
Entre os apóstolos de Jesus, Pedro e Judas experimentaram a depressão em circunstâncias distintas e com repercussões diferentes. Ao longo da história muitos foram aqueles que sofreram com a depressão: Shakespeare, Beethoven, Lincoln, Fernando Pessoa, Virgínia Woof, Hemingway, M.Monroe, Lady Di e outros.
É difícil obter-se números precisos sobre a doença, contudo estima-se que 5% da população mundial seria de pessoas depressivas. A depressão é a quarta doença mais comum entre a população geral segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, sendo duas vezes mais freqüente no sexo feminino. A depressão pode afetar pessoas de todas as faixas etárias e condições sócio-econômicas e culturais, sem distinção de raça ou credo. O suicídio é responsável por 15% das mortes de pessoas deprimidas. Ainda segundo a OMS, a depressão será a segunda moléstia que mais roubará anos de vida da população em 2020. Como ainda não surgiu nenhum tratamento preventivo, estima-se que a cada ano surgirão mais dois milhões de novos deprimidos clínicos por ano no mundo. No Brasil calcula-se que existam 10 milhões de sofredores patológicos.
A depressão é classificada como um transtorno do humor. Para tanto é preciso diferenciar a doença depressão da tristeza. Além dos critérios de sintomas que caracterizam a doença, é necessário que estes subsistam por mais três semanas; a depressão é muito mais profunda e resistente do que a tristeza. O psiquiatra Peter Whybrow, da UCLA, descreve a depressão com uma imagem: “imagine o desconforto de várias noites sem dormir misturado à dor da perda de um ente querido que não acaba nunca. Depressão é isso”.
A depressão é vista como uma doença de múltiplas causas. Em se considerando que a doença depressão é, também, denominada doença da alma, podemos entender que as causas estão diretamente relacionadas com o perfil psico-emocional do indivíduo. A alma, ou o Espírito, é que se apresenta doente. Em termos puramente psicológicos encontramos as raízes da depressão em comportamentos imaturos, no materialismo, nas perdas de qualquer natureza, nos ressentimentos e na culpa.
A imaturidade psicológica pode ser vista nos comportamentos de pessoas que se negam a crescer e a assumir responsabilidades. Tal comportamento foi descrito como sendo uma “Síndrome de Peter Pan”, onde o ser foge para um mundo ilusório a fim de não ter de arcar com as responsabilidades do dia-a-dia. A qualquer momento evita tomar decisões, tomar atitudes ou posturas resolutivas ante os problemas. A imaturidade psicológica reflete um espírito cristalizado em um padrão comportamental infantil, sonhador. Na hora em que as dores e as decepções da vida se anunciam, trazendo o sofrimento, estes indivíduos optam por tentar fugir à responsabilidade, desistindo da luta, passando a viver num mundo de sonhos que, aos poucos, vai se transformando em pesadelos.
O materialismo é um dos grandes males da humanidade. A falta de uma postura idealista e de valores morais e éticos torna o ser humano vazio. Num primeiro momento o homem busca evitar a sensação de vazio lançando-se compulsivamente à conquista de bens materiais. Somos nós, quando nos entregamos a um ritmo de vida ditado pela satisfação dos automatismos de natureza fisiológica, vivendo em função do luxo, do conforto e do prazer pelo prazer. Esquecendo-nos dos ideais que elevam a alma ao Criador ficamos vazios, vazios de amor, vazios de solidariedade, vazios de paz. No poço vazio das nossas almas a depressão verte o seu veneno enchendo os nossos Espíritos de dor e sofrimento.
O apego excessivo às coisas e às pessoas à nossa volta contribui para agravar os sintomas depressivos. Na Gênesis, capítulo 3, versículo 19, lemos que do pó viemos e ao pó retornaremos. Se auscultássemos a palavra divina e dirigíssemos a nossa vida por ela muitas dores poderiam ser evitadas. Mas à medida em que vamos saindo do berço para ocuparmos o nosso lugar na sociedade passamos a cultivar o TER, o desejo de possuir. Este apego ao sentimento de posse, tanto das coisas materiais como das pessoas, será causa das nossas mais terríveis dores. A incapacidade de lidarmos com as perdas que farão parte das nossas vidas pode se constituir num grande fator gerador da depressão.
A culpa e o ressentimento guardados em nossos corações destroem a possibilidade de sermos felizes. Todo sentimento de culpa é lixo inútil que carregamos ao longo da vida e que acaba sufocando a nós próprios e como tal não serve para nada. O ressentimento, além de ser lixo, é ainda mais perigoso do que a culpa, posto que este último é lixo tóxico. Ressentimento significa sentir novamente, ficar recordando. Tudo bem, se nós ficássemos a recordar ou a ressentir coisas boas, coisas alegres. Mas com freqüência esquecemos rapidamente de nossas alegrias para nos dedicarmos a relembrar e a ressentir as nossas dores. Em recordando um fato doloroso eu passo a sentir novamente a mesma dor que vivenciei no passado. O ressentimento, como tóxico que é, corroi nossas almas.
Se vimos as causas da depressão, é preciso que vejamos quais as suas conseqüências. A depressão pode ser extremamente devastadora para o doente e para todos aqueles que convivem com ele.
O depressivo compromete o seu sistema imunológico, tornando-se alvo fácil de outras doenças que, aproveitando a fragilidade do indivíduo, tomarão conta do corpo. A depressão pode ser a porta de entrada para muitas outras doenças físicas como as úlceras gástricas, problemas hepáticos ou intestinais (como por exemplo, a constipação crônica), problemas cardíacos, infecções, doenças degenerativas e até do câncer.
A depressão é uma das principais causas do suicídio, sendo este a mais terrível conseqüência. A Doutrina Espírita nos ensina que o suicídio, ao invés de ser a solução dos problemas que nos afligem, é causa de maiores dores e sofrimentos.
A depressão não fica restrita ao paciente depressivo, ela se estende por todos que compartilham do ambiente doméstico. Sendo assim, a depressão é um fator de desagregação familiar. O comportamento depressivo faz com que o ser se afaste das pessoas, torne-se relaxado com as obrigações em relação ao grupo, afaste-se do trabalho chegando por vezes ao abandono do mesmo o que acarreta novos e maiores problemas para o núcleo familiar.
Como então poderemos nos livrar da depressão? Qual é o tratamento ou tratamentos de que dispomos para nos livrarmos desse mal?
Os tratamentos para depressão são tão variados como as causas das doenças. É preciso que em primeiro lugar queiramos nos curar. Para tanto teremos que reconhecer e admitirmos que estamos doentes e que precisamos de ajuda. Esta tomada de consciência da nossa própria condição como doentes é o primeiro tratamento ao nosso alcance. Quando nos conscientizamos da nossa verdadeira condição criamos em nossos Espíritos as condições de cura. Renova-se a vontade de viver e a disposição para renovarmos atitudes e emoções. Passamos a redecorar a nossa casa interior, jogando fora os móveis velhos e adquirindo móveis novos.
O desejo de nos curarmos vai nos levar a buscar a medicina. Dentro dos seus limites e da sua capacidade, a medicina pode nos ajudar através de medicamentos que diminuem os sintomas. Mas remédio nenhum pode tocar nosso Espírito. Necessário se faz que busquemos o auxílio psicológico. Será somente através de nossa reforma íntima que poderemos alcançar a cura da depressão.
Comecemos por nos tornarmos emocionalmente maduros. Assumindo o compromisso de superar as emoções infantis, passando a termos o controle da nossa vida. Surgindo os problemas vamos encara-los de frente examinando-os com serenidade e lucidez, objetivando encontrar soluções possíveis e realistas frente às nossas possibilidades. O exercício da nossa maturidade emocional nos tornará fortes e seguros, confiantes e serenos.
Ao conquistarmos a nossa maturidade emocional, vamos precisar de novas metas na vida. É a hora de voltarmos os olhos para dentro de nós mesmos, buscando sentir os anseios mais nobres e elevados que dormem em nossas almas. Vamos em busca da nossa realização interior conquistando valores morais e éticos. Esta é a hora de nos voltarmos para o sentimento religioso e de retomarmos o diálogo com o Pai Criador.
Maduros e em comunhão com o Pai, vamos entender que as únicas coisas que realmente nos pertencem são os tesouros da alma. Seguindo as palavras de Jesus narradas por Mateus, cap. 6, vv. 19-21, não percamos tempo juntando tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem e onde os ladrões roubam. Busquemos SER e não TER. Desta maneira as perdas dos bens materiais e dos status social não nos afligirão, pois são riquezas que vieram da terra e a ela pertencem. A comunhão com o Pai vai nos fazer compreender que o Espírito é imortal e que o ente querido perdido será reencontrado em breve. Para aqueles que amam verdadeiramente não existe separação.
Agora, mais fortalecidos e renovados é o momento de nos livrarmos daqueles lixos velhos que pesam em nossas almas. Vamos passar a limpo os sentimentos de rancor, de mágoas e as culpas. Através do esquecimento vamos nos livrar dos ressentimentos, voltando a nossa atenção para o futuro e para todo o bem e felicidade que podemos construir em nossas vidas a partir de hoje, de agora. Livres de ressentir as dores velhas estamos prontos para o perdão que será como bálsamo divino a derramar-nos o coração e nos acalentando. Livre das culpas, aprenderemos a ver os erros que cometemos no passado como um ensinamento doloroso. Vamos aprender, então, que o erro foi formar mais útil e fácil ao nosso alcance para aprendermos como não devíamos fazer alguma coisa. Agora que aprendemos como não fazer, lancemo-nos novamente ao trabalho e à vida fazendo a coisa de maneira certa.
Mas, o melhor tratamento para a depressão é o conjunto de ensinos trazidos por Jesus. A mensagem evangélica que Jesus nos trouxe e que foi legada à humanidade pelos escritos que constituem o novo Evangelho é o mais poderoso e eficaz remédio para a cura da depressão. Através do perdão, do trabalho produtivo em benefício do próximo, da solidariedade e do amor poderemos alcançar a cura, não apenas da depressão, mas de todos os nossos males.
(extraído do jornal “O Semeador” de set/2000)