Notemos um exemplo. As primeiras civilizações desenvolvidas no transcurso da história, as Sociedades Hidráulicas, apoiavam-se totalmente na religião. Nessas organizações, a distinção social começou a se fazer notar quando a luta pela posse das áreas cultiváveis em torno de rios (Nilo, Tigres, Eufrates, Jordão, etc.) levou a se defrontarem os camponeses, na posição de possuidores da força de trabalho, e os proprietários patriarcais das terras, que delas se apoderaram e as mantinham invocando a proteção dos deuses e dos sacerdotes. Pelo "respeito" ao mais velho (patriarca) ou mais forte, os camponeses trabalhavam exaustivamente, organizavam exércitos, executavam ordens, mas não eram considerados escravos [6].
Desse modo, enquanto uma grande massa de trabalhadores produziam alimentos para a sociedade, os sacerdotes, a nobreza e o governante tinham mais tempo para estudar os fenômenos naturais, desenvolvendo a astrologia, a matemática, a religião, etc. Um fato da natureza de especial interesse nesse momento foi a mediunidade ostensiva, havendo intensas comunicações com os "mortos". Espíritos familiares instruíam o clero de forma característica para cada povo. Os "estudiosos" interpretavam segundo suas idéias necessariamente limitada, restrita à mentalidade da época, embutindo ilusões e imaginações, corrompendo a verdade.
Um exemplo clássico disso, foi o surgimento do princípio da Metempsicose. Essa doutrina, oriunda dos egípcios e, posteriormente, na Grécia Antiga (Pitágoras), aceita a Lei da Reencarnação, mas professa a possibilidade de uma alma humana renascer num corpo de um animal inferior, retrocesso na árvore evolutiva. Sabemos, porém, que a reencarnação, apesar de ser bem estabelecida como verdade inabalável, tem como finalidade o progresso sem retorno. Uma provável origem dessa crença na Metempsicose, foi a aparição de Espíritos desencarnados, tão grosseiros e inferiores, que plasmaram no corpo espiritual (perispírito) suas idéias bestiais, aparecendo sob a forma temporária de animais. A interpretação da natureza animal desses seres podem ter levado à Metempsicose ou, indo mais além, a crença em deuses zoomórficos (forma total de animais) ou antropozoomórficos (com forma semi-humana e semi-animal) [7].
Outro fato digno de nota é a questão da Ressurreição, professada inicialmente pelos princípios hebraicos, no entanto aceita largamente por várias doutrinas cristãs. Está bem claro que um corpo morto não pode retomar à vida orgânica original, mas entra no ciclo inviolável da natureza de transformações. Além da reencarnação, retorno à vida orgânica em um novo corpo, pode ter gerado confusão, outro fato provavelmente levou à idéia de ressurreição. Um Espírito desencarnado, principalmente aqueles cujo desenlace da matéria foi recente, apresenta-se geralmente com o perispírito da mesma forma do último corpo. Uma aparição aos sacerdotes nessa forma, fez surgir uma conclusão precipitada, de que a pessoa ainda estava ainda viva com o mesmo corpo [2] .
E de todos os tempos, os "reveladores" da verdade, ainda extremamente encoberta por fantasias, sempre dependentes de médiuns, sob nomes diversos, como sacerdote, rabino, padre, píton, profeta, pastor, pajé, lama, monge, etc., arrogavam-se o privilégio de relacionar-se com a Divindade. O servos submissos, suportando horas de trabalho árduo, esperavam ansiosos receber "os recados confortadores dos deuses", pela voz de seus superiores. Por isso, entendemos as religiões detendo uma razão de ser providencial, apropriadas ao tempo e ao meio, ao gênio particular dos povos. Apesar do erro dessas doutrinas, não deixaram de agitar os espíritos e, mesmo por isso, de semear os germens do progresso, que mais tarde haviam de alastrar-se ou se alastrarão à luz brilhante do cristianismo [5].
No entanto, esses reveladores, engajados em cargos políticos, transformaram a religião em instrumento de dominação; com ambições secundárias sociais, de fama, têm explorado a credulidade em proveito de seu orgulho, da sua cupidez ou de sua indolência e acham mais cômodo viver à custa dos iludidos [5]. Além das interpretações surgirem erradas por precipitação, alguns conceitos foram cortados ou incluídos propositalmente. A crença no sobrenatural e no poder milagroso possuído pela nobreza e clero, foi um artifício psicológico de controle que, em termos de eficiência, é muito mais interessante que um exército gigantesco. Lembremos que a mediunidade é uma faculdade natural da criatura humana, variando em intensidade, mas não escolhe a classe social em que desabrocha. Por isso perguntamos, quantos médiuns ostensivos que apareceram na população mais carente, com expressiva percepção da vida futura, não foram ignorados, discriminados, condenados ou mortos?
Nessa forma de religião passiva, não é nem um pouco interessante que a população pense, conheça ou saiba usar os fenômenos. Para os governantes, o comodismo das massas é o melhor meio de atingir os interesses pessoais. Os conceitos devem, então, ser intocáveis, como dogmas. Daí a necessidade de surgirem outros métodos para atingir a Verdade. Emergiram pensadores desafiadores da religião, não por rejeitarem seus conceitos, mas para produzirem o próprio conhecimento, mesmo errando, porém com a possibilidade de discutir e usufruir o direito da Liberdade.
Toda essa busca levará o homem a entender que religião, crença, rótulo, sem religiosidade, isto é, sem vivência dos princípios aceitos, estaciona e detém em alguma parte do processo em estudo.
Referências Bibliográficas:
[1] Emmanuel (1988). O Consolador, 14a Edição. FEB. Definição, página 19; item 292.
[2] Kardec, Allan (1994). O Livro dos Espíritos, 54a Edição. LAKE. Terceira Parte, Capítulo 8: item
783.
[3] Kardec. Allan (1979). O Céu e o Inferno, 3a Edição. LAKE. Primeira Parte, Capítulo 9: item 2.
[4] Durozoi, Gerard e Roussel, André (1996). Dicionário de Filosofia, 2a Edição. PAPIRUS. Verbete
Religião: página 406.
[5] Kardec, Allan (1999). A Gênese, 19a Edição. LAKE. Capítulo 1: item 7 e 8.
[6] Arruda, JJA, Fernandes, SR, Turin, E (1999). História Antiga e Medieval. SOL. Capítulo 3: 13-19.
[7] Ângeles, Joana de (1982) . Estudos Espíritas. FEB. Renascer: página 71.
Julho/2001
sábado, 21 de agosto de 2010
CONSCIÊNCIA

Leda de Almeida Rezende Ebner
O Espiritismo nos ensina que para podermos fazer nosso desenvolvimento espiritual (intelectual e moral) precisamos conhecer a nós próprios.
Como trabalhar conosco, com nossos sentimentos, emoções, pensamentos, com nossa inteligência, razão, sem esse conhecimento de quem realmente somos, do que sentimos enfim, da nossa individualidade, do nosso eu interior.
Geralmente, julgamo-nos melhores do que somos, porque nos baseamos em nossas intenções. Todavia, não somos intenções e objetivos, quase sempre ficamos muito aquém deles: há uma distância imensa entre desejar, aspirar a ser e ser.
Para que nossa existência atual seja produtiva em nosso desenvolvimento interior, necessário conhecermo-nos, internamente, o mais e melhor possível, conseguirmos a consciência de quem somos.
Segundo o dicionário Caldas Aulete, consciência é “sentimento do que em nós se passa”; “o testemunho ou julgamento secreto da alma, que aprova as ações boas ou rejeita as más”.
Consciência é pois, algo que existe em nós, que nos leva a reconhecermo-nos, a perceber com clareza, o que e como sentimos, pensamos, agimos e reagimos, em nosso viver cotidiano.
Quando Allan Kardec perguntou aos Espíritos: “Onde está escrita a lei de Deus?”, eles não responderam: “Na Bíblia” e sim “Na consciência” 1 Por isso, todos os seres humanos, quando tomam consciência da sua individualidade, fazem as mesmas perguntas e encontram as respostas que seu desenvolvimento intelectual e moral indicam: “Quem somos?”, “De onde viemos?” e “Para onde vamos?”
Essa consciência, inerente ao Espírito, vai se desenvolvendo no conhecimento das leis naturais, na medida do desenvolvimento espiritual de cada um.
Quanto mais se desenvolve o homem, intelectual e moralmente, quanto mais ele se educa no conhecimento e na vivência das leis de Deus, mais essa consciência se amplia e mais ele percebe quem é, como é, o que pode ser e, quanto mais claramente, ele ouve a voz da sua consciência, mais percebe os outros, tornando-se melhor pessoa. Possui mais e melhores condições de viver melhor, de ajudar mais e melhor seu próximo e de colaborar, com mais eficiência, na melhoria da comunidade onde vive.
No reino animal, o princípio inteligente, até então, alma - grupo na expressão de Jorge Andréa 2, torna-se um indivíduo, um ser particular só que ele não sabe disso, sua consciência continua “em germe”, em potencial.
É no reino hominal, como Espírito, que inicia a consciência de si mesmo, como um indivíduo semelhante a outros. Adquire a consciência de que é alguém, de que existe e vive.
Esse despertar da consciência, leva o homem a satisfazer suas necessidades físicas, desenvolvendo então, o egocentrismo, tão necessário à sua sobrevivência e manutenção, onde ele e suas necessidades são o centro: “primeiro eu, depois o outro”.
Infelizmente, esta idéia ainda persiste hoje, entre pessoas que não perceberam que atualmente, a necessidade maior é a da solidariedade, em favor de “nós” e não do “eu”.
Todavia, a progressão espiritual se faz também, através das lutas materiais e, chega um momento, na vida de cada Espírito, na qual ele percebe, adquire a consciência da sua realidade espiritual e das suas “novas” necessidades.
Geralmente, cansado de repetir experiências reencarnatórias, guiado pelo orgulho e egoísmo, percebe a luz do amor de Deus e o quanto dela se distanciou.
Vem, então, o arrependimento, a vontade de mudar tudo, de transformar-se, de recomeçar de novo, por que tem dentro de si, gravado na sua consciência, a lei da reencarnação, que leva à evolução.
É então, que ele se dispõe a esse trabalho de regeneração, que lhe parece gigantesco, e ele o é, quando outras lutas surgem, muitas vezes mais difíceis das vividas antes, lutas internas, consigo próprio, procurando ouvir a voz de sua consciência. Todas as tarefas que empreende, a partir de então, lhe parecem plenas de dificuldades, tanto maiores quanto mais egoísmo e orgulho carrega dentro de si.
Todavia, graças ao amor e à misericórdia de Deus, que nos criou para a perfeição e felicidade, a mesma vontade que ele (o homem) usou para satisfazer seus instintos e sensações primitivos e grosseiros, é a mesma que ele agora pode e deve usar na edificação da sua regeneração, do seu autoburilamento.
Por isso, Joanna de Ângelis escreveu: “Quando alguém se volta para o Evangelho, tentando a sua auto-iluminação, sofre as constritoras amarras dos hábitos até então mantidos, assim como a injunção vigorosa que a proposta libertadora estabelece. A luta íntima que trava, faz-se mais rude, porquanto todo um sistema de acomodação deve ser mudado, gerando novos condicionamentos” 3
Difícil não é conhecer e aprender coisas novas, difícil é desaprender hábitos arraigados!
Quando a vontade de modificar-se está no homem, esta disposição propicia à consciência, condições de melhor análise de si mesmo, tornando-se cada vez mais severa à medida que suas determinações vão sendo seguidas.
Vamos dar um exemplo. Em qualquer relacionamento difícil, entre duas pessoas, geralmente, o alvo ideal a ser conquistado é a tolerância. Quando, porém, já se conseguiu esta virtude em muitas situações, estando o relacionamento mais fácil, eis que a consciência, mais desenvolvida por esse esforço lhe diz: “Tolerar só não basta. A lei de Deus é a harmonização, que leva o homem a amar o próximo”.
E “nova” luta começa, processando-se assim, lentamente e sempre o autodesenvolvimento; cada vez que se atinge determinado alvo, que antes parecia quase inatingível, outro aparece, a fim de levar o filho e herdeiro de Deus à redenção.
Mas assim, vamos lutar sempre?
Sim, viver é lutar, crescer, desenvolver-se, vencendo os desafios internos e externos, Fomos feitos para mudanças, transformações. Os bibelôs, as estátuas são feitos para ficarem estáticos, a fim de serem admirados. O homem não. Vive, progride sempre, sendo, em qualquer idade, desafiado por dificuldades e obstáculos.
Por isso, a vida é sempre bonita! Tanto no viver da criança, do jovem, como no adulto, do velho, do Espírito desencarnado, a vida é sempre dinâmica, desafiadora, compensatória e pode ser prazerosa!
E a renovação interior é um “empreendimento de alto e nobre porte, que não deve ser postergado” 3
Bibliografia:
1. O Livro dos Espíritos - Allan Kardec - q. 621
2. Impulsos Criativos da Evolução - Jorge Andréa - cap. 11, pág. 128
3. Fonte de Luz - Joanna de Ângelis: “Consciência e Testemunhas”
Fonte: Jornal Verdade e Luz Nº 187 – Agosto/2001
terça-feira, 17 de agosto de 2010
A PROPÓSITO DA MATÉRIA PSI

Carlos Roberto Appoloni
1. Introdução
O livro brasileiro mais conhecido escrito sobre o assunto é "Psi-Quântico", de Hernani Guimarães Andrade [1]. O texto trata da aplicação de algumas idéias qualitativas da Mecânica Quântica para o que seria a "matéria psi", ou a matéria de que são constituídas as entidades no plano espiritual. O autor constrói de forma qualitativa uma extensão de alguns conceitos quânticos da física atômica à matéria espiritual, sem contudo chegar a formular uma teoria completa, a exemplo da existente na Física para a matéria comum. A publicação deste livro foi sem dúvida um grande primeiro passo na direção da compreensão da matéria espiritual, fundamental para melhorarmos nosso entendimento da relação entre os níveis material e espiritual, assim como o funcionamento do acoplamento de nossa alma com nosso próprio corpo físico.
2. Embasamento experimental
O autor relata detalhadamente uma série de interessantes experimentos realizados no final do século passado e início deste, que dão suporte às hipóteses que formulará sobre a matéria psi. A seguir apresentamos um pequeno resumo de dois dos principais experimentos.
- As experiências de Zöllner em 1877 [2], com nós em tiras de couro e moedas em caixas fechadas, levaram à hipótese de um hiperespaço 4D ( de quatro dimensões) onde estaria a matéria psi. Zöllner postula que o aquecimento observado nos objetos transportados deve-se ao fato de que o transporte de corpos pela quarta dimensão "obriga-os a atravessar fortes campos de uma determinada natureza". Vide nota no item 13.
- Bozzano (1862-1943) também realizou uma série de experiências de transportes de objetos, dando suporte à idéia do hiperespaço. O espírito mentor nas experiências de Bozzano [3] colocou que para o transporte de objetos pequenos os mesmos são desmaterializados, transportados e materializados novamente, já no transporte de objetos grandes, quem sofre a desmaterialização é uma região nas portas e/ou paredes por onde atravessam. Bozzano e os espíritos envolvidos informam que no transporte de uma planta ( lírio ) vinda de outro lugar do planeta ( do Egito para os EUA ), esta já estava no recinto pelo menos uma hora antes da materialização. No processo de materialização a planta foi "crescendo" e na desmaterialização desapareceu "instantaneamente". No espaço psi, "paralelo ao nosso", o modelo organizador do lírio estava pronto para a reestruturação do mesmo.
Após o relato e discussão das várias experiências é apresentada então a hipótese básica: nossa realidade 3D (de 3 dimensões) é um universo paralelo ou sub-espaço de uma realidade 4D (de 4 dimensões) da matéria psi. Somos seres 4D temporariamente acoplados a uma realidade 3D. Embora Martiny seja citado no livro como postulando um espaço 5D para a matéria psi (numa referência de 1955 [4] ) o autor mantém a hipótese 4D.
Considerando a Teoria da Relatividade de Einstein [5], sabemos que o mundo físico que conhecemos precisa de uma descrição quadrivetorial ou seja, a realidade física da matéria comum já é (pelo menos) um espaço 4D ( 3D espaciais e 1D temporal, na Teoria da Relatividade Restrita ). Desta maneira, o correto seria postular para o hiperespaço da matéria psi pelo menos uma dimensão a mais, ou seja, caracterizá-lo como espaço 5D. De toda forma, esta questão não invalida os aspectos mais importantes da proposta exposta pelo autor.
Para entender melhor (e sem equações matemáticas) as características físicas de dois espaços com uma dimensão de diferença entre eles, por exemplo um mundo 2D e um 3D, vide o romance "A Terra dos Achatados" [6].
3. Hipóteses básicas formuladas por Hernani
- A matéria psi é constituída de ondas e corpúsculos da mesma maneira que a matéria comum".
Comentário: a matéria comum é constituída de blocos elementares que apresentam propriedades de onda e de partícula ao mesmo tempo, sendo descritas por uma função de onda. Apenas nas situações mais usuais do cotidiano é que parecem ter caráter apenas de partícula ou de onda (dependendo do caso) e obedecendo às leis da física clássica. Já que irá se aplicar os conceitos da mecânica quântica ao modelo da matéria psi, é importante que inclusive o modelo para a matéria comum esteja claro e de acordo com as teorias atuais.[a]
- "Como a matéria comum tem composição quântica, então a matéria psi também, daí o nome do livro".
Comentário: a matéria comum apresenta algumas propriedades que só puderam ser entendidas (até agora ...) através da Mecânica Quântica [6], como sendo a teoria capaz de descrever as interações na natureza a nível microscópico. Não se pode dizer que a matéria tenha "composição quântica ou clássica".
- "Como a nossa matéria está organizada num espaço de 3 dimensões, então a matéria psi está organizada num espaço de 4 dimensões".
Comentário: como já colocado antes, a física moderna, após a Teoria da Relatividade Especial ou Restrita, já vem utilizando um espaço de 4 dimensões para descrever os eventos de nosso plano físico; para poder explicar os fenômenos ditos "paranormais", a matéria psi deve, portanto, existir num espaço com um número maior de dimensões, no mínimo cinco, de maneira a explicar, por exemplo, as desmaterializações e materializações à distância.
4. O psi-átomo de Hernani
É apresentado o modelo atômico de Bohr [7], numa visão mecanicista clássica, apenas adicionando-se o conceito de quantum (ou de quantização) da energia. As partículas prótons, nêutrons e elétrons são tratadas como elementares. Embora este tipo de exposição do modelo não comprometa o objetivo básico do autor, é importante lembrar que, desde a década de 30, com a descoberta de outras partículas (ditas então elementares) e mais recentemente com os quarks, não se pode mais considerar prótons e nêutrons como partículas elementares. Sem dúvida é muito difícil fazer visualizar o átomo como descrito pela mecânica quântica, porém a visão "planetária" do átomo deve ser usada com muito cuidado, por não ser rigorosamente correta. O próprio Max Born falou a respeito da grande dificuldade de se criar imagens de idéias abstratas e da importância destas imagens na didática [8], chamando-as de "ajudas visuais parciais".
Hernani postula então o psi-átomo em analogia com o átomo da matéria comum. O átomo psi seria formado por um núcleo constituído de intelectons ("carga" positiva) e percéptons ("carga" neutra), e de bíons ("carga" negativa) girando ao seu redor. Vide as Figuras 1A e 1B. Como o átomo da matéria comum está num espaço com uma dimensão a menos que o do átomo psi, e a representação bidimensional num desenho já perde por si uma dimensão, o autor apresenta uma ilustração, Figura 2, onde vemos como estes átomos poderiam ser comparados quando vistos da ótica de alguém situado no hiperespaço.
É colocado que o bíon e o elétron geram o Campo Biomagnético, através do qual a matéria comum e a matéria espiritual interagem. O intelecton seria o quantum de consciência-inteligência e o percepton o quantum de percepção-memória. [b]
Apresenta também, para a quantização da energia da matéria psi, uma equação análoga à que usamos na matéria comum:
q = f . h
onde "q" é o "quantum" de energia dos bíons, "f" é a sua freqüência e "h" é a constante de Planck ( 6,625x10-27 erg.s ).
FIGURA 1A - O modelo atômico de Bohr ( pág. 54 da referência [1] ).
A constante de Planck teria o mesmo valor no espaço comum e no hiperespaço? Isto não é cogitado pelo autor e tem conseqüências importantes para o modelo, pois a organização dos níveis de energia na estrutura da matéria psi (conseqüentemente os níveis de vibração e valores das quantidades de energia emitidas ou absorvidas) certamente muda quando muda o valor desta constante. Várias observações de experimentadores espíritas apontam na direção de que no hiperespaço esta constante teria outro valor.
FIGURA 2 - O psi-átomo e o átomo da matéria comum comparados "sob a óptica do hiperespaço" (pág. 109 da referência [1])
Hernani lembra que sua descrição tem suporte na colocação de André Luiz (autor espiritual) , segundo a qual a matéria comum é plasmada pela matéria mental (matéria psi) [ g], a qual tem diferentes padrões vibratórios, seus átomos também são formados por associação de "cargas" positivas e negativas, sendo que as moléculas do perispírito giram em mais alto padrão vibratório, com movimentos mais intensos que as moléculas do corpo carnal [ d].
5. O Campo Biomagnético (CBM)
Uma parte muito importante do livro de Hernani é o relato dos vários trabalhos indicando a natureza eletromagnética (quase eletrostática apenas) dos Campos Biomagnéticos dos seres vivos. É colocado que o CBM (campo vital, ou campo psi e físico, ou biomagnético ) é produzido tanto pelos bíons atuando sobre a matéria, como também pelos elétrons atuando sobre a matéria psi. É afirmado, sem explicações ou justificativas, que o CBM é essencialmente um campo magnético (em contradição com as conclusões dos experimentos relatados sobre a característica quase eletrostática dos mesmos) e que o CBM "segue uma direção normal ao hiperespaço". Na página 135 do livro é colocado que a matéria "esconde" o campo magnético dos orbitais eletrônicos. A matéria não esconde estes campos - eles se cancelam na maioria dos casos. O que não se vê é a componente ou o campo do elétron que atua sobre o bíon. O campo que o autor está procurando é outro, ou, mais provavelmente, uma componente a mais (ainda desconhecida) do campo eletromagnético conhecido.
6. Densidade da matéria psi
Em seguida o autor realiza uma discussão sobre a densidade das matérias normal e a psi. Coloca que a matéria pode polarizar a matéria psi através do CBM dos elétrons, mas que o psi-átomo projetado em 3D (do nosso mundo) é muito maior que o átomo físico. Ele calcula que o corpo astral (perispírito) tem massa de aproximadamente 61,7 gramas, para um volume de 70000 cm3 ( volume de um corpo humano médio no nosso espaço), ou seja, a densidade da matéria psi é de aproximadamente 0,00088g/cm3, que é da ordem da densidade do gás Neon. Assim a densidade da matéria psi é 1,45 vezes menor que a do ar e 9,8 vezes maior que a do Hidrogênio. O corpo astral seria então 1135 vezes mais leve que o corpo físico.
Esse cálculo, no entanto (se as premissas estiverem corretas), é da densidade da matéria psi enquanto projetada no nosso espaço (o volume projetado foi considerado igual ao do corpo físico) e não a densidade da matéria psi no hiperespaço. Entendemos que o valor apresentado para a densidade seja de fato um limite superior para a densidade da matéria espiritual quando projetada no nosso espaço, pois supor que o volume do corpo astral projetado é igual ao do corpo físico contradiz a afirmação de que o átomo psi projetado tem volume maior que o átomo normal. A menos que o número de átomos psi associados ao corpo espiritual seja menor que o número de átomos do corpo material a ele acoplado
Considerando as balanças bastante mais precisas que existem atualmente, seria muito interessante que fossem retomados os experimentos de medir a diferença de massa do corpo humano antes e depois do desencarne, para uma determinação, com análise estatística, da massa do corpo astral e de sua densidade, levando em conta o volume real de cada corpo considerado [e].
7. Formação dos seres
Através do CBM um agrupamento de átomos é capaz de "capturar" um psi-átomo e a ele ficar acoplado. Assim, aglomerados moleculares podem polarizar uma estrutura molecular psi, criando um corpo espiritual rudimentar acoplado, cujo volume projetado em nosso espaço é bem menor que o seu volume no hiperespaço - o corpo espiritual é "reduzido" ao ser acoplado ao corpo físico. Os corpos espirituais podem aprender (através de seus intelectons), guardar informações (através de seus perceptons) e sobreviver à destruição dos aglomerados moleculares de matéria comum. Podem plasmar novos aglomerados na matéria comum através do CBM produzido pelos seus bíons. A matéria psi e a matéria comum ficam então acopladas através da interação mútua do CBM e os corpos assim formados tem propriedades físicas e psi [z].
A biogênese é analisada e entendida por Hernani da seguinte forma:
- moléculas orgânicas são formadas no "caldo nutritivo" dos oceanos primitivos;
- estes agregados moleculares "capturam e agregam" moléculas psi e a elas ficam acoplados formando um organismo primitivo com "corpo físico"e "corpo espiritual";
- as moléculas psi "aprendem" e se organizam de forma cada vez mais complexa, plasmando organismos cada vez mais sofisticados no plano físico [h];
- esta escalada culmina com os seres superiores atuais, formados de corpos físico e espiritual;
- a superação do problema da entropia na biogênese é explicada pelo princípio da força organizadora da matéria psi (através do CBM) sobre a matéria comum.
É claro que não se pode pretender que questões delicadas como: quem começou primeiro? - possam ser respondidas por um modelo apenas esboçado e com os poucos conhecimentos de que dispomos. O importante é que tudo faz muito sentido dentro do contexto de uma teoria coerente. Em outro livro de indispensável leitura [9], Hernani desenvolve mais profundamente as idéias da biogênese, tratando do Modelo Organizador Biológico. Naquela obra ele apresenta um diagrama bastante interessante de como este acoplamento corpo físico - corpo espiritual explica a nossa complexa estrutura (Figuras 3 e 4 ).
FIGURA 3 |
FIGURA 4 |
8. Na direção de uma teoria
A transformação do modelo qualitativo apresentado por Hernani em uma teoria completa, com capacidade de previsão de efeitos e cálculo das interações, a exemplo da que existe para a matéria comum representa um considerável desafio. Façamos uma prospecção, baseados nas teorias atuais da física.
O tratamento para os bíons deveria ser na direção da já estabelecida equação relativística para os elétrons (de Dirac [10]), ampliada para um espaço com (pelo menos) mais uma dimensão. Especial atenção deverá ser devotada para desenvolver uma "bíon-dinâmica" - o equivalente à eletrodinâmica da matéria comum [11] - e, principalmente, à interação bíon-elétron, chave para se chegar à descrição matemática do CBM, a exemplo do que temos para ondas eletromagnéticas. Certamente ter-se-á que revisitar, agora com ferramental matemático rigoroso e explícito, trabalhos antigos como "Teoria eletrodinâmica da vida" [12] e bem mais recentes sobre a Teoria Holográfica [13].
Por outro lado, para trabalhar as interações entre as partículas psi e formular a estrutura dos átomos psi, seria necessário propor uma equação de Schroedinger [7] generalizada, com uma dimensão a mais da normal, de maneira a poder-se obter, por exemplo, os níveis de energia dos átomos e moléculas psi. Além dos números quânticos já conhecidos para o átomo, dois novos (pelo menos) deveriam ser adicionados, pois as propriedades dos intelectons e perceptons deverão ser quantificadas . Seriam elas quantizadas ou não? O formalismo matemático seria o do tipo usado para tratar o número quântico spin ou o "sabor" dos quarks?
Como sabemos que prótons e nêutrons tem estrutura (ou seja, são formados por quarks), certamente seria natural supor que intelectons e perceptons também tivessem...ou não? Se não tiverem estrutura interna, então a matéria espiritual seria radicalmente diferente, a nível microscópico, da organização da matéria comum, com grandes repercussões a nível de como seria encarado um mundo material mais complexo e elaborado que o espiritual.... Se tiverem estrutura interna, seria necessária uma Cromodinâmica Quântica Generalizada para o hiperespaço e os psi-quarks seriam realmente os tijolos básicos da matéria espiritual, juntamente com os bíons , os psi-fótons (os quanta do CBM) e os psi-neutrinos... Sem dúvida um quadro complexo.
Por outro lado, uma outra hipótese plausível, com base nos fenômenos e comunicações espirituais, é a de um hiper-espaço multidimensional, onde o ser espiritual utilizaria cada vez mais dimensões à medida que evolui e se espiritualiza.
Ou ainda, podemos encarar o próprio universo como uma observável quântica e aí teríamos uma infinidade de universos possíveis, paralelos ao nosso, sendo que o ser espiritual poderia transitar entre eles...
Qualquer destes pontos de partida (existem outros, é claro) representará uma esforço considerável de trabalho de física e matemática, mas certamente muito válido, para prosseguir na trilha aberta por Hernani.
Não podemos deixar de comentar que a Mecânica Quântica oferece um extraordinário ferramental, não somente para o entendimento da matéria [14], mas também da dinâmica da vida, da natureza humana e da consciência, assim como uma base científica para a imortalidade da consciência, como muito bem explorado pela física e filósofa Danah Zohar , em seu livro "O ser quântico" [15]. A autora chama a atenção para o estudo dos condensados de Bose-Einstein em sistemas biológicos, para explicar a consciência. Embora tenha uma visão equivocada ( do ponto de vista espírita ) sobre a questão da alma [16], a discussão por ela apresentada pode ser muito bem aproveitada para uma teoria da interação entre a matéria comum e a matéria espiritual.
9. Na direção de uma fenomenologia
Além de uma esforço teórico, e também para ajudá-lo e orientá-lo, é absolutamente necessário também um suporte de experimentação. Neste caso o ponto de partida nos parece muito claro : investigar o CBM. Um estudo mais detalhado e refinado dos campos eletromagnéticos dos seres vivos, da maneira como estes campos são alterados, por exemplo quando da atuação de uma entidade desencarnada sobre um encarnado, podem nos levar a enfim observar a componente faltante do campo total gerado pelo elétron, que seria exatamente o CBM. Neste caso físicos, biólogos e médicos teriam uma grande contribuição a dar, não somente em experimentos originais, mas também na reanálise de dados de experimentos já realizados com outros objetivos, mas que podem já conter resultados importantes que apenas faltam ser correlacionados quando analisados por uma óptica sem preconceitos e mais ampla. Trabalhos relativamente recentes como os do Energy Research Group [17] ou o relatado nos capítulos 6 e 7 do livro Mãos de Luz [18], podem ser um bom ponto de partida para orientar sobre o tipo de arranjo experimental a ser utilizado.
10. Comentários finais
O objetivo básico deste texto foi comentar uma das obras de Hernani, ampliando a discussão de alguns pontos e levantar algumas possibilidades de continuação do trabalho de entendimento da matéria espiritual. Não tivemos a pretensão de esgotar o assunto, nem de sermos taxativos quanto às análises e conjecturas realizadas, mas apenas contribuir para a discussão de tão importante tema.
Entendemos que Hernani, quando discute a matéria psi, se enquadra mais como um filósofo do que como físico. O que ele faz é mostrar um caminho, como fez o grego Demócrito no caso do átomo. Já em 1962 o físico Taketani discutia a necessidade da real aproximação e colaboração entre físicos e filósofos [19], para que a complexidade das idéias da física moderna não leve `a confusão filosófica, mas sim a uma relação sinérgica entre as duas ciências.
Na verdade a primeira obra de Hernani que trata da matéria psi [20] é bastante anterior àquela que tratamos neste artigo, sendo que suas idéias foram discutidas em um artigo publicado na RIE [21]. Ao mostrar o caminho, ainda bastante nebuloso e complexo, Hernani usou de natural aproximação simplificada, que logo de início não foi bem compreendida e até precipitadamente refutada [22], como sendo uma teoria antidoutrinária "a reformar a doutrina espírita e a substituí-la". Embora seja até compreensível esta reação por parte do meio espírita, entendemos que não seja esta a proposta decorrente da obra de Hernani. Seja pelas informações sobre o plano e a matéria espiritual, contidas em várias obras psicografadas [23], e jamais contestadas pelo meio espírita, seja pelos dados riquíssimos que os atuais experimentos de transcomunicação estão cada vez mais apresentando [24], dificilmente o estudo da matéria psi passará ao largo do caminho apontado por Hernani.
Dado o objetivo deste artigo, não foi possível, nem seria adequado, tocar em outras questões da física contemporânea, que embora possam mais parecer ficção-científica, são na realidade rigorosas conseqüências de novas teorias já sedimentadas na literatura científica, que dão suporte e/ou explicam fenômenos espíritas. Tratar destes avanços recentes e complexos da Física em linguagem acessível e sem erros conceituais é um formidável desafio. No entanto, existe disponível já há algum tempo um livro que, através de criativos desenhos e linguagem simples e clara, mas com rigoroso embasamento físico, trata da estrutura do espaço-tempo, fenômenos paranormais e a estrutura da energia [25].
Por fim, dado o grande desequilíbrio do tripé ciência-filosofia-religião ainda existente em grandes porções do movimento espírita brasileiro, sempre é bom lembrar o próprio codificador:
(a) "Não há fé inabalável senão aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade" - item 7, capítulo XIX de O Evangelho Segundo o Espiritismo [26];
(b) "É, pois, rigorosamente exato dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da imaginação " - item 14, capítulo I de A Gênese [27];
(c) "...ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação" - item 16, capítulo I de A Gênese [27].
11. Notas, comentários do autor e citações bibliográficas
12. Comentários de Soraya Mattar
estudante de Psicologia da UEL, 4º ano
[a] Talvez fosse mais adequado dizer que trata-se da matéria psi mais próxima, vibracionalmente falando, da matéria comum. Uma teoria geral acerca da matéria psi tão correlacionada com o mundo físico pode correr o risco de um certo "geocentrismo". A não ser que a teoria pressuponha que "tudo é formado do mesmo princípio, com diferenças em nível vibratório" ( A Gênese [27], Cap. VI, ítens 3 e 7 ).
[b] A matéria psi também constitui os "objetos extrafísicos", as moradias, plantas, descritos em romances da literatura espírita que se passam no plano extrafísico (e relatos de entidades pelas mais diversas formas de comunicação) ? Serão então estes objetos também dotados de consciência, inteligência, percepção, memória, por serem constituídos de intelectons e perceptons ?
[g] Sendo a matéria comum plasmada pela matéria mental, a causalidade de todo o plano físico é não física. A evolução do planeta como um todo, das espécies vegetais, animais, dos próprios hominídeos, até então explicada pela mudança de contingências do ambiente, teriam outras causas extrafísicas? Seriam essas causas simplesmente explicadas pela ação da vontade de um "Deus" ou podemos pensar que as dimensões extrafísicas evoluem por contingências inerentes a elas e o mundo físico reproduz essas mudanças com o que dispõe? Parece possível correlacionar essa idéia com a teoria platônica do mundo ideal, do qual o nosso é cópia imperfeita.
[d] Alguns autores acham que no desdobramento o que ocorre é a aceleração das vibrações do corpo energético e do perispírito para escaparem às vibrações lentas do corpo humano [28].
[e] A dimensão extrafísica não é na verdade constituída de várias dimensões de níveis de densidades diferentes? Há relatos de 'barreiras" que cercam determinados locais extrafísicos interditados a determinados espíritos por não serem eles "compatíveis" vibratoriamente. Espíritos desencarnados na questão 93 do Livro dos Espíritos [29] assinalam que em relação a eles o perispírito constitui-se matéria grosseira (isso não equivale a dizer de maior densidade?). Parece que a evolução espiritual é seguida da diminuição de densidade nos corpos que o espírito usa para se manifestar. Sendo assim, é estranho falar-se de uma densidade de matéria psi (Cap. XIV, item 3 de A Gênese [27] ).
[z] Neste parágrafo dois movimentos são descritos? Matéria comum plasmando matéria espiritual e matéria espiritual plasmando matéria comum? Quando matéria comum plasma matéria espiritual? Ao que parece, a matéria espiritual (como um dos estados do fluido cósmico universal) só é manipulável por espíritos ( ver Cap. XIV, ítens 13, 14 e 15 de A Gênese [27] ).
[h] No livro Profecia Celestina [30], páginas 115 a 117, o personagem tem durante uma "experiência mística" a evolução do curso evolutivo da Terra como o aumento sucessivo no nível de vibração da matéria, para que formas mais complexas de vida fossem possíveis. O "plano mestre" de que o livro trata pode significar a complexidade crescente da matéria psi plasmando também matéria comum de complexidade crescente.
13. Nota de Dr. André Luiz Malvezzi
do Depto. de Física da UFSCar e membro da RECE - Reunião de Estudos Científicos do Espiritismo, da Sociedade Espírita Obreiros do Bem - São Carlos - SP, a propósito dos experimentos de Zollner.
"Com relação aos fenômenos de transporte relatados no livro do Zollner, notei uma preocupação quanto à integridade material da parte do objeto que é movido para a quarta ( ou mesmo mais alta ) dimensão. No caso da corda que é dado o nó, por exemplo. Penso que essa preocupação não procede. Ela é fruto da nossa visão tridimensional e o uso da palavra "desaparece" talvez esteja induzindo uma concepção errônea, por induzir uma idéia de "dissolução" do objeto. Para nós é como se realmente desaparecesse, mas para os espíritos que estão realizando a tarefa, a parte que "desaparece" é simplesmente "movida" para a outra dimensão. Em momento algum a integridade do objeto (em nível molecular) é comprometida. Acho que nesse tipo de problema é util usar como exemplo o caso de 2 para 3 dimensões. Creio que vocês devam estar utilizando esse tipo de analogia com bastante freqüência mas, mesmo correndo o risco de ser redundante, aqui vai um exemplo simples. Se a superfície de uma mesa é pensada como sendo um mundo bidimensional e um pedaço de linha é posto sobre ela com uma parte da linha cruzando sobre ela mesma formando um laço ( como uma letra "e" escrita a mão ) então temos um nó em duas dimensões pois não é possível desfazer o "e" sem "levantar" a linha da mesa. Na verdade é preciso ter cuidado aqui. Com uma linha comum não é possível realizar a experiência exatamente pois a linha vai sobrepor-se a ela mesma, o que é um evento tridimensional. Daí você pode dizer que puxando a linha isso vai desfazer o nó, o que e' verdade. Mas se você mantiver o ponto onde as linhas se cruzam apertado contra a mesa com o dedo ( tentando simular 2 dimensões ) você vai ser que é difícil desfazer o "e" só puxando a linha. Bom, voltando ao ponto principal, quando você levanta o "e" da mesa e torce a linha para desfazer o "nó bidimensional", o nó desaparece em duas dimensões (=3D sai de sobre a mesa), mas para você que está realizando a operação a linha nunca é cortada, como pode parecer para um ser bidimensional que esteja acompanhando a operação do ponto de vista da mesa. Assim, preocupar-se com integridade da linha não faz sentido. Sobre o aquecimento creio que vocês estão no caminho certo. Também acho que é um tipo de "atrito" que a parte que foi movida para a outra dimensão sofre. Pode-se argumentar que o tempo necessário para se efetuar a operação não foi tão pequeno assim e que a distancia a qual o objeto foi movido não foi "grande". No entanto pode ocorrer que, para mover um objeto alguns centímetros em 3 dimensões através de uma parede num período de alguns minutos, talvez ele tenha percorrido uma distancia enorme na quarta dimensão. Novamente o exemplo da mesa ajuda. Considere a seguinte situação. Pegue uma tábua de madeira de 1 centímetro de espessura, 10 metros comprimento e largura infinita (=3D muito grande). Ponha essa tábua em pé sobre a mesa com os 10 metros na vertical e a superfície da tábua formando um ângulo reto com mesa. Agora ponha um objeto sobre a mesa de um lado da tábua e junto a ela. Para um ser bidimensional na mesa, que esteja do outro lado da tábua, esta é como uma parede intransponível pois ele não pode ver o final da tábua, o qual está a 10 metros de altura acima da mesa. Porem, o objeto está a apenas alguns centímetros dele, do outro lado tábua. Agora você é um espírito e vai fazer o objeto atravessar a parede (tábua). No momento em que você retira o objeto da mesa, ele desaparece para o ser bidimensional, mas você precisa move-lo por sobre a tábua para baixa-lo do outro lado da mesma. Como a tábua mede 10 metros de altura você precisa move-lo 20 metros em 3 dimensões para obter um deslocamento líquido de apenas alguns centímetros em 2 dimensões. Para que o evento ocorra num tempo razoavelmente pequeno em 2 dimensões você deverá mover o objeto bem rápido por sobre a tábua, o que pode causar atrito e dai o aquecimento. Esse exemplo também daria um resposta para outra questão que vocês levantaram : os objetos em 3 dimensões possuem uma parte na quarta dimensão que não vemos ?? Segundo esse exemplo sim, pois a tábua consiste em um obstáculo intransponível em 2 dimensões e continua a ser um obstáculo considerável ( se bem que transponível ) em 3 dimensões."
Agradecimentos
O autor agradece as sugestões e comentários enviados sobre a primeira versão deste trabalho, realizado em outubro de 1995, e distribuído para análise por um grupo de 12 pessoas. Dentre elas cumpre destacar as contribuições de Sylvio Dionysio de Souza, Soraya Mattar (elencadas no item 12), Adilson Enio Motter e Adelar A. Motter. Agradece-se também a André L. Malvezzi, por autorizar a inserção da interessante nota reproduzida no item 13.
Sobre o autor
Carlos Roberto Appoloni, nascido em São Paulo (SP), é Doutor em Física Nuclear Experimental pelo Instituto de Física da USP, com Pós-Doutorado pela Università di Roma "La Sapienza". Desde 1976 é docente do Departamento de Física da Universidade Estadual de Londrina, onde é Coordenador do Grupo de Física Nuclear Aplicada. É membro do Nucleo Espírita Universitário UEL - Londrina - PR.